Quando a explosão de luz cessou, reparei que todos olhavam. Então me virei para ver o que me aguardava.

Eu olhei. E não consegui acreditar. Era uma carruagem enorme e reluzente. O cara que conduzia havia saltado da carruagem e sorria frenéticamente, e se seus dentes fossem mais brancos poderia ter nos cegado sem a carruagem-sol. Ele aparentava ter dezessete ou dezoito anos, tinha porte de atleta e cara de metido. Eu tinha uma idéia de quem seria o exibido.

–- Uau -- murmurou Thalia admirando o deus.

–- O que você disse, Thalia? -- franzi a testa.

–- Eu? Hã... o que será que ele veio fazer aqui? -- Thalia tentou disfarçar.

Antes que eu pudesse responder, Apolo começou à falar novamente.

O deus reluzente

Rompe em...

–- Senhor Apolo! -- exclamou Quíron, interrompendo Apolo. Eu quase agradeci. Já ouvi Apolo e seus haicais. E pessoalmente preferia ser atingido por uma flecha -- Que honra recebê-lo em nosso acampamento.

–- Ou oque sobrou dele -- Apolo soltou uma risadinha e examinava o acampamento -- Zeus me mandou aqui para buscar alguns semideuses, e como eu já havia chamado, onde está Nico Di Angelo?

Dei um passo à frente.

–- Não se preocupe. Zeus mandou buscar os heróis que se destacaram nesse "conflito" com Gaia.

Todos começaram à cochichar. Apolo pegou um pergaminho e começou à ler.

–- Eu não tenho boa memória -- continuou Apolo -- Então Zeus escreveu os nomes dos heróis.

–- Hã... mas isso, quero dizer, não seria trabalho de Hermes? -- perguntei.

–- Concordo garoto -- os olhos do deus cintilaram -- Mas Hermes não tem uma carruagem maneira como a minha, certo?

–- Hã... certo.

Ele pigarreou.

–- Thalia Grace, filha do Grande e Imponente Zeus... Grande e Imponente? -- Apolo começou a rir. Um raio caiu em seu pé, fazendo ele pular em um pé só -- Ei! Cuidado com os Raios, Zeus. Você pode acertar alguem. Então Thalia, um passo à frente.

Thalia se juntou à mim.

–- Percy Jackson, filho do Sereia Poderosa... Digo, filho de Poseidon -- Acho que eu fui o único que escutou a parte do "Sereia Poderosa" -- Annabeth Chase, filha de Atena. Calypso, filha de Atlas.

Calypso se juntou a nós meio sem jeito.

–- E por último, não menos importante, Drew Tanaka, filha de Afrodite, primeira hospedeira de Gaia.

–- Drew Tanaka? -- todos repetimos em coro, ninguém nunca se quer havia escutado o sobrenome de Drew.

–- Convocação concluída -- Apolo enrolou o pergaminho e o fez desaparecer -- Zeus tambem quer recompensar os outros campistas que tambem lutaram bravamente. Logo depois do conselho, Hermes trará os presentes.

Todos gritaram de alegria e aprovação.

–- Se acomodem na carruagem -- Apolo encarou nós seis -- Quero os pézinhos nervosos fora do banco. Se eu ver uma manchinha no estofado, arranco os pés de vocês.

–- Sério? -- Drew perguntou, achando que Apolo estaria brincando.

–- Espero que esteja cuidando bem do meu filho Érick -- Apolo escorou o braço em Drew. Mudando totalmente de assunto.

Drew assentiu, sem jeito.

–- Sobre arrancar os pés de vocês, ainda está valendo. Agora vamos.

Nos acomodamos na carruagem. Apolo deu "partida" e levantamos voô. Passamos pela praia de Long Island. E logo sobrevoavamos o Central Park. Fiquei me perguntando o que os mortais viam. Talvez achassem que fossemos um avião reluzente, ou um passáro enorme. Eles poderiam ver tudo, menos a verdade.

Estavamos próximo à quinta avenida. Voamos tão alto que quando Thalia olhou para baixo acabou passando mal. Era estranho subir ao Olimpo sem ter que convercer o porteiro de que o 600º Andar existe. Apolo estacionou a carruagem em meio a sala de Tronos. Nenhum Deus pareceu ligar.

Sr. D passeava pela sala acompanhado por uma mulher alta e bonita, sua esposa Ariadne. Meu pai tambem estava lá. Ele discutia com Perséfone, como sempre.

