Screaming escrita por caiquedelbuono


Capítulo 19
O fardo de cada um




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O caos se instalou tão rápido quanto um trem-bala. Mary acionara o alarme de emergência do colégio e logo um barulho ensurdecedor começou a disparar de todos os cantos. As mãos da diretora estavam tão trêmulas que ela teve que tentar apertar três vezes o botão para que o ruído começasse a emanar.

Não demorou muito para que a biblioteca se enchesse de pessoas boquiabertas e com expressões completamente aterrorizadas. Algumas deram gritinhos sufocados, enquanto outras fizeram uma expressão de nojo, como se pudessem vomitar a qualquer momento. Logan não podia culpá-las. Aquela era a cena mais macabra que já vivenciara.

Ele localizou Helena, Mel, Tommy, Kelsey, Ian e Paul entre as pessoas. A garota ruiva estava ao lado do garoto louro, suas mãos a alguns centímetros de distância. Kelsey e Tommy também estavam lado a lado, a garota olhando atônita para o corpo pendurado. Ian parecia estar em estado de choque, a boca aberta e os olhos hipnóticos. A única que não demonstrava horror ou pânico era Mel. Ela parecia irritada.

— Fiquem calmos! — Logan ordenou, em um tom de voz que foi mais alto do que ele esperava — Vocês precisam ouvir o que temos a dizer.

O alvoroço diminuiu um pouco e as pessoas passaram a encarar Logan. Ele olhou para Mary e ela estava derrotada, com uma das mãos apoiadas em uma das poucas prateleiras que ainda estavam em pé. Ele sabia que ela não teria força alguma para dizer qualquer coisa. Querendo ou não, Logan era mais calejado nesse aspecto, já tinha visto várias cenas como aquela. Mel saiu de onde estava e deu alguns passos para frente, indo até Mary e afagando seus cabelos negros. Helena fez menção em ir até lá também, mas Paul esticou seus dedos alguns centímetros e ele agarrou a mão dela. Os olhos verdes do menino estavam úmidos e ele parecia prestes a chorar a qualquer momento.

— O que aconteceu dentro dessa biblioteca foi algo extremamente brutal realizado por uma criatura sanguinária que está entre nós, à espreita, esperando o momento certo para nos atacar. Todos nós precisamos ficar alertas e completamente unidos para que não aconteça conosco o mesmo que aconteceu a essa pobre senhora.

Todos começaram a deixar escapar conversas sussurradas. Entreolhavam-se entre si, franziam o cenho e ajeitavam a sobrancelha numa expressão de desconfiança. Pareciam querer falar algo, mas ou não tinham coragem ou estavam atordoados demais com o que viram. Finalmente, uma pequena menina loura com o cabelo preso em um rabo de cavalo quebrou o silêncio:

— O que é um zumbi antropomórfico? O que ele quis dizer com “quem será o próximo?”?

Logan reconheceu aquela menina. Ela tinha se manifestado no dia que fizeram a reunião no ano passado para contar a todos os alunos sobre a presença de Kofuf. Ela não tinha acreditado, mas o garoto tinha explicado a todos o que aquelas criaturas eram. Ele concluiu que ou a menina tinha perda de memória ou ela estava se fazendo de desentendida. Logan ia responder, mas ele foi interrompido por Mary. Ela tinha afastado Mel para o lado e estava de pé, dando vários passos de um lado para o outro, como se não soubesse para qual direção ir. Estava desorientada.

Não! — ela quase gritara — Não temos tempo para explicações e conversas fiadas. Será que vocês não estão enxergando o que está acontecendo? Isso tem que parar, temos que chamar a polícia!

Mary começou a caminhar para a porta de entrada da biblioteca, mas Mel rapidamente segurou em seu braço. Elas se encararam por alguns segundos, ambas com muita determinação em seus olhares.

— Não podemos fazer isso. — disse Mel, com calma, apesar de Logan ter percebido que ela estava querendo gritar por dentro — Não podemos levar esse problema para o lado de fora do internato.

— Como pode dizer uma coisa dessas? — indagou Mary, completamente irada. Sua testa estava suada e seus cabelos negros grudavam à têmpora — Há um corpo pendurado no lustre, completamente aberto, com as vísceras para fora e você tem coragem de me dizer que não podemos envolver a polícia?

Mel apenas suspirou. Logan olhou para as pessoas e viu que elas estavam prestando atenção à aparente discussão. Ele não conseguiu desviar o olhar de Kelsey, que ainda continuava atônita, exatamente na mesma posição desde que entrara no recinto.

