Jin não se preocupou em ir atrás dela. Voltou a sentar-se na cadeira e olhar para o céu estrelado. Elesis ficou com muita raiva do jovem, raiva dos seus pais, não queria se casar, odiou a ideia desde o começo. Ela sai da mansão pela porta dos fundos, sem ninguém perceber. Havia um celeiro onde ficavam os cavalos. Elesis tinha o seu, um preto, Puro-Sangue, a crina estava penteada e reluzente a luz da lua. Um lindo cavalo.

-Alado, você irá me ajudar a fugir daqui! – disse a ruiva determinada.

Alado era o nome do cavalo, Elesis pôs o arreio, terminou de colocar o que faltava, como a sela de couro. Ela teve um pouco de dificuldade pelo peso, mas nada que a impedisse de conseguir por em cima do cavalo.

-Você irá me ajudar, né? Irá me ajudar a ser livre dessa mentira! Eu não irei me casar com alguém que não amo e, afinal, o que é o amor? Nem sei se sinto isso!

Antes de a ruiva subir, ela passou a mão na crina, como forma de carinho, logo depois subiu, o que foi mais complicado, já que estava de vestido, mas Elesis deu um jeito de montar e começou a cavalgar lentamente, até saírem do celeiro.

Depois que saíram, Alado começou a correr mais rápido, em direção ao portão da mansão. Dentro da mesma, Bernard anunciava o início do jantar, Jin se levantou da cadeira e, antes de ir para a mesa, viu um cavalo negro como a noite sair pelo portão a fora. Percebeu que quem montava era uma mulher, pelos seus longos cabelos vermelho que voava com o vento.

-Elesis!? – Jin forçou mais a vista e concluiu – É a Elesis! Essa idiota está fugindo! Que menina rebelde e audaciosa!

-Como senhor? – perguntou Bernard, ao se aproximar de Jin.

-A louca da sua jovem patroa está fugindo!

-Hã?

-Ela saiu com um cavalo preto.

-Alado?

-O que?! Enfim, vá atrás dela! – Jin estava furioso com a atitude da ruiva.

-Temos que comunicar isso ao Duque e a Duquesa! – Bernard saiu da sala onde estava e foi até a outra, onde seus patrões se encontravam.

Quando Bernard ia começar a falar, Jin interviu e contou o acontecido. Elscud, Sieghart e o Marquês levantaram-se da cadeira. O Duque jogou com força a toalha sobre a mesa, a mãe da ruiva juntamente com a mãe de Jin ficaram incrédulas com o que ouviram.

-Como assim minha filha fugiu?! – Elscud estava soltando faíscas pelos olhos.

-Oh Deus! – a Duquesa estava aflita.

-Ela saiu com um cavalo preto. – disse Jin.

-O Alado, senhor. – disse Bernard.

-Fique calmo, Elscud!

-Como Elena!? Elesis fugiu! Logo no dia do seu noivado!

-Eu irei atrás dela. – disse Sieghart, indo para perto da porta.

-Usará seu cavalo? – perguntou Bernard.

-Sim.

-Então irei à frente para arrumá-lo.

-Obrigado, Bernard. – disse Sieghart. – Eu irei trazê-la e haverá o noivado.

O Marquês assentiu, não questionou nada, percebeu que Sieghart estava sério e determinado. Sieghart era um moreno forte e, mesmo com a idade, tinha a feição jovem. Mas jovem que a do próprio filho.

-Eu também irei. – Elsculd olhou para sua esposa, a mesma concordou com a cabeça, e depois saiu.

-Jin, vá junto com eles! – ordenou seu pai.

-Tudo bem. Mas não tenho um cavalo.

-Não se preocupe querido, temos um lá no celeiro. Ele é branco, é o meu. Pode usá-lo e, por favor, encontre a minha filha. – a Duquesa falou com lágrimas nos olhos.

-Obrigado. – Jin também se retirou.

-Ficará tudo bem. Eles a encontrarão. – a Marquesa tentou acalmar a mãe da ruiva.