Atena havia puxado Annabeth e Percy para o canto da sala. Ela colocou as duas mãos na cintura e começou a apontar o dedo para Percy. Com certeza o assunto não era bom.

Afrodite tentava arrumar Drew desesperadamente. E tentava entender o porquê dela estar sem maquiagem, com o cabelo bagunçado e com poeira verde de monstro na roupa.

Assim que chegamos, Zeus havia tirado Thalia de perto de mim. Ele e ela discutiam, mas o deus do céu não parava de me olhar torto.

E Calypso apenas observava os arranjos de flores da sala, e parecia maravilhada com isso.

Até que os deuses se sentaram em seus tronos. Nós, os semideuses ficamos um do lado do outro, esperando a nossa sentença.

–- Vamos chamá-los por ordem de acontecimentos -- disse Zeus.

–- Percy Jackson, meu filho. Aproxime-se -- anunciou Poseidon -- Objeto de barganha de Hera, você conheceu o acampamento Júpiter, trouxe glória à eles. Desceu à prisão junto à filha de Atena. Participou da batalha no acampamento e ajudou à destruir, digo, retardar o triunfo de Gaia. Estou orgulhoso de você.

Percy olhou para Annabeth e se sentou aos pés do Pai.

–- Annabeth Chase, minha filha. Recebeu a profecia e encontrou a Marca de Atena. Conseguiu manter a paz entre Gregos e Romanos. Parabéns minha filha -- Atena parecia orgulhosa.

Annabeth sorriu e se sentou aos pés da deusa.

–- Drew Tanaka, minha filha -- Afrodite estava radiante -- primeira hospedeira de Gaia. Você provou ser uma heroína, melhor que qualquer outro.

–- Afrodite, menos -- Zeus resmungou.

–- Alguem aqui discorda que minha filha é uma heroína? -- ninguem se pronunciou -- Foi o que eu pensei. Apesar de ser incomum minhas filhas lutar em guerras, você se saiu muito bem minha filha.

–- Pra uma filha de Afrodite -- Ares resmungou.

–- O que você disse, Ares?

–- Nada, estou apenas falando sozinho -- Ares respondeu.

–- Garanto que Drew é melhor que muito filho seu, Ares -- Afrodite rebateu.

–- O que você disse? -- Ares se iluminou de raiva.

–- Nada, estou apenas falando sozinha -- Afrodite respondeu. O que causou algumas risadas abafadas -- Estou orgulhosa de você minha querida.

Drew se sentou aos pés de Afrodite.

–- Nico Di Angelo, meu filho -- meu pai tinha uma expressão orgulhosa -- O grande escolhido, desceu à prisão sem o meu consentimento -- ele olhou feio para Perséfone. Com certeza já sabia que ela me ajudara nisso tudo -- Destruiu Aracne sozinho, tirou seus amigos da prisão. Lutou bravamente no acampamento e contra o espírito de Gaia. Há tempos atrás eu cheguei a desejar que Bianca tivesse sobrevivido no seu lugar. Eu estava errado. Estou orgulhoso de você garoto.

Resolvi continuar ao lado de Thalia. Eu estava sentindo uma coisa ruim, talvez um pressentimento de que eu iria sofrer uma grande perda... talvez...

"Talvez... você devesse sair daqui e levar a sua namorada" Perséfone falou em minha mente.

"Virou mania ficar falando comigo por telepatia?" resmunguei.

"Dessa vez é importante, Nico. Você e Thalia devem sair daqui. Antes que..."

–- Thalia Grace, minha filha -- a voz de Zeus ecoôu pela sala. Fazendo com que Perséfone não terminasse a frase em minha mente -- Você foi a peça chave para que essa profecia tivesse o ritmo certo. Eu não preciso dizer que estou orgulhoso, certo?

–- Acho que não -- Thalia respondeu.

–- Mas eu não entendo, afinal qual foi a minha decisão final? -- perguntei.

–- Sua persistência em relação à Thalia -- Atena completou -- Como Zeus disse, Thalia foi a peça chave nessa profecia. Foi apenas um objeto.

"Nico! Vai logo e leva a sua namorada. Eu enrolo eles. Pelos deuses garoto, vai logo!" Pérsefone falou novamente em minha mente. Ela parecia desesperada. Talvez minha madrasta não estivesse de brincadeira.

–- E é claro que fiz vista grossa em relação a toda essa profecia -- Ártemis se levantou e se aproximou um pouco de nós -- Todos nós sabemos que uma caçadora não pode sair da caçada viva, certo?

