Okami No Me escrita por BlackFang


Capítulo 28
Yue


Notas iniciais do capítulo

" Alguns dos laços formados nunca poderão ser quebrados. Por mais que você a odeie. Por mais que você deseje distância. Por mais que você deseje a ela, a morte."



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            Em meio à densa escuridão, a mente de Sayuri começava finalmente a clarear e a sua frente estava Taruk que sorria para ela, envolto em sua capa de pele de lobo.
            Novamente suas roupas estavam diferentes. Usava um longo vestido branco e tinha em sua cabeça uma faixa trançada, adornada com rosas de mesma cor.

            - Por que essas roupas? – perguntou para si, mas foi o suficiente para que seu mestre a escutasse.
            - Isso é o reflexo do seu ‘eu’ interior. Pode tanto refletir seu estado de espírito quanto alguma memória de uma vida passada...não tenho como dizer. – respondeu com o costumeiro sorriso que sempre a tranquilizava. – Mas me diga, como foi encontrar com o seu lobo branco?

            Agora tudo ficara mais claro. As memórias do que acontecera antes voltavam a tona. O festival, a palestra, os caçadores e o lobo ensanguentado.

            - ...Yue? – e colocava uma das mãos na cabeça tentando se lembrar de quem era aquele nome, ao mesmo tempo que tentava assimilar ao que Taruk dissera. – Espera...meu lobo branco? Aquele não era Waheela? – mas seu mestre apenas soltou uma gargalhada.
            - De forma alguma. – e pegou seu cachimbo de ervas que começou a soltar fumaça sem ter sido aceso. – Waheela é um poderoso ser espiritual, mas não tem como se materializar no plano físico. Como você sabe, esse animal é a marca do sacerdote. O quê você encontrou no recanto é o seu próprio lobo branco que seguindo seu Chroma, veio a seu encontro. Mas não esperava que caçadores clandestinos estivessem na montanha durante sua visita. – e percebendo a confusão da garota continuou. – Imagino que você mesma não o chamou de Waheela, estou certo?

            Com essas palavras, a garota sentiu que conseguira a peça que faltava para ligar suas ideias.

            - Não, eu...o chamei de...Yue. – disse lembrando-se das palavras que dirigira ao animal antes de desmaiar. – Mas por quê Yue?

            Taruk a fitou surpreso por alguns instantes antes de retornar a seu olhar sereno. Sua expressão dava a parecer que contemplava uma miragem.

            - Não esperava outro nome vindo de você.
            - Como assim? – respondeu, voltando a ficar confusa.
            - Pensando bem... – e refletiu por alguns segundos. – Por ora, não dê importância as minhas palavras. Ainda é cedo para falarmos sobre isso. Mas a partir do momento que um sacerdote atribui um nome para seu lobo, criamos um forte elo onde compartilhamos emoções e pensamentos. Um elo que não pode ser quebrado por ninguém, senão por nós mesmos.

            A garota refletiu por alguns momentos, pensando no significado daquela palavra, mas ao não encontrar nenhuma resposta aparente, mudou o assunto.

            - E o seu lobo, mestre Taruk? Que o nome que o senhor deu a ele?

            O mestre soltou outra das suas descontraídas gargallhadas pela pergunta inesperada.

            - Ele se chama Ico...mas conversaremos sobre isso mais tarde pois o tempo está acabando.
            - Mas mestre! Agora que Yue apareceu, poderei subir a montanha?
            - Não se precipite, jovem aprendiz. Você ainda não viu o mundo o suficiente. Mas agora que tem o lobo a seu lado, venha quando achar que está pronta.

            As imagens ofuscavam sua visão quando Taruk proferiu palavras que, mesmo em meio a escuridão que confundia seus sentidos, puderam ser ouvidas.

            - Ah sim. Sobre o pergaminho que conseguiu no Torneio de Triggs, aconselho que o leve para Con Rit assim que possível.

            Sayuri sentiu o cansaço voltar a tomar conta de seu corpo e finalmente cedeu ao sono.

~*~

            A garota sentiu que muito tempo se passara desde que voltara a dormir, mas que não fora suficiente para dar fim a dor de seu ombro esquerdo.
            Ouvia o som de páginas sendo folheadas, indicando que embora tudo estivesse silencioso não estava sozinha,  o que a fez abrir os olhos lentamente, tentando se acostumar a luz branca que refletia nas paredes do quarto.
            Levantou-se com dificuldade, tentando ignorar o ferimento que ainda a incomodava.

