Catarina não sabia de onde tinha vindo essa coragem, exatamente como não soube de onde veio a coragem de beijá-lo aquela vez na sala; mas ela apenas sabia que se sentia bem e realizada com ela.

O beijo foi curto, calmo... Um pequeno e simples colar de lábios que não durou mais de três segundos, mas como todo toque dela nele esse se mostrou cheio de intensidade e desejo.

Ela se afastou dele alguns passos com um sorriso alegre nos lábios, estava orgulhosa de si mesma, se tornava cada dia mais corajosa...

Frederico por sua vez já sentia os efeitos dela sobre ele, queria completar aquele beijo, termina-lo... Como podia ela se aproximar com toda essa beleza e beija-lo de forma tão simples? Queria deixa-lo pedindo por mais? Pois bem, se era assim ela sabia o que fazia...

Mas apesar dos pesares Frederico se controlou e tentou novamente assumir sua postura séria, tinha que fazer alguma coisa rapidamente, antes que não conseguisse mais... Porém aquele sorriso... Ele sabia que de alguma forma era por causa dele, e ele odiava saber que iria mata-lo.

–Catarina, eu... Nós precisamos realmente conversar. – Disse em não mais que um sussurro.

Ela percebeu o tom da voz dele e não gostou nada. Ele estava sério e talvez um pouco... Triste.

–Algum problema? Posso te ajudar em alguma coisa? – Catarina perguntou demonstrando sua preocupação.

Ele só se martirizou ainda mais com a reação dela, ela estava preocupada... Com ele! Isso só o fazia se sentir pior, tanto por saber que iria machuca-la e por sentir que havia se aproveitado de uma menina tão doce e que realmente se preocupava com ele.

–Algum problema?! – Ele disse com um sorriso triste de canto. – Você realmente não tem noção do que está acontecendo aqui? – Perguntou indicando ambos.

Agora sim o sorriso de Catarina saiu sem deixar rastros... Ela havia entendido sobre o que ele queria conversar... Era sobre o que estava acontecendo entre eles.

–Tudo bem, entendi... – Catarina disse achando a grama muito mais interessante no momento.

Frederico suspirou com a reação dela de não querer olha-lo, mas não tinha outra forma...

–Isso não é certo... Não pode continuar... – Ele disse calmo e baixo, tentando amenizar a situação.

Catarina via agora a gravidade do assunto... Ela compartilhou da tristeza dele de antes. Sabia onde tudo isso iria dar e não queria... Não queria mais ficar longe dele, pelo amor de Deus ela era apaixonada por ele; se sentia como sendo rejeitada e isso doía demais.

–E por que não? – Teimou com ele triste.

–Porque... – Frederico começou exasperado enquanto passava as mãos pelos cabelos. – Porque não é! Você sabe que existem milhares de motivos, Catarina...

Catarina sabia. Ela realmente sabia, se sentia culpada também por gostar justo dele, mas não era algo que ela podia escolher... Queria ele por perto de uma forma egoísta que a fazia ignorar os “milhares de motivos” que ela sabia da existência.

–Você não gosta de mim... – Ela disse apenas o que martelava em seu coração com aquela rejeição aos seus olhos.

–Eu não...? Eu não gosto de você? – Frederico perguntou incrédulo. – Como você pode pensar isso? Você sabe que eu te considero uma garota incrível, Catarina!

Ela não pode deixar de sorrir ao ouvir isso, era bom ouvi-lo vindo dele...

–Então o que? – Perguntou olhando-o novamente nos olhos.

Ela queria saber realmente como ele se sentia sobre isso, o que significava para ele.

–São... São 15 anos entre nós, Catarina. – Ele começou. – Sua irmã, minha esposa... Você tão jovem... Eu, minha consciência... É coisa demais! – Ele concluiu sem querer detalhar a loucura que virara sua cabeça.

Catarina novamente abaixou a cabeça e olhou para a grama. Muita coisa passava na cabeça dela... Ela tinha plena consciência de tudo o que ele falara, mas no seu próprio ponto de vista.