Zeus se levantou furioso, mas Ártemis remexeu a mão e o deus dos céus caiu em seu trono.

–- E não quero ninguem dando opiniões sobre meus assuntos -- Ártemis começou a encarar Thalia -- Vou direto ao ponto. Thalia você voltará para a caçada.

–- Não eu não vou! -- Thalia gritou e apertou ainda mais a minha mão.

–- Você acha mesmo que está apaixonada por ele? -- Ártemis sorriu -- Afrodite, diga à eles.

Todos começamos à encarar Afrodite.

–- Sabiamos que você seria essencial para a profecia. Então decidimos que eu a colocaria em transe.

–- Um transe, em que você acreditaria estar apaixonada pelo filho de Hades -- Ártemis fez cara de vitoriosa -- Então, um estalar de dedos de Afrodite e você volta para a caçada e nunca mais se lembrará desse aí.

–- Eu não admito...-- meu pai se levantou provavelmente para me defender. Mas Ártemis fez o mesmo que fez com Zeus e meu pai caiu em seu trono.

–- Eu tambem não admito interrupções -- Ártemis respondeu.

–- Eu tenho uma confissão -- Afrodite se levantou e todos a encaramos -- Quando entrei na mente de Thalia para coloca-la em transe. Eu descobri que a garota já estava apaixonada pelo Nico.

–- O que você disse? -- Ártemis esbravejou.

–- É isso mesmo que você ouviu, Ártemizinha. Você não pode elevar o tom de voz comigo, sou mais velha que você.

Ártemis pensou por um momento.

–- Bom, seja como for, Thalia você volta para a caçada hoje mesmo.

Thalia apertou minha mão ainda mais. E me olhou com desespero.

–- Não deixe ela me levar, Nico. Por favor -- ela sussurrou, apenas para que eu ouvisse.

Coloquei Thalia atrás de mim, para de algum jeito a proteger.

–- Você não vai tirar a Thalia de mim! -- gritei alto o bastante para que todos me olhassem.

–- És tão tolo a ponto de achar que pode bater de frente comigo? -- Ártemis gargalhou -- Não tem medo de morrer?

–- Sou filho de Hades, nunca teria medo da morte, muito menos medo de você! -- rebati.

–- Esse é o meu garoto! -- meu pai sorriu pra mim em afirmação.

Ártemis me examinou.

–- Quer Thalia? Então leve-a. Mas daqui ela não sai viva -- aquela deusa já estava me irritando. Mas ela estava certa. Thalia não sairia viva dali -- E então Nico Di Angelo, filho de Hades. Vai querer correr o risco de perder a suaquerida Thalia, ou vai deixá-la voltar para a caçada viva?

Eu estava em um impasse. Eu amava Thalia demais para vê-la morta. E ficar longe dela, seria o fim pra mim. Eu não tinha muito tempo para pensar.

Me virei pra Thalia.

Seus olhos elétricos estavam vermelhos. Vê-la chorar doía em mim, me matava aos poucos. Mas vê-la morta por minha causa seria pior. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

"Homem não chora" pensei

"Chora sim, meu querido". Perséfone falou em minha mente novamente.

"Porque toda vez que eu penso algo você me responde?" perguntei.

"Estamos ligados meu querido. Como uma mãe é ligado ao filho. Vai ficar tudo bem, eu prometo" ela respondeu.

"Dúvido muito disso" respondi.

Respirei fundo e dei um abraço longo e apertado em Thalia.

Enrolei uma mecha que sobrecaia em seu rosto, e tentei limpar as lágrimas que insistiam em cair de seus olhos elétricos.

–- Me promete uma coisa? -- perguntei tentando não chorar.

–- Não eu não prometo -- Thalia puxava a minha jaqueta.

–- Vamos lá Srtª Mandona, me prometa que vai se cuidar -- tentei me manter forte.

–- Nico... por favor, não -- ela soluçou e me abraçou forte.

–- Só me prometa -- dei um sorriso forçado para que ela melhorasse. Mas não adiantou.

–- Eu... eu vou tentar -- ela respondeu ainda soluçando.

Talvez tivesse outro jeito. Mas eu e Thalia não tinhamos toda a vida para pensar em uma solução que deveria ser posta naquele exato momento. Eu iria descobrir algo pior que a morte fisíca. Eu iria descobrir como era a morte aqui dentro. A morte que devasta qualquer coisa que demonstre alegria. Aquela morte que te destrói aos poucos, que suga cada pedaço de sentimento bom em você.