Pov Katniss

Passo a maior parte das primeiras aulas pensando no que Peeta tanto queria falar comigo. De tão curiosa mal prestei atenção quando Snow, meu detestável professor de história, perguntou algo sobre o Império Romano, e como não conseguia aprender nada que ele ensina, não soube responder.

Quando o esperado toque para o intervalo soou foi como música para meus ouvidos, pois finalmente poderia matar minha curiosidade. Ao sair da sala vejo que Madge já havia arrumado alguém para lhe fazer companhia, mesmo que eu não reconhecesse de longe que fosse.

Caminho pelos corredores tomando meu suco quando vejo Peeta sentado em um banco, sozinho enquanto mexia no celular. Aproximo-me silenciosa, como de costume, e me sento ao seu lado.

– Então, o que quer conversar comigo?- digo sem muita emoção.

– Katniss, eu acho que permanecemos desse jeito não dá mais.- diz guardando o celular e voltando-se para mim.

– Que jeito?- digo e já sinto minhas mãos soando.

– O mínimo que há entre nós é educação, e as vezes nem isso.- diz sincero.- Olhe só para o nosso redor, suas duas melhores amigas agora estão namorando os meus dois melhores amigos. Daqui pra frente vai ficar mais inevitável ainda termos de está no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas...

– Onde você quer chegar com isso?

– Acho que podemos tentar ter uma certa amizade, pelo menos.

– Você quer que agora, de uma hora para outra, viremos amiguinhos só porque nossos amigos estão todos namorando? - digo tentando esconder minha raiva.

Eu não sabia bem o que esperava de Peeta. Não sei se queria que ele implorasse novamente o meu perdão e me pedisse em namoro, ou se simplesmente queria que ele me esquecesse e sumisse para sempre da minha vida. Talvez eu ficasse feliz em tentar ter uma amizade com ele se os motivos fossem outros, se ele quisesse a minha amizade e não só aplacar o clima chato que fica entre nós quando estamos com os outros.

– Só não quero mais ter um clima ruim entre nós. Pode encarar como uma trégua ou como quiser.

– Não estava em guerra com você para precisar de uma trégua, mas sei que será para os meus amigos e para mim não ter mais essa tensão entre nós. Aceito ser sua "amiga".- digo e não perco a oportunidade de fazer as aspas com as mãos ao dizer amiga, pois sei que não seria isso que me tornaria e por fim saio.

Ando de volta a sala e lá encontro Mad sentada na sua cadeira sentada conversando ainda com o mesmo menino. Vou até eles, já que o garoto estava sentado na minha mesa enquanto ainda conversava com Madge animadamente.

– Oi Kat! Como foi lá?- pergunta Mad ficando de pé.

– Nada demais.- digo e sei que ela entendeu que não iria falar na frente de um estranho.

– Deixa eu te apresentar, esse é o Pedro Heiberg , ele estudava a tarde e veio pra manhã esse semestre. Só que eu já estudei com ele em outro colégio. Mundo pequeno não? - ela falava sem parar.- Pedro, essa é a Katniss, minha prima.

– Eu já conheço ela.- diz e sorri.

Não sei de onde ele me conhecia, mas ele era alto, com um cabelo escuro caído despreocupadamente sobre seus olhos pretos, um sorriso de lado um pouco irritante e uma pose clássica de bad boy.

– De onde você me conhece? - pergunto curiosa.

– Principalmente do acampamento. Entrei nesse ano no colégio e não conhecia muitas pessoas da turma da manhã, mas no acampamento deu para me enturmar mais. E você também não foi muito discreta quando quase saiu no tapa com o Haymitch para ir atrás das suas amigas.- diz ainda mantendo o meio sorriso.

– Você não me falou que bateu no coordenador Kat!- Mad me olha com uma cara assustada.

– Não bati Mad! Eu só exigi que fossemos procurar quem estava desaparecido.- digo dando de ombros.