— Se essa notícia se espalhar, seremos enfraquecidos. Pense no que acontecerá se isso chegar aos ouvidos da imprensa. Pense na quantidade de jornalistas que virão aqui em busca de um furo de reportagem. Essas pessoas não se importam com nada, apenas querem fazer uma boa notícia e dar uma boa audiência à empresa para qual trabalham. Imagine a facilidade com que os zumbis se infiltrarão aqui se isso acontecer. Não. Temos que ficar em silêncio, fingir que nada está acontecendo. Ninguém aqui dentro dessa biblioteca pode abrir a boca. Vocês estão entendendo a gravidade da situação?

Logan sentiu vontade de aplaudir a menina. Naquele momento, seu coração se preencheu com um calor que só Mel era capaz de lhe transmitir. Ele não sabia explicar. Sentia-se protegido ao lado dela, era quase como se nada fosse capaz de atingi-lo. Ele viu que a maioria das pessoas acenou afirmativamente com a cabeça.

— Mas Sra. Strauss... — Mary parecia quase implorar. Era como se ela quisesse alguma normalidade naquela cena, parecia um absurdo para ela burlar a óbvia regra de chamar a polícia depois de um assassinato cruel. Mas aquilo não funcionava para os antropomórficos.

— Logan e eu cuidamos do corpo. Iremos enterrá-la no pomar. — Mel avançou e segurou na mão de Mary — Fique tranquila. Nosso acordo não será quebrado. Você ainda pode contar com a minha palavra de que irei proteger a todos.

Mary acenou com a cabeça, dando-se por convencida. Ela deu uma última olhada para o corpo da Sra. Strauss, que ainda pingava sangue no chão e começou a andar, saindo daquele ambiente que a tinha destruído por dentro. Mesmo estando de costas, Logan sabia que a tia estava chorando e que ela iria ficar a noite toda sem conseguir dormir. Aquilo fez o coração do garoto ficar pequeno. Desejava que ela se mantivesse forte, demonstrasse segurança para todas aquelas pessoas que não compreendiam o que estava acontecendo, mas naquele momento ele teve receio de que seu desejo jamais pudesse se tornar realidade.

Mel foi em direção ao corpo da Sra. Strauss e começou a desamarrar o nó da corda que a prendia ao lustre. Logan foi até ela e a ajudou, segurando a bibliotecária para que ela não caísse. O cheiro já estava começando a ficar fétido e a pele do cadáver estava gelada e completamente rígida. Logan arrepiou-se quando um pedaço do intestino dela encostou-se a seu braço e ele sentiu bile subindo à garganta. Repousaram o corpo no chão e quando olhou para trás viu que Helena estava ao lado deles.

— Vocês precisam de mim? Posso ajudá-los de alguma maneira.

Mel e Logan olharam para a garota. Logan nunca tinha visto Helena com aquele olhar. Toda a segurança e indiferença que existiam nela não eram mais visíveis e as únicas coisas que transpareciam daqueles olhos eram medo e desespero.

— Você não precisa passar por isso, querida. Já sofreu demais nas mãos dessas criaturas. — Mel passou a mão pelo cabelo que já estava grudando à testa — Eu agradeceria se você nos trouxesse uma pá.

Helena assentiu com a cabeça e saiu correndo da biblioteca. Paul não foi atrás dela, ainda estava lá dentro, olhando abismado para o nada. Tommy e Kelsey já tinham saído e sabe-se Deus o que eles poderiam fazer para se esquecerem daquela cena. Ian também já tinha ido embora e Logan lamentou-se por não ter conseguido ver o seu último olhar, mas podia apostar sua vida que era de total desespero.

A garota ruiva voltou logo em seguida carregando uma pá que era tão grande que chegava a bater em seus ombros. Logan sabia que ela tinha conseguido buscá-la em uma saleta que Mary usava como depósito e guardava todo e qualquer tipo de material de construção que poderiam ser úteis algum dia.

Mel fez um sinal para Logan e ele segurou os ombros rígidos da Sra. Strauss. A garota segurou os pés e desse modo eles conseguiam andar e carregar o corpo ao mesmo tempo, mesmo que às vezes parecesse que a Sra. Strauss fosse escorregar por entre seus dedos. Helena os seguiu segurando a pá e pedindo espaço para as pessoas que ainda estavam lá dentro. Logan notou que ela olhou para Paul e lhe assoprou um beijo singelo.

Depois de alguns minutos andando, eles chegaram a um ponto do pomar que possuía uma grande quantidade de folhas mortas no chão, mas o solo era formado de uma terra um tanto quanto fofa. Seria perfeito para cavar. Repousaram suavemente o corpo da Sra. Strauss e Helena entregou a pá para Logan.

— Têm certeza de que não querem que eu fique? — ela perguntou, aflita.

— Temos. — disse Mel, pegando na mão dela. — Convoque algumas pessoas para limparem com você toda aquela bagunça, creio que Mary está sem cabeça para isso. E depois vá visitar Sophia. Ela é a única que ainda não sabe do que está acontecendo. Mantenha-a informada.

Helena parecia relutante, mas ela acenou com a cabeça, virou de costas e abandonou o pomar.

