Assassinato Na Royal Opera House escrita por Dreamer


Capítulo 8
Grand Finale




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Piscou, um pouco tonto, tentando encontrar foco. Respirou profundamente e se arrependeu imediatamente: o ar parecia pesado aos seus pulmões, o que o fez iniciar uma série de tosses. Situação nada agradável, já que a fita que selava a sua boca não o auxiliava em nada naquela tarefa. Sentiu-se nauseado. Suas mãos, amarradas atrás de si, estavam dormentes.

Tudo estava escuro. John percebeu que não havia paredes próximas de si. Uma luz tênue vinda do lado esquerdo emoldurava uma silhueta delicada. Piscou mais uma vez e enxergou o rosto da garota: ingênuo e gracioso.

John tentou forçar suas mãos, mas se sentia fraco e não conseguiu se libertar das cordas. Percebeu outro movimento próximo a si. Havia outra pessoa amarrada naquele lugar. Ele estreitou os olhos e percebeu a figura feminina também amordaçada e amarrada, trajando o sobretudo de Sherlock.

"Irene? Como diabos essa mulher está viva?", questionou-se de imediato. A cada segundo sentia-se mais enjoado.

A bailarina os observava. John finalmente entendera que estava no palco. Ele e Irene, bem ao centro. A garota, atrás das cortinas.

Com passos leves, ela foi próxima aos dois.

—Você não pode morrer ainda, você é o meu Grand Finale! —disse para Irene e, com uma seringa, injetou uma substância nas veias dela.

John ouviu o respirar ofegante, entendeu que Irene também tinha recebido o mesmo veneno e que agora fora contemplada com o antídoto. Mas, percebeu que não receberia o mesmo sopro de benevolência. As imagens se distorciam à sua frente. Era cada vez mais difícil respirar...

—São quase nove horas... O segundo não vai chegar para morrer no seu lugar. Então, eu vou ter que começar, para que você não morra em atraso. Não pode haver mais atrasos.

Ela desamarrou a fita de enfeite que enrolava a sapatilha nas pernas e envolveu no pescoço de Watson. Apertou.

—Eu não me excederia nesta decisão tão rapidamente se fosse você!

Ela afrouxou o a fita e John preencheu os pulmões, debilmente, como pôde.

—Segundo! —exclamou ela encantada, ao ver Sherlock surgindo no palco por de trás das cortinas laterais.

Ele deu um passo à frente.

—Essa é a última dose de antídoto—disse ela mostrando um frasco. —Um só passo e o seu amigo não poderá ser salvo.

—Você não precisa me ameaçar. Está com toda a situação em suas mãos.

—É verdade. Eu sempre me perco na dramaticidade da situação—e sorriu. —Por favor, há uma seringa abaixo dessa cortina. Pegue ela.

Sherlock pegou a seringa que estava ao lado dos celulares de John e Irene. Sem que ela ao menos mandasse, injetou o conteúdo em suas próprias veias. John, com a respiração rasa, sentiu-se em pânico. Irene deu um gemido de espanto.

—Então você entendeu tudo! Sinto muito. Pelo processo, você deve morrer...

—Entendo. A primeira vítima foi o bailarino, o segundo, deveria ter sido eu e não a Srta. Adler como eu inicialmente presumi.

—Sim, deveria—confirmou ela, interrompendo-o, incomodada. —Eu acreditava que você veria a mensagem da Srta. Adler e viria no lugar dela. Mas você nunca apareceu!

—Imagino que um elemento surpresa é útil em alguns casos—murmurou ele sobre ele mesmo. E continuou: — Mas, achei pouco eficaz a troca de gênero na sua carta. Presumo que tenha feito isso para dificultar a minha identidade.

Ela deu um risinho:

—Bem, sobre a sua sexualidade todos temos nossas apostas.

As sobrancelhas dele se arquearam. Ignorando aquela resposta, continuou:

—O terceiro, o flautista. John, o seu primeiro segredo. A Srta. Adler, o seu Grand Finale.

A garota sorriu. John pendeu para o lado, com os pulmões sem ar.

—Você não vai querer que a sua ordem se inverta. Agora que ela finalmente voltou ao normal—disse, demonstrando uma leve vertigem provocada pela substância que se auto administrara.

Ela agachou ao lado de John e injetou o último antídoto. Seus olhos saltaram das órbitas no mesmo instante, e ele parecia querer inspirar todo o ar do mundo de uma só vez.

A bailarina andou até Sherlock e envolveu o pescoço dele com a fita. Mas, ele apanhou firme o seu pulso. Ela se espantou sem entender:

—Você não deveria ser capaz de fazer isso!

—Sinto muito—disse ele, empurrando a cortina com o pé deixando à mostra a seringa que nunca fora tirada do lugar. —Eu tenho a minha própria seringa.

Ela, ágil e flexível, como sua profissão a formara, agachou-se num espacate e apanhou a seringa enfiando-a na perna de Sherlock antes que ele pudesse reagir.

Ele, de imediato, pareceu perder a noção de espaço. Mostrou-se terrivelmente perdido e soltou a garota que, agora, mal reconhecia. Mas ainda tinha força nas mãos, e a bailarina sabia que levaria um tempo até que o veneno o fizesse fraquejar.

