Deitei em minha cama branca com bolinhas coloridas e fecheis os olhos. Estava com o mesmo all stars preto, uma calça jeans surrada e uma blusa qualquer. Era assim que todo mundo deveria me ver, e não como uma Barbie humana. Suspirei e decidi me levantar. Peguei um estojo de maquiagens simples e o joguei da janela. É um sinal de rebelião. Uma rebelião que me dispus a realizá-la desde o começo da semana. Olhei para o relógio do criado-mudo ao lado de minha cama e lá o número “8:15” piscava em tracinhos rosas. Droga, estava atrasada para o baile de primavera desse ano! Atrasada digamos, o baile começa às 8:30 mas até estar decente, já terá passado de 8:30. Caminhei até o banheiro e fechei a porta. Me despi e tomei um banho de 7 minutos no total, acho. Me enxuguei e me enrolei com a toalha rosa com listras brancas. Sim, as coisas que eu tenho me fazem ser uma Barbie humana, mas não sou! Eu bagunço meu quarto, jogo tudo para qualquer canto, às vezes não tenho modos diante a mesa. Mas eu sou feliz assim, não vou passar meu tempo pensando em como ser organizada. Abri a porta do banheiro, fui até meu closet e peguei um vestido tomara que caia com um tule preto bem armado. Vesti o vestido, coloquei uma sapatilha de veludo preta, peguei minha capa com capuz toda branca, fiz uma rápida maquiagem, algo que destacasse meus olhos verdes. Olhei para a janela e vi que começou a chover, mas uma chuva silenciosa. Depois, mesmo não querendo, acabei olhando para um relógio. 8:22. Comecei a considerar a probabilidade de que não chegarei a tempo no baile. Deixei meu cabelo cacheado solto. Ah, nem me apresentei, me chamo Marie, tenho 15 anos. Acho que por enquanto, essas informações serão o bastante. Peguei alguns balões vermelhos amarrados na porta do meu quarto e andei pelo corredor.

- Você pode me levar para o baile, pai? – pedi, e vi que meu pai estava sentado no sofá esperando alguém.

- Claro. Estava te esperando há algum tempo... Enfim, vamos. – disse ele, se levantando e me guiando até a garagem onde está o nosso carro. Coloquei os balões no banco de trás, entrei rapidamente para que o vento não entrasse no carro e não os fizesse voar para o lado. Meu pai entrou também, e fechou a porta. Em alguns minutos, já estávamos rodando as ruas da cidade. Durante todo o caminho, meu rosto ficou colado no vidro embaçado, esperando ver algo interessante na paisagem, mas não há nada. Depois de 3 minutos, finalmente cheguei ao ginásio onde o baile iria acontecer. Peguei meus balões e desci do carro.

- Tchau, obrigada. – agradeci e corri até a entrada do ginásio. Caminhei pelo corredor, ainda segurando meus balões. Olhava fixamente para a porta principal que levava ao verdadeiro ginásio, mas minha mente estava em outro lugar, então esbarrei em alguém. Era Jason.

- Pensei que não te veria aqui. – disse Jason, me ajudando a levantar.

- Mesmo que não me visse, eu não deixaria te amar. – disse, o beijando. Estava tão distraída com Jason, que acabei soltando os balões.

- Quer mesmo levar esses balões? – perguntou Jason.

- Que se dane os balões. – disse, fazendo Jason rir.

- Vamos?

- Vamos. – assenti, andando até a porta.

Assim que entrei no centro do ginásio, me surpreendi. Havia várias mesas de plástico redondas cobertas por uma toalha de mesa de renda, e com as cadeiras de plástico também. Uma mesa para 5 cadeiras. Em cima da mesa além da toalha de mesa, há os pratos, talheres, taças de vidro e guardanapos feito de pano branco. No centro, em cada mesa, há um vaso de vidro com um buquê de flores de cores, formas e tipo de flores diferentes. O chão de cimento agora é composto por flores de tecido macio, de várias cores. No canto esquerdo, há a mesa onde tem as comidas, doces e etc. Perto da porta, há um palco médio redondo com um piano, um microfone, guitarra, violão, teclado, bateria. Há também duas cadeiras de madeira com a parte do assento de veludo vermelho, que são para o Rei e a Rainha do baile da primavera. No canto direto há uma grande pista de dança para todos dançarem no meio e no final do baile. Olhei para Jason e notei que quando olhou para uma das mesas, sua expressão mudou para uma preocupada. Jason soltou minha mão e correu até a porta dos fundos.