– Exigiu tanto que foi quem achou os quatro! Eu também estava nos grupos de busca.- diz ele.

– Eu não os achei sozinha, estava com o... Peeta.

– Você e o Peeta juntos? Não me falou isso também! Não acredito que só mudo para o colégio depois que os maiores babados acontecem!- diz Mad indignada.

– Babados? Pareceu uma patricinha agora, ou mesmo uma perua!- digo e caímos na risada, menos Madge, é claro, que fez o maior bico.

– Perua? Que horror!

– Tudo bem, desculpa prima linda! - digo ainda sorrido. Era incrível que como conseguia deixar de lado os meus problemas e aborrecimentos quando estava com meus amigos.

– Só desculpo porque sei que você não vive sem mim!- diz e me abraça.

– Nossa quanto amor!- diz Fox chegando de mãos dadas com Marvel.

– Olha quem fala.- provoca Madge.- Vocês conhecem o Pedro?

– Sim, você jogou no time de Gale no acampamento né?- pergunta Marvel.

– Joguei sim.- diz e apertam as mãos. - Aquele jogo pareceu mais um guerra isso sim. - diz e ri acompanhado de Marvel.

O sinal do fim do intervalo tocou e cada um foi para o seu lugar, que não eram muito longe um do outro. Sentei na minha mesa e abri meu caderno e lá havia uma olha ofício bem dobrada e com um "Para Katniss" escrito em uma cuidadosa letra de forma. Desdobrei o papel e nele havia um resumo muito bem esquematizado da aula de história que tivemos hoje.

O que isso significa? Quem mandou isso? O misterioso novamente? Eram muitas as perguntas sobre isso, mas tinha que admitir que só de começar a olhar aquele esquema eu entendi melhor do que nas malditas aula do Snow. Não sei quanto tempo fiquei lendo, ou só olhando para o papel, mas sai dos meus devaneios com um Clove quase furando o meu braço de tanto cutucá-lo.

– O que foi?- pergunto olhando para meu lado direito onde ela estava.

– Eu que pergunto! Você estava com a maior cara de idiota olhando para esse papel. O que é isso?

– Acho que é do misterioso...

– Como assim acha?

– Como posso ter certeza se nem sei quem é o misterioso? - rebato.

– Silêncio aí atrás. - pediu Annie enquanto anotava a matéria nova de química orgânica.

– Depois mostro para você e as meninas.

– Tá!- diz ela um pouco irritada voltando a copiar.

Olho mais uma vez para a folha e reparo em uma mensagem em um dos cantos do outro lado da folha que não havia reparado antes.

" QUERO PODER TE AJUDAR EM TUDO SEMPRE!"

A letra parece muito com a do último bilhete, mas sendo letra de forma é um pouco difícil ter certeza. Também não sei se o misterioso dos bilhetes é o mesmo misterioso que me beijou... Minha vida está com muito mistério ultimamente. Guardo o papel, deixando de lado todas as perguntas que rodam em minha mente e me foco na aula.

***

– Estamos as quatro aqui, mostra o papel pra elas!- diz Clove mal deixando eu fechar a porta do carro.

– Que papel?- pergunta Mad.

– O misterioso voltou a "atacar".- dramatiza Clove.

– Cadê o papel?- pergunta Fox.

– Ta no meu caderno, pega aí.- digo sem me atrever nem a ligar o carro para sair do estacionamento da escola.

Até que não demorou muito para o papel ser analisado minuciosamente por todas e por fim vir parar nas minhas mãos.

– Esse é o misterioso que você me falou ontem?- pergunta Mad.

– Esse mesmo.

– Será que ele é o maior nerd?- questiona Clove.

– O cara que te beijou parecia nerd?- quis saber Mad.

– Não sei, não dava para ver. Mas eu estava pensando hoje, será que o cara que me beijou é o mesmo que me mandou esses bilhetes?

