Lary Taylor escrita por Akira Seiy


Capítulo 2
Capítulo 2 - Males afoitos




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Lary Taylor

Capitulo 2 – Males afoitos

Como todas as manhas acordo já sabendo o que me aguarda. Ver as pessoas sofrendo já esta na minha rotina. Levanto da cama sem motivação, olho as horas. Acordei mais cedo que o normal, não vou conseguir dormir de novo. Pego meu notebook de baixo da minha cama.

Abro o navegador e vou checar meus emails. Um email da tia Miranda.


“Lary, minha queria. Desculpe-me, mas esse mês terei que te mandar menos dinheiro. Estamos um pouco apertados aqui em casa...”


Sim, acredito muito, seu cachorro precisa de banho não é mesmo? Rica hipócrita.

“Eu liguei para a escola, suas notas estão boas como sempre. Mas me disseram que você não se socializa direito. Faça amigos Lary! Você é tão gentil, não sei por que não anda com as garotas da sua sala. Eu falo com você em breve minha sobrinha.”

Você não me vê a mais de dois anos, pare de fingir que se importa. Ela não queria nem que eu morasse com ela, preferiu me deixar sozinha em uma cidade que eu não conhecia ninguém. Ainda bem que Alex se mudou pra cá pouco tempo depois. Ela me manda dinheiro uma vez por mês, nunca vem me ver. Não sei como ela esta hoje em dia, mas da ultima vez que a vi seu coração já não tinha mais bondade. Ela andava com um grupo daquelas “coisas” atrás dela. Como um enxame de abelhas.


Ouço alguém chamando na porta. Alex, só ele pra gritar tanto. Vou rápido ate a porta da frente, passando pelo corredor que liga a sala ou meu quarto. Abro a porta, ele esta com aquele sorriso, idiota que eu adoro.



─Ainda esta de pijama Lary.


─Qual o problema?

─Nenhum. Eu não disse nada. – Ele me olha dos pés a cabeça. – Acabou de acordar, não foi?

─Sim.

─Nossa Lary, sua preguiçosa!

─Mas ainda está cedo!

─Só se for para você, que não faz nada!

─Ir para escola já é muita coisa. E você fala como se fizesse.

─Eu faço!

─Ir à casa das pessoas de manha não conta!

Ele tira uma sacola que segurava atrás de suas costas.

─Você reclamou comigo semana passada, que a hora que você acordava não servia mais café na lanchonete.

Parece ser tão pouco, mas pra mim não. Nunca ninguém havia feito algo parecido com isso pra mim. Nunca ninguém se importou.

─Alex. Obrigada eu...


Não pude terminar a frase, um vulto preto passando por suas costas me tomou a atenção, ele parou a metros do Alex, estendia os braços, ou seja lá o que eram essas coisa, para tocá-lo. Era mesmo verdade, eu nunca poderia ser feliz. Essas coisas sempre estragariam tudo. Não vou deixar tirarem Alex de mim.


Puxo Alex para dentro, rapidamente fecho a porta com a minha mão que não estava o segurando. Eu estava em choque, ele parecia um pouco assustado, eu estava precisando olhar para cima para poder enxergá-lo, podia sentir seus batimentos, aos poucos se acalmando. Seu rosto assustado era trocado por um sorriso. Não entendi porque ele estava sorrindo, isso foi estranho, não foi?


─Vai me beijar agora?


Só percebi quando ele disse isso, havia puxado ele para muito perto de mim. Dou um passo para trás, sem jeito.

─Não, é que, eu. Sabe é que eu queria que. – Ele não parava de rir, afinal porque ele tinha que dizer isso? Foi constrangedor.

─Você fica fofa desse jeito.

─Cala a boca. – Não tinha como nem eu me levar a serio naquele momento rio junto com ele. Alex me faz esquecer tudo que me assombra. Por isso não posso perdê-lo.

─Mas por que isso agora? Por que me puxou?

Ah um vulto demoníaco ia devorar sua alma! Agradeça-me depois por salvar sua vida!

─Ahm... É que...

─O que?

─Eu vi... A Isabela, não queria que ela me irritasse logo de manha.

