Faltava uma hora para anoitecer.

Quando a noite caísse, todos menos eu, Renesmee, Carlisle e Leah iriam para a floresta para ficar de tocaia. Ao amanhecer, Jacob iria esperar por Joham e fazer todo o teatrinho de se entregar e entrar no covil do cientista. Assim que Seth saísse, eles estariam prontos para atacar.

Quando Jacob me chamou para fora da casa eu já tive o pressentimento de que esse seria o momento da nossa despedida antes da batalha. Eu sabia que teria de ser forte nesse momento, mas quando Jacob me conduziu para os fundos da casa tive que segurar o fôlego e não era por que estávamos prestes a nos separar.

Logo atrás de um pequeno bosque atrás do casebre havia um maravilhoso lago verde, ladeado por rochas e mais além pelas grandes montanhas. Cristalizava e dançava com a luz do sol pousando sobre ele. Ergui meus olhos para ver o final do lago e não consegui. A margem dele se juntava com o pé da montanha e misturava as duas paisagens. Eu nunca havia visto nada tão bonito e resplandecente. Tinha até um certo ar mágico. Virei-me para Jacob.

–É tão lindo.

–É eu sei. – ele deu um sorriso. – Sabia que iria gostar.

–Tem como não gostar? – disse voltando meu olhar para o lago. Eu poderia ficar olhando-o para sempre; proporcionava uma paz interior. A brisa fria e suave tocava meu rosto e o ar que entrava pelos meus pulmões era puro e fresco. Vapor saía de minha boca e nariz assim que eu expelia o ar, deixando uma sensação gélida em meu peito. Eu não me importava de estar sentindo frio agora; era uma sensação boa.

Apesar de saber qual era o real motivo para Jacob ter me trazido aqui, me permiti continuar encarando o lago por mais algum tempo até que ele falou:

–Daqui a pouco eu vou ter que ir.

–Eu sei. – murmurei. Ele não disse mais nada por um bom tempo. A luz do sol continuava dançando sobre o lago. Depois de um tempo, ela começou a ficar fraca com a chegada do pôr do sol. Percebi que o lago começava a mudar de cor enquanto a luz desaparecia; logo ele tornou-se de verde para azul piscina. E eu achando que nunca havia visto nada tão bonito há minutos atrás. Essa cor aqui era bem mais bonita.

–Lembra da promessa que você fez? – ele perguntou de repente.

–De que eu ficaria longe da luta enquanto você finge se entregar para um vampiro louco? Claro que sim. – eu disse lentamente, sem crítica transparecendo em minha voz. Não queria estragar nossa despedida com sarcasmo.

Voltei novamente meu olhar para Jacob e ele me observava com a expressão inteligível. Sustentei seu olhar e de repente senti que palavras demais eram desnecessárias. Não precisávamos disso. Ele entrelaçou suas mãos nas minhas e aproximou seu rosto do meu, encostando nossas testas.

Agora a luz do sol havia parcialmente desaparecido. O céu estava tingido de um laranja suave, misturado com tons violetas. Essa mistura incrível de cores refletia nos olhos escuros de Jacob, tornando-os cor de mel. Perdi-me em seu olhar, hipnotizada pela maneira que ele encarava meus lábios. Ele fechou os olhos e eu fiz o mesmo quando sua boca selou a minha.

Seus lábios moviam-se gentilmente nos meus, aproveitando cada textura. Soltei suas mãos e segurei seu rosto firmemente enquanto ele segurava minha cintura, acariciando a pele das minhas costas. Continuei beijando-o sem querer pensar em mais nada que não fosse Jacob. Memorizei cada traço, cada gosto. Por que algo dentro de mim ainda gritava, gritava freneticamente para não deixá-lo sair da minha vista. Para não permitir que ele se soltasse de meu abraço.

Ele separou-se de mim e penetrou seu olhar no meu. Encarei-o, ofegante.

–Fique vivo. – eu disse simplismente.

–Vou ficar. – ele prometeu. Fechei os olhos novamente. Jacob afagou meus cabelos e pressionou seus lábios em minha testa ao me segurar firmemente em seus braços. Senti-me pequena e frágil, ali aninhada em seu calor. Eu não queria deixá-lo ir. Não queria.

–Eu preciso ir agora. – ele sussurrou contra o meu ouvido. Ergui meu rosto, a súplica com certeza estampada nele. – Está na hora. Vou voltar, prometo.

Senti o calor dele deixando minha pele e quando dei por mim, Jacob já estava caminhando de costas, ainda me olhando, e então ele sussurrou:

–Eu te amo.

Dei um passo hesitante à frente antes de responder:

–Eu te amo mais.

E aí ele sumiu por entre as árvores. Apesar de meus ouvidos humanos não serem tão sensíveis aos sons longínquos, pude ouvir o leve som de quando ele se transformou. Fiquei algum tempo encarando o ponto onde Jacob sumira, sem reação. Uma leve dormência surgiu em minha cabeça e por um momento não consegui sentir meus pés no chão.

De repente algo acordou dentro de mim. Eu precisava fazer alguma coisa. Alguma coisa que garantisse que Jacob saísse ileso de toda essa batalha. E a ideia se formou pronta em minha cabeça.

Atravessei o bosque e cheguei a tempo de ver Renesmee se despedindo dos pais logo antes deles sumirem para a floresta como Jacob fizera. Assim que Renesmee e Carlisle entraram para casa, comecei a procurar por aquela que sabia que iria me ajudar e a encontrei encostada a uma árvore com a pior das expressões. Aproximei-me.

