–Valerie Juliet Riddle! – disse Tom virando-se em uma poltrona verde parecendo uma versão bizarra de pai de uma adolescente irresponsável de algum seriado ruim dos anos oitenta.

–Thomas Andrew Dekker! – eu imitei seu tom de voz e comecei a subir as escadas.

–Aonde a senhorita pensa que está indo? Nem mais um movimento! – eu parei nesse exato momento com meu pé esquerdo quase atingindo o quarto degrau.

–Para o meu dormitório, é aonde a escada leva, não é? – se fingir de inocente é tão lindo.

–Que fofo isso. Chega á essa hora e ainda por cima pensa que pode ir subindo sem me dar explicações? Como a inocência é adorável. – ele disse ironicamente me puxando pelo braço e me colocando gentilmente (me jogando) em um sofá próximo á poltrona em que ele estava sentado.

–Por que mesmo eu te devo explicações da minha vida? – eu disse bufando. Sou muito educada, ás vezes. E essa definitivamente não é uma delas.

O dia teve muitas emoções.

Primeiro teve a pequena discução com o Potter na sala da Minerva, o que não foi legal. Ser a filha do vilão é muito chato, todos esperam que você os mate sem que tenham ao menos a chance de piscar e te culpam por cada errinho que você não cometeu. Como se você fosse uma maçã podre no meio de uma macieira coberta de frutos perfeitos, e isso é extremamente irritante, caso eu já não tenha deixado claro.

Depois tive que ignorá-lo o dia todo. Não que eu já não tenha feito isso várias vezes, mas desta vez eu me superei. Fingi que ele simplesmente não existia, que não estava ali.

Depois teve o quase-beijo com ele, uma coisa da qual eu realmente não quero falar, obrigada.

Ah, e ainda teve a conversa chata do Malfoy me apressando. “Eu sei que você se sairia uma excelente comensal Valerie”. Sabe nada, é apenas o que ele (como todos os outros) espera de mim. Espera que eu aniquile tudo o que se move e pronto.

–Por que eu sou seu melhor amigo. Seu diário rosa com purpurina. Agora pode começar a falar Valerinha, onde a senhora estava, com quem e por que? – ele disse sorrindo e exibindo seus dentes perfeitamente brancos.

Uma descrição rápida sobre o Tom: lindo e mais velho. Agora ele está cursando seus sétimo ano, não que ele realmente leve isto a sério.

–Eu estava por aí, com alguém e por que eu quis. – eu disse cruzando meus braços sobre minha barriga – e pare de me tratar como se eu tivesse cinco anos! – eu disse com voz de criança sem querer.

–Então pare de agir como se tivesse cinco anos! – ele rebateu com voz de criança.

–Sabe o que você fez agora? Não faz de novo não. – disse a Ashley entrando no salão e comentando sobre o Tom, que ficou vermelho como um pimentão. Eu sempre digo á ele que ele gosta da Ashley, e á ela que ele gosta dela e que eu sei que ela gosta dele, mas nenhum dos dois me ouve.

Uma descrição rápida sobre a Ash: legal e bonita.

Ela é da minha série, o que é ótimo. É a minha única amiga fora o Tom, mas eu nunca me incomodei com isso. Meus amigos não são uma multidão, mas valem mais do que mil delas. Não que eles precisem ficar sabendo disso.

–Oi Ash. – eu disse dando um rápido aceno com uma das mãos e ela sorriu de leve murmurando um “Boa noite, Val”.

–Já vai subir? Ainda temos que conversar com a criancinha aqui. – Tom disse apontando para mim. Mais alguns segundos e eu o teria mandado para um lugar nada legal, mas Ash fez melhor que isso.

–Cala a boca, Dekker! Deixe a nossa Valerie viver um pouquinho. Espero que você tenha ido a algum lugar se agarrar com alguém. Anda mesmo precisando de uns amassos. Deixe-me adivinhar: Potter não é? – ela disse com a cara mais maliciosa que eu já vi em toda a minha vida?

–O que? Você é louca garota? Anda bebendo? Eu? Potter? Agarrando? VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COM A MINHA PESSOA! – eu gritei na cara dela com os olhos arregalados e vermelha. Não é todo dia que minha melhor amiga sugere que eu tenha me agarrado com o arquinimigo do meu pai.

–O que? Pode acontecer! Já ouviu falar em Romeu e Julieta? – ela disse suspirando apaixonadamente. Sem querer ofender ninguém, mas como essa criatura veio para a Sonserina? Achei que a Grifinória fosse o lugar dos apaixonados irritantes que sugerem que eu tenha beijado Harry Potter. Um quase-beijo não é um beijo. Além do mais, ele namora a Weasley ou sei lá o que.

–Vamos logo para a cama Ashley. Amanhã voc~e me pergunta essas coisa Thomas. O meu dia foi cheio e se eu não dormir acho que explodo. – eu disse guiando Ashley que não parava de falar em Romeu e Julieta escadaria acima. Parei no quarto com nosso nome na porta e entramos. Tomei um banho de água fria, coloquei o meu pijama e me deitei.

–Se concentre Valerie. Nada de pesadelos hoje, só sonhos. – eu disse para mim mesma fechando os olhos.

Não funcionou.

Eu estava em uma floresta. Disso tenho certeza. Corria como se minha vida dependesse disso, e parecia que dependia.

Corria o mais rápido que conseguia sem me lembrar o por que de estar correndo. Parece que correr é tudo o que eu sei fazer.

–Nós vamos acha-la Potter. Vocês nunca vão conseguir. Você sabe como a história termina não é mesmo? – ouvi a voz de Draco, e o barulho de algo sendo quebrado.

–Se intrometa na própria vida, Malfoy. Por que na minha você já fez muitos estragos. Não ligo para seus pais, não ligo para Voldemort, não ligo para maldição, só há uma coisa para a qual eu ligo. Eu quero que você me conte em qual direção Valerie foi. – ele disse e eu podia ouvir meu coração se acelerando e a minha respiração se tornando difícil por causa da corrida.

–Deixe ela lá, está mais segura sem você. Sabe que você a torna um alvo, certo? – Draco disse.

–Quem se importa? Ela sempre foi um alvo, e eu também! Nós nunca mudamos as nossas posições nesse jogo de xadrez doentio! Só preciso acha-la, pelo amor de Deus, me ajude a achá-la! – Potter parecia angustiado, e algo dentro de mim quis correr para ele, e foi o que eu fiz.

Mas o chão começou a ruir e eu senti uma dor terrível em meus joelhos. Fiquei de joelhos enquanto gritava a plenos pulmões.

–Achei você, filha ingrata. – eu conhecia aquela voz. Ela assombrava meus sonhos de garotinha, acabava com a minha felicidade e com a de qualquer outro.

–Você e Potter vão pagar por isso. Eu nunca lhe ensinei que o amor estraga tudo? Pois deveria tê-lo feito! Crucio!

Senti uma dor enorme e quis ceder.

Acordei suando de novo arfando e com Ashley ao meu lado.

–Pesadelos? – ela sussurrou pegando na minha mão.

–Eu... Eu só... – eu tentava dizer alguma coisa, mas estava chorando demais para isso. Ashley me consolou e me disse para tentar dormir outra vez. Ficou do meu lado segurando minha mão e me contando histórias sobre sua infância até eu pegar no sono novamente. O que exatamente o sonho quer dizer?