Houseki escrita por Petit Ange


Capítulo 4
5: Seu Adeus / 6: Sua Solidão




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Capítulo 5: Seu Adeus.

Aganau kizu no fukasa ga kono omoi wo sasaeru you na ki ga shite
(Essas feridas abertas são a prova de meus sentimentos)
Ima wa yasashisa yori mo itasa de kooritsuita kimi no kokoro wo tokashitai
(Que desejam curar seu coração congelado com um pouco de gentileza)

No dia seguinte à tempestade, o sol voltara a brilhar como se jamais houvesse se ausentado. E, dias depois do ocorrido na casa de Zexion, estavam os dois almejando o término daquela busca.

O som de veículos longínquos ainda teimava em penetrar nos tímpanos de ambos, mesmo que estivessem afastados dos bairros agitados.

Por dentro do bolso do casaco negro, a mão pálida de Roxas apertou ainda mais a de Axel, subitamente temeroso.

- ...É esse o lugar?

O ruivo olhou outra vez para o bilhete rabiscado com uma caligrafia impecável, onde se lia exatamente as informações e coordenadas que especificamente apontavam para aquela casa, sem erro.

- É, sim. – mas ele também não parecia muito confiante.

A mansão era grande e suntuosa por fora. Ebúrnea, detalhada em tons discretos dourados e marrons e rodeada por jardins verdes e frondosos, como se fosse uma pintura do Éden. Axel imaginava como seria seu interior; e dava-se conta que nem conseguia ter uma imagem mental da beleza.

- Posso ver o papel outra vez? – perguntou o garoto, estendendo a mão.

- Toma. – Axel passou-lhe o mesmo.

Roxas observou-o. O nome da pessoa com quem deviam falar era “Naminé”. Pela pequena pesquisa que o rapaz dos olhos esmeraldinos como aquele jardim fez, ela era a filha única daquela família. E estava ‘cuidando’ da casa, temporariamente, enquanto durava uma certa viagem ao exterior dos pais.

- ...Parece que é aqui mesmo. – concluiu, ainda cauteloso depois da visão do poder material em questão.

- Então, vou ali falar com eles logo. – suspirou.

É claro que Roxas precisava agradecer imensamente ao tal Zexion, que fizera o favor de coletar a localização do outro objeto, tão logo percebeu que não ia além da mera admiração (provavelmente, ele notara isso logo depois da insistência de Axel em ver o vaso), já que essa podia ser simplesmente vista em fotos ou pela internet. Ele não fizera nenhuma pergunta ou suposição, só pedira para que o ruivo cuidasse onde estava se metendo, antes de lhe entregar em mãos o tal papel.

Foi tirado, porém, de seus pensamentos, quando viu o corpo do rapaz que o acompanhava oscilar depois de dois ou três passos.

- Tudo bem...?! – tentou segurá-lo, mas a diferença de altura e peso falaria mais alto, caso ele realmente caísse.

Axel passou a mão pelos cabelos, respirando fundo.

- Tudo ótimo...

O loiro meneou a cabeça, contendo a irritação. – Não me faça de bobo. Vamos voltar, você não está bem.

O outro deixou entrever um sorriso surpreso. – Nem vendo com meus próprios olhos consigo acreditar que aquele polteirgheist chato que só queria me arrastar para os perigos do mundo é esse mesmo que agora quer que eu descanse mais.

- Minha memória...

- ...Está bem aqui. Vamos logo.

Enquanto observava os passos levemente trôpegos, o loiro subitamente desviou o olhar, deixando a face adquirir aquela melancolia mórbida de quando se conheceram.

- ...Pode esperar, nesse caso. – completou, apenas para si.

Sem escolhas, o loiro seguiu-o, e ambos entraram.

Surpresos, perceberam-se atendidos com todo o esmero possível pelas empregadas (na verdade, apenas Axel o viu, já que Roxas não podia ser visto pelos outros). E, em questão de segundos, estavam subindo, dirigindo-se para a biblioteca, onde encontrariam a tal senhorita Naminé. Mesmo que já houvesse ligado previamente e marcado para aquele dia, o ruivo ainda surpreendia-se com a agilidade e com a facilidade com que tudo ocorrera. Quase como se ela já soubesse, antes mesmo dele ligar.

A empregada de voz delicada apresentou-os e fechou a porta atrás deles, deixando-os, enfim, sozinhos com a garota.

Para a surpresa (ou não) do ruivo, Naminé era uma criança. Talvez, devesse ter a mesma idade de Roxas. Era loira, com olhos azuis os quais apresentavam um leve toque lavanda, e uma pele tão branca quanto o vestido que usava. Tinha a aparência delicada e efêmera de uma boneca de porcelana; ele sentiu-se como se estivesse frente a uma criatura intocável.

- Boa... Boa tarde. – Axel hesitou apenas alguns instantes, aproximando-se da garota rapidamente assim que percebeu que era hora de ser polido e respeitável. – Desculpe interrompê-la desse jeito, mas...

- Por favor, não é incômodo algum. – ela meneou a cabeça. – Na verdade, eu já os esperava há tempos.

...Um momento, ela disse “os”, no plural?

Desviou os olhos esverdeados, procurando os de Roxas, que o encarou com a mesma incredulidade, quase como se estivessem se perguntando ao mesmo tempo se ouviram mesmo certo.

- Até mesmo antes de Zexion me ligar. – ela sorriu. – Oh, por favor, sentem-se.

Indicando-lhes duas cadeiras estofadas em um vermelho tinto, previamente preparadas (será que as empregadas não estranharam, vendo apenas um convidado e acomodações e comida para três?), a garota pousou as mãos delicadas no colo.

- ...Zexion ligou? – incrédulo, Axel não conteve a pergunta. Aliás, a surpresa aumentava ainda mais a ouvi-la falar assim, tão intimamente, dele.

- Sim. – assentiu a loira. – A família dele é uma parceira econômica da nossa. Conhecemo-nos desde que eu era uma criança. Então, quando ele ligou-me perguntando se eu ainda tinha o quadro da coleção, eu soube que você, enfim, havia encontrado... Roxas. É esse o nome, não é?

Pouco acostumado com alguém se dirigindo diretamente a ele desde Axel, o loiro foi pego de surpresa pelas palavras de Naminé.

Engoliu em seco, sentindo um misto de surpresa e medo por aquilo.

- Sim. Sou Roxas. – respondeu, com um mau-humor brotando de si. Odiava sentir-se confuso; automaticamente, perdia a paciência.

- Não creio. Você consegue ver o Roxas...? – tão surpreso quanto estava, o ruivo sequer se lembrou de ser polido com a menina.

- Consigo ver qualquer espírito. – ela sorriu, erguendo o bule. – ...Desejam chá?

Talvez, precisasse embebedar-se de muitas ervas estranhas, até conseguir entender o que estava acontecendo.

Até algum tempo, Axel tinha uma autoconfiança invejável. Era entrar, resolver o problema e sair. E ignorar os protestos sem-sentido de Roxas neste meio tempo. Agora, tudo virara de cabeça para baixo.

Naminé encheu as duas xícaras com o chá levemente dourado. O ruivo foi o primeiro a pegar e praticamente virar o conteúdo.

- Sinto muitíssimo. – ela sussurrou. – Eu os assustei...?

