Screaming escrita por caiquedelbuono


Capítulo 1
Prólogo.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Inicialmente, postarei o prólogo da história. Como o Nyah não tem um espaço reservado para o prólogo ou para o epílogo, este ficará sendo o capítulo 1, e o real capítulo 1 será o capítulo 2, mas acho que isso não influenciará em nada, não é mesmo?
Bom, apenas posso dizer uma coisa: aproveitem!



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Três meses atrás


A floresta estava escura e uma leve brisa de final de primavera emanava por todos os cantos. Já devia ser mais de meia-noite e as estrelas estavam brincando pelo céu escuro, dançando em volta da lua cheia, que trazia consigo uma bela iluminação prateada. Aquilo era a única coisa que permitia enxergar a clareira lá embaixo.

O chão era de terra batida e não havia árvores naquele espaço: apenas um grande buraco que servia de ponto de encontro para criaturas um tanto quanto esquisitas. Havia vários deles naquele ambiente. Peles acinzentadas; rostos desfigurados, com expressões sangrentas e vorazes; unhas afiadíssimas e repletas de sujeira encrustadas; trapos rasgados cobrindo as partes íntimas dos corpos podres; olhos inteiramente negros, como se fosse túneis escuros e profundos. Os dentes eram pontudos, afiados e amarelados, os cabelos desgrenhados e oleosos. Eles uivavam e sibilavam enquanto andavam de um lado para o outro, olhando sedentamente um para os outros.

Aquele não era um bando de zumbis normais. Eles eram mais desenvolvidos que seus irmãos genéticos. Zumbis antropomórficos, assim que eram designados. Possuíam a inteligência tão avançada que eram capazes de falar e raciocinar como se fossem seres-humanos. Mas não era isso que os destacavam como uma espécie poderosa. Tinham um poder peculiar. Alimentavam-se da carne de qualquer ser vivo, mas algo diferente acontecia quando se alimentavam de corações humanos. Tinham a capacidade de absorver sua energia vital e, com isso, a habilidade de adquirirem para si seus traços físicos e psicológicos. Podiam passar anos transformados em uma pessoa da qual se alimentaram e isso possibilitava uma estadia maior em lugares melhores do que uma floresta, onde eram obrigados a se manterem em caça constante a presas que pudessem lhes servir de alimento.

Naquela noite, todos eles estavam reunidos. O líder do bando, o zumbi antropomórfico mais velho dentre eles, tinha um anúncio importante para compartilhar. Ele estava do lado direito da clareira, em cima de um toco de uma árvore que havia sido cortada. Isso fazia com que ele parecesse muito mais alto, mais assustador e terrivelmente mais feio. Havia uma mancha preta de sangue cobrindo toda a extensão do seu pescoço. A boca negra era tão fina como a espessura de uma folha de papel sulfite.

Sheeva. — ele pronunciou o nome com sua voz áspera e catarrenta. Ele parecia estar cuspindo a palavra como se ela fosse algo que pudesse corroer sua boca — Dê um passo à frente. Sua presença é importante.

Os olhos negros e profundos viraram-se para encarar uma zumbi em especial. Ela estava no centro da clareira, olhando atenciosamente para o líder. Ela sentiu quando o estômago embrulhou-se e obedeceu a ordem, dando um passo à frente e curvando a cabeça alguns milímetros, uma leve reverência que não teve certeza se foi percebida pelos outros.

Mestre — ela disse, com um respeito mascarado em sua voz que estava um tanto quanto nervosa. Ainda assim, continuava igual a de qualquer outro zumbi: áspera e intangível — Em que posso lhe ser útil?

Ele a olhou com algo desprezível no rosto.

— Poupe-me de seus atos respeitosos. Estaria lhe obrigando a lamber os meus pés se quisesse o seu respeito.

Se zumbis pudessem corar, o rosto acinzentado de Sheeva estaria vermelho. Ela escondeu as mãos ossudas atrás das costas e olhou para os lados, enquanto os outros zumbis a olhavam com ares de quem estavam se divertindo.

— Perdoe-me, mestre.

— Todos vocês sabem o que está acontecendo com o nosso bando. — disse o mestre, erguendo as mãos para o alto como se estivesse clamando para uma divindade suprema — Sabem que o fogo é a única coisa posta neste planeta capaz de nos destruir. Sucumbimos às malditas fagulhas ardentes. Também sabem que a floresta está cada dia mais perigosa para nós. Uma boa parte do nosso bando acabou morrendo queimada em um incêndio que com certeza foi provocado por aqueles malditos seres-humanos. Acham que são superiores às outras raças. Acham que são únicos no mundo e que podem usufruir dele da maneira que quiserem. Mas todos nós sabemos que as coisas não são bem assim.

O zumbi parou de falar e olhou fortemente para todos os outros do bando. Se houvessem trinta zumbis ali, seria muita coisa. Conseguia se lembrar de quando o seu bando era indiscutivelmente um dos maiores da região. Havia centenas de zumbis e eles não precisavam se preocupar quanto à alimentação. O mundo não era corrompido do jeito que é hoje. Eles tinham carne à disposição em todos os momentos e circunstâncias que pudesse imaginar.

