Ok,tomei coragem e entrei no meu novo lar.Havia um hall de entrada,com apenas um quadro com uma beterraba(eu não sei porque tinha um quadro com uma beterraba) e um tapete que era para estar escrito "Bem Vindo",mas algum indivíduo rabiscou o "n",de modo que ficou "Bem Viado".Sem palavras.Nas duas paredes laterais haviam duas portas,provavelmente que levavam para os quartos do andar.Mais ao fundo havia outra porta,que era o banheiro.Eu sei que era o banheiro porque tinha uma placa escrito "banheiro",e havia acabado de sair de lá um garoto obeso com um pedaço de papel higiênico preso no tornozelo.Que lindo.Ele me olhou com uma expressão assustada e berrou:

__Uma menina!!- ah vá.

Em cinco segundos o hall lotou de garotos querendo saber porque havia uma garota toda encharcada(sim, eu ainda estava molhada) segurando um caderno, uma caneta e uma chave na ala masculina.

__O que você está fazendo aqui?-um garoto alto e loiro perguntou.-Você deveria estar na ala feminina.-

Expliquei a eles a situação.Estava tudo bem até eu mencionar que eu dividiria o quarto com o Andrew.Todos se entreolharam e depois olharam para mim com um misto de dó,compaixão e piedade.My God esse garoto deve ser um demônio mesmo.

__Boa sorte.-um outro garoto me desejou,dando tapinhas de leve nas minhas costas.

E com isso o hall se esvaziou tão rápido quando lotou.Fiquei lá parada encarando a escada.Coloquei meu pé no primeiro degrau.Rangeu.Fui subindo lentamente,fazendo vários rangidos.O segundo andar era a mesma coisa que o primeiro,só que não tinha uma escada.Notei que nas portas havia uma pequena plaquinha.Em uma estava escrito "Quarto do Monitor" e na outra "Quartos 8,9 e 10".10.Era o meu.Quer dizer,o nosso.Respirei fundo e abri a porta.Deu em um corredor escuro com um quadro de um porco no final.O que essa gente tem contra quadros com imagens normais,eu não sei.Meus olhos foram direto para a porta com uma plaquinha(meu deus quanta plaquinha) com o número 10.Parei em frente a ela.Respirei fundo umas dez vezes.Na décima a porta se abriu de súbito,me dando um susto tão grande que abafei um grito.Na minha frente havia um garoto de uns 15 anos,ele usava um moletom preto e uma calça da mesma cor.Tinha um cabelo preto grande e emaranhado,que eu só conseguia ver uma parte,pois ela usava um capuz.Não consegui ver seus olhos.Sua pele era tão branca que eu podia jurar que ele nunca saiu daquele quarto.Ele me encarou sem expressão.

__O.Que.Você.Quer?-ele perguntou pausadamente,como se falasse com um doente mental.Que vontade de bater nesse moleque.

__Hum,me mandaram para cá.-falei e balancei a chave com o número 10 no ar.Ele arfou e soltou um grunhido estranho.Me encarou como se eu fosse um...um...sei lá,ele me encarou de um jeito sei lá.Ah!!E bateu a porta.Na minha cara.Do nada.E trancou.Mas que cara *****.

__Ei!Você não pode fazer isso!Esse quarto é meu também agora!-gritei,batendo na porta.Devo ter ficado uma meia-hora lá esmurrando aquele maldito pedaço de madeira,sem ouvir nem um espirro do bicho esquisito trancado no quarto.Suspirei.Escorreguei apoiada na porta até chegar ao chão.Peguei meu diário.

"Querido diário,

O acampamento é muito legal,mas eu estou com muita raiva para desfrutar disso.Devido a "problemas técnicos"(lê-se Barbie) eu estou sendo obrigada a dividir um quarto com um cara estranho e demoníaco.Na verdade eu não estou dividindo o quarto com ele porcaria nenhuma,pois ele me trancou do lado de fora,me rejeitou.Eu odeio ser rejeitada.Passei todos os anos da minha vida sofrendo com isso.E nas mãos da minha própria mãe.E aqui estou eu de novo.Sendo ignorada."

Sem perceber eu estava derramando lágrimas sobre as folhas do caderno.Eu não chorava por ser ignorada pelo idiota ai dentro do quarto.E sim por lembrar de minha mãe.Lembrar do quanto eu já sofri nas mãos dela.Acreditem a pior coisa do mundo é ser ignorada.Eu sei muito bem como é isso.Acho que fiz barulho enquanto chorava pois logo a porta se abriu.Não,não foi a do quarto.Andrew deve ter morrido lá dentro.Foi a do corredor.Logo aquele carinha lá,o monitor entrou no espaço.Limpei rapidamente as lágrimas,sem muito sucesso.

__Você está chorando?-ele perguntou com as sombrancelhas unidas.

Apenas balancei a cabeça.Não queria falar sobre isso.Teria que contar toda a história da menininha sofrida que eu já fui,e eu odiava ter que fazer isso.Ele se aproximou e se abaixou a minha frente.E me abraçou.Devo ter molhado sua camiseta,mas não me importei.Logo ele se afastou e olhou de olhos semi-cerrados para a porta do quarto.E bateu nela.Ele não fez simplesmente um "toc toc" comum,ele quase partiu a porta no meio,foi mais para um "BUM BUM".

__Andrew,abra essa porta agora!-esse cara vai virar o Hulk.

Logo a porta se abriu.Nossa,todo mundo tem medo do monitor.

__Entra!-ele falou,não pra mim,mas para Andrew.Os dois entraram ele fechou a porta.-Espere um pouco aí.-ele pediu.Apenas confirmei com a cabeça.

Não consegui entender nada do que falavam.Devem ter ficado lá por uns quinze minutos até a porta se abrir de novo.Eu já havia me recuperado do choro repentino.

__Pode entrar agora,Andrew não vai mais incomodar.Suas roupas já estão no armário.-o monitor falou,lançando um olhar significativo e assustador a Andrew,que parecia um corvo encolhido no meio daquelas roupas.-Meu nome é Philip!-ele falou abrindo um sorriso e bagunçando meus cabelos.Eu estava começando a me assustar com as mudanças de humor repentinas dele.-Se tiver algum problema é só me chamar.-e se retirou,me deixando com um cara que podia ser um assasino estripador.