- Na verdade... Sim. – Axel confessou.

- Foi mesmo muito surpreendente. – o loiro concordou. – Eu estou tão acostumado a não ser notado que...

Ela sorriu.

- Minha família comprou o quadro da coleção Heartless porque eu pedi. – Naminé falou, assim que bebericou mais de sua xícara. – Assim que o vi sendo leiloado, percebi uma intensa energia vinda dele. Como alguém que consegue comunicar-se com os mortos, notei de imediato que era uma energia ligada a alguém. Uma vingança. Uma alma estava presa àquele objeto. Por isso, comprei-o, na esperança de que esta alma viesse até mim um dia e eu pudesse ajudá-la...
Fazia sentido, se visto de certo ângulo, pensava Axel. Mas, ainda sim, era estranho demais ser tudo assim, tão fácil!

- Mas... Não é assustador? Não faz sentido você ter pego um quadro apenas esperando encontrar o morto que estava ligado à ele. – o rapaz replicou.

Naminé suspirou.

- Eu já tive muito medo do que via. Desde pequena, torturada pela visão de todo o tipo de espírito. Dos pacíficos aos atormentados... Mas, hoje em dia, aprendi que ajudá-los é o melhor jeito de acalmá-los. E, se eles se acalmarem, podem ir para um lugar melhor. – sorriu de leve, deixando-a ainda mais frágil com aquele gesto. – Esperava que você também encontrasse seu lugar, Roxas... Aquele que você já deve imaginar.

O mesmo baixou os ombros, como se um mundo inteiro estivesse caindo sobre suas costas naquele instante.

- Espere um momento! – Axel bradou, repentinamente. – Como assim “já deve imaginar”? Está escondendo algo de mim, Roxas?!

- Eu...

Em nenhum momento, o loiro tocou em seu chá. Mas, naquele momento, ele até mesmo arriscou um gole, que desceu como se fossem pedras em sua garganta, e evitou ao máximo encarar os orbes esmeraldinos.

- Eu tive algumas visões... Quando recuperamos o vaso. – e engoliu em seco, repentinamente. – Percebi que...

- Que você não é uma espécie comum de espírito?

Ambos encararam Naminé, que mantinha um olhar preocupante. E quando Roxas assentiu diante da pergunta, tudo apenas piorou.

- O que quer dizer com isso...? – o ruivo questionou.

- Roxas é, senhor Axel... Como vou explicar-lhe...

- Um “impostor”.

O próprio menino dos olhos azuis é que respondeu. Tinha a voz e a aura afiadas amargas, afiadas como uma espada aguda.

Há quanto tempo ele estava remoendo, sozinho, aquele fato...?

- Seu nome, sua aparência... Nada disso condiz com o seu “eu” de fato. – Naminé explicou, vendo a confusão indizível do outro. – Roxas é como uma “projeção”.

- Eu existo e não existo ao mesmo tempo.

Sorriu, amargamente, e emendou. – E, ainda sim, continuo acreditando que... Eu tenho, de fato, uma vida.

- Isso quer dizer que... – Axel engoliu em seco. – O “corpo” ainda está vivo?

Seria abusar demais pedir um pouco de tempo para poder entender aquilo direito? Axel ponderou se devia mesmo pedi-lo.

Até então, tratara Roxas como um verdadeiro fantasma. E o próprio loiro deixava aquilo bastante claro: era um fantasma movido a vingança, invisível aos olhos dos que não possuíam em si a alma do seu assassino, um homem chamado Lea.

- Algo assim. – suspirou.

Mas, o último objeto, como num game, também revelou-se ser o objeto que mais lhe traria indagações ou respostas.

O “corpo” de Roxas ainda estava vivo?...

Então, isso faria dele, de fato, um fantasma? Ou apenas uma espécie de ‘alma’ em uma experiência extra-corpórea?

Um “impostor”, como o próprio disse.

Ele não era assim, de fato. Aquela era, provavelmente, apenas uma forma assumida por sua consciência para transitar livremente fora do corpo adormecido. Era a explicação mais lógica do fenômeno.

E, também, de alguma maneira, a mais triste.

- O senhor já sabia disso, não é, Roxas? – Naminé falava-lhe, mas Axel parecia indiferente àquela conversa.

- Já. – assentiu. – Mas não sabia como agir...

- Então, já deve saber que você está sendo “convocado”, não?

- Já. – assentiu de novo.

A loira pousou as mãos sobre o colo, num gesto delicadamente lento.

- O quadro está depois daquela porta. Se o senhor quiser...

Roxas desviou o olhar para a outra porta da biblioteca, quase que escondida por duas estantes repletas de livros.

Sua maior vontade era apenas terminar logo aquilo. Quanto mais cedo, menos dor.

Apesar de achar que, de alguma forma, já era tarde demais...

A ligação já não podia mais ser desfeita.

A dor que viria seria inevitável. Tanto para ele quanto para o ruivo. Por isso, ele só quis cortá-la o quanto antes. Seria melhor para ambos.

Encarou, então, o rapaz dos olhos verdes, que parecia absorto em seus próprios pensamentos, talvez tão dolorosos quanto os do pequeno espírito.

Encarou-o longamente, querendo dizer tantas coisas, tantos porquês, mas todas as palavras simplesmente colavam-se à sua garganta, como náufragos agarrando-se a qualquer coisa que lhes provessem a salvação. Lá ficaram entaladas, firmemente agarradas.

Roxas virou-se de novo para Naminé, suspirando:

- ...Será que eu e o Axel podemos conversar antes?

A loira assentiu, compreendendo quão profunda era a dor daquele menino.

Num gesto mais maternal do que qualquer outra coisa, tocou-lhe o rosto. A pele de um espírito era igual à de um humano de carne e osso; tão quente e pulsante quanto.

Ela demorara anos até ter a coragem de tocar em alguma alma. Mas, atualmente, sentia que sua felicidade não seria a mesma se não tivesse aquele dom.

- A sacada é logo ali. Se precisarem de alguma coisa...

Roxas assentiu uma vez mais. – Estaremos bem. Muito obrigado.

~*~*~

O vento era leve e fazia as roupas tremeluzirem como a luz das velas. Roxas virou-se, vendo que Naminé, delicada como uma pintura grega, continuava sentada onde estava, bebendo seu chá, sem sequer lhes dirigir o olhar. Como ela prometera, aquela seria uma conversa apenas deles; ninguém mais poderia intrometer-se.

Ao mesmo tempo em que aquilo era reconfortante, também era assustador. Porque ele sabia que, cedo ou tarde, teria de contar para Axel.

Teria de compartilhar com ele aquele seu segredo que preferia manter guardado.
Suspirou pesadamente, voltando a encarar o gramado que se estendia pelos imensos jardins da mansão. Verdejantes pedaços de sonho, salpicados do branco de lírios ou do vermelho de rosas aqui e ali. Os pais da garota sabiam mesmo ter estilo, pensou (na verdade, até já aceitara o fato de que dois adultos deixam sua pequena filha, herdeira ainda ‘ignorante’, cuidando de uma casa tão estonteante).

- Eu não sabia como começar. – Roxas sussurrou.

Axel assentiu-lhe. Mas permaneceu em silêncio. Haviam coisas demais para serem processadas antes que ele pudesse falar.