Logan olhou para o corpo da Sra. Strauss e pensou nas outras pessoas que tinham morrido nas garras dos antropomórficos. Nunca tinha parado para pensar o que acontecera com os corpos. Não sabia se Brian fora enterrado, se alguém além de Janeth chorara sobre o corpo dele. Na época, ninguém sabia que ele fora morto por um zumbi antropomórfico, todo mundo achava que o responsável era o próprio Logan. Pensou se Ashley tivera um funeral, se alguém estava sentindo saudade dela naquele momento. Pensou em Janeth, que fora soterrada pelas folhas mortas que se desprendiam dos galhos e que agora provavelmente virara adubo para as árvores. Pensou em Mark e Fanny, que nem ao menos tinham chegado a pisar nas dependências de Shavely e provavelmente foram largados ao relento para apodrecerem. Logan nem ao menos os conhecera... Aquilo lhe arrepiou a espinha. Tanto descuido com as pessoas. Ninguém merecia acabar assim, abandonado mesmo após a própria morte. Talvez chamar a polícia para cuidar de corpos mutilados não fosse assim uma má ideia...

Ele abaixou o próprio corpo e se pôs a trabalhar. Enfiou a pá no solo fofo e arrancou uma boa dose de terra. Jogou-a para trás e repetiu o movimento por diversas vezes, tantas que quando terminou estava completamente suado e com os braços doendo. Tinha construído uma cova de mais ou menos dois metros de profundidade que seria perfeita para aconchegar a Sra. Strauss e dar a ela um descanso repleto de paz. Ele olhou para Mel e viu que ela estava chorando, sentada ao lado do corpo da bibliotecária. Segurava a mão da idosa e ela não parecia se importar com o fato de estar completamente gelada. Percebeu que os olhos da senhora estavam fechados.

— Isso é tão injusto. — ela disse em meio aos soluços — Ninguém merece morrer desse jeito hediondo. É tão humilhante. Eu espero que o espírito dela encontre paz.

Logan se aproximou da garota e sentiu o coração apertado. Ele esticou a mão para que Mel pudesse pegá-la. Havia terra debaixo das unhas do garoto e as mãos estavam manchadas com o sangue da bibliotecária, mas ela não se preocupou. Quando levantou, Mel se agarrou ao pescoço de Logan e o abraçou com toda a força que existia dentro dela. Ele deixou que ela chorasse, expelisse tudo aquilo de ruim que estava sentindo e não se importou quando o líquido salgado encharcou seus ombros. Enfiou as unhas no couro-cabeludo de Mel e afagou seus cabelos, que estavam cheirando a sangue e sal. Eles se desvencilharam do abraço, mas continuaram muito próximos. Mel o estava olhando com os olhos brilhando, ainda úmidos. Logan sentiu algo tomando espaço dentro de seu coração, fazendo-o inflar. Talvez fosse a afeição que sentia por Mel, pois ele esticou as mãos e afagou a pele morena da garota. Ela arfou e esticou a cabeça para frente. Os lábios só não se tocaram porque ambos ouviram um barulho de folhas farfalhando. Mel rapidamente deu um passo para trás e seus olhos mudaram de expressão. Ficaram raivosos e estava soltando fogo pelas ventas. Enxugou os olhos suados e suspirou, como se estivesse criando coragem.

— Fique aqui. — ela ordenou, quase robótica, no mesmo momento em que virou o corpo e deu alguns passos — Eu já volto.

Logan coçou a cabeça, sem entender.

— Do que é que você está falando? Aonde você vai?

Mel apenas bufou.

— Por favor, Logan, eu mandei você ficar aqui. Não vou demorar. E fique em silêncio.   

Quando terminou de falar, abandonou o pomar.

Logan deu de ombros. Meninas, ele pensou. Será que ela tinha ficado constrangida pelo fato deles quase terem se beijado? Mas ela parecia irritada, como se não pudesse nem considerar aquela possibilidade dentro de sua mente.

Rapidamente tratou de parar de se preocupar com a sua vida amorosa e deu atenção para o corpo da Sra. Strauss que ainda estava ao relento. Ele delicadamente empurrou o cadáver até que caísse no buraco que cavara. Ela aterrissou com as costas para baixo e Logan rapidamente transferiu a pilha de terra que se acumulara para dentro do túmulo improvisado. Quando terminou, bateu com a pá para afofar toda a terra que agora cobria a bibliotecária.

Logan sentiu o coração vazio. Não conhecia muito bem a Sra. Strauss e mal trocara palavras com ela. Sempre a considerara a pessoa mais rabugenta que conhecia, visto que ela estava sempre reclamando quando alguém pegava um livro emprestado e não devolvia no dia certo. Apesar disso, sabia que ela tinha sentimentos. Que ela provavelmente tinha uma família que se importava com ela. Devia ter deixado filhos, netos ou até mesmo bisnetos para trás e aquilo fez com que uma lágrima escapasse de seus olhos. A pobre senhora merecia um funeral, mesmo que fosse formado apenas por ele. Ninguém deveria morrer sem algumas palavras, sem uma última homenagem.

