Apollos Love escrita por FurryWorld101


Capítulo 2
Briga na praia




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Todo dia para mim é a mesma coisa: acordar antes do sol nascer e treinar meu nado e minhas habilidades aquáticas, depois ter aulas de artes marciais com meu vizinho asiático que, apesar de idoso, tem uma agilidade impressionante, ajudar minha mãe nas tarefas diárias (cozinha e arrumação da casa), estudar um pouco e treinar esgrima.

Não, eu não vou à escola. Parei de frequentá-la desde o incidente com o suco de laranja. Não fique achando que é o máximo não ir à escola, porque eu vou dizer a verdade: é um saco ter dezesseis anos, ver diversos seriados sobre adolescentes normais em vida escolar e saber que você não pode ir à escola, ou ter um Facebook, ou ter um celular que um monstro pode aparecer do nada e te matar. Se você não entendeu, eu explico melhor: nade de escola ou de qualquer vida social para mim.

Não sei se o fato de eu ter meus poderes muito desenvolvidos é algo bom ou ruim. Quer dizer, eu não tenho nem melhor amiga! Nunca fiquei com ninguém! Que tipo de vida é essa?! Por isso que eu queria encontrar outros semi-deuses, outras pessoas como eu. Será que a vida deles também é assim?

Sempre esperando que um monstro apareça?

Quer dizer, quantos anos eu vou continuar em paz até que o pior aconteça? Eu e minha mãe estamos fazendo um trabalho tão bom assim que realmente nenhum monstro consegue me rastrear? Eu não acreditava nisso, por isso qualquer coisa fora do comum - o carteiro que tocava a campainha num horário estranho, um pássaro se mexendo nas árvores durante minhas caminhadas, tudo - me dava um calafrio. Faz cerca de um ano que eu tenho a sensação de estar sendo observada de tempos em tempos.

Às vezes penso se não seria melhor que a tempestade chegasse logo, ao invés de ficar eternamente nessa falsa calmaria.



Era sexta-feira. Acordei cedo, como sempre, cambaleando de sono. O sol ainda não havia nascido, o que era ótimo. Poderia treinar um pouco mais. Me afastar da costa alguns quilômetros a mais do que estava acostumada, talvez tentar um lance que eu comecei na semana passada: consegui transformar meu corpo em água. (Não me pergunte como, só percebi o que fazia quando estava nadando e não conseguia ver minha mão esquerda. Quando saí da água, lá estava ela, toda azulzinha, transparente e molhada).

Assim que saí de casa, veio aquele formigamento. A sensação de estar sendo observada. Ignorei a sensação, como sempre fazia desde a quintilhonésima vez que a senti sem motivo algum. Corri um pouco na areia para me aquecer, me afastando das poucas casas que havia na vizinhança. Assim que tive privacidade o suficiente, tirei as roupas e fiquei só de biquíni, logo pulando na água.

Ah! Que delícia que era a sensação do mar contra a minha pele! Eu me sentia como se finalmente estivesse completa. Conforme nadava, parecia me fundir com o oceano... Sorri ao ver minha mão esquerda começar a desaparecer. Estava dando certo! Agora eu tinha que ver se conseguia fazer o mesmo com a outra mão.

No entanto, não pude continuar aproveitando aquele momento íntimo entre eu e a água. A magia da atmosfera foi quebrada pela entrada súbita de outro ser na água, próximo ao local da praia ou eu estivera poucos minutos atrás. Concentrando-me, fechei os olhos e me esforcei para sentir as vibrações que emanavam dele. Se fosse um animal, eu só precisava nadar mais rápido que ele. Se fosse humano, eu só precisava voltar minha mão ao normal e fingir que era apenas uma madrugadora tomando um banho de mar. Mas nada me preparou para o que eu estava prestes a ver.

Senti a presença de um corpo esguio, com contornos femininos. Parecia uma mulher. Mas era muito mais comprida. Suas pernas deviam ter uns dois metros. E as ondas que emanavam dela... O movimento parecia... ao de uma cobra nadando.

