Daniel escrita por Miss A
Na verdade, não havia nenhum lugar naquele aeroporto em que Leonardo ou eu quiséssemos ir, então nos sentamos em frente à uma lojinha de doces.
– Como está se sentindo, morena?
– Nada bem. Parece que daqui a 40 minutos vão me mandar para Vênus.
– Você se lembra? De alguma coisa?
– Lembro de brigar com Jacob pela areia no meu cabelo, de rir das suas piadas, da conversa sobre o vestibular e. E de escutar um barulho do lado direito do carro.
– O médico disse que talvez você se lembre – Continuou ele – Fui o que menos sofreu o impacto. Cheguei a me afogar, mais abri a porta do carro e puxei você pra fora.
– Você me puxou?
– Puxei e desmaiei quando chegamos à beira. Mamãe me contou que dois homens que vinham no sentido contrário e viram o acidente pararam e tiraram meus tios e Jake...
E ele estava chorando. Leonardo, assim como eu, odiava que o vissem ou ouvissem chorando, mais naquela situação, não tinha porque disfarçar.
– Léo – Enxuguei as lagrimas que desfilavam pelo meu rosto – Você acompanhou os enterros?
– Só o do Jake – Ele enxugou o rosto. Estava sendo difícil para ele falar – Passei dois dias internado, e Jake faleceu no terceiro. Foi horrível, morena... Horrível ver o Bobo Italiano imóvel na minha frente.
– Me disseram que ele não estava com o cinto de segurança, como nós estávamos...
– Nem ele, nem sua mãe e nem seu pai – ele tentava se recompor - Demos sorte, morena, e estamos vivos.
– O Bobo da Corte odiava qualquer coisa que o prendesse.
– Menos você, Emily – disse ele numa voz que dava a entender que isso deveria ser óbvio.
– O que quer dizer com “menos você, Emily” – eu disse, numa tentativa débil de imitar a voz dele.
– Você o prendia – ele me olhou nos olhos, tentando me fazer compreender o que eu não queria – Ele fazia tudo para você, não porque fossem melhores amigos.
– Está me dizendo que ele... – não consegui continuar. Uma lembrança esquecida vagava pelos meus pensamentos.
– Estou te dizendo que ele era apaixonado por você, Emy – ele parecia impressionado com a minha falta de compreensão.
– Jake sabia que éramos só amigos.
– Você deu um belo fora nele no 1° ano – ele riu enquanto a minha expressão era séria – Ele me contou do beijo mal sucedido, morena.
A lembrança mais ruim e ridícula de toda a minha amizade com Jacob voltara. Que ódio! Leonardo era campeão em me fazer perder a cabeça.
– Aquele Bobo da Corte idiota – olhei com raiva para Leonardo e ele ainda ria – Ele te contou?
– Contou. E sabe o que eu acho? – ele próprio respondeu – Acho que não devia ter sido tão rude com ele!
– Eu não fui rude – tentei me defender – Disse a ele que eu não iria correr o risco de estragar uma amizade da vida toda...
– O que não o fez parar de amar você.
O que Leonardo dissera só me fez sentir culpa. “Jake é seu cachorrinho” disse-me uma vez Carla “Ele é lindo e está sempre aos seus pés. Não entendo como não fica com ele de uma vez!”. Mais eu não olhava para Jacob com esses olhos. Ele era meu melhor amigo e ponto final.
– Mais isso não importa mais – Leonardo balançou sugestivamente a cabeça.
– Além de sermos só nós dois – continuei – ainda vamos ter que pagar uma tarifa abusiva de companhias telefônicas para nos falar – Leonardo riu. Ele tinha um sorriso lindo, ao qual eu nunca dera o devido valor.
– Quer tomar um sorvete, Emy? – Ele me perguntou – O ultimo juntos, antes de você ir.
– Claro – eu o agradeci, com um sorriso bobo no rosto – Mais antes... O que acha de me emprestar seu celular? Quero falar com a Carla antes de ir.
– Tudo bem – ele tirou do bolso o seu Nokia preto, ao qual Jacob espatifara o visor, logo depois que Leonardo acabara de comprar.
Lembrei-me rapidamente do número fácil que Carla escolhera a 2 anos atrás. Disquei e o nome “Carlinha” apareceu no visor.
– Oi Leonardo – uma voz doce me cumprimentou.
– É a Emily, garota! – ri dela numa tentativa besta de me sentir melhor – Liguei para me despedir.
– Despedir? – a voz dela era incrédula – Não entendi, Emy.
– Daqui com – olhei rapidamente para o relógio digital do mp4 – 17 minutos, estou indo para o Brasil.
– O que? – ela parecia assustada – Como assim? Você já recebeu alta? É pegadinha, isso?
– Quem dera fosse pegadinha – lamentei – Acredita que meu pai deixou por escrito que deveriam me mandar para a cidade natal da minha mãe, caso algo acontecesse com eles?
– Para de graça! – disse ela rindo – Eu sei que você só consegue pronunciar umas 5 palavras corretas em português...
– Na verdade – lembrei das várias aulas que minha mãe me dera do seu idioma. Eu sabia o suficiente para não parecer uma turista que compra qualquer coisa sem saber o que é e se vale realmente o que está sendo pedido – Eu sei muito bem esse idioma.
– Está no aeroporto com Leonardo? Aquele irresponsável não me disse nada! Eu poderia estar ai com você!
– Não briga com ele, Carla. Ele está tentando parecer o mais normal possível, mais no fundo, talvez esteja pior do que eu.
– E como eu vou ficar aqui sem você? – sua voz agora era pesada – O que nós vamos fazer Emy? E a escola? O baile de outono que iríamos começar a organizar?
– Você vai organizar, e vai ser um sucesso – eu disse, tentando encorajá-la – Cuida do Léo pra mim, Carla? Por favor... – minha voz falhou. Será que eu nunca pararia de chorar?
– É claro que cuido, Emy – e estávamos nós duas, em prantos ao telefone.
– Desculpe Carla, – Leonardo tomou o celular de mim – Mais ela não pode mais falar – e ele desligou o celular para que Carla não pudesse retornar a ligação.
– Por que fez isso?
– Porque faltam 11 minutos para você ir embora, e eu preciso te ver se sujar de sorvete pela ultima vez, antes de você entrar no avião.
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