Ele pegou dois gravetos do chão e usou um elástico que estava no bolso de sua calça para uni-los e montar uma pequena cruz. Ele a enfiou na terra fofa que cobria o corpo da Sra. Strauss e cruzou as duas mãos, como se estivesse rezando. Sussurrou:

— Aqui jaz Sra. Strauss, uma senhora de bom coração. Uma senhora que lutava com unhas e dentes para defender sua biblioteca, seu bem mais precioso. Imagino a quantidade de livros que ela já não devorou, a quantidade de conhecimento que carregava. Espero que encontre a paz perpétua e que nenhuma criatura maligna possa ser capaz de lhe fazer mal novamente. Quero que fique segura e livre desses tormentos que assombram o lugar que acabou de deixar.

Quando terminou, Logan sentiu que o coração estava leve. Visualizou em sua mente o rosto rabugento e carrancudo da Sra. Strauss sorrindo para ele e aquilo aqueceu sua alma. Ele sabia que ela encontraria o descanso eterno. Sentiu vontade de voltar no tempo e fazer a mesma coisa com todas as outras pessoas que já haviam cruzado a fronteira para o outro lado.

Sentiu uma lufada de vento lhe arrepiando os pelos dos braços. Enxergou que alguém vinha correndo em sua direção. Ele rapidamente se levantou e viu que era Mel. Carregava alguma coisa prateada nas costas que ele não conseguia discernir o que era. Abriu a boca para perguntar onde ela tinha ido, mas ela não parou para falar com ele e continuou correndo em direção ao pomar.

Aturdido e sem entender absolutamente nada, ele começou a correr atrás dela. A garota estava rápida demais e acompanhá-la não estava sendo uma tarefa muito fácil. Logan apurou os ouvidos e novamente ouviu aquele farfalhar, mas não sabia se tinha mais alguém ali ou se era resultado do barulho dos pés deles atritando contra o chão.

As árvores estavam muito próximas umas das outras e Logan tinha que se abaixar vez ou outra para se esquivar dos galhos que se acomodavam em posições ameaçadoras. E fazer isso não era fácil quando se estava correndo e quando tinha que seguir uma Mel completamente desenfreada.

De repente, Mel parou e Logan quase esbarrou nela. Naquele momento, ele conseguiu perceber que ela estava carregando o lança-chamas.

— Seus covardes! — ela gritou e novamente começou a correr.

Logan a acompanhou e percebeu que estavam quase chegando ao outro lado do pomar, que era delimitado pelo enorme muro que protegia todo o colégio do mundo exterior. Ele notou que a movimentação tinha ficado mais forte e quando olhou para frente, para além de Mel, ele compreendeu o que estava acontecendo. Os zumbis estavam em fila e eles corriam descompassadamente, como se a vida deles dependesse disso. Não conseguia enxergar Sheeva liderando o bando, mas sabia que ela já estava bem lá na frente. Eles provavelmente tinham percebido a presença de Mel e quando notaram que ela estava com o lança-chamas deram início à fuga. Logan rapidamente associou o barulho que escutou quando estava quase beijando Mel. Aquelas criaturas nojentas estavam os espionando.

A raiva cresceu dentro de Logan e ele parou de correr. Enxergou ao longe e percebeu que o pomar estava terminando e dando espaço ao grande portão enferrujado que caracterizava a imponente entrado do internato. Viu que um dos zumbis estava escalando, com uma facilidade que o assustou: a criatura praticamente dera um salto e suas mãos já se encostavam ao limite do portão. Foi só dar um impulso e já estava do outro lado.

Ele piscou e quando abriu os olhos enxergou um grande clarão alaranjado. Mel estava gritando e tinha acionado o lança-chamas, o que permitiu que várias labaredas incandescentes fossem liberadas. A mira da garota era de uma precisão de fazer inveja, pois o fogo traçou uma linha perfeitamente reta. Ele ouviu o grito catarrento que escapou dos lábios podres da última criatura que ainda não tinha conseguido pular o portão. Logan conseguiu reconhecer que era uma das meninas que tinha sido amarrada à árvore. Enxergou o corpo podre completamente envolvido pelas chamas e a zumbi sucumbiu ao chão, caindo de joelhos e gritando tão alto que os ouvidos de Logan começaram a doer. No momento seguinte, ela se transformou em um monte de cinzas que foram sopradas pelo vento e o fogo que tomava conta de seu corpo rapidamente se dissipou, apenas pequenas fagulhas envolvendo as poucas folhas secas ao chão, tão fracas que foram apagadas quando Mel avançou e pisou sobre elas.

