Daniel escrita por Miss A


Capítulo 1
1 . Notícias


Notas iniciais do capítulo

Hey! Este é o primeiro capítulo de um romance fantasioso, cheio de descobertas a serem feitas.
Boa leitura ! Let's Go!



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O médico louro e de sorriso simpático do qual eu não gravara o nome tinha acabado de me entregar o formulário de Alta quando Alberto, o advogado corpulento e com cara de leão marinho do meu pai adentrou o quarto seguido de perto por uma mulher jovem, mais visivelmente abatida e dona de olhos cor de céu que não me eram estranhos.

Os dois cumprimentaram o médico que logo depois acenou com a cabeça em minha direção e saiu ao encontro de uma enfermeira que passava no corredor do hospital.

– Imagino que esteja cheia dessas paredes brancas e desses aparelhos todos a sua volta, Emily. – disse o advogado simpático, que me visitava pela segunda vez – Essa é Christina, a irmã mais nova de sua mãe.

– Olá, flor – minha tia, da qual eu não recordava nada, me cumprimento.

– Léo e Jake! Eles ainda estão no hospital? Durante esses cinco dias que eu estive acordada ninguém me falou nada sobre eles nem o que houve antes do acidente – Não dava pra falar com a minha tia agora. As perguntas estavam entaladas na minha garganta e eu precisava aliviar meu coração.

– Não, eles não estão mais no hospital. Seu primo Leonardo já está na casa dos pais aqui em Richmond – respondeu-me calmamente o advogado.

– O.k. – Léo estava bem, graças a Deus. Mas porque ele não havia mencionado logo Jacob, já que ele também morava “aqui em Richmond” e não estava mais internado? – Meu amigo... Meu melhor amigo já está em casa?

– Jacob Henrique Di Veneto infelizmente veio a óbito 72 horas depois de dar entrada no hospital.

– Veio a óbito? – minha voz saiu um sussurro – Jake está morto, é isso? O senhor está me dizendo que nunca mais vou poder ver meu melhor amigo, assim como nunca mais vou ver meus pais?

– Infelizmente sim, Emily. Agora se acalme que você não está em condições de se exaltar.

Meus olhos já marejados, agora eram como uma cascata de lágrimas. As lembranças de momentos felizes com meu pai, onde ele me abraçava e me chamava de princesa e da minha mãe dizendo “Nós te amamos, meu amor” depois de eu acordar falando que ninguém gostava de mim por não me deixarem dormir até mais tarde seriam agora realmente um passado distante, e aquelas vozes, tão doces e que eu amava, não existiam mais. E, além disso, além de não ter mais aqueles que sempre foram meus anjos da guarda na terra, meu melhor amigo, o irmão que eu nunca tive, meu diário vivo estava agora sozinho, em algum lugar de um dos cemitérios da capital da Virgínia junto aos meus pais. O meu Bobo da Corte italiano nunca mais vai sorrir e me fazer rir.

Lá fora, no Hall de entrada do hospital, quando eu finalmente parei de chorar, Dr. Alberto entregou uma pasta amarela à Christina.

– Se estou certo, você acabou de completar 17 anos – Não era uma pergunta, então o deixei prosseguir – Então, segundo as leis brasileiras, não pode morar sozinha, viajar sem autorização, ingerir bebida alcoólica ou, apartir de hoje, desobedecer a sua tia e tutora.

– Tudo bem, mais que história é essa de leis brasileiras? E – eu me dirigi a minha nova tutora, olhado agora de perto, ela não parecia ser mais de três anos mais velha – eu não me lembro de você, ou de mesmo ir visitá-la, então vai morar na minha casa, comigo?

– Não. Não exatamente – Ela sorriu carinhosa. Pra uma pessoa que nunca teve contato comigo ela estava sendo bem compreensiva.

– Emily, é você que ira morar na casa dela. Em Macapá, no Brasil.

– Brasil? – Eu não queria magoar a minha nova tia, então pensei duas vezes antes de falar mais alguma coisa.

– Sim – Christina me respondeu – Você não conhece, mais a cidade, o país em si, é um lugar lindo.

– Eu não posso sair dos Estados Unidos! – minha voz era de revolta – Eu nunca... Eu nem sei português! Vocês não podem simplesmente me mandar para outro país! Meus tios... Quero falar com eles!

– Vamos passar na sua casa, Meredith e Alfredo estão esperando para conversar com você – O modo como ela falava era estranho. Imaginei que fosse por ser brasileira.