- Mas, na verdade... Acho que eu estava me iludindo. – explicou. – Acho que, na verdade, eu não queria que você soubesse.

Sem pensar, Roxas procurou a mão de Axel mais uma vez.

Do mesmo jeito que segurava-a dentro do bolso de seu casaco, naqueles momentos únicos, antes de entrarem na mansão.

Ele procurou a mão do ruivo, mas ela não estava mais ali dentro.

- ...Tive medo do que você ia achar.

Silenciosamente, o espectro começou a baixar sua mão outra vez, vencido pela falta de tato que ele sabia ser permanente a partir de então.

Mas, antes que o braço voltasse a juntar-se ao corpo, Axel segurou sua mão.

Surpreso, Roxas percebeu que ele não o encarava. Também parecia extrair do verde do jardim aquela coragem de conversar com ele.

O loiro apertou sua mão. E desejou ficar ali até o último momento.

- Estamos nessa juntos, não estamos? – perguntou.

Roxas fez que sim.

- Então por que não me contou?

- Como eu disse...

- ...Por que teve medo? – interrompeu-o. – Acaso perdeu o juízo, moleque irritante? Você me incomodou desde o primeiro minuto. Me arrastou aqui e ali procurando essas relíquias e me fazendo sofrer por elas. E, agora, de repente, pára de me contar as coisas, como se estivesse disposto a deixar ser em vão todo o sacrifício feito até aqui. Como se eu fosse um incômodo, não uma parte do plano.

O garoto de olhos azuis calou-se. Engoliu em seco, procurando as palavras certas. Mas elas não apareciam.

Ele sequer sabia o que dizer, de fato.

Porque Axel tinha razão. Roxas o estava tratando como um incômodo.

No começo, ele pouco se importava com sua integridade física, com seus pensamentos ou com o quê ele faria para chegarem até os objetos amaldiçoados.

Tudo no que Roxas pensava era no quão longe e, ao mesmo tempo, tão perto estava seu descanso. Tudo o que queria era dedicar toda sua consciência a poder, enfim, fechar os olhos e ir para um lugar melhor, longe do frio do fundo do mar.

A dor de um espírito que vaga pela terra dos vivos pode ser comparada à dor que Axel teve de enfrentar, entre a vida e a morte, nos pesadelos amaldiçoados.

Roxas queria apenas que aquela dor fosse embora.

E, neste meio tempo, esqueceu-se de tudo que não fosse sua própria vontade. Talvez, até mesmo do rosto de Lea.

Ele achou que Axel fosse o próprio Lea. Era seu novo corpo...

Mas viu que estava errado.

Axel e Lea eram pessoas totalmente diferentes.

E justamente por serem diferentes ele não podia mais sacrificá-lo por um pecado que não lhe pertencia de fato. Aquela alma, por mais que bradassem o contrário, não merecia seu ódio.

- ...Gosto de você demais para matá-lo. Não me peça para fazer isso, Axel.

O ruivo apertou ainda mais a mão do pequeno ao ouvir aquilo.

Sua vontade foi de baixar-se e sacudi-lo até que ele voltasse a si. Eles chegaram até ali; não podiam mais voltar atrás.

Tudo o que lhes esperava à frente era a dor. Axel sentia isso.

Mas, se a recompensa fosse o sorriso de Roxas, a possibilidade dele, enfim, poder ter seu descanso eterno, aquele pelo qual veio até “Lea”, o ruivo aceitaria tudo isso.

Toda a dor, a agonia e a tristeza que viriam.

Demorara até finalmente compreender que ele já não podia mais ir contra aquele desejo. Nem contra aquilo que nascera aos poucos.

- Não vou suportar ser o responsável por sua morte. – Roxas confessou-lhe.

O ruivo concordou. – E eu gosto demais de você para deixá-lo se preocupar comigo e não conseguir aquilo que passou tanto tempo procurando.

Roxas baixou os olhos.

- Se nós acabarmos isto, eu nunca mais poderei voltar. Irei para outro lugar.
Para um lugar muito longe do mundo dos vivos. Um lugar onde só a morte pode existir, nada além dela.

E Axel nunca mais o veria. Por mais que quisesse.

- E eu quero que você vá para lá. – o ruivo falou-lhe. – É para onde você deve ir. Por mais que nos toquemos, só há dor nesse toque... Se você for para lá, Roxas, ficará em paz, finalmente. Como sempre quis.

Há sentido em dizer que ele havia se apaixonado por algo que o trazia dor?...
Não era para ter acontecido. Mas aconteceu.

Um mero fantasma caindo de amores pelo corpo que abrigava a alma daquele que, um dia, o tirou a “vida”.

Quão irônico aquilo era? Quão triste?

...Porque aqueles dias do fundo do mar nunca mais iriam voltar.

- Eu não quero machucar você, Axel. – confessou, quase num sussurro.

Axel meneou a cabeça. Não era nada disso.

Aquele era o último dos objetos. Guardados por uma menina que sabia que aquilo iria acontecer, visado por um fantasma que ganhou a memória daquela ciência.

Só lhe restava aceitar. Era a regra.

Então, ao menos, ele queria poder fazer uma última coisa por ele.

- Só mais desta vez. Deixe-me fazer isso por você, Roxas.

Ele calou-se. Permaneceu assim, silencioso, por um bom tempo, até novamente ter coragem de perguntar: – ...Amigos vão assim tão longe uns pelos outros?

E Axel riu.

- Pode parecer piegas e idiota, mas... – suspirou, passando a mão livre pelos cabelos revoltosos. – “Por você, faço isso mil vezes”.

Naquele instante, os olhos azuis e os verdes encontraram-se, silenciosos, enquanto os raios de sol iluminavam o gramado.

Congelado para sempre em memórias incertas, ficou tudo o que devia ter sido dito. E tudo o que jamais seria revelado. Tudo que pôde ter sido passado pelo toque infame de suas mãos. E era só.

Roxas soube que o momento havia acabado. Aquele era o fim.

“Sim”, sussurrou-lhe mentalmente, para que só sua consciência ouvisse-o. “Por você, Axel, eu também faço isso mil vezes.”

E, ainda de mãos dadas, o ruivo abriu a porta envidraçada da sacada.

- Naminé? – chamou-a.

A loira, distraída no gosto de ervas do chá de cor levemente dourada, surpreendeu-se com a presença dos dois outra vez.

E, muito mais do que isso, com aquela aura de tristeza melancólica.

- ...Sim? – mesmo assim, sorriu.

Talvez, mesmo um sorriso quebradiço, o menor dos risos, fosse o suficiente para alegrar apenas um pouco um coração encharcado de dor. Entre tantas outras coisas, fora isso que aprendeu com os espíritos.

- Pode nos mostrar o quadro da coleção Heartless?

Aquele era o fim.

Naminé ergueu-se da cadeira, eventualmente desamassando o vestido branco.

- Por favor, sigam-me os dois.

~*~*~

Muito tempo depois, Roxas via-se dentro de um mar azul-índigo, salpicado de pontos brancos de estrelas longínquas, que não mais roubava sua respiração.

- No começo, ele era apenas uma ferramenta...

Aquelas amarras tingidas de profundo vermelho já não prendiam absolutamente nada. Pendiam no ar, no infinito. As mesmas amarras que, no quadro, eram o que “selavam” o símbolo Heartless da coleção de sua falecida mãe.