Sobre a idade, bom, aquilo a incomodava, mas não da mesma forma que ele... Enquanto Frederico achava estar explorando uma garota tão jovem, Catarina se perguntava se seria o suficiente para um homem adulto e que conhecia as coisas enquanto ela nem fazia noção.

Sua irmã, sim, aquilo a fazia se sentir horrível... Apesar de não ter fortes ligações com a irmã sentia por ela um grande carinho e admiração, afinal, Ana era uma mulher forte e decidida; mas ela notou que Frederico e sua irmã não representavam um casal, marido e mulher, na verdade ela não notava nada entre eles... E isso amenizava sua culpa, mas não seus sentimentos, tanto por ele quanto pelo que sentia com isso.

Tratando da consciência dele, bom, ela tinha a dela que, segundo uma teoria própria, não regulava bem contra seus hormônios de adolescente. Por mais que também sentisse culpa, não conseguia se afastar dele, pelo contrario... Ela queria-o demais.

Enquanto a dele, bom, ela podia muito bem imaginar o que deveria estar acontecendo com ele... Isso tudo devia ser com certeza demais para uma cabeça adulta e responsável como a dele. Catarina sabia desde o começo que Frederico era um homem especial, diferente dos outros que eram, em sua maioria, obtusos. Ele tinha muitas ideias, era racional, com valores próprios... Isso deve ser com certeza difícil para ele; com aquele olhar triste...

Ela não queria que ele se sentisse assim: triste, confuso, culpado... Ela gostava dele, e se preocupava com ele... E, aparentemente, fazia mal a ele.

Catarina se sentiu horrível em perceber o estado dele e constatar que a culpa era sua... Não queria isso para ela nem para ele.

Talvez... Talvez ele estivesse certo.

Não! Ele estava... Estava certo. Queria preservá-lo... E a si mesma consequentemente.

–Eu... – Ela tentou dizer com a voz rouca. – Bom, eu... Eu concordo com você. – Disse num fio de voz que denunciava a tristeza dela em dizer isso.

Frederico se surpreendeu com a mudança de atitude.

–Você... Você concorda? – Perguntou meio incrédulo.

Catarina respirou fundo.

–Sim, concordo! – Disse mais segura. – Não é certo... Não pode continuar... – Usou as palavras dele por falta de outras.

Frederico calou-se com a resposta dela. Ficou rígido, sério... Sentiu uma pontada doída no peito, mas... O que ele esperava? Era isso que queria! Não era?

O que você queria Frederico? Era isso! Pronto, você conseguiu... Conseguiu...

–Eu fico... Fico aliviado que também pense assim...

Catarina deu um sorriso triste e irônico.

Eu com certeza não penso, Fred! Mas você sim, então...

–Sim... Então... É isso. – Ela disse se virando e recolhendo seu livro da grama enquanto sentia sua visão turvar por causa de lágrimas.

Frederico ficou quieto observando-a graciosamente se agachar e recolher o livro... Sem mais Catarina para ele de agora em diante; sem lábios, sem beijos, sem toques, sem ela...

Sem mais Catarina...

Ela se levantou e virou-se novamente.

E ele viu, por um momento... Os olhos dela. Eles brilhavam com pequenas poças... De lágrimas?

Ah, não! Pelo amor de Deus não... Não faz isso comigo Catarina! Por favor, isso é demais...

Ela notou que ele percebeu o estado.

Preciso sair daqui antes que... Antes que desmorono.

–Eu... Eu vou pro meu quarto. – Disse enquanto começava a andar para sair dali.

Porém quando passou ao lado dele sentiu a mão forte pegando seu braço e impedindo-a.

Catarina fechou os olhos com força para se controlar, seu corpo inteiro tinha se arrepiado com o contato.

–Catarina, eu não queria que... – Frederico começou em não mais que um sussurro.

–Me deixa! – Ela pediu ainda de olhos fechados. – Por favor... – E então os abriu mostrando que estava a ponto de chorar.

Frederico culpado e surpreso soltou-a que correu para seu quarto.

Catarina fechou a porta e se jogou em sua cama se entregando para as lágrimas.

Sem mais... Ele.