Maldita! — Logan conseguiu ouvir o grito que vinha do lado de fora do colégio.

Ele estreitou os olhos e viu que Sheeva estava se agarrando às grades do portão, tentando desesperadamente subir. O que a estava atrapalhando era que ela só tinha uma mão e os outros zumbis pareciam não estar tão animados para empurrar o corpo dela para cima. Pareciam temer o que acontecera do outro lado do portão.

— Venha aqui! — provocou Mel — Venha aqui, sua porca imunda. Quero matar você do mesmo jeito que eu matei a sua amiguinha! — ela elevou a voz — Quem são os fracos agora? Me diga, seu ser desprezível, você vai matar mais pessoas inocentes? Responda! 

Sheeva uivou do outro lado.

— Eu vou matar todos vocês, sua vadiazinha! Vai se arrepender por ter tirado um dos meus!

Mel apontou o lança-chamas para ela.

— Tirei um dos seus? E quantos dos meus você já me tirou? Sua hipócrita nojenta! Que irônico, não é? Você deixou uma mensagem perguntando quem seria o próximo, mas você jamais poderia imaginar que seria um dos seus, não é mesmo? Está sentindo isso? — os lábios de Mel estavam tremendo — Agora você consegue perceber tudo o que eu senti, tudo o que as pessoas sentem quando alguém é tirado delas! 

— Eu não estou sentindo nada. Ela só morreu porque foi fraca, porque não fazia nem quarenta e oito horas que tinha se transformado. Logo percebi que era descartável, que fora um erro ter transformado-a.

Pierre tinha surgido atrás de Sheeva e ele estava empurrando o corpo dela para cima. Com a única mão que tinha, ela segurou em cima do portão e o corpo foi impulsionado para cima.

Mel acionou o lança-chamas e as labaredas passaram a centímetros do corpo de Sheeva.

— Se der mais um passo, você morre agora mesmo. Suponho que tenha percebido que minha mira é impecável.

A zumbi olhou para Mel com desprezo em seus olhos negros e profundos. Ela hesitou por um instante e sibilou qualquer coisa, como se fosse uma serpente venenosa prestes a atacar sua presa. Pierre largou o corpo de Sheeva ao chão e ela fez uma última ameaça antes de partir:

— Isso ainda não acabou. Vocês jamais poderão me impedir de finalizar o que desejo. Eu sou invencível.

O pomar ficou em silêncio e Logan olhou para Mel, que estava exausta e com o rosto completamente negro de fuligem, suor e sangue. Percebeu que tinha um corte próximo ao seu rosto e ela provavelmente devia ter se enroscado em um galho enquanto corria. Ele se aproximou dela.

— Uau. Quanta fúria. Eu nunca vi você desse jeito.

Mel apenas suspirou e começou a andar, ajeitando o lança-chamas que estava escorregando sobre seus ombros. Logan a acompanhou. Percebeu que os olhos da garota abandonaram a fúria e se deixaram preencher pela tristeza. Ele tentou tocar nela, mas Mel parecia ser feita do material mais rígido do mundo. Logan franziu os lábios.

— O que foi? Por que está chorando? Mel...

A garota respirou fundo e olhou para Logan. Seus olhos inchados evidenciavam aflição e agonia e aqueles dois sentimentos misturados nunca significavam boa coisa. Ela parou de andar e pegou na mão de Logan.

— Venha comigo. Está na hora de te contar uma história.

 

 

Helena voltara para a biblioteca com a cabeça girando. Carregava a estranha sensação de estar se desmanchando, como se qualquer toque pudesse fazer com que caísse aos pedaços. Não cansava de esbarrar com acontecimentos maléficos, mas ver um cadáver pendurado em um lustre com as vísceras para fora realmente fora o campeão. Aquilo mexera com o seu interior e ela tinha certeza que nunca mais conseguiria ter uma noite bem dormida.

A única pessoa que ainda estava lá dentro era Paul. O olhar do garoto ainda estava atônito. Era quase como se suas pernas estivessem paralisadas e ele não conseguisse mexê-las. Olhava para nenhum ponto específico e quando Helena se aproximou o suficiente percebeu que estava tremendo. Viu a umidade se apoderando das íris esverdeadas, então ela decidiu agarrar a mão dele.

— Você está bem? — ela perguntou, tão inocentemente que soou como uma criança.

Ele apenas olhou para ela.

— Não. — a voz dele estava mais triste do que quando contara seu segredo. E isso era assustadoramente terrível — Eu não consigo entender o que está acontecendo.

— Ei, não fique assim. — ela disse ao mesmo tempo em que apertou a mão dele — Eu sei que é muita coisa para digerir, mas eu estou aqui com você.

