Prostituta Do Governo escrita por Leticia, Lari Rezende


Capítulo 2
O único amor da minha vida


Notas iniciais do capítulo

O começo pode ser um pouco chato, mas fica melhor. Eu prometo!



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Quando eu era criança minha maior paixão era cavalos.
Eu adorava cavalos.
Na realidade eu amava unicórnios, mas como eles não existiam os cavalos eram as únicas coisas mais próximas de um unicórnio que eu podia ter, por isso eu os amava tanto.
Aos 10 anos de idade, meus pais compraram um pequeno sitio e eu simplesmente adorava morar naquele lugar. 
Eu corria de pés descalças pela terra vermelha e me deliciava subindo nos pés de arvores só para comer o fruto fresco.
Eu me lembro que nossa casa era bem grande. Tinha três quartos, uma cozinha grande, uma sala aconchegante e um banheiro no final do corredor da casa. Ela era toda rodeada por áreas de cerâmicas amarronzadas e com desenhos que lembravam flores.
Dois enormes pés de manga cobriam a frente da casa, o quintal era todo gramado e havia roseiras que minha mãe regava todos os dias. As rosas eram vermelhas e lindas e eu adorava pegar uma escondida e colocar atrás da orelha depois de cheirá-la muito.
Minha mãe se chamava Arlete, meu pai Rodolfo e meu irmão mais novo Giovane.
A diferença de idade entre eu e meu irmão era de sete anos. Por isso vivíamos brigando, mas eu sempre o carregava por todos os cantos do sitio. 
Eu realmente era feliz naquele lugar, principalmente quando minha mãe me deixava tomar banho de açude, ou correr pelo gramado de casa num dia de chuva ou quando eu montava no cavalo pardo que meu pai comprou depois de eu muito insistir.
Eu simplesmente gostava de tudo naquele lugar.
Os anos foram se passaram rápidos de mais e quando eu completei 14 anos as coisas começaram a mudar.
Mamãe trabalhava como empregada domestica numa casa no centro da cidade e papai era mecânico, e trabalhava numa oficina próxima ao emprego de mamãe. 
Giovane estuda a tarde e eu durante a manhã.
Mamãe ficava com ele no serviço de manha e meu pai o levava para a escola a tarde.
Eu passava as minhas tardes livres explorando uma pequena reserva próxima ao sitio.

Foi nesse período que uma família se mudou para um sitio bem perto ao nosso.
Eram os Pacheco. Ricardo Pacheco era um ano mais velho do que eu, mas estudamos juntos na mesma turma. Éramos próximos, mas não chegávamos a ser amigos tão íntimos assim.
Depois que eles se mudaram para o sitio próximo ao nosso as coisas mudaram entre mim e Ricardo, vivíamos andando pelos campos juntos, roubávamos frutas dos pomares de um velho rabugento e tomávamos banho no açude com muita freqüência.
Naquele tempo era normal um menino e uma menina tomarem banho de açude quase sem roupas,sem rolar uma orgia proibida. Éramos simplesmente inocentes. E é inocência que falta nos dias de hoje.
Mas eu de certo modo gostava daquele menino de quinze anos, alto, com a pele queimada de sol por viver andando sem camisa. Tinha os olhos negros como o céu durante a noite e aquela neblina que somente eu via nele me seduzia. Seus cabelos eram curtos e pretos como o mais puro petróleo. Tinha na realidade a aparência de um índio pardo, mas o jeito que ele falava, caminhava e pensava me instruía a adorá-lo. 
Sendo assim, Ricardo Pacheco foi o primeiro e único grande amor da minha vida.


***

Eu estava em baixo da arvore descansando. O sol estava extremamente quente naquela tarde.
Ricardo estava trepado na arvore recolhendo bergamotas para o lanchinho da tarde.
Ele deu um pulo e caiu bem ao meu lado. Sua camisa estava pendurada no ombro e um leve arranhão havia se formado próxima ao peito direito.
Lambi o meu dedo de leve e passei no arranhão que sangrava um pouco.
-O que aconteceu? – perguntei.
-Um galho me espetou – respondeu me entregando uma bergamota.
Limpei meu dedo na barra do meu short e sentei em uma pedra descascando a bergamota. Ricardo sentou ao meu lado fazendo o mesmo.
Ficamos ali por alguns segundos em silencio.
-Sabe Jessica – disse ele sem tirar os olhos dos gomos da fruta – eu queria te dizer uma coisa que há um tempo me incomoda.
Olhei para ele confusa e curiosa ao mesmo tempo.
-Fala – disse cuspindo as sementes que se aglomeravam na minha boca.
-Eu te amo.
Ficamos em silencio novamente.
Aquilo era estranho de mais pra mim. 
Ele virou o rosto de vagar e me olhou bem dentro dos olhos.
-Eu gosto muito de você, Jessica – disse ele colocando uma das mãos dele por cima da minha – quer ser minha namorada?
Meu coração batia tanto que era capaz de explodir.
-Eu quero – respondi quase num sussurro depois de engolir a saliva da boca.
Ele fechou os olhos e se aproximou. Fiz o mesmo.
Meu primeiro beijo aconteceu bem ali, de baixo de um pé de bergamota, numa tarde extremamente quente no lugar que eu mais gostei de viver na vida. Um beijo com o gosto cítrico de bergamota.
Ele tirou o rosto de perto do meu e me olhou sorrindo.
-Meu pai vai querer me matar – eu disse.
Ele riu.

-Você acha que ele é contra nosso namoro? – perguntou ele.

Pensei nas minhas hipóteses.
-Acho que sim – respondi – ele com certeza vai dizer que eu sou muito nova pra namorar.
Ricardo passou o dedão próximo aminha boca num gesto de carinho.
-Podemos namorar escondido por enquanto - propôs ele.
-Podemos - respondi.
Voltei a beijar aquela boca carnuda e deliciosa.
Naquele momento eu não tinha consciência dos meus atos. No meu ponto de vista eu não estava fazendo nada de mais e manter meu namoro em segredo foi à coisa mais excitante que eu já havia feito. 
Eu soube assim que aqueles lábios tocaram os meus que Ricardo Pacheco era o amor da minha vida.
E ele seria o único.


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