- Mas, agora é diferente...

O silêncio era tão estranho. Tão igual àquele silêncio preenchido de estrelas refletidas nas ondulações do mar escuro. Era um silêncio de morte.

O único porém era que, agora, o mar já não podia mais matá-lo. Ele já o fez.

- Para mim, Axel é...

Ao sussurrar-lhe o nome, instintivamente os olhos azuis baixaram para o corpo que tinha a cabeça adormecida em seu colo.

Os olhos esmeraldinos estavam fechados num sono reparador, na exaustão de quem sofreu uma dor incomensurável momentos atrás. O corpo não iria exibir nenhum sinal daqueles ferimentos, mas doeria como se houvesse recebido todos. Sim. Roxas sabia de todos os sintomas; acompanhara a todos, sofregamente.

- Eu devia ter feito isso antes...

Sua mão acariciou-lhe os fios revoltosos e escarlates. E imaginou se Axel podia respirar ali embaixo também, no mesmo mar que, um dia, tirou-lhe a vida.

- Pensei que você tinha herdado a alma de Lea, mas você não é ele...

Lentamente. Muito lentamente. Como se estivesse lidando com a mais delicada das porcelanas.

- Por isso, você sofreu durante esse tempo...

Roxas fechou os olhos. E projetando-se em suas pálpebras, as imagens daquela tortura precipitaram-se, uma a uma. Ele já sabia que diria aquilo muito antes de pensar nas palavras, de fato.

- Eu não quero matar você.

Era a verdade. A mais absoluta de todas.

A vingança dos objetos pouco lhe importava agora. Ironicamente, aqueles que mais queriam lhe ajudar eram, agora, aqueles que mais lhe traziam raiva.

- Não quero tirar o futuro de você.

E foi pensando nisso que os lábios, lentamente, encostaram na testa de Axel.

Mais uma vez, como se estivesse acariciando o mais delicado dos vidros. Um beijo de despedida, de dor e de lamentos velados.

- ...Adeus, Axel. Apenas me esqueça agora.

 

Capítulo 6: Sua Solidão.

Nogareru koto no dekinai kage no you ni itsumo chikaku ni iru kara
(Como se fosse sua sombra, você já não pode mais fugir disso)
Kimi no otoshita namida no tsubu ga yubi wo kazaru houseki kirakira to
(E a lágrima que você derramou é uma jóia brilhante em meu dedo)

Aquela dor já era sua conhecida de longa data, ultimamente. E Axel até mesmo sabia que ela só iria piorar a medida que a “missão” de ambos avançasse. Mas não achou que chegaria àquele ponto. Ele quase teve a impressão de que ia morrer.

Mesmo os olhos queriam apenas manter-se fechados diante daquela dor, ignorando todo o cenário ao seu redor.

Porém, lentamente, como se fossem as próprias mãos do sono, as palavras de Roxas precipitavam-se, uma, duas, três, em sua consciência, mordiscando-a.

“Eu não quero machucar você, Axel.”

Por que aquelas palavras, ao invés de deixá-lo plenamente feliz, mais pareceram alertá-lo sobre alguma coisa inclassificável? A felicidade fora tão temporária quanto o alívio. Em seguida, veio o medo. A angústia. A sensação de que algo muito maior fora arquitetado sem seu conhecimento.

“...Gosto de você demais para matá-lo. Não me peça para fazer isso, Axel.”

Talvez, fosse essa mesma sensação que estivesse sentindo naquele momento. A de que algo esteve muito errado enquanto dormira.

...Quanto tempo estivera desacordado? Onde estava? Quem estava ao seu lado?
Roxas, ou...

Roxas...

Tão logo a imagem do rapazinho de cabelos loiros passou-lhe pela mente, a primeira atitude de Axel foi erguer-se imediatamente de onde estava deitado. Uma superfície macia que nada lembrava sua cama.

Num misto de confusão e surpresa, a sua primeira visão foi a da lua cheia. Ela brilhava majestosamente no céu, com as poucas estrelas que podiam ser vistos no céu da capital. A porta envidraçada de uma sacada ricamente decorada veio-lhe em seguida e, como quem leva um soco, ele percebeu.

- Acordou?...

Naminé. Era sua voz.

Axel ainda não saíra da mansão da garota.

Por que não estava ouvindo a voz de Roxas em meio ao tilintar de xícaras?...

Passando a mão pelos cabelos, e temendo ter a resposta para aquela pergunta no instante em que se virasse, Axel saboreou cada segundo antes de fazê-lo.

Viu cada pedaço da biblioteca, mergulhada no caos das luzes artificiais. À noite, ela se tornava mais mórbida do que incrível, ao contrário do que era pela manhã. Como se fosse, ali, sua verdadeira forma.

Diante de si, viu o que não queria ter visto.

Afinal, ele estava certo...

Naminé, a herdeira loira e delicada, estava sozinha. Sentada na mesma cadeira na qual ficou até onde ele lembrava, bebericava mais algum outro chá.

Ela lhe encarava com um olhar que beirava a compreensão maternal.

- Eu dormi...? – por mais que fosse o óbvio, a cabeça e o corpo doíam demais para pensar em outra coisa.

- Até agora. – ela assentiu. – Mas eu achei que o senhor ficaria desacordado mais tempo, senhor Axel. Até havia providenciado um quarto de hóspedes.

...De fato, se não fosse por Roxas, teria dormido até a manhã seguinte, talvez.

- O Roxas...

Neste momento, Naminé apenas meneou a cabeça, lentamente.

- Ele deixou um recado para o senhor.

Roxas realmente...

- “Eu fui feliz. Mas, se eu realmente desejo a sua felicidade, eu devo partir... Porque não há nenhum amanhã para nós”, foi o que ele disse.

Axel trincou os dentes, numa fúria contida com muito esforço.

Ele estava disposto a ficar o quanto pudesse com aquele fantasma teimoso. Estava disposto a ficar onde quer que fosse.

Então, por que, de repente, Roxas simplesmente...?

- Foi uma despedida? – mais uma vez, o óbvio. Mas ele precisava ouvir de alguém mais o que tinha medo de admitir para si próprio.

Naminé soube que estava sendo o carrasco de uma esperança ali mesmo.

- ...Infelizmente, sim. – e aquilo atingiu-lhe muito mais do que a dor de um espírito.

Mas jamais poderia comparar sua dor à de Axel.

E isso ela soube no momento em que viu o pouco brilho sumir de seus olhos como o rastro de uma estrela cadente no céu.

~*~*~

Dias e semanas passavam indistintamente, como se ele houvesse voltado de verdade àquela sua antiga vida...

O ruivo já não fazia mais questão. Era como se houvesse embarcado sem nem perceber em qualquer veículo que o fazia ver o mundo ao seu redor como um borrão tão indistinto quanto sua percepção.

Aos poucos, a dor foi sumindo do corpo. Às vezes, ela ainda estava lá, latejando, incomodando. Mas as lembranças de Roxas, tal qual o próprio, iam sumindo.

Invariavelmente, o destino dele era ser esquecido.

Apenas uma lembrança de um tempo fantástico demais para ser real.

O próprio Axel perguntava-se, às vezes, se não fora apenas um sonho realista demais. E afastava a idéia no segundo após.

Roxas existiu.