Era estranho para Helena estar falando desse jeito tão doce com outra pessoa. Ela não costumava ser assim. Lembrou-se das inúmeras vezes em que soara ríspida com Tommy e sentiu um aperto no coração. Mas quando voltou sua atenção para Paul imediatamente recordou-se de que isso agora era passado. Ela estava aprendendo, desde então.

— Por que fizeram aquilo com aquela pobre senhora? O que ela fez para esses tais zumbis antropomórficos? O que eles são?

— Eles nunca têm um motivo realmente sério. — respondeu Helena, fitando o chão — Diversão, mostrar superioridade, provar que são mais fortes que nós. A lista é infinita.

Paul soltou-se do aperto da mão de Helena e começou a andar em círculos. Ela observou, com o coração em frangalhos. Estava sentindo tanta pena do garoto, era devastador vê-lo ter que conviver com esse fardo que era tão pesado quanto o que ele carregou durante toda a sua vida. Shavely parecia ter esse poder: aumentar os fardos das pessoas até que elas não fossem mais aptas a carregá-los.

— Sinto muito. — ela disse, de repente — Por você ter descoberto isso da pior maneira possível. Eu queria poder ter te contado, mas eu só não sabia como. É muito complicado. Eu não pensei...

Helena não conseguiu terminar de falar porque Paul correu para lhe dar um abraço. Ela sentiu aqueles braços fortes a apertando, puxando-a para mais perto do corpo dele. Notou os músculos pulsando sob a pele dourada, percebeu a agitação que o garoto estava sentindo e ela abraçou de volta. Pressionou o corpo contra o dele e eles estavam tão juntos que pareciam um só. Enfiou o nariz no pescoço de Paul e sentiu o cheiro dele. Lembrava pimenta. Era como se ele tivesse um estoque de fogo particular. Ela esboçou um mínimo sorriso com o pensamento.

— Obrigado. — ele sussurrou no ouvido de Helena — Por você ter acreditado em mim e ter ficado do meu lado. Me sinto mais seguro sabendo que tenho você ao meu lado.

Eles se desvencilharam e Helena afagou o rosto dele. Estava gelado, mas era de uma maciez que ela não sabia explicar.

— Confesso que já senti tanta raiva de você. — ela riu com o próprio comentário — Mas pessoas mudam, assim como os sentimentos. E o que eu sinto por você se transformou em algo bonito, algo que eu nunca senti e que está fazendo com que eu me torne uma pessoa melhor. Você pode se considerar sortudo por estar conseguindo fazer a velha Helena, cheia de ironia e sarcasmo, se transformar em uma nova Helena que demonstra afeto.

Paul também começou a rir.

— Vai ser bom ter a nova Helena por perto.

— Não vá se acostumando, mocinho. — ela deu alguns passos e começou a pegar os livros que estavam caídos no chão — Se está achando que lhe darei moleza, está muito enganado. Já que é o único aqui dentro, vai ter que me ajudar com toda essa bagunça. Ainda preciso ir visitar Sophia. Meu Deus, que noite!

Helena jogou os livros que tinha pegado para Paul, que os capturou no ar. Ela fez um sinal com a mão indicando que ele deveria ajudá-la a levantar as prateleiras que ainda estavam caídas ao chão.

Quando ambos tocaram no objeto, seus olhares se encontraram. Helena sorriu quando viu a vegetação se abrindo dentro dos olhos de Paul. Ele fez o mesmo. Naquele momento, Helena estava feliz, mesmo com aquele assassinato terrível lhe assombrando. Pensou em Logan, em Mel, em Sophia que ainda estava deitada na cama da enfermaria, sem saber o que estava acontecendo, e até mesmo em Tommy e em Kelsey. Ela sabia que não estava sozinha, apesar de todos os empecilhos pelos quais já passara. Poderia contar com as pessoas mais próximas e, mais do que isso, com o amor que estava começando a desabrochar em seu coração.

 

 

Tommy e Kelsey estavam sentados em um canto escuro do internato. A noite já estava em seu auge e nenhum dos dois teve fome o suficiente para comer qualquer coisa depois da cena que viram na biblioteca. Tommy já presenciara no passado do que aquelas criaturas eram capazes, mas mesmo assim não pôde deixar de se sentir impressionado. Já Kelsey... Ela estava completamente desorientada e apavorada e isso estava destroçando o coração do garoto.

A garota estava abraçando os próprios joelhos e, embora Tommy não tivesse certeza, podia ouvir um ruído parecido com um choro escapando de sua boca. Ele sabia que ela jamais choraria na frente dele, mas aquela situação era completamente propícia para tal.

— Então Sophia estava falando a verdade. — a voz dela estava abafada e mais grossa do que o usual — Foram realmente esses tais de zumbis antropo-sei-lá-das-quantas que fizeram aquilo com ela. E aquela barbaridade com a pobre bibliotecária. Nem eu que sou má poderia fazer tal atrocidade.

