Eu estava sendo pressionada contra a parede por Thiago, já começando a tirar sua camisa, quando me dei conta do que estava acontecendo.
Ele deslizava suas mãos pela minha cintura de um jeito doce, mas ao mesmo tempo dominante.
Nosso beijo era quente, rápido e com carinho. E se me atrever um pouco, talvez até mesmo com paixão.
Ele me transmitia um conforto enorme, de uma forma que eu me sentia submissa em seus braços.
Ainda me beijando, Thiago me virou e me jogou na cama de Cindy. Ele já estava sem camisa, e então subiu em cima de mim.
Segurei em seus braços, e nós ficamos nos olhando durante algum tempo, ofegantes.
Quando ele estava se aproximando para recomeçar o que estávamos fazendo, o impedi:
– Thiago, - eu disse, o empurrando levemente contra mim - é melhor a gente parar.
– O quê? Por que? - ele falou
– Aqui é o quarto da Cindy e ela tá lá embaixo me esperando... Vamos fingir que nada disso aconteceu, ok?
Thiago foi se levantando e disse:
– Eu não quero fingir. Porra, Mel! - ele se virou - Por que quando a gente "tá quase lá" você sempre me para? Caralho.
– Porque nunca é o momento certo - sentei na beira da cama de Cindy
– E quando vai ser?
– Eu não sei, Thiago. Talvez nunca seja. Não tem motivos para que isso aconteça. Ou tem?
Ele permaneceu em silêncio durante algum tempo, até que disse:
– Tem razão, Melina. Não tem motivo nenhum - ele pegou sua camisa no chão, e saiu do quarto rapidamente
Fui para o corredor para ver pra onde ele tinha ído, e a única coisa que me restou foi a porta do quarto dele batendo fortemente. Não entendi por quê ele estava tão nervoso daquele jeito.
– Alguém prometeu que ia me ajudar a cozinhaaar - Cindy apareceu na sala, e olhou pra cima
– Ah, desculpa - desci as escadas - O que vai querer fazer?
– Não sei, acho que macarrão com queijo.
– Ótimo, adoro essa receita. Vou para a cozinha separar os ingredientes.
– Ok - ela respondeu sem prestar muita atenção, ainda olhando para cima, mas agora em direção à porta de Thiago
– O que foi? - me virei pra ela
– Nada, eu só queria entender por quê o Thiago saiu batendo o pé. Fez um barulho alto pra caramba aqui embaixo.
– Ah.
Fomos pra cozinha e pegamos tudo o que seria necessário. Cindy colocou dois tomates na minha mão e falou:
– Corta eles em pedaços, por favor?
– Pode deixar - coloquei-os em cima da mesa, sentei, peguei uma faca, uma tábua e comecei a picar
– Quer sair amanhã, Mel? - Cindy disse enquanto tirava o macarrão cru da embalagem
– Não sei, esqueceu que a minha mãe e a Flora vão vir aqui?
– Não, eu tô falando pra gente sair de noite. Amanhã é sexta, mesmo.
– É, pode ser - falei enquanto passava os pedaços picados para um pote
– Então tá, vou ligar pro Bruno e pedir pra ele levar a gente - Cindy me olhou
– Aham - concordei com a cabeça
Ouvimos Thiago descendo as escadas, e então ele parou na porta da cozinha:
– Vou dar uma saída, não me esperem pra dormir - ele disse enquanto abotoava o botão de sua camisa
– Onde você vai? - Cindy disse, surpresa
– Vou sair com uns amigos.
– Mas do nada? Por quê? - eu disse, tentando parecer o mais natural possível, depois do ocorrido constrangedor
– Não interessa, Mel - ele olhou pra mim com um sorriso sarcástico, e eu juro que não esperava por aquilo - Enfim, até.
Fiquei olhando para Cindy, e quando fui começar a me pronunciar ela colocou um dedo na frente da boca, mostrando que era pra eu permanecer em silêncio.
Ela esperou o barulho da porta da sala, e se virou pra mim:
– Ele tá aprontando.
– Quê? - falei
– Não, é sério. Há umas duas semanas o Thiago saiu com uns amigos e só voltou dois dias depois. E posso dizer que a aparência dele não era nada boa - ela falou, mexendo o macarrão na panela
– Aparência nada boa? Como assim?
– Eu não sei, Mel. Eu tô com medo que ele esteja mexendo com gente perigosa. Gente que se faz de amigo dele, mas que não quer o seu bem.
– Do que você tá falando, Cindy?
Cindy bateu a colher fortemente no balcão, fechou os olhos e disparou:
– Tô falando de droga. De maconha, cocaína. Nesse dia que eu falei pra você, Thiago estava com os olhos mais vermelhos do que esse tomate que você tá cortando - ela apontou pra mesa - e com um cheiro de bebida desgraçado. Ele falava coisas sem nexo, sem sentido. Dava risada de tudo. Eu até tentei tirar a jaqueta dele pra ver se tinha alguma coisa diferente nos bolsos dela, mas ele não deixou. E antes de sair, ele também falou que ia sair com "uns amigos".
– Então você acha que... Ele tá se drogando? - eu falei, receosa
– Não! Eu acho que ele é um agente secreto puma cor-de-rosa que está vivendo clandestinamente como um ser humano. Ah, por favor, né, Mel?
Foi impossível não dar uma risada com o que ela tinha falado, mas imediatamente os meus pensamentos se voltaram pra figura de Thiago. Como um homem tão saudável, tão lindo, poderia estar fazendo aquilo contra ele mesmo?
– Você tem idéia de quem são esses tais amigos dele? - perguntei, já colocando os tomates em uma panela com água e sal, pra preparar o molho
– Pior que não. Não faço a mínima idéia. Só conheço uma menina que anda com ele. Mas ela não aparenta ser drogada, só burra mesmo.
