Infelizmente eu não estava. Samantha fez questão de mostrar pra mim que podia chamar o Lucas de seu passando as duas semanas seguintes se agarrando com ele na minha frente. Chegava a ser ridículo o número de vezes que ela não estava realmente prestando atenção no que ele falava e sim se eu estava observando.

Saímos da escola mais cedo hoje porque tivemos prova então eu espero a minha mãe ir me buscar no banco como sempre.  Assim que abro o livro que eu estava lendo, o quarto Harry Potter, ouço uma voz me chamando, a voz de alguém que eu conheço, a voz dele. Ele senta ao meu lado mas não está com uma cara muito feliz.

- Como vai Taylor? – ele pergunta.

- Tudo ótimo. – eu digo fingindo não estar nervosa com a presença dele do meu lado - E você?

- Mais ou menos...

- O que aconteceu?- eu pergunto

- Bom, você sabe que eu estava em outra cidade, e as pessoas não eram tão, simpáticas quanto aqui... Enfim, demorou um tempo para eu me acostumar a ficar sem companhia e assim que fiz amigos nós voltamos pra cá. E agora que eu voltei meus amigos daqui só querem saber de festas enquanto meus pais estão me pressionando para ir para a melhor faculdade do mundo como se fosse minha obrigação ser o melhor e a Samantha, bom, ela não é muito de ficar em casa e agora ela tem algum tipo de competição de líderes de torcida que eu realmente não estou com cabeça para ir mas parece que ela não entende isso. – ele explica e isso cai como um choque em mim. Então ele tinha problemas e não podia contar com ela... Isso não aconteceria se ele estivesse comigo, aliás, o que ele estava fazendo com ela?

- Sinto muito...- eu digo, olhando para o chão. Ele dá uma risada meio fora de hora mas genuína.

- Nada disso é sua culpa – ele responde. Um barulho de carro invade a rua que até agora pouco estava silenciosa. Ela o chama como se fosse um objeto que tem posse. Ugh, odeio como ela faz isso quase automaticamente.

- Tchau, Taylor. Sempre bom conversar com você. – ele diz e entra no carro dela. Uma música insuportável está tocando e ela aumenta para o volume máximo.

- Muito melhor do que aquela porcaria de James Taylor que a gente tem que aturar em algumas rádios – ela diz revirando os olhos e acelera com tudo.

Minha mãe me pega uns 2 minutos depois, como eu queria que ela estivesse um pouco adiantada, assim eu não teria que olhar para a criatura que está fazendo ele sofrer mais ainda.

Chego em casa e vou fazer a lição de casa ouvindo James Taylor, pelo menos eu aprecio música de verdade. Minha cortina está aberta e eu não resisto e vejo que a dele também está, revelando uma conversa bem agitada no telefone entre ele e alguém. Ele passa 20 minutos com quem eu já suspeito que seja ela e finalmente desliga. Eu escrevo em um bloco de anotações que nós usamos para se comunicar toda vez que as duas cortinas estão abertas. Eu me pergunto se ela sabe disso, que seu namorado fala comigo praticamente todas as noites, acho que não.

VOCÊ ESTÁ BEM?

E ele responde em seguida:

CANSADO DE DRAMA

Eu pego novamente a caneta e escrevo:

SINTO MUITO

E ele fecha a cortina. Sinceramente não sei porque ele ainda está com ela. Ainda não passou pela sua cabeça que ela está te fazendo mal, Lucas? Ela nunca vai entender o que você está passando e também não parece estar muito preocupada. Uma melodia passa pela minha cabeça Hey what you’re doing with a girl like that?

Meus pensamentos são interrompidos pelo som do telefone. É a Abigail me convidando para ir ao cinema e é claro que aceito, não estava muito a fim de adiantar lição, mesmo que hoje seja uma terça-feira.

Fico pronta rapidamente e logo estamos comprando os ingressos. Assistimos Homem-Aranha 3, que eu realmente achei que foi o pior de todos. Estamos prestes a sair do cinema e virar a esquerda quando Abigail para e diz:

- Sabe de uma coisa? Vamos dar uma volta antes de ir embora, eu ainda não quero voltar pra casa. – e vira à direita.

- Você está brincando? Tá frio pra caramba, vamos embora! - eu digo me virando mas logo me arrependo ao ver quem está do outro lado me encarando com uma cara de quem sabe das nossas conversas.