Isso! Sou um gênio das desculpas!

─Tanto alvoroço por causa dela?

─Ah, me deixa! – Pego a sacola da mão dele e vou para a cozinha. Posso ouvir seus risos atrás de mim. Puxo uma das cadeiras da mesa e me sento.


─Não sabia que ligava tanto assim para a Isabela.

─Eu não ligo. Só não quero que ela estrague meu café da manha.

─Isso não é mais hora para um café da manha! – Ele aponta para o relógio da cozinha, já eram onze horas.

─Não queria que ela atrapalhasse meu almoço! – Rimos feito idiotas. Mas éramos sempre assim.

Como rápido. O suficiente para ele se assustar, mas ele não comentou. Ele só ficou quieto, me olhando.

Me levanto e vou em direção ao corredor, para ir ao banheiro começar a me arrumar para a escola.

─Vai me deixar aqui sozinho?

─Quer o que? Tomar banho comigo? – Ele já estava com o uniforme e incrivelmente com a mochila, eu não tinha reparado até então, já estava pronto pra ir pra escola.

─Não ofereça duas vezes.

─Assista TV na sala. – O deixo e vou para o banheiro.

Tomo um banho rápido, sempre deixo o uniforme no banheiro.

Retorno ao quarto, pego minha mochila e vou para a sala. Onde Alex fingia estar dormindo para fazer graça.

─Vamos logo seu idiota! – Jogo um lápis nele.

─Ai! Não precisa ser tão má assim!


Olho pelo olho mágico para ver se aquela coisa não estava mais lá.


─O que está fazendo?

─Fica na sua vai! – Ele ri, acho que é de como fico brava fácil.

Aquilo não esta mais na frente da minha casa. Abro a porta, para ter certeza olho em volta.

─Você é meio paranóica Lary.

─É meio estranho ver um garoto sair da casa de uma menina que mora sozinha, não é mesmo? – Ele ri. Mas isso faz sentido.

A mestra das desculpas ataca novamente! Meu Deus! Estou ficando idiota de mais por andar com o Alex.


Hoje parece que o tempo de caminhada para a escola foi mais rápido, fazia tempo que não ia para a escola com o Alex. Mas algo me incomodou o tempo todo. Hoje “eles” me fitarão o caminho inteiro. Nenhum deles tirava os olhos de mim nem por um instante. Isso estava sendo realmente perturbador.


─Boa dia Lary!

─Bom dia Thiago.

─Thiago! Quantas vezes eu tenho que te falar que agora já se fala “boa tarde”?

Alex implica com tudo. Ninguém merece.

─São cinco para o meio dia. Só se fala boa tarde a partir das doze horas Alex!

─Vai seu idiota!

─Fica quieta ai sua preguiçosa! – Eu e Thiago riamos da cara do Alex, ele não gosta mesmo de não estar com a razão.

Vamos até a sala, ficamos conversando sobre assuntos idiotas até o sinal tocar. A primeira aula é de matemática, como sempre a professora não esta com motivação nenhuma para dar uma lição dessente. Passa os mesmos exercícios fáceis, porem reformulados. Alex não para de reclamar com o Michael sobre eles.

Como de costume, fico olhando para o céu. Mas hoje por algum motivo, não pude deixar de reparar nas atividades estranhas acontecendo pela cidade. Não apenas com as pessoas, “eles” também pareciam agitados. Não posso deixar de lembrar, hoje de manha “aquele” que apareceu atrás do Alex, era diferente. Era maior, mais assustador. Não pude perceber naquela hora. Mas ele era mais forte que os outros.

─Lary?

─Ah, oi Carol.

Carol, ela sempre esteve na minha classe, desde que eu mudei pra essa cidade, pelo menos. Ela parece ser legal, mas como todos, nos falamos pouco. Ela senta na carteira a minha frente. Ela geralmente fala comigo para ajudar nos exercícios de matemática.

─Poderia me ajudar na questão três?

Passo os olhos no meu livro de questões.

─A resposta é B, X igual a 36.

─Ah obrigada Lary.

A aula já vai acabar ela ainda não tinha terminado as questões? Até o Alex já deve ter terminado! Olho para Alex, que jogava bolinhas de papel no Michael.