— É exatamente por isso, — ele continuou a dizer — que precisamos de um refúgio. Um abrigo coberto para nos protegermos de incêndios. Um lugar onde fogo é impossível. Um alojamento onde possamos nos acolher e viver como se fôssemos humanos, e não animais.

Sheeva estava ouvindo atentamente ao discurso, mas não pôde deixar de interromper para excluir a dúvida que apareceu em sua mente.

— Onde eu entro em toda essa história, mestre?

Ao invés de gritar com ela, ele apenas sorriu. Os dentes sujos e pontiagudos ficaram à mostra.

— Lembram-se daquele colégio que Kofuf invadiu? Vocês se lembram do objetivo dele? Dominá-lo para que pudéssemos assumir e ter exatamente tudo isso que acabei de citar. Mas ele fracassou deliberadamente e foi morto por quatro crianças que não aparentavam o menor dos riscos. Tenho informantes e os rostos delas estão bem marcados dentro da minha mente. Eu escolhi você para completar a tarefa dele, Sheeva. Deverá terminar o que Kofuf começou. Não tolerarei fracassos dessa vez, está me ouvindo?

— Desculpe-me, mestre, mas com tantos outros zumbis pelo bando, por que escolheu justamente a mim? Não sou a mais forte dentre eles.

O mestre sorriu com desdém.

— Querida Sheeva, por que insiste em esconder de si mesma suas nobres peculiaridades? Tenho plena certeza de que não se esqueceu daquele incidente que a fez mais poderosa do que já é. Nenhum outro zumbi antropomórfico tem o poder que você tem. Poderá aumentar nosso exército, recrutando mais e mais zumbis. Dessa vez, não quero uma chacina. Quero que seja a responsável por colocar mais zumbis no mundo e você, mais do que ninguém, sabe bem como essa tarefa deve ser executada.

Uma onda de calor atravessou o corpo de Sheeva e ela se retesou, tentando engolir em seco. Mas sua saliva era espessa demais para isso. Ela apenas assentiu com a cabeça, enquanto observava o mestre enfiar a mão entre os trapos que cobria seu corpo acinzentado. De lá, ele retirou um papel que estava dobrado em quatro pedaços. Inseridos em cada um deles, havia uma foto diferente. Com a outra mão, o mestre fez um sinal para que Sheeva fosse até ele. Relutantemente, a zumbi caminhou e esticou a mão quando ele ergueu o pedaço de papel para entregá-la.

— Veja. Esses são seus alvos. Mate apenas eles. Você sabe o que fazer com os outros.

Sheeva assentiu com a cabeça enquanto observava as fotos. Eram quatro adolescentes diferentes. O primeiro tinha os cabelos castanhos desalinhados sobre a cabeça, os olhos da mesma cor e a pele levemente bronzeada. A segunda era uma menina alva e frágil, os cabelos loiros e sedosos escorrendo pelo corpo como se fossem cascatas. Ela tinha os olhos verdes e intensos e parecia poder quebrar com o mínimo toque. A terceira era uma garota mais forte e determinada. Os cabelos eram ruivos e levemente ondulados, o olhar firme e quase predatório. Os olhos eram de uma cor que ela não soube definir: talvez verde acinzentado? Por fim, o último dos adolescentes era um garoto magro e pálido, os cabelos negros caindo sobre a testa. Tinha um ar misterioso em seus olhos esverdeados e uma espécie de argola pendia de uma de suas narinas.

Quando Sheeva terminou de encará-los, sentiu algo brotando dentro de seu estômago. Os dentes pontiagudos e incisivos machucavam seus lábios e ela sentiu a fome desabrochar como uma flor. Podia sentir o cheiro de sangue, o gosto da carnificina dentro de sua boca. Queria devorá-los como se fossem o banquete mais delicioso do qual provara.

— Não se preocupe, mestre. Não irei lhe decepcionar.

O mestre deu um sorriso. O mais sinistro que Sheeva já presenciou em toda a vida.

— Eu sei que não. Esteja pronta quando amanhecer. Você deverá atacar uma garota que se matriculará amanhã no colégio. Fique escondida pelas redondezas do portão e você a verá com a posse de uma mala de rodinhas. Mate-a e absorva sua energia vital. Você poderá se infiltrar no colégio quando sentir que as características psicológicas dela estiverem bem grudadas em seu interior.

— Poupe tanto fôlego, mestre. — ela disse, confiante — Eu sei como funcionam com os da minha espécie.

O mestre balançou a cabeça, olhando para Sheeva com os olhos negros. Ele parecia tranquilo e certo de que estava fazendo a escolha certa ao convocá-la para a missão.

— Não estaria a escolhendo se não tivesse certeza de que sabe absolutamente tudo que será necessário.

Sheeva assentiu a cabeça e estava virando-se para voltar ao grupo de zumbis que observava atentamente a tudo, mas surgiu uma pergunta em sua mente, que talvez não fosse tão importante assim.

— Qual é o nome dela?

O mestre franziu a testa que já era enrugada o suficiente.

— Não faça as perguntas erradas. Apenas limite-se a cumprir o que estou lhe propondo. Tenho certeza de que nenhum de vocês se arrependerá se Sheeva obtiver um bom desempenho.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Foi curtinho, mas prometo que os capítulos em si serão maiores. Não se esqueçam de colaborar com reviews e comentários! A participação de vocês é importante.
Em breve, posto o primeiro capítulo.



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