            - Say! Você acordou! – disse uma voz que ela rapidamente reconheceu. - Como você está?

            A garota ruiva levantou-se da cadeira onde estava e correu em sua direção.

            - Lucci! Eu estou bem – e tocou no ombro para avaliar a gravidade, o que causou uma enorme pontada de dor – ou nem tanto. É a primeira vez que venho parar no hospital da Ordem. – dizia enquanto observava o quarto.
            - E não é pra menos. Aquela bala atravessou o seu ombro. – e ajudou a amiga a se recostar na cama. – Você assustou todo mundo sabia? Até mesmo o líder ficou sem reação quando você se jogou em cima do caçador.
            - Acho que foi uma reação instintiva...
            - Sinto muito, mas não conheço ninguém que se jogou na frente de uma bala por instinto. Muito pelo contrário. – e ambas riram.
            - Mas e o Hikaru? – dizia a loba enquanto percorria os olhos pela sala. – Onde está?
            - Nem me fala do Hikaru. – disse a ruiva, deixando se levar por uma expressão de cansaço extremo. – Como você dormiu por um dia inteiro, ele ficou aqui durante a noite, mas o seu mestre não deixou que ele faltasse ao treino. Mas Imagine o quanto foi difícil tirá-lo daqui!
            - Aos... chutes e pontapés? – arriscou a loba.
            - Exatamente. – concordou levando uma das mãos a cabeça, irritada ao relembrar do que acontecera. – Fora que eu soube que ele ficou se lamentando a noite toda por não ter te protegido daquele tiro.
            - Então ele fez isso de novo... – e abaixou um pouco a cabeça com um sorriso triste.
            - Como assim ‘de novo’?
            - Desde que perdemos nossos pais, ele sempre tem cuidado de mim como um irmão mais velho. Sempre que eu adoecia ele ficava do meu lado até que eu melhorasse, como se a doença fosse culpa dele. Você deve imaginar o trabalho que ele dava quando os médicos pediam pra ele sair da sala não? Teve uma vez que eu tive que ajudá-los a chutá-lo pra fora. – o que levou a ambas voltaram a expressão de cansaço extremo.
            - Então digamos que você tem sorte em ser uma irmã caçula, né? – disse a ruiva, se recompondo. - Como eu também sou uma irmã mais velha, posso dizer que o entendo. – e repensou suas palavras. - em partes.
            - Ah, é bom saber que alguém se importa assim comigo afinal, desde o incidente, ele se tornou a pessoa mais preciosa pra mim. Mas gostaria que ele parasse de se culpar pelas coisas que acontecem, senão ele é quem acaba se machucando por nada, né?

            Lucciane apenas sorriu e assentiu antes que ambas ouvissem o barulho de alguém batendo à porta.

            - Mas você sabe mais que qualquer um de nós que o Hikaru é forte. Acredito que o que ele vê como falhas são o estímulo que ele tem para melhorar. – e caminhou em direção à porta. – Finalmente vocês vieram!

            Lucciane se afastou da porta, dando espaço para que os irmãos Eckhart, Li e Kururu entrassem no quarto.

            - Sayuri nee! –Kururu pulou em cima de Sayuri que ficou sem reação, paralisada de dor. – Hein?
            - Francamente. – disse Grant – Não podemos virar as costas por algumas horas que vocês se metem em problemas. Mas e aí, como você tá?
            - B-bem... acho. – respondeu se recuperando do ataque repentino. – Só não sei em quanto tempo vou poder voltar ao normal.
            - Nah, como a bala atravessou direto, não teve nenhuma infecção. – disse a garota de cabelos azuis. – Como a sua aura é compatível com quase todos, é mais fácil de curar.

            Eles sabiam que a base das técnicas de Kururu era feita pelos chamados pontos de pressão, que podiam tanto curar quanto causar danos permanentes ao serem inutilizados. De fato, era ela quem tinha os maiores conhecimentos medicinais de todos os presentes.

            - Você realmente entende dessas coisas né? – respondeu Kyle olhando para os lados - Mas cadê o Tsume?
            - Lá fora com aquela cara amarrada de sempre. – respondeu Li com um sorriso.
            - Ele não quer entrar? – indagou Sayuri.
            - Nah, ele não gosta de lugares tumultuados. – disse enquanto rodava a sala curiosa, mexendo em todos os aparelhos.

