POV Hermione

    Paguei os cafés e desaparatei em um beco escuro. Mas não sem antes mandar um beijinho de boa noite para Jude. Cheguei em casa morta de cansaço. Compras, satisfação, paquera, uff, isso cansa. Me esparramei no sofá. Eu merecia um banho relaxante. Sorri marota e subi as escadas em direção ao banheiro. Preparei um banho delicioso, com diferentes sais e muita espuma, mas isso não bastava.

    Desci para a câmara gelada, onde ficavam as bebidas. Andei em direção aos vinhos, meus preferidos. Fiquei em dúvida entre um da safra francesa e outro da portuguesa. Geralmente, bebia dos franceses em ocasiões formais, então optei pelo Barca Velha, da safra portuguesa de 1978, o ano em que meus pais se conheceram.

Subi para o banheiro com o vinho nas mãos. Entrei na banheira e tirei a rolha com um truque que meu avô me ensinou quando era pequena. Bebi o vinho direto na garrafa. Antigamente, teria nojo dessa atitude por causa dos germes, mas compreendi que a alma do vinho estava na garrafa. Era o que eles me falavam todas as férias. Ora na França, ora na Itália. Meus avós amavam o vinhedo. E amavam a vida. Até serem assassinados.

    Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Bebi o resto da garrafa com dois goles e saí da banheira, com a minha pele fumegando por causa da água quente. Vesti um pijama já gasto pelo tempo e fui pentear meu cabelo diante do espelho do meu quarto.

    Sorri. Aquele espelho me trazia lembranças, e surpresas. Alguns dias atrás, estava chorando aqui, com o coração despedaçado, por causa de Ernesto, e hoje eu percebi que estava com medo de perder mais um amigo. Três anos atrás, a Weasley me acusou de estar traindo Ron com Miguel Corner, tudo porque a amiguinha dela, Lavender, queria Ron também. E no dia seguinte, eu conheci Cho Chang, e aprendi que não valia a pena ser amiga de certas pessoas.

    Percebi que horas eram, e pulei na cama, não queria aparecer em Hogwarts com olheiras maiores que o rosto.

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    Acordei com meu celular tocando. Tive de levantar para pegá-lo. Harry Potter. O que será que ele queria a essa hora da manhã ?

    - Alô, Mi ? - Reconheci a voz dele.

    - Granger para você. - Ralhei. - Qual o problema para você estar me ligando a essa hora ? - Perguntei, já imaginando que teria que ir ao escritório para resolver algum problema do Santo Potter.

    - Não, nenh... Quer dizer, nós precisamos resolver aquele problema de três anos atrás. - Ele disse com uma ponta de insegurança na voz, enquanto eu escovava os dentes.

- Uhumm, certo. - Eu disse, cuspindo a pasta de dente na pia e descendo as escadas.

- Graças a Merlin você compreendeu. - Ele disse. - Aonde nos encontramos ? - Perguntou.

- Epa Potter, eu estou muito ocupada hoje. - Eu falei, pegando um pote de sorvete, uma colher, o controle remoto e me desmanchando no sofá.

- Eu ouvi a sua televisão sendo ligada, Hermione. - Ele riu. - Mas como a senhorita não pode sair de casa, será que eu posso lhe fazer uma visita ? - Ele perguntou.

- Claro, Potter. - Cedi. - Mas venha logo. - Completei.

- Já estou aí. - Ele brincou. E ouvi uma voz vindo da porta. - Não disse ? - Ele falou, guardando o celular no bolso.

- Entre e fique á vontade. - Eu disse, dando espaço para ele se sentar, e percebendo que eu ainda estava de pijamas. - Se incomoda se eu colocar outra roupa ? - Ele riu, e fez que não com a cabeça.

Voltei em três minutos com uma regata verde, shorts e chinelos nos pés.

- Aceita chá com biscoitos ? - Perguntei, me sentando diante dele, que assentiu. E com um aceno de varinha, uma bandeja com chá e biscoitos veio em nossa direção e pousou na mesinha de centro.

- Estão ótimos. - Ele elogiou. - Bem, Hermione. O que a Ginny fez não foi bonito. Mas ela está arrependida. Eu estou arrependido por não ter te defendido. Todos nós estamos arrependidos, inclusive o Ron. - Ele falou. - Será que poderia esquecer o passado? - Ele perguntou.

- Esquecer é impossível. - Dei uma resposta curta.

- E perdoar ? - Ele perguntou novamente, com esperanças.

- Isso é possível, mas não quer dizer que eu o faça. - Falei.

- Por que ?

- Já pensou na humilhação que eles me fizeram passar, Harry !? - Eu gritei, com os olhos cheio d'água. - E depois, os covardes nem tiveram a coragem de se desculpar! - Gritei novamente, deixando as lágrimas escorrerem.

- E eu, Mi ? Você me desculpa ? - Ele perguntou, me abrançando para me acalmar.

- É claro, Harry. - Eu disse, ainda chorosa. - Senti tanto a sua falta. - Eu falei, ainda nos braços dele, enquanto ele beijava minha testa.

- Mi, eu trouxe o seu jornal. E aquela sacola com o vestido rosa, que você deixou comigo. - Ouvi uma voz fina vindo da porta. - Potter ?! - Ela exclamou, vendo ele.

- Chang ?!