HOUSEKI
Petit Ange

Epílogo: Seu Paradeiro.

Chiisana hikari wa kitto kurayami no fukaku ni mitsukerareru kara
(Um pequeno raio de luz existe dentro da mais profunda das trevas)
Tooku houseki no nemuri wo sagashite
(Procurando por uma distante jóia adormecida)
Yoru wo koeru chikara wo shinjiteru
(Nós acreditamos no poder de superar a noite)

Axel convivia com a falta de sono decente desde a adolescência.

Muitas noites, por motivos diversos, passara sem dormir, às vezes, até dias seguidos.

Mas aquela era a primeira vez que sentia-se tão esmagado assim por menos de 24h sem um pingo de sono.

Tão logo terminara de arrumar aquela sala (que nem parecia a mesma! Ele mal acreditou que fora o responsável por aquela mudança brusca), Axel sequer deixou um bilhete. Esqueceu-se até mesmo do curry.

Tudo o que tinha em mente era o computador de sua casa. Precisava tirar uma dúvida realmente infeliz.

Ao chegar em sua residência, esqueceu-se de tudo.

Sentou-se em frente à tela e os dedos, frenéticos, digitaram. Todos os sites possíveis de busca indicavam apenas um caminho: aquele que ele temia.

O filho de Nama Hikari fora resgatado do mar. Com vida.

Roxas não era um polteirgheist. Não era um fantasma de alguém já morto.

E, então, o quadro da coleção Heartless não era o último objeto amaldiçoado. Por isso, Axel não morrera.

A compreensão fora-lhe tão certa e, ao mesmo tempo, tão arrebatadora que ele não conseguiu mais dormir.

...O último dos objetos amaldiçoados era o próprio corpo.

O corpo que fora ferido, maltratado e que quase morrera. O corpo do filho de Nama Hikari também queria vingança.

Naminé já havia falado aquilo. Que o “corpo” continuava vivo.

Mas ele esquecera completamente do fato. Ou melhor, ignorara-o. Sua dor da perda parecia uma prioridade bem mais importante.

Quando aquela ciência desabou sobre si, Axel quase achou que morreria por falta de ar. Por um momento, esteve estático, sem saber o que fazer.

E, então, passara o resto da noite pesquisando.

Para onde levaram o filho de Nama Hikari? Estaria sendo bem cuidado? Era longe de Tokyo?

Surpreendentemente, descobriu que o único sobrevivente da tragédia com o navio fora levado para o Hospital Geral.

...Atualmente, estava em coma.

Axel compreendeu, finalmente, o porquê de Roxas poder locomover-se de um lado para o outro.

Ele era a ‘projeção’ do herdeiro comatoso... Uma descoberta triste. Tão triste quanto incrível.

Mas Roxas existiu. Axel jamais deixaria de acreditar que, por mais que o filho de Nama Hikari fosse ele, Roxas também existiu um dia.

Também andou sobre a terra, mesmo que só o ruivo pudesse vê-lo.

...E imaginou.

Se o último objeto amaldiçoado não era nenhum da coleção Heartless e, sim, o próprio corpo do garoto, então... Se Axel morresse, o garoto sairia de seu coma...?

Foi pensando nisso que ele não esperou mais nenhum segundo. Tão logo a hora do almoço o obrigou a fechar a loja até a parte da tarde, o ruivo colocou seu casaco, aquele mesmo no qual sentiu o calor da mão de Roxas nos bolsos, e pegou o primeiro trem para o Hospital Geral.

Tinha todas as informações possíveis. E poderia simplesmente dizer que visitaria algum parente ou algo parecido.

Os planos foram todos feitos às pressas, porém impecáveis, na sua viagem. E quando pôs os pés lá dentro, já passava da uma e meia.

“E agora, por onde era mesmo...?”

Um rapaz alto e com um cabelo tão peculiar como o seu certamente atrairia a atenção das enfermeiras. Ele já previa isso.

Por isso, tomara as devidas precauções para evitar que chamasse mais atenção do que o necessário. Ao melhor estilo Zexion (se continuasse assim, um dia seria um gênio do mal tão brilhante quanto ele).

Quarto XIII. Ele sabia que o quarto era esse.

Depois de ter sido devidamente registrado como visita (e ele achou que ficaria bem mais nervoso mentindo sobre si mesmo), recebeu as instruções para chegar até lá.

A partir daí, a mente vagueou sozinha.

Roxas... O garoto loiro de olhos azuis que invadiu sua vida e virou-a de cabeça para baixo sem nenhum aviso. O pequeno que apenas queria suas memórias e sua paz de espírito de volta.

Axel nunca iria desistir. Mesmo que o pequeno não quisesse, ele estava ali para dar este merecido descanso ao seu corpo.

Se o filho de Nama Hikari acordasse de seu coma, então Roxas não precisaria mais sofrer. Iria dormir para sempre. E, muito provavelmente, o ruivo também...

Tivera a madrugada inteira para pensar se aquilo era mesmo o certo a se fazer.
Porque sabia que Roxas iria odiá-lo por estar se arriscando daquele jeito. Sabia e estava pronto para encarar sua raiva.

Mas não podia deixá-lo sozinho. Nunca. Jamais. Que Roxas o perdoasse, mas iria até o fim... Iria reencontrá-lo uma vez mais. Para o último adeus. E, desta vez, um decente.

Pensando em coisas assim foi que chegou, sem nem perceber quando, à frente da porta do quarto XIII. E engoliu em seco.

Não podia mais voltar atrás. E nem desejava fazê-lo.

- Eu disse que iríamos até o fim...

Abriu a porta e encontrou o que achou que veria: cortinas semitransparentes tremulando ao sabor da brisa da tarde, o sol azul... E o branco dos lençóis.

O bip do coração do filho de Nama Hikari indicava-o dormindo placidamente. E a respiração de Axel ficou presa na garganta.

...Ali estava seu começo. Seu fim.

Finalmente, Roxas estava ao alcance de seus dedos uma vez mais. Aquele sorriso tímido e aqueles olhos azuis. O ruivo não o deixaria escapar outra vez.

Talvez, um dia voltasse e pedisse desculpas à Zexion, Larxene e seus pais. Talvez.

Mas, naquele momento, ele desejou apenas rever o pequeno espírito que tanto lhe ensinou e tanto o fez sentir.

O espírito que estava ali dentro daquele garoto que sobreviveu ao mar.

Aquele garoto de cabelos castanhos e exóticos. O filho de Nama Hikari.

- ...Não é, Roxas?

E a mão do ruivo tocou, delicadamente, no ombro de Sora Hikari.

FIM?