–Leah, eu preciso da sua ajuda.

Ela me olhou com descaso.

–Sei bem o que você vai me pedir e já vou adiantando que não vou te colocar na luta.

Revirei os olhos.

–Não é nada disso. Prometi ao Jacob que não faria isso. E além do mais, eu não posso me transformar.

Isso a desarmou. O fato de eu ter comprometido minha vida ao salvar a sua era um assunto delicado para ela. Eu não entendia muito bem isso, mas acho que tinha algo a ver com dívidas não pagas. Isso não importava para mim; não considero o que fiz como uma dívida, mas talvez hoje ela pudesse me pagar na mesma moeda.

–Preciso que você proteja Jacob. – sussurrei quase implorando. – Eu não acho que o plano vai dar certo. Na verdade, nunca achei.

–Então por que concordou? – ela perguntou sem entender.

–Por que ele iria fazer isso de qualquer maneira. – funguei. – Eu tentei de tudo, mas até Billy concordou e eu não pude fazer nada. Leah você não pode deixar ele à mercê de Joham.

Ela suspirou.

–Sabe que nada vai acontecer com ele; não vamos deixar.

–Leah me promete. – pedi pegando suas mãos e ignorando que ela tenha se esquivado ao meu toque. – Promete que não vai deixar nada acontecer com Jacob. Eu sei que é difícil para você por que Seth também está em perigo, e eu quero que ele esteja bem tanto quanto você. Mas é sério, você é a única que eu posso confiar para pedir isso.

Ela soltou a minha mão.

–Tá legal, tá legal. Não precisa ficar desesperada. Respira garota. – ela olhou para a floresta. – Olha, eu tenho que ir agora. Vou ficar patrulhando e me certificar que nada vai nos encontrar, mas fica tranquila, eu não vou deixar nada acontecer com Jacob e nem com o meu irmão.

Respirei fundo uma vez, aliviada.

–Obrigada Leah. Eu queria poder estar lá e ajudar a acabar com aqueles malditos.

De repente, Leah me olhou desconfiadamente.

–Você vai mesmo ficar de fora?

Levantei as sobrancelhas.

–Sim. Eu prometi.

Ela deu uma risada sarcástica.

–E desde quando isso te impede? Ou você deixou de ser cabeça-oca?

–Vá correr, Leah. – disse acidamente. Ela riu e deu as costas, mas antes que pudesse se transformar eu disse:

–Ei, obrigada. – sorri.

Ela virou-se e deu um sorriso relutante.

–É o mínimo que eu posso fazer; você salvou minha vida.

E então ela explodiu em lobo e desapareceu pela floresta. Senti algo estranho com sua partida. Talvez eu estivesse sensível demais por ver todos eles indo embora. Talvez o fato de que Leah e eu estávamos, de uma vez por todas, nos tornando amigas tenha me deixado emotiva. Qualquer que fosse o motivo, eu tinha que varrer da minha mente; não podia ficar vulnerável agora.

Fiquei algum tempo olhando para as árvores, que agora pareciam meio fantasmagóricas, aqui no completo escuro. Era engraçado como este lugar me parecera tão lindo até a luz do sol se apagar. Agora, definitivamente este se parecia com um local onde uma batalha sangrenta aconteceria.

Um vento forte sacudiu as folhas aos meus pés e eu me vi no meio de um redemoinho delas. Dei alguns passos para trás, momentaneamente cega pela poeira que atingira meus olhos e bati de costas em algo duro. Virei-me, assustada.

–Ah! – arfei colocando a mão no peito, sentindo meu coração acelerado. – É você Carlisle. Me deu um susto...

–Desculpe, não foi minha intenção. – ele me deu um olhar estranho, provavelmente se perguntando o que eu fazia aqui, me debatendo que nem uma retardada no meio das folhas. – É melhor entrarmos, não é seguro ficar aqui.

–Você é quem manda. – murmurei andando ao seu lado, mas olhando por cima do ombro para a floresta assustadora.

O que quer que fosse acontecer nela nas próximas horas certamente me causaria a pior das agonias. Eu não poderia participar da luta e apesar do pedido que fizera a Leah, eu não tinha como me certificar de que Jacob e Seth sairiam seguros dessa. Só me restava esperar.

E o pior de tudo é que o comentário de Leah me fizera pensar em algo que eu estivera roendo as unhas para não pensar: que minha impulsividade iria, afinal de contas, acabar com a promessa que fiz a Jacob.

Eu sabia que ele não iria confiar em mim novamente se eu fizesse isso – mesmo que a quebra de confiança significasse sua vida sendo salva –. E eu não era tão irresponsável de sair correndo no meio na floresta e entrar de supetão no meio da luta. Isso só iria o distrair e possivelmente torná-lo um alvo fácil.

A outra opção era ficar e esperar. Mas eu não consigo deixar de imaginar como eu me sentiria se alguém chegasse com a notícia de que Jacob não conseguira superar Joham. Eu nem sei o que eu sentiria. A perspectiva é dolorosa demais para saber. E quase tão doloroso quanto imaginar um mundo onde Jacob Black não mais existisse, era imaginar como eu poderia me olhar no espelho sabendo que poderia ter feito algo para impedir isso.

E então, a coisa se resumia nisso: arriscar a confiança de Jacob e possivelmente a minha vida para poder salvá-lo ou ficar e torcer para que tudo se resolvesse sem a minha ajuda.

E eu tinha menos de doze horas para decidir isso.