Sheba pensa em fugir. Mas pra onde? Não tinha lugar pra ir. Olhou para as poucas coisas que tinha. Algumas mudas de roupa que os pais de Gabe compraram para ela (a contra gosto, é claro), e objetos pessoais. Só. Nada mais. E o vestido. O lindo vestido de couro de cão do inferno que usou no baile. O vestido que causava pensamentos luxuriosos em quem a via vestida.

Não tinha nem o que levar, nem pra onde levar. Era sozinha no mundo. Mas, mesmo que quisesse ir, devia conversar com Gabe. Ele era seu protetor desde o baile, e desejara ficar com ele todo o momento, mesmo sabendo que isso seria sua perdição. Devia isso a ele.

Gabe discutia fervorosamente com seus pais. Não conseguia acreditar que eles fossem capazes de chamar Sheba, uma garota tão doce, de "demônio encarnado". As palavras não combinavam com os lábios de sua mãe, que as proferira.

"Mas é exatamente isso o que ela é" bradou sua mãe. "Um demônio encarnado."

"Mamãe, fale baixo pois ela pode ouvir."

"Ela que nos ouça!" Disse seu pai, falando ainda mais alto. "Se ela tiver um pingo de educação, que vá para o inferno!"

Mitzrael virou-se para a parede que dava para o quarto em que Sheba estava. "Vá para o INFERNO!"

"Papai!" Gabe gritou.

No quarto ao lado, Sheba ouvira cada palavra. No mesmo instante, sentiu seu corpo arder em chamas, como há tanto tempo não sentia. Imediatamente depois, seu corpo esfriou de novo.

Então, ela sentiu o calor do inferno lhe consumir por dentro em desejo de voltar para casa. Ela tinha para onde ir. Mas não podia ir. Agora entendia bem. O pai de Gabe a queria longe, mas ele não podia mandá-la para o inferno, apesar de querer isso.

Sheba estava presa a Gabe. Somente Gabe podia fazer isso.

O pior é que agora que sentira novamente o sangue ferver e resfriar-se em seguida, desejava ardentemente sua vida de volta.

Ao mesmo tempo que desejava Gabe.

O que faria?