(Ponto de vista: Jacob)

Meus instintos insistiam em apontar para um perigo iminente e invisível. Era desconfortável e ao mesmo tempo desafiador estar em um território desconhecido esperando pelo seu inimigo aparecer. Eu não vou mentir; antes eu iria adorar tudo isso. A chance de acabar com vários sanguessugas? Seria algo para tirar o tédio.

Mas agora não. E definitivamente não depois da despedida de hoje. Eu tinha que fazer tudo certo. Tinha que voltar para casa. Por que falhando nisso, não só significava a nossa derrota como também a quebra da promessa que fiz.

Fiquei vivo, foi o que ela disse. E era exatamente por isso que eu não iria improvisar algo na hora e tentar escapar brincando. Eu iria seguir o plano. Devia isso a Agatha.

E o plano consiste em ir até o esconderijo de Joham e caminhar até ele, na forma humana e sem nenhum perigo aparente a oferecer. Enquanto isso, a matilha e os Cullen estarão à espreita na floresta. Seth saindo de lá irá ser o sinal para eles atacarem. O psicopata vai tentar retaliar e eu retalho a cara dele. Na teoria é moleza.

Nesse exato momento eu estou em um esconderijo perfeito: em cima de uma grande rocha que me dá a completa visão do campo e das rochas menores lá de baixo, onde fica o esconderijo de Joham. As árvores grossas me dão cobertura. A matilha e os Cullen estão patrulhando mais longe para o caso de alguém do exército estar por aqui. Nós não vamos querer estragar a surpresa de amanhã, não é mesmo?

E por falar em surpresas, eu esperava que Agatha não me fizesse nenhuma amanhã. Ela prometeu que não faria nada, mas eu a conheço muito bem para saber que ela não suporta ficar de braços cruzados. E eu a entendo, é sério. Deve estar sendo uma droga para ela ter de ficar de fora, mas não posso deixar que ela se machuque novamente.

Sabia do risco quando a trouxe, mas uma parte bem estúpida de mim também queria que ela viesse. A perspectiva dela sozinha em La Push e com a saúde complicada como estava era simplismente insuportável. Eu só esperava que ela usasse o bom senso... Mas sinceramente, será que se eu estivesse no lugar dela eu conseguiria ficar parado? A resposta me fez tremer, então tratei de parar de pensar nisso. Não adiantava nada ficar supondo coisas.

Procurei por Leah, que estava correndo no perímetro em volta do casebre. Parecia tudo tranquilo por lá.

–Duvidando da namorada? – perguntou ela com uma risada meio sinistra.

–Acho melhor se concentrar no que está fazendo, Leah. – cortei-a.

–Posso correr e pensar ao mesmo tempo, cabeça oca. – ela rebateu. – Então acha mesmo que Agatha vai surtar amanhã?

Como Leah conseguiu perguntar algo sem nenhum cinismo soando na voz, resolvi responder direito:

–Acho que ela já estava surtando desde o momento em que Seth foi levado. A minha pergunta é quanto tempo vai demorar até ela pirar de vez.

Leah se perdeu em pensamentos diante da menção de Seth. Uma mistura de raiva e culpa atravessou sua mente. Eu próprio estava morrendo de culpa por terem pegado ele. Eu deveria ter o protegido.

Trinquei os dentes ao olhar avidamente pelas rochas abaixo, tentando enxergar através delas. O que será que o cientista maluco estava fazendo? Será que já estava contando vitória ou estava se preparando caso já esperasse um ataque da nossa parte?

Leah ainda acompanhava meus pensamentos e depois sua linha de raciocínio seguiu para uma lembrança de hoje mais cedo. O rosto angustiado de Agatha presente.

–Ela veio me pedir pra que eu te protegesse. – disse ela. – Garantir que você fosse sair ileso da luta. Então não se preocupe; ela não vai fazer nada.

Sabia que Agatha estava preocupada, mas aquela expressão nos pensamentos de Leah era muito mais do que ela viera demonstrando até agora... Quanto esforço ela deve ter feito para esconder tudo aquilo?

–Obrigado, Leah. – murmurei.

–Não tem de quê. – ela respondeu indiferente, depois seu tom mudou. – Você tem muita sorte, sabia disso? De ter achado alguém como ela.

–Olha só pra isso... O coração de pedra derreteu, foi? – perguntei rindo.

–Hahaha, você me mata de rir. Mas é sério, eu acho ela uma garota legal. Só não conta pra ela que eu disse isso.

–Pode deixar. – respondi ainda rindo.

Depois disso deixamos as brincadeiras de lado. Todos estavam com os pensamentos a mil sobre o que aconteceria em algumas horas. Eu continuava observando a caverna lá em baixo, mas nada saiu dela. Silêncio. Completo silêncio.

À medida que os meninos corriam pela floresta, os caminhos começavam a ficar mais conhecidos. Enquanto eles encontravam atalhos, esconderijos e lugares que forneciam posições estratégicas eu fazia uma anotação mental para lembrar de cada um daqueles locais. Poderiam ser úteis depois.

Vi Leah observar o casebre várias vezes. Estava tudo quieto lá; eles não iram querer chamar a atenção de ninguém. Mas eu esperava que Agatha aparecesse pelo menos uma vez à janela, para eu saber como ela está. Desde que ela fora atacada e perdera o poder de se transformar, eu começara a me preocupar muito mais com ela. Agatha estava frágil, mas ainda assim queria demonstrar que podia lutar. A combinação dessas coisas muitas vezes fazia ela se meter em situações perigosas... Eu só queria acabar com tudo isso de uma vez para que pudéssemos voltar à nossa vida.

Eu sabia que com a condição humana dela, eu teria que tomar uma decisão em breve. Uma decisão que não seria fácil e que ninguém entenderia. Senti os pensamentos dos outros se voltando para os meus, então decidi que poderia pensar nisso mais tarde. Nada de distrações hoje.

Era quase seis da madrugada quando todos começaram a seguir para os seus postos. Ainda na mansão dos Cullen, nós havíamos estabelecido postos para cada um, com a ajuda de Emmett que fizera a varredura do local antes mesmo de virmos para cá. Nós tínhamos construído um mapa que agora estava gravado em minha cabeça. Os Cullen estariam no meio da floresta e atacariam direto no centro da caverna. Os garotos iriam vir pelas laterais e surpreender aqueles que tentassem fugir. Enquanto isso, eu iria pegar Joham dentro da caverna. Eu apostava que ele tentaria se esconder, como o covarde que era, enquanto todos lutavam.

E então, chegara a hora. Lá em baixo, na montanha, vi uma grande rocha se movendo e uma figura encapuzada sair de lá carregando alguém pelos braços. Apertei os olhos e enxerguei Seth, mais magro do que jamais vira e com a aparência de alguém doente. Imediatamente retesei os músculos, preparado para atacar ao ver o estado em aquele maldito sugador de sangue tinha deixado Seth.

–Se acalma, Jake. Lembre-se do que temos de fazer. – disse Quil ao sentir que eu poderia atacar a qualquer momento. Tentei fazer o que ele disse, mas agora seria muito difícil me acalmar para voltar à forma humana. Trinquei os dentes ao ver o cara de capuz jogando Seth de qualquer jeito no chão.

–Está na hora. – disse Quil.

–Acaba com o desgraçado. – rosnou Leah, que já estava em sua posição de ataque. Ela também tinha os olhos grudados em Seth.

O calor diminuiu pela minha espinha e um segundo depois já estava de pé, colocando os shorts e descendo da rocha indo de encontro, ao que finalmente seria, o momento final.

Estava na hora de acabar com todos eles.