-Não estou com um bom pressentimento, temo que algo possa acontecer com minha filha. Está escuro lá fora e o cavalo dela é um Puro-Sangue, ele é veloz e nervoso. Ela é a única que consegue fazer com que ele fique manso, mas mesmo assim estou com medo.

-Pressentimento de mãe, eu sei como é. Mas ficará tudo bem.

-Eu espero, eu espero.

Lire e Arme ouviram a conversa e também ficaram pasmas.

-A Elesis é louca! Como ela pôde fugir logo hoje!? – a baixinha ainda não estava acreditando.

-Eu estava sentindo que ela faria alguma coisa e não seria nada bom.

-Ela agiu por impulso?

-Acho que não, mesmo não querendo esse noivado, ela não faria isso.

-O que aconteceu, então?

-Não sei, Arme! – Lire começou a ficar nervosa – Mas acho que foi o ruivo. Ele me pareceu um menino muito metido, ou com um pavio curto como a Elesis, se os dois conversaram e se desentenderam... É bem provável de ela ter fugido depois disso.

A loira estava apreensiva e também pressentia que algo aconteceria com a amiga.

-Está bem, Lire? – Arme começou a se preocupar.

-Não sei se isso tudo irá acabar bem.

-Ela está com o Alado, ele é bem veloz, espero que ela consiga domá-lo.

-Por isso estou com receio, Alado não gosta muito de andar no escuro, ainda mais sem rumo.

-Tomara que acabe tudo bem e encontrem a Elesis.

-Tomara...

Os três saíram apressadamente da mansão a procura da ruiva.

-Elscud! – Sieghart o chamou - Vá para a cidade, eu e Jin iremos seguindo as fazendas.

-Ok. – Elscud deu a volta com o cavalo e depois começou a correr em direção à cidade.

-Criança, sabe correr?

-Claro!

-Então vamos! É bom ficar atento, está de noite.

-Pode deixar.

Jin e Sieghart começaram a procurar pela ruiva pelo caminho das fazendas, o caminho que ela usou para fugir.

Enquanto isso, Elesis havia parado. Alado estava se recusando a continuar.

-Ah! Vai me deixar na mão agora? Vamos Alado!

A ruiva desceu do cavalo e avistou alguém, o puxou para trás de uma árvore. É claro que não escondeu o cavalo, mas como era preto, não iria ser perceptível. Ela ficou agachada e observando para ver quem era.

Um menino de longos cabelos azul, com um rabo-de-cavalo estava caminhando e passou direto. Elesis se levantou e montou o cavalo novamente.

-Agora você vai. Anda! Vai Alado! – ela tentava a todo custo fazer com que o cavalo começasse a andar de novo, mas nada dele sair do lugar.

A ruiva começou a falar mais alto, o que chamou a atenção do menino que passara por ela. Ele olhou para trás e viu a jovem, mas não se importou muito.

-Escandalosa. – ele falou para si mesmo.

-Ronan! – um menino de cabelo laranja o chamou.

-Oi Ryan.

-Falando sozinho?

-Não. – Ronan riu – Aquela menina – ele olhou para trás – está gritando com o pobre do cavalo.

Os dois começaram a conversar e a andar. Mas pararam ao ouvirem os relinchos desesperados do animal. Alado sentiu algo passar por sua pata. Por ser um cavalo nervoso e frágil, começou a levantar as patas da frente, com medo do que poderia ser.

-Alado! Para! – Elesis começou a gritar.

Ronan saiu correndo e parou a frente do cavalo.

-Ei, ei! Calma! Calma, garoto! – o azulado fazia um gesto com a mão, como se pedisse para que o animal parasse.

-Ronan! A menina vai cair! – Ryan gritou, mas foi tarde demais.

Elesis caiu, pois Alado se inclinou muito ao levantar as patas, a ruiva bateu a cabeça numa pedra e ficou inconsciente.

-Ah não! Deus do Céu! – Ronan pôs as mãos na cabeça, mas viu que ainda precisava acalmar o cavalo. – Ryan, veja como está a menina!

