Assassinato Na Royal Opera House escrita por Dreamer


Capítulo 7
Segredo




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"Estou sendo um pouco ranzinza, talvez", repreendeu-se John quando começou a esfriar a cabeça.

A verdade é que não sabia muito bem por onde começar. E, ainda por cima, afastara-se da nova cena do crime, o único lugar que poderia lhe proporcionar alguma pista efetiva. Suspirou, sentindo-se tolo. Sherlock podia ter passado dos limites da estranheza naquele caso, mas ainda era Sherlock, devia ter algum motivo plenamente plausível para agir como estava agindo. Decidido a dar um voto de confiança ao amigo, deu meia volta tentando repetir o caminho até ele.

No final das contas, acabara se perdendo um pouco nos vários camarins do teatro. Mal sabia como foi parar lá! Desceu por escadas que encontrara no final do corredor. Percebeu que ainda não conhecia aquele trecho. O corredor era mais estreito e havia menos portas, mais espaçadas umas das outras. Uma, mais ao fundo, estava aberta de forma convidativa.

Deu passos lentos até ela, tomado por uma forte curiosidade. Logo na entrada, mais uma escada, no que parecia ser um imenso salão de ensaios. Pedaços de cenários estavam espalhados nos cantos, espelhos por todo o redor, várias barras e os equipamentos mais variados. Mas, o centro da sala, numa grande extensão, estava vazio. Devia ser usado para treinos, ele imaginou.

Foi até o centro. De lá poderia ter uma boa visão de todo o redor. Sentiu-se um pouco tonto. Observou a porta por onde entrara. Não pôde vê-la. Silenciosamente, uma grossa camada de gelo seco a cobriu. Olhou ao seu redor, tudo estava ficando mais e mais opaco. Mas, o gelo seco não podia se espalhar tão rapidamente! Talvez ele que estivesse lento... Passou a mão pelo pescoço e atrás de si percebeu uma pequena agulha. Retirou-a da sua pele. Veneno. Não conseguia identificar pelo odor qual substância entrara pela sua corrente sanguínea. Nem era capaz de se lembrar de quando aquilo fora parar ali.

—Tem alguém aí? —perguntou, e percebeu como se sua voz ecoasse. Tudo estava branco.

—É claro que sim! —exclamou a voz feminina, risonha.

Sabia que estava em perigo. Sentiu-se tonto e quase caiu. Deslizou a mão para dentro do bolso encontrando seu celular. Percebeu um som contínuo, como que de alguém batendo na porta, vir em sua direção. Sua vista sem foco procurou auxiliar o caminho dos dedos para as teclas corretas, mas sentiu algo atingir o seu peito. Cambaleou para trás e o celular escapou, caindo barulhentamente no chão. Lento, não pôde apanhar a mulher antes que ela sumisse em meio a névoa seguida por aqueles sons característicos.

—Então, você precisa dopar uma pessoa antes de matá-la? Isso não me parece uma atitude muito corajosa—provocou ele, percebendo suas chances quase nulas de sair daquela situação, enquanto seus joelhos fraquejavam cada vez mais.

Novamente o mesmo ruído e ele percebeu de onde vinham os barulhos de batidas: como que feita do próprio gelo seco, a bailarina apareceu, opaca e misturada com a imensidão branca. As pontas das suas sapatilhas pareciam a única coisa real naquela sala ou, ao menos, o som delas.

Perguntou-se se sentiria uma corda mortal envolvendo o seu pescoço, algum plástico envolvendo o seu rosto privando-lhe de sua respiração ou, ainda, se a ação do veneno seria o suficiente para dar fim à sua vida.

—Boa noite, Dr. Watson.

E ele caiu aos pés dela. Como um derrotado soldado observado pela sublime e delicada criatura surgida do material mágico de que são feitas as nuvens...

.o.

Irene, John, e o último segredo. Sherlock sabia que o assassino usaria a agenda planejada. Primeiro seria Irene. Mas, mesmo que a salvasse, seria a vez de John. Estava certo disso. Olhou seu relógio: havia menos de duas horas.

"Eu tenho algo que é seu. Terceira sala social", I.A.

Irene e John. O que os ligaria para que fossem vítimas? Se John soubesse que Irene esta viva e naquele lugar, não pensaria duas vezes para colocá-la como assassina e não como cúmplice. Afinal, a única ligação entre eles era o próprio Sherlock. Estranhou quando o seu senso investigativo apontou a si próprio como assassino.

Raciocinava como se estivesse há quilômetros daquela cena do crime.

—O que você percebeu? —perguntou Lestrade. Sherlock cortou-o com o olhar e saiu do corredor indo para qualquer sala que estivesse vazia.

Precisava raciocinar.

"Bailarino, Irene, flautista, John, segredo", repetia seguidamente para si mesmo. Sabia que John não tinha nenhuma relação com o teatro. A não ser que Irene tivesse, a identidade do assassino seria impossível de prever nas próximas duas horas...

Observou novamente a mensagem de Irene. Apressou o seu passo até a terceira sala social.

Vazia, exceto por um perfume que tão bem conhecia.

Olhou ao redor. Sentou-se girando o corpo pelo sofá, juntou suas mãos e, deitado, decidiu repassar mais uma vez todas as informações que tinha. Algo incomodava suas costas.

Como ele sabia que não era o assassino, tudo apontava para Irene. "Tenho algo que é seu". O sobretudo. John?

Algo incomodava as suas costas. Mas, John? Ela teria John. O que diabos era aquilo que incomodava suas costas?

Pulou irritado e percebeu, dentre as duas almofadas do sofá, uma pulseira metálica que reluzia. Puxou-a: era o seu relógio. Junto com ele, o estranho entendimento.

"Eu sou seu último segredo", S.H.

"Faz parte da equipe, mas não se ache tanto assim!", I.A.

Fechou o celular, sabendo exatamente o que tinha de fazer.

.o.

Molly puxou o lençol. Suspirou ao ver o último corpo que teria que examinar naquela tarde.

Retirou os plásticos envoltos no rosto do flautista. Constatou de imediato morte por asfixia. Apanhou o bisturi, mas percebeu que uma boa quantidade de durex ainda estava preso ao pescoço do homem. Virou-o para consegui retirar a maior parte de uma vez só. Notou uma pequena agulha, antes presa no pescoço da vítima.

Virou-o novamente, e fez um firme corte em Y pelo seu torso. Nada que contradissesse seu inicial diagnóstico. Mas...

Apanhou o seu celular, discou para Sherlock. Ele não atendeu. Ela já esperava por aquilo. Caixa postal: "Er. Alô. Olá! É a Molly. Eu estou fazendo a autópsia... Quero dizer: estava! Não vá pensar que eu ia te ligar no meio de uma autópsia. Er, bem. Não sei se pode ser importante para você. Mas, ele morreu por asfixia. Quero dizer, morreu sim, você já sabia disso, mas não precisa ser porque ele foi asfixiado. Digo, com o plástico. Eu encontrei uma agulha úmida no pescoço do corpo. Vou verificar se a asfixia ocorreu por envenenamento. Achei importante avisar. Porque de repente você pode precisar disso. Bem, confirmo mais tarde. Até logo! Não que eu ache que você vá querer me ver logo, mas bem, quero dizer... Tchau".


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