Antropomórficos. — corrigiu Tommy e tocou no braço de Kelsey. Estava gelado e tão rígido quanto uma placa de metal.

Kelsey levantou a cabeça e seus olhos estavam inchados e vermelhos. Ela estava chorando, afinal, pensou o garoto. A boca estava franzida e ela parecia estar com raiva. Tommy não podia culpá-la.

— Por que você nunca me contou?

Tommy deu de ombros.

— Como você esperava que eu fizesse isso? Você queria que eu chegasse do nada e dissesse: “oi, zumbis antropomórficos existem, eles comem corações humanos e são capazes de se transformarem na pessoa ao fazer isso, eles gostam de matar por diversão e possuem um cheiro horrível de carne em decomposição.”? E além do mais, você não acreditaria. Não acreditou em Sophia.

— Você é diferente! — ela estava completamente indignada — Sophia estava em uma cama de hospital, os medicamentos poderiam ter mexido com o cérebro dela.

Tommy suspirou.

— Isso não importa, Kelsey. Agora você sabe que eles são reais. E também sabe que eu estarei aqui para protegê-la.

Ele pegou na mão dela, mas ela não esboçou nenhuma reação. Era quase como se ela não estivesse sentindo o toque. Tommy olhou para Kelsey e seus lábios traçavam uma linha rígida, como se ela fosse incapaz de sorrir naquele momento. Os olhos escuros emitiam uma mistura de raiva e tristeza. Tommy já convivera muito com Kelsey para saber que ela deixava a raiva se misturar com todo e qualquer sentimento. Se ela acordava e percebia que tinha aula de matemática, ficava frustrada e com raiva. Se ela assistia a um filme com alguma cena que fizesse qualquer tipo de ser humano chorar, ficava triste e com raiva. Se ela tomava litros de café, ficava elétrica e com raiva. Tinha muito rancor guardado dentro dela e ele não sabia o porquê, ela nunca tinha lhe contado.

— Para mim é demais. — resmungou Kelsey, elevando as mãos para cima — Não dá. Eu não consigo.

Inquieta, ela remexeu no bolso da calça jeans. Retirou de lá um eppendorf transparente repleto de um pó branco e um minúsculo espelho redondo. Repousou o objeto de vidro no colo e esparramou sobre ele o conteúdo do pequeno frasco. Fuçou no bolso novamente e pegou uma cédula de dinheiro. Usou-a para fazer dois segmentos finos de uma reta com o pó e a enrolou como se fosse um pequeno canudo. Logo em seguida, ela curvou-se e cheirou o primeiro segmento. Elevou a cabeça e respirou bem fundo, levando para dentro da narina todo o pó. Passou o dedo sobre algumas partículas que ficaram grudadas no espelho e levou-o à língua. Entregou a cédula enrolada para Tommy, que estava observando a garota, boquiaberto.

— O que é que você está fazendo? — ele perguntou.

Kelsey revirou os olhos.

— O que parece que estou fazendo? — ela fez uma pausa, olhando para todos os lados — Com toda essa história, preciso de algo que me mantenha agitada. Preciso sentir o sangue pulsando pelas minhas veias e preciso ouvir meu coração batendo. Preciso me sentir viva, se não eu irei enlouquecer.

Tommy já tinha visto Kelsey cheirando cocaína antes, mas aquele momento pareceu inapropriado para isso. Estava mais acostumado a vê-la fazendo coisas como essa nas festas que frequentavam quando fugiam do internato no meio da noite, lá parecia o lugar certo para tal. Parecia absurdamente errado naqueles corredores escuros, ainda mais depois de um assassinato brutal.

Mas ele percebeu que já tinha hesitado demais quando sentiu o cutucão que Kelsey lhe dera e ouvira a voz áspera da garota.

— Ande logo com isso. Se você voltou a ficar careta, me devolva a cédula que eu posso muito bem cheirar mais uma vez.

Tommy se lembrou do quão irritante Kelsey ficava quando estava com esse tipo de mau humor. Suspirando, ele abaixou o corpo e levou para dentro de sua narina todas as partículas do pó que estavam repousadas sobre o espelho. Sentiu a ardência descendo para os seus pulmões, mas ele não se arrepiou ou fez cara feia. Percebeu que Kelsey tinha razão, manter-se agitado seria a melhor coisa naquela situação porque não daria tempo para que ele pensasse no que aconteceu, seria uma distração mais do que perfeita.

Ele olhou para Kelsey, que finalmente sorrira e devolvera o aperto em sua mão.

 

 

Ian não aguentava mais despejar lágrimas. Tinha subido correndo para o dormitório depois da cena horrível que vira e estava se escondendo desde então, deitado sob as sombras que pareciam mais do que assustadoras. Ele não tinha mais forças para chorar, parecia que estava completamente seco por dentro.