Esqueça o que eu disse.

Não pude deixar de perceber, de novo a garota nova me olhando, acho que ela nem percebeu que eu havia visto. Ela continuou. O que há de tão interessante em mim afinal? O inspetor passa pela porta avisando que a aula de matemática acabou. Pouco depois o professor de geografia entra. Eu sempre gostei de geografia mesmo sendo uma matéria considerada fácil, é muito interessante.

Durante a aula o professor fala bastante, explica sobre atualidade em alguns países, que aborda a matéria estudada nesse bimestre. As aulas dele sempre são interessantes e passam rápido. O sinal do intervalo toca. Os alunos, como sempre agitados para sair da sala. Fico aqui apenas observando o caos. E implorando para que Isabela passe reto por mim. Alex conversava com uma roda de pessoas, ele é bem popular. Bom pelo menos que eu vejo. Não sei se ele é assim com os alunos das outras salas. Até mesmo Isabela parece gostar dele, quando não estou com ele, geralmente ele esta nessas rodinhas. Ela sempre está ou tenta ficar nelas.

Ah não me importo, hoje estou me distraindo muito. Tanto a ponto de nem “percebê-los”. Mas como sempre, estão lá, ou melhor, em todos os lugares. Ficar alegre me faz esquecê-los. Não, ficar alegre me da à capacidade de ignorá-los.


Alex esta na porta da sala perguntando se pode sair, fazendo sinais com as mãos. Que idiota. Assenti rindo. Ele sorri e sai da sala, atrás dos outros alunos que estavam com ele.

Volto a pensar sobre o que pode estar acontecendo na cidade. Perco-me por muito tempo nos meus pensamentos. Faltam menos de três minutos para acabar o intervalo, o relógio da classe sempre está certo. Até o sinal tocar, ninguém entra na sala. Desenho a criatura que vi hoje na porta da minha casa. Realmente era assustadora. O professor volta pouco antes dos alunos. O sinal toca. E todos voltam muito rápidos, nunca vou entender porque tem tanta pressa.


O professor fala mais um pouco sobre o Haiti. Nada muito interessante. Mas presto atenção. Novamente a aula passa rápido, o inspetor chega à porta, todos já sabem o que significa.

Hartline chega. Ela na verdade é uma professora substituta, mas esta com a gente desde o começo do ano. Nossa professora de arte falta muito. Ela passa um texto sobre Picasso, e uma releitura. Algumas matérias são realmente fáceis para mim. Arte, para alguns é só desenho. Como é o caso de Hartline. Copio o quatro do Picasso que estava na pagina do livro e entrego. Nenhuma novidade. Nossa sala é incrivelmente quieta, apenas alguns momentos são barulhentos por causa do Alex. Nada que me surpreenda.

Como de costume fico olhando o céu, hoje, sereno e calmo, sem nem uma nuvem se quer. Vejo a brisa nas arvores distantes. Uma cidade sem prédios é boa. Nem me importo com a agitação que continuava nas ruas. Fico sem fazer nada o resto da aula. Isso sempre acaba acontecendo.

O alvoroço entre os alunos para com o barulhento sinal é sempre o mesmo, levantam afoitos de suas mesas e saem com pressa. Alguns sempre ficam na sala terminando de arrumar seus materiais. Hoje Isabela não falou comigo nenhuma vez! Isso é ótimo!


Lary! Não quer que eu te leve pra sua casa?

─Não precisa Alex. – Sorrio e passo por ele.


Eu acho que é pedir demais, ele já esta sempre comigo.


Gosto de ir sempre rápido pra casa. O por do sol é lindo em uma cidade sem muitos prédios, isso me distrai, sempre. As criaturas continuam me fitando, como se me julgassem, como se eu tivesse feito algo errado. Não que eu me importe. Afinal Alex não esta comigo. Então provavelmente ele esteja seguro. Não gosto de pensar em nada acontecendo a ele. Mas posso aceitar que aconteçam comigo. Afinal eu já me acostumei, vivo essa realidade, estranha, escura e solitária, desde... Posso dizer, desde sempre.



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