-Ok. – ele correu até a mesma e a segurou – A cabeça dela está sangrando e ela desmaiou.

-Tenta acordá-la.

-Não dá! Ela bateu forte com a queda! – Ryan deu leves tapas na bochecha da ruiva, mas nada de ela acordar.

-Ei! Calma! – Ronan continuou tentando, aproximou-se mais do cavalo e tentou tocar-lhe, sem sucesso na primeira tentativa. – Sai daí! O cavalo está se chegando perto de vocês!

Ryan levantou Elesis em seu colo e a levou para perto da árvore.

-Tente chama-lo pelo nome. Se você souber.

-Isso, Ryan! Acho que é Ala... Alo... Qual é?! Alado! Isso! – Ronan puxou a corda que estava solta – Alado! Fique calmo! Não se preocupe, eu não vou lhe machucar.

-É um puro-sangue, não é?

-Sim, por isso é mais difícil. Mas irei acalmá-lo! – disse Ronan determinado.

O azulado puxou a corda, aproximando o cavalo para perto de si, ele parou de relinchar e de pular, abaixou as patas da frente, Ronan chegou a mão mais perto de Alado, o cavalo já estava mais manso, pois não sentiu perigo quando Ronan se aproximou. O azulado acariciou o rosto do animal.

-Não se preocupe, tá tudo bem agora.

-Boa! Teve êxito ao dominar o animal feroz.

-Ele deve ter se assustado com algo. – Ronan estava puxando o cavalo pela corda e a amarrou na árvore, para que ele não fugisse ou tentasse algo. – Como ela está?

-Viva. – Ryan riu.

-Não me refiro a isso. Falo do ferimento.

-Ainda está sangrando.

-Essa louca acha que pode sair com um cavalo desses a noite! Ela queria se matar, só pode!

-É uma louca bem bonita.

-Ryan, não se encante por ela. Essa menina é louca e perigosa.

-Eu não a acho perigosa, ela... – Ryan tocou em seu braço e ficou assustado - Ela está gelada!

Ronan rapidamente tirou seu casaco e a cobriu.

-O que essa menina tinha na cabeça pra fazer essa loucura?

-Bem, pra começar ela é uma menina, não sabemos muito o que elas pensam.

Os dois riram. Ronan se aproximou mais dela, a ruiva estava com a cabeça na perna do alaranjado, que pressiona seu ferimento na cabeça, para ver se parava de sangrar.

-Ela é tão linda. – o azulado acariciou seu rosto – Tão frágil e forte ao mesmo tempo. Qual deve ser o nome dessa linda donzela?

-Agora ela é linda e donzela? Cadê a louca e perigosa? – Ryan empurrou o amigo – Você falou para eu não me encantar por ela, mas acabou caindo em seus encantos.

-Não... Não é nada disso! Eu só não te empurro de volta, porque está com a menina.

-Ronan, você está gostando dela?

-E-eu?! Você tá louco né?! Para com esse assunto! Temos que leva-la daqui, ela precisa de um médico, sei lá.

-Se soubéssemos quem é a família dela, ou pelo menos seu nome, já ajudaria muito.

-Ainda está sangrando? – Ronan estava preocupado.

-Só um pouco, fiz com que cessasse.

Ronan segurou a mão da jovem e ficou olhando-a. Ele havia se encantado pela menina.

-Sinto dizer-lhe, mas se ela for uma filha de Duque, Marquês, Conde, você nunca terá uma chance.

-O que?!

-É, ainda mais se estiver prometida, aí filho.... Suas chances de ficar com ela são zero.

-Ryan, você é mesmo um idiota, eu não me apaixonei por essa louca.

-Está segurando a mão dela e não para de olhá-la.

Ronan rapidamente a soltou e se levantou.

-Ficou até corado com o que eu falei. – Ryan riu mais ainda.

-É bom você parar com isso, senão... – Ronan parou de falar ao ouvir alguém gritar um nome.

-Elesis!! Elesis!!

-Quem será? – indagou Ryan.

-Não sei. – o azulado ficou procurando a origem da voz, ou melhor, das vozes.