– Menina? Que menina?
– A Geovanna. É uma garota bonita, alta e loira. Ela já dormiu aqui umas duas vezes, e você sabe muito bem o por quê, né? - ela olhou pra mim com um olhar óbvio, e eu esbocei um sorriso amarelo.
Eu não sentia nada por Thiago. Não mesmo. Mas me deu um aperto no peito quando Cindy falou aquilo.
– Então - ela continuou - Quando ela veio aqui ela era muito folgada e mal educada, mas não tinha atitudes e nem cheiro de quem se droga.
– Só espero que Thiago não esteja realmente fazendo o que você pensa que ele está fazendo.
– Eu também, Mel. Eu também.
Terminamos de cozinhar, e fomos comer na sala assistindo TV. Lembrei de um assunto importante que devia tratar com Cindy e comecei:
– Olha, como pelo visto eu vou passar a morar aqui - coloquei uma garfada na boca - Vou ter que ajudar nas despesas, né? Então a apartir de amanhã eu vou começar a procurar emprego, ok?
– Magina, Mel. Eu te dou o seu tempo. Só espero que você consiga entrar na faculdade que você tanto queria antes do ano novo, assim você já fica sossegada. É uma merda ficar correndo atrás de vagas em janeiro.
– Tem razão, vou aproveitar e ver isso também. Mas e você? Como tá indo esses preparativos pro ano que vem?
– Tudo ótimo, né? Consegui entrar no curso de Administração que eu tanto queria. E o melhor de tudo é que não vão exigir presença obrigatória em período integral.
– Isso é muito bom, Cindy - voltei a prestar atenção na TV - Fico muito feliz por você, sério.
– Obrigada, Mel - ela deu risada
Terminamos de comer, e eu disse para Cindy que quem lavaria a louça de hoje era eu:
– Não tem cabimento isso, né? Tu já lavou ontem, agora é a minha vez.
– Ui, agora vamos ter revezamento de lava-louça?
– Não sei se isso existe, mas se existir, sim - puxei o prato da mão dela, que insistia em puxar de volta - CHEGA! - puxei de uma vez
– VOCÊ É MUITO CHATA, MELINA.
– EU? OLHA O ESTRAGO QUE TU FAZ!
– Hã? - ela olhou pra mim com cara de desentendida - Que estrago?
– Não sei, é legal falar isso - mostrei a língua pra ela
– Nha nha nha, posso te pedir uma coisa? - ela sorriu exageradamente
– Depende.
– Fica aqui em casa enquanto eu dou uma saidinha com o Allan?
– HUMMMMMMM, ALLAN? HUMMMMMM, TO SABENDO.
– Ele é nosso amigo.
– EU SEI, HUMMMMMM, E ELE É MUITO BONITO.
– Para de bobeira - ela me deu um "tapa" - ele só me convidou pra ir no cinema, e eu aceitei. Fica aqui em casa enquanto eu saio? E tenta me esperar acordada.
– Ok, HUMMMMMMM.
– SUA FILHA DA PUTA, PARA! - ela jogou uma almofada em mim
Saí correndo para a cozinha, dando risada. Lavei a louça e a sequei. Guardei o resto do macarrão em um pote e coloquei na geladeira.
Fui assistir mais um pouco de TV, enquanto esperava Cindy sair do banho.
Estava quase cochilando no sofá quando ela aparece e fala:
– E aí? Como eu tô? (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=64831321&.locale=pt-br)
– Aaaain, você tá muito linda, vei! TUDO POR CAUSA DO ALLAN, NÉ?
– Nem começa, Melina, nem começa! Eu já vou indo, ele tá me esperando com o carro lá na esquina - Cindy se abaixou pra me dar um beijo na bochecha
– Ok, se cuida.
Quando ela já estava quase fechando a porta, eu disse:
– CINDY! ESPERA, ESPERA!
– O quê foi? Quer me matar de susto?
– Nada, só queria dizer que HUMMMMMMM.
– PORRA - ela bateu a porta, e pela janela vi ela indo embora
Resolvi ir tomar um banho e colocar o meu pijama. Eu realmente não achava que Cindy fosse voltar hoje, porque eu conheço muito bem ela e o Allan, mas mesmo assim iria tentar esperá-la.
Tomei meu banho, e vesti a mesma camiseta gigante da noite passada. Decidi que iria ficar usando o notebook deitada no meu colchão.
Fiquei lá durante um tempo, até que uma sonolência caiu sobre mim e eu resolvi tirar um cochilo. Eu iria acordar antes da Cindy chegar.
Já estava no quinto sono, quando ouço um barulho horrível vindo do andar debaixo e uma voz chamando pela minha amiga.
Desci correndo, e encontrei Thiago no escuro, sentado no sofá com a cabeça apoiada nas mãos.
– Thiago? O que foi? - me aproximei mais dele, e toquei seu ombro
– Ah é você! Sai daqui! - ele empurrou a minha mão de seu ombro. Ele trocava as letras, e exalava um cheiro de álcool quando falava.
– Não, Thiago! Por quê você tava gritando pela Cindy?
– Nada, não é nada - ele passou a mão ao lado do olho direito, e pude ver ele contraindo a face assim que o fez
Liguei a luz da sala, e no exato momento que fiz isso, ele se cobriu com as mãos.
– Ei - me agachei na sua frente - Olha pra mim - tentei enxergar seu rosto. Notei que sua camisa estava rasgada.
– ME DEIXA, MELINA - ele gritou. Porém quando ele fez isso, abaixei seu par de braços, e consegui entender o por quê dele estar tentando se esconder.
– Thiago... Quem fez isso com você?
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