O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 11
Revelações




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–Ponha ela no sofá! – alguém dizia.

Mãos fortes ergueram-me do chão e logo senti o couro duro do sofá. Minha visão estava turva e depois de um momento senti pingos gelados em meu rosto.

O rosto de Emily entrou em foco, ela parecia preocupada.

Sentei-me no sofá. Eu já quase não sentia tontura.

Leah estava no canto mais distante da sala, observando a cena com desgosto. E Sam estava concentrado, parecia pensar sobre algo importante.

–Você está bem? – perguntou Emily.

–Sim estou. Obrigada. – respondi.

–Emily – Sam ainda estava concentrado. – Você pode cuidar dela por um momento?

–Claro. – ela assentiu fervorosamente.

–Agatha. – ele agora se dirigia a mim. – Não se preocupe. Iremos cuidar da sua... situação.

–Situação? – minha voz estava fraca.

–É... – ele ainda parecia desconfortável. – Iremos trazer um amigo. E ele vai nos ajudar a entender...

Tudo bem. Agora eu realmente estava com problemas.

Eu estava – inexplicavelmente – dentro de uma história fictícia.

Eu ouvia os pensamentos de um – que também é fictício – lobisomem.

E – por mais estranho que isso pareça – eu cheirava como um.

Percebi que estava com a boca aberta e fitando o nada. Recuperei-me do choque.

–Entender o quê? Como assim eu tenho o mesmo cheiro que vocês?

–Não sei. – ele respondeu. –É o que irei descobrir.

Ele beijou Emily nos lábios – percebi Leah desviando o olhar para um ponto indistinto no chão. – e foi embora com Leah em seus calcanhares.

–Bem – disse Emily levantando-se do sofá. – Quer comer algo?

–Não obrigada. Mas aceito um copo de água, por favor. – levantei-me também.

Ela foi pegar a água e logo voltou. Estava gelada e eu bebi avidamente.

–Obrigada. – agradeci.

Ela fitou-me por um momento.

–Acho que você gostaria de trocar de roupa não? – ela sorriu.

Analisei a sujeira de minhas roupas e constatei que Emily tinha razão.

–É. Isso seria muito bom. – eu sorri tímida.

–Venha até aqui. – ela chamou-me indo em direção a outro cômodo.

Entramos no que percebi ser o quarto do casal. Era simples. Apenas havia uma cama grande, um armário e uma escrivaninha com fotos.

–Vai querer tomar um banho também. – disse Emily eficiente enquanto apanhava roupas no armário.

Agradecida, tomei banho e vesti os moletons que Emily havia me emprestado.

Quando voltei à cozinha, ela estava ao fogão cozinhando.

–O cheiro está ótimo. – comentei.

–Os meninos vão chegar logo e estarão com fome. – ela riu e a afeição estava presente em sua voz.

Os meninos? Isto me fez pensar. Quem mais eu conheceria aqui?

Senti um arrepio ao lembrar do personagem mais fascinante deste mundo.

Jacob Black.

Será que ele estaria aqui? Eu não sei em ponto da história eu estou exatamente.

Decidi não criar esperanças de conhecê-lo. Afinal a qualquer momento eu poderia acordar desse sonho maluco.

Será que o pessoal daqui se perguntaria o que acontecera comigo para desaparecer assim? Talvez eles chegassem à conclusão que eu fui embora assim como cheguei aqui. – inesperada e inexplicavelmente.

Um barulho vindo da porta distraiu-me de meus devaneios. Encolhi-me ao ouvir várias vozes aproximando-se.

Emily sorriu encorajando-me.

De início não consegui distinguir muito bem os dois recém chegados. Eram tão parecidos como irmãos seriam. A mesma pele avermelhada e músculos avantajados.

Focalizei Sam quando ele cumprimentou-me com um aceno da cabeça e avançou até Emily pegando-a nos braços. A aura de amor entre eles era gritante.

Os garotos observavam-me curiosos. Eu estava realmente envergonhada com aquela situação, até localizar um homem velho de aparência frágil, que estava quase invisível em meio a tantos músculos.

–Venha Quil, sente aqui. – Emily arrastou uma cadeira ao velho.

Ele sentou-se com dificuldade. Até agora ele não havia me encarado, mas depois de um momento fixou seus olhos em mim.

–Essa é Agatha. – apresentou Sam.

O velho acenou com a cabeça. E antes de eu ter a chance de falar qualquer coisa o garoto mais próximo adiantou-se até mim.

–Oi, eu sou Seth. – ele sorriu animado. – Você conheceu minha irmã.

–Ah, prazer Seth. – estendi a mão a ele sorrindo também. Caramba! Seth Clearwater. Eu sempre gostara dele.

Logo, o outro atropelou Seth, apresentando-se também.

–Eu sou Embry. – ele sorriu malicioso. – Eu sei, é um prazer.

–Tudo bem, chega de apresentações. – disse Sam.

Eles sentaram-se conversando. Não pude entender o assunto, já que cada um lutava para ter sua vez de falar.

Desisti de acompanhar e ofereci-me para ajudar Emily que ainda cozinhava toneladas de comida.

Durante o jantar, não falei muito. Apenas respondi as perguntas que estavam ficando frequentes. “Como você veio parar aqui?” ou “Você não se lembra mesmo?”.

Quando os pratos estavam limpos, Sam pigarreou e todos ficaram quietos.