- Já volto! – gritou, chegando até a porta.

- Tá... – sussurrei, olhando para baixo por um tempo. Não iria ficar o baile todo encostada na porta. Observei as grandes janelas do ginásio e vi que ainda estava chovendo, e vai chover pelo resto da noite. Algo tinha que dar errado, mas não seria a chuva. Olhei para a porta dos fundos e Jason ainda não havia voltado. Suspirei e me sentei onde Annie me esperava.

- Onde estão seus balões? – perguntou ela, me olhando.

- Eles não importam mais. – respondi. Olhei em volta novamente e vi que a banda que iria tocar a noite toda acabou de chegar e está subindo a escadinha do palco. Todas as mesas estavam ocupadas, e só a mesa que estou agora está praticamente vazia. Jason entrou pela porta dos fundos novamente e se sentou na minha mesa.

- Onde estava?

- Preparando algumas coisas para o final do baile, é para uma pessoa em especial. – Jason sorri. Não, não poderia ser eu. Jason e eu ainda não somos comprometidos, nosso namoro não é confirmado, pois mais que sejamos próximos demais. Um garçom parou na nossa mesa com uma bandeja com copinhos de brigadeiro, uma garrafa de Coca-Cola, com a outra mão estava segurando um bloquinho com um lápis. Pegou a garrafa de Coca-Cola, a colocou em cima da mesa e a despejou em nossas taças. Colocou vários dos copinhos com brigadeiro na mesa e pegou seu bloquinho e o lápis.

- O que vão querer? – perguntou.

- Doritos, e salgadinhos em geral. Cachorro quente também! – disse Annie.

- Para mim, a mesma coisa. – eu e Jason falamos ao mesmo tempo. Nos olhamos e rimos.

O garçom assente e se afasta da nossa mesa, indo atender outra pessoa.

A diretora sobe no palco e pega o microfone.

- Boa noite, jovens do colégio “Ashby Flamsteed”! – disse a diretora. Segundos depois, um coro de “Boa noite” ecoou pelas paredes e Savera, a diretora, sorriu.

- Bem vindos ao 58º baile de primavera anual! Lembrando todos que, com o concurso de Rei e Rainha, todos são obrigados a votar até as 10:00 da noite, onde às 10:30 realizaremos a conta dos votos e revelaremos os sortudos. Convidei uma banda para tocar para vocês essa noite. – Savera apontou para uma  3 homens e 2 mulheres no canto, se preparando para tocar. – Isso é tudo, um bom baile para todos. – Savera faz uma reverência rápida e sai do palco. Um dos homens pega o microfone.

- Olá, boa noite, sou Whishart, um dos vocalistas. Mas só cantarei poucas músicas, ou melhor, quase nenhuma, hoje a noite é das nossas maravilhosas vocalistas! Vibia, por favor, pegue esse microfone e escolha a primeira música. – uma mulher com cabelo vermelho e um alargador de 5 cm pegou o microfone.

- Com vocês, This Is Me, da Demi Lovato! – disse a mulher de cabelo vermelho. Os outros integrantes da banda pegaram suas guitarras, um foi para o teclado, outro para a bateria e etc. Mas o piano continuou vazio, e isso me deixou intrigada.

- O Doritos chegou. – disse Annie, me despertando dos meus devaneios que estava tendo enquanto olhava o palco.

Peguei o doritos da bandeja do garçom e agradeci.

- Vamos ficar sentados aqui comendo, só isso?  A noite inteira?! – exclamei, sentindo o efeito do tédio.

- Pelo jeito sim... – Annie suspirou. Olhei para Jason, que ficou calado o tempo todo.

- Tá tudo bem? – perguntei baixinho.

- Sim, sim.

- Vamos conversar sobre algo?

- Pode ser.

- Licença, vou ao banheiro, já volto. – disse Annie se levantando e piscando para mim, isso me fez sorrir.

- Hm... Você gosta de batata? – perguntou Jason.

- Você sabe que eu gosto de batata, que tipo de pergunta é essa?! – exclamei rindo.

- Todo mundo conversando sobre algo interessante e nós aqui, falando sobre batata. – brinquei.

- E se eu fosse uma batata, você gostaria de mim? – perguntou Jason.

- Mais do que eu gosto? Impossível.

Jason sorriu. Olhei para a porta do banheiro feminino e vi que Annie estava saindo de lá.

- Chega de batatas por hoje, Annie está vindo ai.