Capitulo 47: Desespero final –parte 2

Algum tempo se passa e a incerteza do que eu vi me vence me fazendo abrir os olhos. Vejo Orik de pé na minha frente me encarando imóvel, uma explosão de sangue sai da sua boca, ele arca sem o controle do próprio corpo e cai ao meu lado acompanhado do som do canhão. Vejo Anber arquear-se bem atrás dele. Foi ela que jogou um pequeno machado na carne dele. Sei disso ao ver apenas o punho de madeira da arma á mostra.

Meus olhos buscam entender a situação e encontram a espada ensanguentada caída. Depois olho para meu corpo e vejo uma quantidade muito grande de sangue escorrendo do meio da minha barriga. Sinto um gelo possuir meu corpo, não é um simples ferimento. Pressiono o ferimento com minhas mãos enquanto mais sangue escorre dentro da minha boca e me afogo, eu tusso.

Olho para a assassina de Orik. Ela esta coberta se sangue dos cortes e hematomas espalhados. Logo segue para o chão acomodando-se. Não tenho forças para me levantar, a dor oculta deve estar me impedindo. Arrasto-me para perto dela. Tento me levantar algumas vezes mais acabo engatinhando e caindo novamente. Meu corpo esta quase incontrolável. Ela não tem armas nem forças assim com o eu. E mesmo que possuía ainda o desejo de vencer vai me ajudar se acabar com isso logo.

Chego ao lado dela. A parada faz minha visão escurecer e volta várias vezes e passo a não consigo absorver oxigênio suficiente.

Estamos nós, as sobreviventes, uma deitada do lado da outra sem força para finalizar o jogo. Apenas encaramos o céu sem nuvem sobre a ilha com um passe que pertence a ninguém...

Ela vira o rosto para mim e começa a falar alguma coisa com muita dificuldade:

– N-não podia... d-deixar ele ganhar...- Concordamos nisso. Ela tosse sangue e me encara nos olhos...- Sempre gostei de você.

–Não parecia. – respondo com um sorriso difícil. Ela pisca confirmando o que disse.

–Os jogos me deixaram assim...- Ela encara o céu novamente.- Não tinha outro jeito de ser mais gentil...-ela fecha os olhos e suporta uma dor aguda-... quando todos serão seu inimigo...

O silencio segue sozinho depois.

Não sinto meu corpo. Não sinto meu coração que devia estar pulsando. Não sinto nem o ar sendo recolhido. Minha mente esta nublada e não consigo pensar. Meus olhos estão ficando pesados e meus ouvidos não ouvem mais nada completamente surdos.

Então vejo um lince surgir saltando do alto de algum galho para chegar á ilha. Ele corre desesperado na nossa direção e um raio laranja fluorescente o atinge. Tudo explode como uma mina terrestre. Muitas outras explosões acontecem e ao redor da ilha, no meio das arvores e da cornucópia. Porém tudo que escuto esta tão distante quanto a minha vida. Não tenho uma reação. Devo estar muito dopada, pelos efeitos dos remédios, ou morrendo.

Terra, lama, troncos de madeira e rãs alcançam voo á mais de vinte cinco metros do chão. A chuva de terra começa a cair sobre os corpos dos dois carreiristas e nas poças de sangue meu e da tributo do distrito cinco.

Deixo minha cabeça cair para o lado, já não podendo mais controla-la. Sinto meu corpo esfriando aos poucos enquanto vejo uma enorme cabeça encouraçada surgir da vala cheia de água que circula a ilha. Não existe expressão reconhecível naqueles olhos de crocodilo. A criatura avança com o seu corpo pesado sobre a grama e novamente um raio desce do céu e o explode tão perto que joga o que resta dos finalistas para longe.

Caio de bruços com o rosto sobre a grama. Consigo mexendo a cabeça para encontrar Anber mais ao longe que também se move para me encontrar com o olhar. Uma poça do liquido vermelho se forma facilmente debaixo da cabeça dela e a minha visão é cortada por um pedaço da criatura recentemente explodida que logo desaparece. Eu volto a vê-la com os olhos fechados.

Não sei se ainda estou viva ou não. Minha visão e mente deixa de funcionar muitas vezes. Acho que acabou...

Algo me puxa pela cintura me fazendo virar para olhar para cima. Algo macio que se deita sobre mim com as patas dianteiras uma de cada lado da minha cabeça. É o estranho leão bestante. Ele observa tudo ao redor com as orelhas baixas e assustado com as explosões que não param de acontecer. Mas para mim só existe o silêncio límpido, tranquilo e constante.

É tudo que vejo antes do escuro ocupar definitivamente minha visão e restar algumas perguntas no meu pensamento:

Quem venceu? Eu não sei. Não teve canhão que pudesse me avisar das mortes.

Se ainda estou viva? Não existem respostas. Nem do coração nem da mente.

Este é o fim? Provavelmente... Sim.