O carro de Alberto era um Sedan prata bastante silencioso. Durante todo o caminho, fiquei me perguntando se Christina era casada e tinha filhos e como é que ninguém tinha dito que eu tinha uma tia no Brasil e porque eu não conhecia o Brasil.

Richmond sempre foi a cidade orgulho de seus moradores. Pequena, pacata e bem preservada, a cidade em que nasci possui até hoje, casas Vitorias, de beleza e magnitude tão bem preservadas que parecem ter sido construídas ontem.

O James River Park, pelo qual acabávamos de passar, é um lugar lindo, onde você pode escolher entre caminhar, praticar mountain biking, escalar em rocha ou árvores, praticar rafting, caiaque ou nado. Os menos radicais também podiam escolher entre curtir um piquenique, tomar sol e pescar e o mais legal era que o parque era mantido com a ajuda de voluntários que, além de ajudarem com doações, metiam a mão na massa em mutirões de limpeza. Por diversas vezes passei tardes ali, muitas delas em piqueniques com a turma do colégio, outras conversando com Jacob nas raras vezes em que Leonardo não estava, e outras com meus pais, quando eu ainda era pequena.

O meu bairro não era movimentado ou tão pouco violento, mais também não ostentava o brilho das casas Vitorianas. As pessoas que lá moravam andavam sempre tranquilas das suas casas ao mercado, à padaria, à lojinha de roupas da esquina de uma das ruas ou a casa de um de seus vizinhos. Quero dizer que a maioria das pessoas se conhecia e quase nunca se via sorrisos ou olhares diferentes.

A Alameda das magnólias tinha alguns buracos, dos quais meu pai nunca conseguia desviar, ele arrancava risadas altas de qualquer pessoa que o visse reclamando do Prefeito. Ele gesticulava de modo engraçado e até espantoso e os pais de Jake, Marieta e Ricardo Di Veneto sempre o ajudavam, só que chingando o presidente da Associação dos Moradores. Como será que estariam se sentindo? Concerteza, tão desamparados quanto eu...

Jake morava duas casas depois da minha, nos conhecíamos desde quando tínhamos cinco anos e sem querer, batemos de cabeça enquanto eu corria de Leonardo, que queria me jogar terra. Nós dois caímos sentados um de frente para o outro na calçada chorando e quando nos demos conta, estávamos rindo juntos e foi assim que tudo começou, pelo menos foi o que os nossos pais nos contaram. Como minha mãe gostava muito também de Leonardo, ele sempre estava em casa comigo e com Jake, e todos nos chamavam de os Três Mosqueteiros. E quando não estávamos na minha casa, podia se ter certeza que estaríamos na dele, que chamávamos a 4 anos atrás de Covil dos Piratas. Fechei os olhos para não ver a casa azul de dois andares.

Cada parte de casa era um retrato do bom gosto da minha mãe. Dona Márcia amava flores, e de três em três dias, meu pai comprava tulipas e margaridas novas para substituir a dos vasos espalhados pela casa. Havia também muitos quadros e porta-retratos, na mesinha de centro, em frente ao sofá havia dois, em um estávamos os três rindo depois de um dia no parque e no outro estavam só eles, quando ainda namoravam.

O irmão do meu pai, Alfredo Meyer estava sentado no sofá e segurava alguns papéis na mão esquerda. Meu tio ostentou um sorriso triste ao me ver.

– Sente-se ao meu lado, Emy – ele pediu, ao ver minha expressão de desolação – Vamos conversar.

– Diz para mim, tio – minha voz era quase uma suplica – fala que estão mentindo, por favor!

– Eu não posso meu amor.

– Tio – As lágrimas quentes despencavam pelo meu rosto – A casa dos meus pais, minha escola, meus amigos, essa é a minha cidade. Richmond é o meu lugar.

– Meredith e eu vamos cuidar da casa que agora é sua, até você decidir voltar, Emy.

– Seus pais deixaram por escrito o que deveria ser feito, caso algo acontecesse com eles – o advogado voltava a falar – Sua guarda passaria automaticamente para a sua tia brasileira e você ficaria aos cuidados dela, e seus tios Meredith e Alfredo Meyer cuidariam dos seus bens nos Estados Unidos da América e ficariam encarregados de passar todo o mês uma contia para Christina e outra para você, enquanto morar com ela.

– Era desejo de seu pai que você fosse para o Brasil, Emily – Recomeçou meu tio – Ele me deixou bem claro que seria melhor se você conhecesse outra cultura, outra língua, que você conhecesse a família da sua mãe e que eu não requeresse sua guarda.