Em algum lugar, seu espírito atormentado correu por todos os lugares buscando o descanso que finalmente obteve.

E o ruivo não pôde se despedir.

Não pôde olhar seu último sorriso, sussurrar o último adeus.

Restou apenas a lembrança efêmera de suas mãos unidas dentro do bolso do casaco que usava na ocasião.

A lembrança dos olhos azuis e da falta de humor.

E nada mais do que isso...

~*~*~

A voz de Zexion passou-lhe pelos ouvidos como quem ouve um avião no céu; um som que tem seu começo, seu ponto máximo e decresce a partir de então.

- E então, o que acha de irmos até lá?

- Hum? O que você disse, Zex?... – distraído, Axel deixou de lado a árdua tarefa de tirar o pó de uma quebradiça coleção de porcelanas venezianas.

O rapaz dos cabelos azuis passou a mão pelos mesmos.

- Não ouviu nada do que eu disse, não é?

O ruivo suspirou. – Tá bom, admito: não ouvi mesmo.

Zexion pensou em suspirar (e até lembrou-se, de repente, de que fora chamado pelo infame apelido “Zex” outra vez), mas diante daquela apatia envolta em uma tentativa patética de retomar as rédeas imaginárias de sua vida, ele sentiu-se até desprovido de toda a vontade de argumentar.

- Não faço idéia do que tenha-o levado a ficar assim, Axel, mas está começando a se tornar... Desculpe-me, irritante.

O mesmo revirou os olhos diante daquilo:

- Desculpe, Zex.

- ...É só isso? “Desculpe”?

- Bem, se você quiser que eu me ajoelhe e beije seus pés, vai ter que esperar eu terminar de tirar o pó daqui antes. – Axel riu.

Os olhos azuis fecharam-se, num misto de pesar e cansaço. Há algumas semanas o amigo de infância já vinha exibindo estes sintomas: apatia, desinteresse e uma estranha melancolia. Como se algo houvesse sido arrancado abruptamente dele, antes que pudesse aproveitá-la como desejava, como realmente merecia.

Talvez, devesse compará-lo a uma criança que toma um sorvete maravilhoso pela primeira vez, mas na metade do mesmo é obrigada a dá-lo para uma mãe preocupada com a ameaça de resfriados.

(Ou qualquer outra comparação que parecesse mais lógica para a ocasião).

- Então, ao invés de beijar meus pés, responda-me...

- ...Ai, ai, lá vem. – suspirou.

Ignorando-o, Zexion continuou:

- ...Como ficou sua história com a coleção Heartless?

Ele já sabia o que viria. Queria apenas testar. Na verdade, Zexion já fizera essa pergunta antes (de acordo com as atualizações diárias de seu Lexicon), e recebera exatamente a mesma reação.

Silêncio puro e simples. Nada mais do que a hesitação e a raiva passiva.

Não sabia o que levara Axel a pesquisar sobre Nama Hikari e aquela coleção, ou quem, mas a verdade é que alguma coisa neste meio-tempo o destroçara.

- Percebi que eu tinha mais o que fazer, né. – ele respondia, quando não podia ficar para sempre calado.

- Entendo... – respondia-lhe.

Mas a verdade é que não entendia nada. Fazia um esforço para, mas não entendia.

Só sabia que devia, ao menos, cumprir seu papel por ali: apoiar sem perguntar.
(Além disso, Zexion sentia que sempre era bem mais bem-sucedido no campo das hipóteses, antes de realmente confirmá-las).

- Então, vamos sair.

Axel não resistiu ao ouvi-lo dizer aquilo. Teve de virar-se, pausar sua tarefa delicada e encará-lo, não necessariamente naquela ordem.

- Zex, cê tá bem? – ergueu a sobrancelha, jocoso. – Ultimamente, você anda me convidando toda hora pra sair!

- Escute, fui muito compreensivo com você, Axel, mas não abuse. – resmungou. – Assine seu testamento antes de me chamar de “Zex” outra vez.

Naqueles pequenos momentos, o ruivo sentia que, de alguma forma, estava voltando lentamente à sua antiga vida.

E não saberia dizer se gostava ou desgostava daquilo.

- Ceeerto, vou fechar a loja e vamos sair! – ele riu.

- Ao Savage Nymph. – e o risinho sádico irritante de Zexion brotou ali mesmo, num espetáculo nada apreciável.

- ... – e Axel engoliu em seco.

~*~*~

Lentamente, o tempo foi passando. Muito lentamente, tortuoso.

Quando deitava-se em sua cama, Axel não podia evitar de pensar naqueles dias em que, num susto, acordava-se com um espírito que parecia nunca dormir ao seu lado, simplesmente do nada.

Ao menos, agora, ele podia dormir e acordar em paz, sem se preocupar com situações do tipo. Mas a verdade é que sentia falta delas.

Bem lá no fundo, ainda sentia falta daqueles dias de sonho.

E, quando pensava neles, automaticamente fazia-se perguntas que, talvez, jamais pudessem ser respondidas.

“Será que ele está bem, lá onde é seu lugar?”

“Será que encontrou sua família?”

E, principalmente:

“...É verdade, Roxas, que tudo acabou mesmo?”

Muito raramente, quando a mente ainda agüentava desperta depois de todas as possíveis respostas (e ilusões) sobre a questão, vinham-lhe outras perguntas.

Uma enxurrada delas. Porque, afinal, para Axel, restou apenas questionar.

Roxas já não estava mais ali. E nunca mais estaria.

“Por que será que eu estou vivo?”, perguntava-se, às vezes. “Roxas sempre dizia que, ao último objeto amaldiçoado, eu teria de dar minha vida. Mas aqui estou eu, vivo. Por que não morri?...”

Roxas evitou que ele morresse? O objeto não pôde matá-lo?

O ruivo, então, meneava a cabeça, com um sorriso de quem já desistiu, de fato, há muito tempo de procurar alguma resposta satisfatória.

Virava-se e, assim, dormia.

Ultimamente, suas noites não mais tiveram nenhum sonho.

~*~*~

Savage Nymph. O maid café mais conceituado das redondezas. Um local com clientes respeitadores, que ajudavam a manter os possíveis assédios em baixas.

Conta-se a história que, no começo, Savage Nymph era um maid café de “tsunderes”, ou seja, meninas que tratavam mal o cliente e, depois, eram doces com eles, como as jovenzinhas que atraíam tanta simpatia em animes. Até mesmo por causa disso é que escolheram este nome para o café.

Porém, com o tempo, a tradição perdeu-se em algum lugar, e as funcionárias tiveram de acostumarem-se com o modelo tradicional do estabelecimento: uma decoração britânica que lembrava os séculos 17 e 18, uma das épocas de ouro da aristocracia, e a servidão delicada das maids que povoam o imaginário fetichista masculino.

Larxene estava trabalhando ali desde os áureos tempos do “tsundere” café. E, talvez, a personalidade dela combinasse mais com o antigo lugar. Não que ela não pudesse ser delicada, mas a verdade é que, quando saía (muito de vez em quando) fora do horário de trabalho com Axel e Zexion, ela mostrava-se uma pessoa totalmente diferente daquela que servia-os com um sorriso doce.

(Talvez, a única coisa que fosse mesmo igual à sua “eu” de funcionária do Savage Nymph fosse aquela sua mania irritante de dar em cima de Axel – isso, é claro, de acordo com a visão dele).