Não era capaz de compreender o que estava acontecendo e muito menos aceitar que tudo aquilo fosse verdade. De uma hora para a outra, sua vida virara de cabeça para baixo e a única coisa que ele desejava era acordar desse pesadelo sinistro. A cabeça doía e o cérebro estava a mil, vários pensamentos se sucedendo e se atropelando. Quando fechava os olhos, enxergava perfeitamente aquele cadáver com as vísceras para fora, via sangue vermelho pingando em seu rosto, via o rosto esfarrapado daquele criatura que o sequestrara e o amarrara na floresta, sentia o cheiro podre que fazia suas narinas arderem. Como aquilo podia ser possível? Como aquelas criaturas poderiam sequer existir?

Ele sentou na cama e desistiu. Não queria mais continuar ali. Não fazia sentido. Não tinha amigos dentro daquele internato, a pessoa que ele gostava não era capaz de retribuir seus próprios sentimentos, fora abandonado pelas pessoas que ele mais amava, largado para apodrecer dentro de um internato. E como se tudo aquilo não bastasse, tinha uma espécie sobrenatural e aterrorizante solta por aí, pronta para matar a tudo e a todos. Para que estender algo que notoriamente ia terminar?

Ele colocou os pés no chão gelado e foi em direção ao armário onde ele, Logan e Tommy dividiam roupas e objetos pessoais. O quarto estava iluminado com a luz da lua que entrava pela janela semiaberta, então ele conseguiu enxergar o conteúdo do armário quando o abriu. O espaço lá dentro era um tanto quanto apertado e a parte central era dele, enquanto a da direita era de Tommy e a da esquerda era de Logan. As roupas se amarrotavam no fundo, enquanto à frente ele via objetos como shampoos e sabonetes fechados, desodorantes, perfumes e cremes de barbear (ele e Tommy não tinham barba, mas Logan exibia alguns poucos fios que ele gostava de tirar porque, segundo ele, pareciam a penugem de um filhote de urubu). Viu que tinha a lâmina de uma gilete ao lado do pote com o creme. Instantaneamente, ele a pegou e sentou no canto do quarto.

Olhou para a lâmina e ela estava brilhando. Engoliu em seco ao mesmo tempo em que as lágrimas já estavam escorrendo de seus olhos. Esticou o braço e viu as veias azuis se resplandecendo sob sua pele pálida. Fechou os olhos e a riscou. Sentiu a dor se apoderando de seu corpo e naquele momento ele não conseguiu pensar em nada. Sentiu que o sangue estava escorrendo pelo braço, mas ele não se importou. Apenas queria esquecer, se concentrar em outra coisa que não incluísse aquelas criaturas nojentas.

O corte tinha sido no meio do antebraço e ele desceu um pouco com a lâmina. Enxergou que a veia que atravessa o pulso estava pulsando, tão forte quanto os batimentos de seu coração. Quis furá-la, ver todo o sangue escorrendo para fora daquele corpo que já estava cansado. Quis penetrá-la, arrancar toda a vida que fluía dentro dela.  

De repente, ele ouviu algo. Parecia que alguém estava sussurrando em seus ouvidos, mas ele percebeu que a voz estava dentro de sua própria mente:

Eu prometo que vai ficar tudo bem.

A voz doce e suave o conteve de avançar. Pôde ouvir Logan dizendo aquilo e lembrou-se de que só estava vivo por causa dele. Se ele não o tivesse desamarrado daquela árvore, ele teria sido transformado e estaria perdido para sempre. Ele não queria mais viver, mas tampouco queria ter virado um deles. Aquilo era pior que a morte. Naquele momento, notou que não estava sendo justo, nem com ele e nem com Logan. O garoto de cabelos castanhos tinha se arriscado para salvar a vida dele e era assim que ele ia agradecer? Se matando? Não, aquilo não estava certo. Ele não podia ser tão fraco, não podia ser tão covarde a esse ponto. O corte que fizera no próprio braço momentaneamente o afastou da realidade, mas estava sendo infantil. Ele não precisava de nada daquilo. Ele tinha Logan e se ele prometera que tudo iria ficar bem, então ele acreditava. Não precisava de mais nada além das palavras daquele garoto tão belo para se sentir um pouco mais seguro.

Ele jogou a gilete suja de sangue para o lado e a empurrou para debaixo de sua cama, para que ficasse oculta dos outros dois garotos. Ele deitou no chão gelado, com o corte no braço ainda doendo e deixando sangue escapar. Ele não se preocupou. Arrastou-se até o armário e esticou o braço apenas para pegar uma camiseta de Logan. Não se conteve e a cheirou, sentindo o aroma de erva cidreira que apenas ele tinha. Logan tinha várias maneiras de ser único e Ian o amava por isso. O que sentia pelo garoto o salvara mais uma vez e ele só tinha a agradecer por tê-lo por perto.


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