            Nesse instante, o garoto de cabelo castanhos e olhos vermelhos apoiou-se na porta, gerando um silêncio mortal enquanto o grupo se perguntava se ele tinha ouvido os comentários.
            Ele apenas indicou a saída com a cabeça.

            - Tem alguém te esperando lá fora. – e retirou-se do local.
            - Ué, mas não é só a pessoa entrar? – disse Kyle confuso.
            - Acho que com essa energia...vão barrá-lo na porta. – retrucou Li.
            - Ah! Tem razão. – agora ele sentia a energia que vinha da entrada do hospital.

            Todos perceberam a presença e olharam para Sayuri, esperando sua resposta.

            - Acho que não tenho escolha, né? – e sorriu enquanto se levantava com a ajuda de Lucciane.

            A loba caminhou até a entrada e embora tenha sofrido uma tentativa de bloqueio pelos médicos, levantar a mão foi o suficiente para que eles se afastassem e permitissem sua saída.
             Se agachou apoiada em um dos joelhos, incomodada pela dor e sendo iluminada pelos últimos raios de sol que reluziam ao tocar no pelo do animal, que se aproximou e toucou-lhe a face com o focinho, o que foi retribuído com um afago que o fez abaixar as orelhas.

            - Você se assustou bastante ontem, né? – disse, com um sorriso terno.

            O lobo encostou o focinho no ombro ferido, tão leve a ponto de mal ser sentido. Mantinha as orelhas baixas junto a um baixo ganido.

            - Não se preocupe, eu estou bem. Não foi culpa sua. – e tocou a ferida. – Viu? Não foi nada demais.

            Ele lambeu sua bochecha e balançou a causa, alegre com a resposta de sua dona.

            - Não parece ser o animal que vocês me descreveram. – disse Li.
            - Realmente. – concordou Lucciane. – Olhando assim eu não diria que ele é um lobo selvagem.
            - Mas não é pra menos já que ela é a próxima sacerdotisa. – retrucou Grant. – A ligação entre eles deve ser muito forte mesmo que nunca tenham se encontrado antes.
            - Mas ele é tããão fofinho! – interrompeu Kururu com os olhos brilhando de admiração, alheia ao que os outros diziam. – Será que posso apertar?
            - Mas é claro que nã... – começou Grant, mas a fala foi interrompida pelo olhar de Tsume.
            - Say! – chamou uma voz ao longe.

            A garota levantou o olhar e viu Hikaru correndo em sua direção. Mesmo com o olhar cansado devido ao treinamento, tinha uma expressão nítida de preocupação.  Quando estava perto de alcançá-la, o lobo o reconheceu como uma ameaça e saltou sobre o abyssium, prestes a rasgar sua garganta.

            - Yue!! – gritou a garota, evitando que sangue jorrasse, o que não fora o suficiente para evitar a derrubada do amigo no chão.

            O lobo se levantou e voltou para o lado de Sayuri enquanto Hikaru continuou paralisado no chão, murmurando para si mesmo.

            - O quê foi...isso? – dizia num estado de pré desmaio.
            - Hikaru! Acorda! – chamava a loba enquanto chacoalhava seu corpo insanamente, antes de virar para Yue. – O Hikaru é um amigo viu? Não pode matar!

            O animal abaixou as orelhas pela repreensão, mas logo foi afagado por sua mão.

            - Só não faça mais isso, ok? – e teve um latido como resposta.
            - Ai ai... – o falcão se levantava ao mesmo tempo em que fazia uma avaliação dos danos da queda. – Francamente. Já não bastava ficar todo dolorido por causa do treinamento ‘especial’ do velhote... – e virou-se para Sayuri. – Você não devia estar na cama? – disse, tocando-lhe levemente a testa.
            - Consigo ficar de pé, já tá bom né? Mas pelo visto terei que ficar uns dias longe do treino. – e começou a rir, até que sentiu a cabeça de Hikaru sobre seu ombro direito. -...Hikaru?

            Ele hesitou por alguns instantes, deixando que o silêncio tomasse conta do lugar até que finalmente falou.

            - Não me assuste mais desse jeito.

            Agora ela se lembrava da expressão de terror que tomara conta dele quando ela estava em seus braços. Fora sorte ter sobrevivido aquele tiro. Se Yue não tivesse desfeito a obstrução de Chroma, provavelmente teria sangrado até a morte

            - Idiota... – e pressionou sua cabeça contra o ombro, mostrando um sorriso terno. – Você é um irmão muito coruja, sabia?


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