Após servir o café puro para Zexion e um omelete (com as mesmas decorações fofas) para Axel, a loira sentou-se do lado do segundo.

- E então? – sorriu. – Fazia tempo que os amos não apareciam!

- Digamos que tivemos alguns problemas... – o rapaz dos cabelos azuis bebericou o café tão logo terminou a frase.

- Eu que o diga!... – suspirou o ruivo.

- Ah, coitadinho! – tateando até as costas largas de Axel, Larxene piscou. – E é algo que essa maid possa ajudar? ♥

- Argh! Se fizer isso de novo... Eu vou gritar por socorro!

A loira riu. – Adoro homens que gritam por socorro!

Encarando tudo como quem assiste um show de humor muito interessante e promissor, Zexion forçou-se a pigarrear.

- Larxene, lembre-se que está em horário de serviço. – apaziguou. – Se seu chefe a ver fazendo isso, vai nos expulsar do convívio do Savage Nymph e você vai, provavelmente, ser despedida.

Beicinho. – Droga, é mesmo...

- ...Mas fora do horário de trabalho, tudo bem. – completou Zexion, com o sorriso cretino de quem já sabia o que dizer.

- Zex, seu cretino! É pra ajudar! – Axel rosnou.

- Eu ouvi “Zex”...? – ao que parecia, a veia sádica do rapaz estava a todo vapor naquela noite. – Ah, Larxene, gostaria de saber onde o Axel mora? Você pode invadir a casa dele facilmente.

A loira abriu um sorriso ainda maior.

- Devo minha vida à você se fizer isso, Zex...Ion!

Ele assentiu, satisfeito. – Muito bem. Alguém, finalmente, sensato por aqui.

Os olhos esmeraldinos de Axel cravaram-se odiosamente no amigo, como quem fixa-se em um alvo que sabe que, em segundos, vai destruir. Entreabriu os lábios para destilar seu veneno (talvez, não tão potente quanto o veneno cínico de Zexion), mas sentiu, antes de poder reagir, uma tontura.

Nostalgicamente, lembrou-se que aquelas tonturas eram freqüentes quando um espírito de olhos azuis arrastava-o para todos os cantos, querendo saber sobre o mundo e querendo o descanso que só seria obtido depois de “exorcizar” um bando de objetos da falecida mãe, e que tinham um ressentimento imenso, a ponto de desejarem uma vingança ainda mais cruel, talvez, daquele que o transformou em um espírito.

Passou a mão pelos cabelos revoltos, suspirando pesadamente. Ao fechar os olhos, Axel desejou que, quando os abrisse, pudesse enxergar outra vez, e não apenas um amontoado de borrões disformes.

- A... Axel, tudo bem? – Larxene foi a primeira a lhe falar.

- Sim. Eu só... Acho que fiquei tonto de repente. Mas passou. – sacudiu a cabeça de leve, negando qualquer mal-estar que pudessem-lhe atribuir.

Forçando-se a abrir os olhos, ele viu, assim como a loira, o olhar discreto, porém preocupado de Zexion. Talvez, até mais que a outra.

- Tem certeza? Acho melhor você ir para casa, Axel. – ele sugeriu.

- Mas eu nem terminei de jantar!... – resmungou.

- Ora, por favor, o jantar é o de menos! – o outro revirou os olhos.

- Ele está certo, Axel... – Larxene assentiu. – Você deve cuidar de seu corpo. Como dizem por aí, ele é o seu melhor amigo.

O ruivo jamais soube dizer o que lhe incomodou naquela frase.

Mas, tão logo a ouviu, forçou-se a se levantar, olhando para o omelete no qual mal havia tocado.

- ...Vamos pagar a conta. – suspirou.

- Vou trazer. Um momento. – Larxene correu para pegá-la.

Zexion evitou de tocar no ombro dele. – Quer ajuda para ir para casa?

- Não, Zex. Acho que não vou desmaiar no caminho... É só cansaço. Ultimamente, ando dormindo muito tarde. – forçou um sorrisinho. – Preciso só dormir.

- Então, durma. Não pense em nada até amanhã, me ouviu? – encarou-o, sério.
Axel sabia que Zexion tinha noção que algo estava-o perturbando há mais de um mês. Só não sabia o que era.

E, talvez, jamais saberia.

- Sim, senhor! – e, se seu estado atual tivesse permitido, ele teria até mesmo colocado-se em posição de sentido naquele momento.

~*~*~

Talvez, pensou, fosse mesmo falta de sono.

Naquela manhã, quando despertou, ele mal lembrava-se de ter passado mal na noite anterior. Até mesmo sentiu um ligeiro bom humor ao se levantar.

Atender clientes, receber um carregamento valioso (e obviamente frágil) e limpar o pó que acumulava-se nos cantos (maldito antiquário! Parecia mesmo que o pó era um componente obrigatório!) eram tarefas que ele apreciava, pela primeira vez em meses, com uma satisfação miúda, de quem está satisfeito, talvez, com o pouco que tem em mãos. Era uma felicidade nostálgica que Axel percebeu fazer muita falta nele.

Por isso, aproveitou-a o quanto pôde. E só percebeu quando o relógio-cuco soou sete da noite que havia passado todo o dia em seu contentamento mudo.

Era triste perceber que Roxas estava virando mais um lembrança...

De fato, era muito triste não mais se lembrar com clareza do tom de Naminé ao lhe transmitir a última mensagem do espectro.

Mesmo assim, ele sabia que a vida continuaria. Nada seria para sempre.

Talvez, fosse isso mesmo que queria o loiro. Que ele continuasse sua vida e o esquecesse de verdade, afinal.

...Mas a verdade é que algo mordiscava sua consciência desde ontem.

Larxene dissera-lhe algo que parecia tê-lo despertado desagradavelmente para a realidade dos fatos. Uma espécie de sensação ruim.

“Já que são sete horas”, pensou. “Eu acho que vou visitar o Zex. Devo desculpas por ter feito ele ter tanto trabalho em me levar pra casa.”

Sorriu ao lembrar-se que não quis ajuda, mas o rapaz insistiu mesmo assim.

Levou-o até em casa e só faltou puxar as cobertas e lhe dar um beijo de boa note (nem conseguindo imaginar a cena. Axel não agüentou-se sem rir).

Realmente, merecia, no mínimo, um agradecimento.

Depois de um dia de trabalho pesado, foi um alívio entrar debaixo do chuveiro outra vez. O ruivo quase sentiu como se a água o estivesse purificando.

E, assim, depois de vestir-se e trancar a casa e a loja, decidiu comprar alguma coisa na loja de conveniência e cozinhar na casa de Zexion.

Provavelmente, ele estivesse se preparando para ir para a faculdade agora.

Daria tempo, se corresse, de agradecer e dar-lhe um jantar pseudo-decente para compensar o trabalho que teve ontem. Como diriam, uma mão lava a outra.

- ...O problema é que eu não sei fazer algo além de curry. – suspirou.

Bem, Zexion ia ter que se acostumar a comer isso todas as vezes que Axel resolvia aparecer de surpresa em sua casa... Teve, afinal, todos os anos possíveis para se mudar sem avisar e se livrar daquela tortura!