Ela saiu correndo. Precisava ganhar tempo até Sherlock se tornar uma presa fácil!

Ele piscou. Tinha que se concentrar! Sua memória pareceu voltar a tona e ele teve tempo de começar a persegui-la, largando um objeto metálico que chamou a atenção de Irene e John.

Sherlock perseguiu a bailarina. Correram pelos corredores e escadas do camarim. Mas, quando ela entrou em uma sala, ele a perdeu de vista.

Começou a andar mais lentamente:

—Eu sei por que você está fazendo tudo isso.

—É lógico que sabe. Senão não teria me encontrado!

Ele seguiu a voz dela, mas não parecia capaz de entender onde ela se localizava com exatidão. Era a mesma sala em que ela encurralara John. Talvez tivesse se escondido no meio dos cenários abandonados.

—O bailarino foi o primeiro por que ele traiu a sua irmã com outra. Era o primeiro assassinato, e você sabia que isso chamaria a minha atenção. Então eu tinha que sair do seu caminho, o que me tornaria a segunda vítima para você continuar o seu plano de vingança. Depois, o flautista, ele foi o motivo pelo qual sua irmã perdeu o emprego. Depois, John, o médico que não pôde salvá-la quando ela chegou semana passada ao hospital. Por último, Irene, a pessoa que você acredita ter sido o motivo do assassinato contra ela.

—Porque está me dizendo isso?

—Por que a sua irmã era Kate. A companheira de Irene. Os terroristas atentaram contra ela meses depois de eles terem supostamente matado Irene. Você não pôde suportar quando descobriu que ela estava viva, e montou o seu plano, para se vingar de todos os que haviam prejudicado Kate enquanto viva.

A garota saiu de trás de um conjunto de placas, que no palco já representaram paredes, e berrou com lágrimas nos olhos:

—E como você se sentiria se descobrisse que a vadia fugiu ilesa e deixou a sua irmã para morrer? É hora de morrer, Sr. Sherlock Holmes! Já passou muito das nove horas!

Sherlock, de aparência abobalhada pelo envenenamento, ficou ereto imediatamente. Donavan apareceu na porta do salão, bloqueando a saída. Lestrade e vários dos seus subordinados saíram de trás de pedaços de cenários e bagunças espalhadas pelos cantos da sala, apontando suas armas para a garota.

—Isso deve funcionar como uma confissão—disse Sherlock para Lestrade, enquanto algemavam a garota.

—Você devia estar morrendo! —berrou ela, vendo que sua vítima estava bem.

—Levem-na daqui! —gritou Lestrade de volta. E se voltou para Sherlock: — Então, a tal Irene Adler está viva?

—Não é o que dizem as fontes oficias—respondeu, dissimulado. —Mas, o importante para este caso é que essa jovem acredita que está.

John, que entrava na sala enquanto levavam a moça embora, perguntou:

—Mas, é verdade, você deveria estar morrendo.

Sherlock riu:

—Quando a garota me mandou uma mensagem deixando claro que eu não seria a última vítima, percebi que a relação entre as vítimas poderia ser esclarecida por uma fonte que já tínhamos. Lílian Posthan: a bailarina que foi presa antes e que confessou o crime que não cometeu: ela sabia da relação entre o bailarino e o flautista. Havia uma pessoa que se envolvera com ambos: Kate. Molly me avisou que as vítimas eram atacadas através do uso de um veneno muito específico e raro. Kate era química, nunca chegou a trabalhar no teatro, mas o seu envolvimento com o flautista provocou sua demissão no seu primeiro emprego. "Encontrando" Kate, foi fácil deduzir a irmã dela. Era a única pessoa próxima que trabalha neste teatro. Molly preparou para mim o antídoto. Eu o injetei em mim no lugar do veneno.

—E sobre as nove horas? Você só deduziu por causa dos relógios do palco?

—Pessoas que lidam com arte são extremamente metódicas e disciplinadas. Ela não teria deixado aquela pista para trás a toa.

Os policiais se movimentavam para dentro e fora da sala. Sherlock e John saíam com a sensação de dever cumprido. Já um pouco distantes do movimento e de presenças indesejadas, John disse:

—Se quer saber onde Irene foi parar, eu não sei. Ela chegou no estilete primeiro. Depois disso me deixou para trás—complementou num tom um pouco inconformado pela falta de ajuda.

—Imaginei—respondeu num sorriso rápido.

Foi então que, John, num dos seus poucos momentos observadores, notou:

—Você está usando o seu relógio antigo! Como o encontrou?

—Acredito que quando Irene foi sequestrada ela o deixou como pista. De qualquer forma, foi graças a isso que eu encontrei a ordem correta dos assassinatos.

—Que seria você o segundo, e não o último?

—Exato!

—Por que você não é o centro do Universo.

Numa respirada levemente incomodada, rebateu:

—Por que eu seria um grande problema para a assassina desde o início.

John riu. Já chegavam a saída do teatro e Sherlock já se preparava para chamar um taxi.

—Sherlock?

—O que?

—Afinal, o que foi que aconteceu para aquela Mulher estar com o seu relógio e o seu sobretudo?

Ele respondeu enquanto esticava o braço:

—Isso eu deixarei para suas próprias deduções.

E, o taxi estacionou, pronto para levá-los de volta ao 221B, Baker Street.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido esta história! =]



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