– Poderia até ter sentido, mas dois misteriosos? Será? - diz Fox.

– Nossa priminha, badalada você ein? Mal acabou com o Gale, já ta de papinho com o Peeta e ainda esses misteriosos atrás de você! - diz e rimos.

– De papinho com o Peeta é? Onde que não vi?- provoca Clove.

– Você estava muito ocupada com o seu namorado. E não foi nada demais, só esclarecemos algumas coisas.- digo simplesmente, não havia porque falar sobre meu "acordo de amizade" com Peeta.

– Mas ele pode muito bem ser o misterioso.- diz Fox.

– Ou um dos!- complementa Mad.

– Ele não tem como ter colocado aquilo no meu caderno, já que depois que falei com ele voltei para sala. Não tem como.

– Vai dizer que não tem como também ele ter te beijado?

– Não... Ele estava com a Delly quando as luzes se acenderam...

– E isso te incomoda, priminha?

– Claro que não!- digo convicta e ligo o carro dirigindo para fora do colégio.

– E esse tal de Pedro? - perguntou Fox.

– Achei ele com um estilo bad boy.- comento.

– Gato ele!- diz Clove.

– Contenha-se! Você está namorando, que a cima de tudo o meu irmão!- diz Fox o que nos faz rir.

– Eu achei ele legal. No outro colégio ele se metia em alguns problemas, nunca falei muito com ele lá, ele tinha a turma dele e eu a minha.

– Como era essa turma dele?- quis saber.

– Alguns populares em geral, alguns bad boys e até alguns nerds. Era bem misturada.

– Ele também vai entrar na lista de suspeitos?- brincou Fox.

– E o Gale?- perguntou Clove.- Vocês terminaram, estão em um clima de "ainda podemos ser amigos" e tudo mais, mas será que ele não está por trás disso?

– Daqui a pouco vocês vão começar a apostar sobre quem é esse misterioso!

– Na verdade já começamos...- murmura Clo.

– Como assim? Vocês estão apostando?- digo incrédula.

– Não apostamos nada material, ainda. Eu acho que o Peeta pode está metido nisso e a Clo acha que não, ainda não sabemos o que de valor poderíamos apostar, então ficou só na palavra mesmo.- confessa Foxface.

– Agora vocês podem apostar algo como, quem perder paga um encontro romântico pra outra!- sugere Madge.

– Ótima ideia!

– Parecem até garotos, apostando por qualquer coisa!- digo e concentro-me em dirigir e parar o carro na casa de Fox.

– Tchau meninas!- se despede Fox.- Clove, o Cato me disse que você vai vir aqui essa noite para o jantar, é verdade?

– Sim...- diz Clo fechando os olhos como se lamentasse.- Conhecer meus sogros.

– E a cunhada!- diz Fox brincalhona acenando e entrando na sua casa.

Após deixar Clove e Madge nas suas respectivas casas, volto para casa onde encontro minha mãe deitada no sofá vegetando na frente da televisão. Por um segundo pensei que ela poderia ter voltado realmente para o estava vegetativo que ela entrou após a morte de meu pai, mas o olhar vago que ela me lançou me provou que ela só estava de folga do hospital.

Mais tarde no meu quarto lá estava eu olhando e estudo pela folha que recebi desse misterioso. No recado que ele deixou dizia que ele queria sempre me ajudar, e ajudou mesmo, a matéria parecia mil vezes mais fácil agora. Entretanto a dúvida e curiosidade de quem poderia está por trás desses bilhetes me assombrava. Será que o misterioso que me mandou esse esquema tão bem organizado, foi o mesmo que me beijou?

Aquele beijo... Não sei poderia ser a mesma pessoa. Qualquer um poderia ter me beijado! Muito provavelmente não fui a única que teve o beijo roubado na hora que as luzes se apagaram, mas talvez tenha sido a única a corresponder o beijo e o ter achado tão envolvente, inesquecível e... Especial.