~*~*~

Sua mãe diria que entrar na casa dos outros sem avisar era de uma falta de educação sem nenhum comparativo.

(E, bem... Axel meio que concordava).

Mas quando Zexion lhe dera a chave de sua casa (dizendo, mais ou menos, que era para emergências), devia estar preparado para aquelas visitas sem sentido que amigos fazem uns aos outros, do nada. E devia estar grato por ele jamais trazer seu console e os games novos para lá. No máximo, trazia curry e abusava da boa vontade e das panelas do rapaz de pele pálida. O que já estava de bom tamanho (aparentemente).

- Vamos ver... – procurando a chave do apartamento dele no seu molho, o ruivo sorria de antemão, imaginando o desgosto do outro. – Ah, achei!

Girou a chave e ouviu o clique. E, então, abriu a porta (contendo-se para não fazê-lo num estrondo, ao melhor estilo Fred Flinstone).

- Querida, chegueeeei~! – mas não resistiu àquela piada.

Axel entrara, mas veio, então, a surpresa.

O que viu não foi nada do que imaginou. Já estava acostumado com aquela casa limpa, tão organizada, tão asséptica, como se fosse um laboratório. Móveis sempre limpos e em seus devidos lugares, uma atmosfera sóbria, tão digna de Zexion.

Era assim que se lembrava daquele apartamento.

Mas, diante de si, apresentava-se um esboço de residência. Vidros espalhados pelo chão, o caos puro e simples.

E no centro do lugar, o rapaz de olhos azuis recolhia, calmamente, um a um, os cacos de vidro.

- Zex...? O que diabos...? – a surpresa foi tanta que ele, apenas por um momento, esqueceu-se da dor da perda, das piadinhas que iria ter usado, até do fato de ter uma sacola cheia de curry pronto para ser derramado numa panela daquela cozinha.

- Trouxe comida pra cá de novo, Axel? – perguntou.

- Sim, na verdade, eu... – sacudiu a cabeça. – Nem vem! Aqui sou eu quem faço as perguntas: o que aconteceu?

Ele riu amargamente, aparentemente já superando-se da surpresa por ter Axel entrando sem avisar em sua casa (ou achando graça naquela sua reação).

(Zexion, afinal, sempre foi de aceitar um fato antes de contestá-lo ou tentar explicar. Principalmente fatos envolvendo seu amigo ruivo e impulsivo).

- ...Estou redecorando a casa. Gostou?

Axel nada falou. Apenas deu outro passo, hesitante.

Deixou a sacola em cima da mesinha do telefone, encarando o ambiente ao seu redor. O caos absoluto.

- Boa noite, Axel. – sussurrou em seguida, num emendo hesitante. Os ombros caídos demonstravam uma derrota certa.

- O que aconteceu aqui?... – insistiu o ruivo.

“Vim aqui para comer e falar besteiras, mas parece que eu fui o pego de surpresa”, quis fazer graça, mas viu que o clima não iria ajudar em nada.

- Nada demais.

Axel suspirou. Finalmente percebeu quão irritante deve ter sido para Zexion ter de agüentá-lo não falar nada e agir tão pateticamente.
Subitamente, compreendeu-o...

E, antes que o outro pudesse responder ou enganá-lo, o ruivo viu-se pisando num delicado guarda-chuva azul-escuro. Estava cheio de fragmentos de vidro.

- ...Ele veio aqui? – a compreensão parecia ainda maior do que imaginara antes.

- Acho que falamos de coisas que não devíamos. – Zexion deu de ombros. Já não podia mais fugir. – Estou pensando em não anotar isso e fingir que nunca aconteceu... Mas penso que, quando for falar com ele, então, seja estranho. Não sei como reagirá. Enfim, desculpe minha falta de modos. Entre. Sente-se por aí.

Na verdade, o outro rapaz não queria sequer se mexer.

O chão estava realmente repleto de cacos de vidro. Podia se machucar ou sujar ainda mais o ambiente.

Preferiu ficar ali mesmo. Roxas já não era mais um assunto de extrema urgência, já estava sendo superado: aquele susto simplesmente minou todo e qualquer pensamento realmente racional de Axel.

- ...Ele veio devolver o guarda-chuva? – ergueu a sobrancelha.

- Veio. – assentiu, partindo para uma nova seqüência de cacos. – Mas, como eu disse, acabamos nos excedendo... Falamos demais. A culpa é minha, na verdade. Enfim...

Com um gesto cansado, ele deixou claro que não queria mais falar sobre aquilo.

- ...Quer ajuda nisso tudo? – disse, enfim. – Vai passar a noite juntando cacos de vidro, se fizer isso sozinho e nesse ritmo.

- Perdoe a grosseria, mas você não tem nada que ver com isso, Axel. – Zexion suspirou, pesadamente. – Pode ir para casa. Tem coisas melhores para se preocupar.

No mesmo segundo, Axel meneou negativamente a cabeça.

E baixou-se, ajoelhando-se também e ajudando a recolher a bagunça da sala. O olhar surpreso do outro rapaz perscrutou-o de cima a baixo, mas não teceu nenhum comentário. Não foi necessário, afinal.

A teimosia mais forte venceria; e a do ruivo seria a priorizada.

Ele ajudaria, e nada que o outro dissesse mudaria o fato.

Num silêncio tácito, o som que ouviu-se a partir de então foi o de vidro chocando-se um contra o outro em suas mãos, até que Axel gemeu de leve.

- ...Acho que me cortei. – suspirou.

Zexion fez o mesmo.

- Você é mesmo um idiota. Já não basta o vidro, vem sujar minha casa de sangue. – revirou os olhos.

Ignorando aquele comentário ácido, Axel parecia pensativo, encarando o dedo sujo de um vermelho parecido com o de seus cabelos.

- ...Você devia ir atrás do tal de Saïx. – ele sugeriu. – Parece sério.

O rapaz ergueu-se, sem comentar absolutamente nada, talvez indo buscar alguma coisa para pôr no dedo do outro.

De costas, Axel tentou adivinhar suas feições; estariam bravas, tristes ou simplesmente neutras, naquela expressão tediosa de sempre?

- ...Intrometido. – resmungou, parando na porta antes de prosseguir.

- Como ousa dizer isso para quem está te ajudando? – ergueu a sobrancelha, mantendo no rosto, enfim, o sorriso jocoso que queria ter dado desde antes.

- ...Seu tremendo intrometido. – continuou.

Dando de ombros, com um riso contido, uma vez que sabia que aquela situação só poderia acabar daquele jeito, o ruivo inclinou-se um pouco mais para frente, capturando mais fragmentos de cacos de vidro, do que parecia ser o abajur da sala.

Pelo silêncio, viu que Zexion realmente fora pegar alguma coisa para estancar o sangue. Band-aid, provavelmente.

E, de fato, quando o rapaz voltou, tinha um deles na mão.

O dedo ferido ergueu-se automaticamente enquanto o outro “enfaixava-o”. Nenhum deles ousou falar absolutamente nada enquanto faziam aquilo.

Por fim, os olhos azuis fecharam-se, cansados:

- Não está pensando em dormir aqui, está...?

- Nem pensar. Não tenho mais idade para bancar a babá de marmanjos. – imitou Zexion, que geralmente era o dono de tal frase. – Além disso, tenho coisas a resolver...

