Quando Matheus acordou em sua casa, novamente se sentiu um intruso em seu próprio corpo. Ah, que inferno, eu estou virando sentimental, pensou Matheus, andando até a janela de seu quarto.

O dia estava agradável, nublado e fresco. Matheus não conseguiu ficar preso em casa, igual a todos naquela cidade. O que esse povo teme, afinal?

Seus pés o levaram para um pequeno parque infantil, onde havia uma garota brincando com pequenas facas. Ao ouvir Matheus se aproximando, parou com o que estava fazendo e ficou o observando, esperando alguma manifestação vinda de Matheus.

Meu Deus... Que olhos são esses? Pensou Matheus, que não conseguia desviar o olhar daquela estranha menina com olhos castanho-avermelhados.

Alguns minutos se passaram apenas com palavras silenciosas, manifestadas pelos olhares curiosos de Matheus e Beatriz.

— Quem é você? — disse Beatriz, quebrando o silêncio que se tornava constrangedor.

— Meu nome é Matheus, senhora desconhecida. O que você está olhando? Até parece que vai me matar... — replicou Matheus.

— Cuidado com o que deseja, senhor. Eu poderia te derrubar sem fazer nenhum esforço. — Beatriz sorriu ameaçadoramente, passando o dedo pelo fio da pequena faca que segurava. A reação de Matheus foi uma risada gutural, que fez Beatriz fechar a cara.

— Estou sendo ameaçado por uma garota que nem sei o nome. Isso é o que eu chamo de progresso. — disse Matheus, tranquilo, apesar das ameaças.

— Pelo visto o senhor não me conhece, não é mesmo? Meu nome é Beatriz. — nem mesmo a expressão fria de Beatriz fez Matheus temê-la. Aquilo incomodou Beatriz.

— Um belo nome para uma bela garota. — Matheus sorriu, irritando ainda mais Beatriz.

— Se eu fosse você, Matheus, teria mais cautela com as palavras. Você não sabe o que eu posso fazer com você.

Beatriz nunca havia sido desafiada de tal forma, principalmente por um estranho, confortável em sua presença.

— Aposto que você pensa que eu sou uma criança indefesa que se assusta com uma careta vinda de uma Beatriz carrancuda. — disse Matheus, dando de ombros e se encaminhando para sua casa, visto que não estava interessado em matar uma garota de TPM.

O impacto de uma faca arremessada em seu ombro fez Matheus cambalear, se ajoelhando no chão. Logo depois uma Beatriz triunfante empurrou-o no chão, insistindo em fazer uma última provocação:

— Ah, que pena, Matheus. Pensei que você não fosse uma criança indefesa. — Beatriz ofereceu uma expressão de dó sarcástica a Matheus, que a olhava com uma mescla de dor e ódio.

Essa menina vai me pagar.