Sinto um calafrio subindo pelas minhas costas enquanto encaro Snow com pavor nos olhos. Ele apenas dá um sorriso e levanta-se de sua cadeira com toda a certeza de que voltarei para a arena. Os pacificadores tentam arrastar Kândice para fora, mas com um puxão ela se liberta e corre em minha direção se envolvendo em meus braços.

- Você não precisa fazer isso por mim. – Ela diz com a voz trêmula. – Eu posso tentar. Você não precisa passar por tudo de novo.

Acaricio seus cabelos na tentativa inútil de confortá-la enquanto as lágrimas rolam pelo seu rosto. Isso tudo é amor? Ou apenas pena? Tento imaginar sua cara quando me declarei a ela em frente de todo o país. Olho para os lados sem saber o que falar. Os pacificadores puxam-na de meus braços e a porta se bate logo em seguida. Fico sozinho por uns cinco minutos até outros doispacificadores me dirigirem para fora da prisão até um carro preto.

Antes mesmo de eu entrar no carro, Zyra corre em minha direção com os olhos espantosos, e pela feição em seu rosto, ela parece surpresa por eu estar ali. Correndo até mim Zyra repete várias vezes um “eu sinto muito”.

Entro no carro sem dizer uma palavra se quer. Ao meu lado está uma garota de cabelos exageradamente escuros com olhos cinzentos aparentando ter uns 18  anos. Essa é a sortuda desse ano, mas se eu não aceitasse a proposta do presidente Snow e optasse por ser executado amanhã, Kândice iria para os jogos no meu lugar e sorteariam apenas um garoto do nosso distrito. Nossos olhares se cruzam até eu desviar o meu para a janela do carro.

Estava ansioso para rever minha família, mas passamos direto peço Edifício da Justiça e seguimos para a estação. Talvez eu seja tão insignificante para a capital que não mereço nem ver minha família antes de uma possível morte.

Ao chegar à estação, o mesmo ritual se repete. Vejo o brilho nos olhos da garota, mas nada ali era novo para mim. Na verdade queria distância daquele lugar que me causa repugna. Vejo Merle saindo alegremente do corredor como se tivesse boas novas. Assim como Zyra ele parece surpreso da minha presença. Seu rosto antes alegre agora demonstra preocupação.

- O que você faz aqui? – Ele pergunta confuso. Deixo escorrer uma lágrima e ele vem em minha direção.

- Snow. – Zyra responde por mim – Ele está passando dos limites.

- Por que não me deixam morrer em paz? – Digo às lágrimas. Merle encosta minha cabeça sobre seu peito.

- Espera – A garota de olhos cinzentos intervém – Você é Kramer! Kramer Trybiani, o vencedor dos jogos no ano passado! Como podem forçar você a voltar para a arena?

- Ou era ele, ou quem ele mais ama. – Merle responde. – Mas isso não é hora pra conversar sobre isso.

A garota recua e noto o peso em sua consciência.  Fico curioso para saber o motivo da alegria em que Merle cruzava o corredor. Não me contenho e pergunto:

- Então? Qual era o motivo de toda aquela alegria? – Merle franze a testa como se estivesse lembrando-se do recado, até que responde:

- Ah! Quase me esqueci! – Ele responde em uma alegria só. – Esse ano parece que os idealizadores dos jogos chegaram a um acordo. Não será mais apenas um vencedor, dois podem sobreviver contando que sejam do mesmo distrito. – Meus olhos brilham diante da notícia. Olho para a garota que está pasma. – Isto quer dizer que poderemos tirar os dois vivos, mas têm que prometer que colaborarão. – Balançamos a cabeça positivamente. – Esse ano, não desperdiçaremos essa chance que nos foi dada, então teremos que nos focar em conseguir patrocinadores. – Termina Merle.

- Então quer dizer... – Interrompo. – Que este ano teremos que nos comportar como verdadeiros carreiristas?