Vencida, me levantei e segui pelo corredor até meu quarto. Andei rápido e tentando não prestar muita atenção aos detalhes, pois só me fariam ficar pior. As paredes azuis do meu quarto me fizeram lembrar que um dos meus moletons deveria estar no quarto dos meus pais. Puxei três malas que estavam em cima do armário e as coloquei em cima da cama e depois joguei meu foco para as roupas que eu iria levar. Se havia uma coisa que eu sabia sobre a cidade e o país natal da minha mãe, era que o calor era intenso, e que se um dia eu fosse até lá, só deveria levar minhas regatas. Ok, pensei. Vou levar é tudo que eu puder!

Depois de fechar as malas com o que eu vi de mais importante, desde roupas aos produtos de beleza e para cabelos, guardei na minha mochila, o notebook, o celular e seus respectivos carregadores e cabos USB junto com o meu caderno e os materiais de escola. Decidi levar o mp4 e seu fone que Carla, minha melhor amiga me dera no meu aniversário de 14 anos, no meu bolso. Tudo pronto não? Não... O meu moletom!

E lá estava ele na ponta da cômoda, o perfume da minha mãe, era doce eu conseguia sentir, tão suave quanto a seda da blusa preferida dela, o quarto estava impecavelmente arrumado, do modo que ela deixou. Eu não podia mexer em nada. Eu não queria mexer em nada, então puxei o moletom do cabide e sai, sai antes que as lagrimas voltassem a cair no meu rosto.

– Você poderá nos visitar nas suas férias escolares, Emy – O sorriso triste reaparecera no rosto do meu tio – Ou, se Christina não for contra, Leonardo poderá passar uns dias com você.

– Acho a segunda opção melhor – ele me observou incrédulo – Odeio longas viagens de avião!

– Claro – ele sorriu novamente, agora com animo a mais – Vocês tem que ir. Meredith ligou do aeroporto. As passagens já foram compradas.

– Onde está Leonardo? – perguntei sem acreditar que não me despediria do meu primo.

– No aeroporto, Emily. Junto com a mãe.

– Você não está se esquecendo de nada, querida? – Christina sorria. Seus olhos... Azul cor de céu... Como... É claro! Como os olhos da minha mãe.

– Só falta uma coisa – Sai em disparada até o meu quarto. Como não havia me lembrado do álbum de fotografias? Papai, Mamãe, minha família e Jacob estavam lá, estavam lá comigo e todos os outros amigos da Escola de Ensino Médio e da minha antiga equipe de natação.

Dr. Alberto colocou minhas malas no porta-malas enquanto, dentro do carro, Christina e eu esperávamos.

– Você que ir ao cemitério, Emily?

– Não – Eu devia ir, mais se fosse, meu estado emocional pioraria.

– Talvez você devesse ir, mas entendo você. Vamos direto para casa – Disse Christina. Para a sua casa, você quer dizer, pensei.

Eu não quis pensar em Jacob ou em meus pais. Não quis pensar em nada, muito menos, que estaria indo embora da minha cidade. Peguei o mp4, coloquei o fone e aumentei o volume até sentir que machucava os meus ouvidos. Decidi me concentrar na letra da musica, em tentar entende-la e segui de olhos fechados durante todo o caminho para o aeroporto.

Christina precisou me cutucar várias vezes até eu realmente perceber que já estávamos no estacionamento. Levantei e caminhei em silêncio ao encontro de meu primo e minha tia, depois de Christina dizer que estariam sentados no Mcdonalds. Segurei as lagrimas para não chorar antes de chegar até eles.

– Meu amor – Tia Meredith abriu os braços para me receber, ela era emotiva demais, já estava chorando – Eu não sei o que deu na cabeça do seu pai! Te mandar para tão longe!

– Não sei como vou ficar sozinho aqui! – quem agora me abraçava era Leonardo. O meu primo alto e de cabelo castanho claro tinha braços grandes e musculosos, graças ao futebol americano que jogava no colégio. Seus olhos castanhos estavam marejados, o que me fez pensar na força que ele estava fazendo para não chorar na nossa frente.

– E eu não sei como vou ficar daqui pra frente sem ter você e Jacob nos meus calcanhares – me pareceu uma boa tentativa de fazê-lo sorrir.

– Vocês dois ainda tem um tempo pra se despedirem – minha tia agora tentava sorrir – Não vai haver problemas se voltarem daqui com 40 minutos.



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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, postarei em breve!

(Não seja fantasma, comente!)



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