Percebi que ele iria tratar de um assunto importante, como ele mesmo se referira anteriormente, eles iriam “cuidar da minha situação”.

–Bem – ele começou. –, eu avisei a vocês que discutiríamos um assunto importante para toda a matilha. – ele disse a palavra ‘matilha’ discretamente, para não me assustar, suponho.

–E – ele continuou. – Fui falar com o velho Quil aqui, sobre Agatha – ele pousou os olhos sobre mim. – E acho justo lhe contar sobre o que conversamos.

Tentei expressar-me o mais confiante possível, apesar do medo borbulhar por trás da fachada. Percebi que eu não era a única ansiosa. Excluindo a Sam e Quil, todos estavam curiosos.

–Agatha. – surpreendi-me ao ver o velho Quil dirigindo-me a palavra. – Pelo que sei você contou que não se lembra de como veio parar aqui.

Confirmei.

–E você não fazia ideia do que presenciou quando viu Leah transformada? – ele perguntou com sua voz fraca, porém cheia de autoridade.

Tive que ter cuidado ao negar sua pergunta, porque tecnicamente eu sabia tudo sobre lobisomens e os Quileutes.

–É, eu não fazia ideia de que existiam lobos. – Não era uma mentira.

–Você precisa entender – Sam retomou a palavra. – que o que diremos aqui é apenas uma suposição com base nos fatos que se apresentaram.

–Fatos? – perguntei temerosa.

–Bem, como lhe expliquei, seu cheiro é igual ao nosso. E Leah afirma que você ouviu seus pensamentos.

Eu não via onde isso iria parar, mas sentia que não seria algo bom.

–Você veio do Brasil, certo? – perguntou Quil.

–Sim. Mas o que isso tem... – comecei.

–Há muitas lendas nesse país não? – ele me interrompeu.

–É... Há muitas lendas. – respondi.

Depois de um minuto, onde ninguém falara nada. Sam disse as palavras que mudaram todo o curso da minha vida.

–Pensamos que, talvez, você seja uma de nós.

Um leve formigamento surgiu em minhas mãos enquanto eu assimilava o que aquilo queria dizer.

Levei um ou dois minutos para conseguir organizar meus pensamentos. Como não consegui formular uma resposta satisfatória, resolvi dizer o que realmente pensava.

–Não vejo como isso possa ser possível. – eu disse lentamente.

–Bem – disse Sam. –, isso é algo inesperado, mas temos provas de que você seja.

Embry parecia incrédulo, Seth continuava estranhamente animado, e Emily expressava temor.

–Espere aí! – disse Embry. – A garota tem razão, é impossível! Como ela poderia ter os genes? Ela não é daqui!

–Embry – Quil suspirou. – Ninguém nunca garantiu que a magia fosse exclusiva das terras Quileutes.

Suas palavras agitaram algo em minha lembrança e a voz de minha avó ecoou fazendo-me arfar.

–Você está bem? – Seth perguntou.

Balancei a cabeça em negativa, incapaz de falar.

Será que era isso o tempo todo?

Meus pesadelos, as lendas que minha avó me contava... Seria possível que era esse o meu destino, o caminho que deveria seguir?

–Agatha, o que foi? – Sam fitou-me desconfiado.

–Minha... Minha avó. – consegui dizer.

–Sim? – incitou Quil.

–Ela costumava contar-me histórias. – eu disse, meu olhar fixo sem ver nada. – A família de minha mãe é descendente de uma tribo indígena.

Os olhos de Quil brilharam ao ouvir essa informação.

–Ela dizia – continuei. – que nossos antepassados tinham magia no sangue, e seus espíritos eram capazes de sair dos corpos.

–Isso é possível Quil? – perguntou Seth.

–Não vejo porque não. – ele respondeu. – Afinal, por que seriamos os únicos a ter a magia no sangue? Sim, é possível... – ele murmurava consigo mesmo.

Eu não sabia o que pensar nem o que dizer.

Mesmo que as lendas de minha avó fossem as mesmas que as dos Quileutes, isso não justificava o fato de eu estar dentro de uma história!

Isso era insano, impossível e também irresistivelmente tentador...

Apesar de tudo, eu ainda era uma fã da Saga Crepúsculo. E estava adorando conhecer cada um dos personagens sobre os quais eu lera.

Depois da conversa, Quil, Seth e Embry foram embora. Emily improvisou uma cama no sofá para mim e o casal foi dormir deixando-me sozinha com meus pensamentos.

Durante uma hora e meia não consegui dormir. Estava nervosa demais.

Tentei pensar em coisas agradáveis para relaxar.

Pensei em como Emily e Sam estavam sendo prestativos e hospitaleiros, pensei nas pessoas que conheci...

O engraçado é que todos eles tinham a aparência que eu imaginara quando lera os livros. Não era a aparência dos atores dos filmes.

Com um sobressalto me lembrei que havia outros personagens importantes que eu sequer havia lembrado.

Os Cullens.

Mais uma vez perguntei-me em que parte da história eu estava vivenciando. Bem, Seth estava transformado. Então era Eclipse ou Amanhecer. Estremeci com a ideia de estar em Eclipse com todos aqueles recém nascidos enlouquecidos.

A tática de pensar em coisas agradáveis não deu muito certo. Então depois de mais meia hora o sono finalmente estava começando a vir.

Fechei os olhos esperando não ter pesadelos.


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