Saí  do colégio e esperei a minha mãe chegar, na saída do edifício. Thalia já havia saído um pouco mais cedo, pois teria que ir ao dentista, fazer um check-up no seu aparelho dental, e Leo, porque iria ajudar na mudança de casa, saiu correndo assim que o sinal tocou. Enquanto esperava, acabei pregando em minha mente antigos pensamentos, como se agora eu estivesse na minha antiga escola... Estaria indo em direção a uma lanchonete perto do colégio com Zack, onde comprávamos cada um, um Milk-Shake, o dele sempre seria de chocolate, e o meu, de creme. Fazíamos isso toda a segunda feira, só para torná-la um pouco mais divertida...

Ouço uma buzina e percebo que minha mãe já estava ali. Não sei quanto tempo ela passou buzinando, mas pela sua cara, diria que ela havia esperado pelo menos uns 5 minutos. Saí do meu pequeno mundinho de imaginação, e fui correndo em direção ao carro, com minha mochila preta com bolinhas brancas penduradas no ombro, nem sei o porquê de trazê-la, afinal, não havia nenhum livro. Olho mais uma vez para o colégio, aquela era minha nova vida, uma nova vida legal. Uma vida com novos e bons amigos. Porém, uma vida sem Zack.

Minha mãe, curiosa do jeito que é, ficava me perguntando tudo no carro. Falei poucas coisas para ela, contei sobre Thalia e Leo, e os mínimos detalhes que só uma mãe se interessaria. Não citei o casal agarração no meu armário, as panelinhas extremamente irritantes na cantina, ou a saudade de Zack.

 Eu e minha mãe já tivemos uma melhor relação. Eu dizia tudo sobre minha vida, e ela me falava sobre o seu trabalho. Mas após a morte do meu pai, há menos de um ano atrás, só contei com o apoio de Zack. Com ajuda do seu pai, conseguimos prender o cara que deu um tiro em meu pai quando estava sacando dinheiro no banco. Lembro-me de ficar uma semana trancada em meu quarto, eu e meu pai éramos melhores amigos... Sinto falta dele todo dia, e da sua companhia, das piadinhas e até de quando ele me irritava às vezes. Tem horas que não entendo essas garotas que reclamam do pai, elas têm sim é sorte! Se eu pudesse ter mais tempo com ele... Mal reparei e já estava com lagrimas nos olhos. As enxuguei instantaneamente, e prometi a mim mesma que pararia de chorar o tempo todo. Não seria mais a “chorona preferida” de que Zack tanto falava.

Cheguei em casa e percebo um caminhão de mudanças parado, do outro lado da rua. Pelo visto meus novos vizinhos estavam chegando. Ah, mas quem sou eu para falar em novos vizinhos? Acabei de me mudar! Subi as escadas correndo em direção a meu quarto, fechando a porta e me jogando na cama, hoje com certeza só faria uma coisa: usaria meu computador!

 Levantei e fui em direção a uma gaveta para pegar uma Xuxa e amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo, tirei o uniforme, colocando uma camiseta banca e um short preto, e larguei o meu tênis em qualquer lugar por aí. Olho pela minha janela e reparo que é de frente para a janela do meu novo vizinho, pelo visto era uma garoto que moraria lá. Deduzi pela quantidade de diferentes tipos de bola espalhados pelo jardim, e pela coloração azul que via na parede do quarto. Já o meu, era branco. Tinha uma cama de casal encostada na parede oposta a minha televisão. Tinha um tapete preto, com um pufe azul, no qual sempre costumo me aconchegar para ler.  Logo o garoto – ahá! Eu disse que era um garoto! - chega em seu quarto com outras caixas, estranho... Ele parece familiar...

Coloco a cabeça para fora da janela e grito:

-Leo?!

Foi a única coisa que consegui dizer, como isso pode? Quer dizer... Que coincidência é essa?

-Meli! Vejo que somos vizinhos de janela, que maneiro! Agora, posso te perturbar vinte quatro horas por dia!

Ri com esse comentário, porque na verdade foi a única reação naquele momento, ainda não conseguia acreditar que aquilo era verdade.

-Leo, Mamãe esta pedindo sua ajuda lá em baixo e...

O garoto que entrou em seu quarto parecia muito com Leo. A única diferença era a idade, ele parecia ser uns dois, talvez três anos mais velho do que meu novo amigo. Mas não dá para falar muita coisa, afinal, estou olhando de uma mera janela!

-Já vou Joey! – Leo se virou para mim - Tchau Meli, depois a gente conversa!

Dei um pequeno aceno enquanto com a cabeça, e Joey parou no lugar em que Leo estava. Me examinou, presumo, mas como eu já disse, é. Uma. Janela.

-Ah! Você é a famosa Meli! Leo falou de você... Confesso que você é mais bonita ao vivo.

Ergui umas das minhas sobrancelhas em sentido de interrogação, como assim falou de mim, e bonita ao vivo? Eu conheci o garoto esta manhã! Ah, o irmão dele deve estar brincando. Pode ser que tenha escutado a nossa breve conversa janelal (essa palavra existe?) e esteja querendo sacanear o irmãozinho menor.

-Não liga pra ele não, Meli, ele é piradinho! Vamos, Joey!

Ele começou a empurrar seu irmão na direção da porta enquanto Joey ria como louco.

-Ei, Leo, ela já sabe que...

Leo o empurrou com força, até Joey se desequilibrar e cair para fora. Ele correu e fechou a porta rapidamente, enquanto eu ficava ali, parada em frente á janela sem entender coisa nenhuma. Fechei a cortina e decidi tirar um pequeno cochilo, estava morta de sono, e enquanto dormimos, podemos sonhar sem que ninguém nós perturbe, sem estragar o que queremos e principalmente, ser felizes.