“Como achar Roxas, por exemplo”, ele suspirou. Queria ter pedido a ajuda do outro para algumas coisas, talvez, mas já viu que ele tinha seus próprios problemas. “Ou finalmente esquecê-lo.”

- ...Pretende ficar aqui até arrumar toda a bagunça? – incrédulo.

- Não sei porque vocês brigaram, mas ele destruiu sua sala. Isso aqui não pode ser arrumado por uma pessoa só. – Axel disse, despreocupadamente. – Mas, sabe...

Zexion ergueu a sobrancelha. Lá vinha...

- ...Você devia deixar isso comigo e ir resolver esse assunto. – aconselhou. – Aquele cara não pode simplesmente fugir assim, impune.

Cruzando os braços, ele revirou os olhos mais uma vez.

- Você é incrível! E isso não é um elogio.

Axel riu: – Muito obrigado!

- Além disso, não posso mais correr atrás dele. – suspirou. – Estou começando a ficar atrasado para a faculdade...

- Deixa de ser aluno exemplar e tome uma atitude certa uma vez na vida.

Sobrancelha perigosamente soerguida: – Acaso está me chamando de irresponsável, senhor Axel?

- Errou! – sorriso ainda mais brincalhão. – Estou te chamando de covarde!

(Ok, agora o ruivo sentiu que estava brincando com a sorte).

O silêncio. Tudo o que obteve fora aquilo.

Surpreendentemente, Zexion engoliu qualquer ação impensada e simplesmente encarou Axel. E o mesmo pôde perceber o quanto ele parecia travar mentalmente uma batalha pela escolha mais sensata.

Correr atrás do “prejuízo” ou simplesmente esquecer?

Ele não achou que Zexion fosse levar assim tão a sério aquele seu conselho. Mas, de alguma forma, ao vê-lo ter controle sobre sua própria vida (de uma forma muito estranha, diga-se de passagem), ficou satisfeito.

Desejou poder ouvir os pensamentos do outro. Imaginava, porém, que milhares de hipóteses nasciam e eram descartadas em questão de milissegundos.

Zexion era mesmo incrível, nesse aspecto...

Mas ele esperou. Juntando ainda os vidros do chão, o ruivo fingiu que não percebia (muito) aquela incerteza do outro.

- Axel, desculpe-me, mas você é a pessoa mais irresponsável, intrometida e infame que eu já conheci... – Zexion, por fim, murmurou.

- Vou considerar um elogio. – deu de ombros.

Dando meia volta, ele sumiu pelo corredor para reaparecer poucos segundos depois com um casaco e a pasta que levava para as aulas.

- ...Quando eu chegar, quero esta casa limpíssima. – e isso não era mais uma simples ameaça. Era mais uma sentença de morte.

- Ei, ei! – medo. – A culpa não foi minha!

- ...Fui claro? – ignorou-o.

- ...Cristalino. – suspiro.

E, a partir daquele dia, Axel ia pensar duas, três, sete vezes antes de invadir a casa do amigo sem aviso.

Vá que, outra vez mais, acabasse por ser o responsável pela limpeza do que parecia ser mais uma zona de guerra do que um apartamento.

- ...Ei. – Zexion chamou-o da porta.

- Juro que não vou sujar sua cozinha também, caramba.

- Não é disso que eu estou falando.

Pisando novamente em “território seguro”, Axel virou-se: – Então, o que é?

- ...Obrigado.

Haveria, algum dia, algum aparelho capaz de medir o nível de surpresa de alguém? Porque Axel temia quebrar o dito aparelho se resolvessem testar um nele agora.

- Hã, de nada... – sobrancelha muito erguida.

- Ter um último amigo assim... Acho que é reconfortante.

- Ei! Guarde essas suas frases estranhas pro tal de Saïx! – resmungou. – E bata nele por mim! Graças à sua falta de tato, eu tenho que limpar a bagunça dele.

Zexion revirou os olhos uma vez mais, fechando a porta e abstendo-se até mesmo de tecer um comentário apropriado àquela falta de bom-senso.

E Axel, como imaginou, ia ter que limpar aquela sala antes que ele retornasse.
Senão... Bem, as coisas ficariam bem estranhas.

“Boa sorte, Zex”, desejou mentalmente. Ele ia precisar.

E foi enquanto juntava os últimos pedaços do vidro (que, ao menos, não mais o cortaram) que percebeu, repentinamente, algo que o fez parar.

Afinal, aquilo que Larxene lhe dissera fez sentido...

Ela dissera “o corpo é seu melhor amigo”, ou qualquer coisa do tipo.

Na hora, ele sequer percebera o rumo dos seus pensamentos, mas agora, relembrando a cena, podia dizer sem nenhuma hesitação: era em Roxas que pensava.

Achou que era um reflexo natural.

Ultimamente, pensava bastante no loiro.

...Mas teve a impressão errada.

Só agora, quando a voz de Zexion sussurrou-lhe de novo aquela agradecimento, é que Axel percebeu aquele verme mordiscando a consciência.

Ele tentava lhe avisar todo este tempo aquilo que teve certeza.

“Ter um último amigo assim... Acho que é reconfortante”.

O corpo é o último e melhor amigo, não?

Axel tocou em si próprio. Naquele instante, precisou ter certeza de que respirava, de que estava, de fato, vivo.

Ainda existia naquele mundo, afinal...

E, automaticamente, aquela menina loura e delicada (Naminé, não?) passou-lhe pela mente. Com seu sorriso capaz de mover montanhas.

“Roxas é um ‘impostor’. Uma farsa.”

Ambos deixaram aquilo bem claro... Uma ‘imagem falsa’.

É claro...

A água. O acidente com o navio. Nama Hikari. Seu parentesco. As profundezas do mar. Todo o silêncio.

O filho de Nama Hikari que afogou-se...

Repentinamente, Axel ergueu-se, esquecendo-se até de que precisava terminar imediatamente de limpar aquele lugar (e, provavelmente, teria de comer seu curry em casa. Lá se ia seu plano genial!).

A verdade caiu-lhe pelos ombros com a força de uma debandada de animais.

...Roxas ainda estava entre os vivos.


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Notas finais do capítulo

Nota #1: Eu devo mesmo desculpas pela omfg demora em atualizar... Nem sei o que dizer. Só "perdão"... o_o'
Nota #2: Mas, bem... Agora, é só postar o epílogo e sayonara, "Houseki"! Espero que tenham gostado tanto quanto eu~ ^^
Nota #3: Em breve eu começo outra, de outro couple, "Gris". Por favor, acompanhem se possível ^^/
Nota #4: Obrigadíssima pelos comentários animadores que recebi até então!
Nota #5: Aquela parte que o Roxas fala com o Axel desmaiado é copy&cola de um diálogo da Cossette. É tão lindo que não resisti. *-*
Nota #7: A Naminé foi uma criatura tão random nesse capítulo que me deu até medo (?). XDD
Nota #8: Eu sempre esquecia de comentar isso, mas enfim... "Nama", a mãe fictícia do Roxas, é uma das formas de se ler "atmosfera", com "Na" sendo o kanji "Sora".
Nota #9: Tô tão ansiosa que devo estar me esquecendo de um monte de coisas pra pôr aqui. Oh, god. u_u
Nota #10: Por fim: ANGST!!! 8D



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