Mal me dei conta do perigo que corria quando o ser me agarrou pelos pés. Soltei inúmeras bolhas ao gritar debaixo d’água. Ela me puxou tão rápido que no instante seguinte eu estava pendurava de cabeça para baixo pouco acima do nível do mar. Uma mulher despudorada com os peitos à mostra me agarrava. Sua pele era verde e escamosa, o cabelo ralo e negro, os olhos amarelos vivos com pupilas riscadas e a boca imensa, cheia de dentes afiados e com uma língua bifurcada pendendo a poucos centímetros do meu nariz. Seu tronco estava elevado acima da água, por baixo eu podia ver uma imensa cauda de serpente ondulando.

– Filha de Possssseidon – sibilou ela – Finalmente te encontrei sssssozinha.

“Pense, Cloé, pense!” eu me forcei a manter a calma.

Tudo bem, talvez tivesse uma vantagem em estudar em casa e não numa escola. Eu só aprendia coisas realmente úteis para a minha vida. Ou seja, nada de física instrumental e sim muuuitas aulas de mitologia grega. Tentei me lembrar de que monstro essa mulher se tratava. Listei vários em minha mente, até chegar à luz: lâmia! Aquela mulher-serpente era uma lâmia!

Isso é mal. Lâmias são monstros aquáticos, ela estava em seu terreno de vantagem, assim como eu. O jeito era saber quem possuía maiores habilidades na água. A mais talentosa sobreviveria.

– Iáááá!! – com um grito levantei os braços esticados ao meu lado e forcei a água a atingí-la com tudo dos dois lados de sua cabeça. A força do impacto fez seus tímpanos sangrarem e a lâmia teve que me soltar para apertar as orelhas com um guincho terrível.

Sem um segundo a perder, disparei a nadar o mais rápido que podia de volta para a praia. Ainda gritando furiosa, a lâmia me seguiu velozmente. Estava quase chegando à areia quando ela me pegou novamente, enterrando suas unhas afiadas na carne do meu calcanhar. Gritei de novo, mais bolhas subiram à superfície. Girei como um parafuso, criando um minitornado que me permitiu fugir e chegar à areia.

Uma onda quebrou em mim bem quando toquei no chão. Fiquei desnorteada por alguns segundos antes de cair, o pé ensanguentado. Eu só esperava que suas garras não fossem venenosas.

A lâmia saltou do mar com um guincho e trombou em mim. Nós duas rolamos na areia, ela tentando me acertar com arranhões poderosos, eu usando os braços para defender o rosto assim como meu vizinho Takezo havia ensinado. Paramos de rolar, ela estava acima de mim, me prendendo à areia com o seu peso.

Desesperada, tentei chamar as ondas para atingirem-na mais uma vez e a tirarem de cima de mim, mas assim que levantei os braços a lâmia os prendeu acima de minha cabeça com a mão livre. Eu estava completamente indefesa.

– Fim da linha, garotinha – ela sorriu de forma horrenda, mirando suas garras na minha garganta.

Não sei se minha vida passou diante dos olhos, mas uma flecha veio zunindo e acertou a lâmia em cheio no meio da testa. Eu pisquei, estupefata; ela piscou, provavelmente mais surpresa que eu. E então a lâmia caiu para trás, urrando de dor. Ela não duraria muito. Mesmo assim uma segunda flecha passou por cima de minha cabeça e acertou em cheio o coração da monstra. Ela caiu e ficou imóvel, sem sofrer mais.

Levantei depressa e virei para trás para ver de onde vieram as flechas. O sol quase me cegou, eu não tinha percebido que ele já havia nascido. Contra seu brilho intenso, pude discernir o contorno de um corpo masculino e atlético. Ao estreitar os olhos me deparei com um garoto que aparentava uns 18 ou 19 anos, vestindo uma regata e uma bermuda de praia, uma bolsa lotada de flechas apoiada no ombro direito e um arco dourado como o Sol na mão. Seu cabelo era loiro da cor de areia e seu sorriso era luminoso e quente.


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Notas finais do capítulo

A-DO-RO escrever ação!! E é agora que as coisas vão começar a ficar emocionantes ;P
Apolooo ♥