O Que É Amar? escrita por Hikari


Capítulo 1
A viagem para o passado.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Silena caminhava silenciosamente nos arredores da Casa Grande. Não conseguia se conformar com a informação que acabara de receber.

Seu pai havia acabado de lhe dizer o que havia acontecido com sua mãe, o que realmente havia acontecido.

Sempre pensara que ela havia morrido por alguma batalha que estava enfrentando, seu pai nunca tocava nesse assunto e ela entendia que era muito doloroso para ele se lembrar.

Mas agora, ela sabia.

Sua mãe havia morrido no parto, quando ela havia nascido.

—Por que ele não me contou desde o início? –Silena refletia para si mesma chutando uma pedra a seus pés, seu pai havia dito que era para que ela não se culpasse pela morte da mãe, mas agora... Era agora que ela estava se culpando ainda mais.

Havia ganhado uma carta da mãe. Silena havia passado a ponta de seus dedos em suas letras bem traçadas e relido aquela carta milhares de vezes. Principalmente à parte em que ela disse que a amava.

Mas o que era amar?

Ela queria muito saber disso.

A garota começou a mexer no seu colar de contas do acampamento, ela tinha aquele colar desde que nasceu, já como praticamente havia nascido naquele acampamento, e ficava enroscando eles nos dedos quando ficava nervosa ou frustrada, ou até mesmo quando se concentrava em pensar em algo, como estratégias ou em provas que ela tinha que arcar. Havia seis contas no cordão, inclusive o anel de casamento de sua mãe, de que ela nunca havia soltado desde que seu pai lhe havia dado. Era um lindo e delicado anel prateado, e ao invés de pérolas ou diamantes, uma pequena concha azul marinha decorava o simples anel bem manuseado.

Silena olhou para os lados e quando viu que não havia alguém por ali, ela adentrou furtivamente a Casa. Queria respostas, queria saber mais sobre a mãe.

Queria poder vê-la.

Assim que pensou isso, Silena balançou a cabeça e se repreendeu. Isso era uma coisa impossível. Simplesmente não podia se dar o luxo de pensar sobre aquele assunto. Não queria se iludir.

Por estar dispersa em pensamentos, Silena, sem querer, tromba com a mesinha que havia por ali, fazendo com que derrube uma latinha de refrigerante no chão o que fez um barulho surdo que para ela mais pareceu um estrondo.

Apressando-se ela pegou a latinha e a colocou de volta na mesa, correu para a sala seguinte assim que ouviu passos de cascos vindo de fora.

—Mas o que foi isso...? –Quíron entrou na sala e olhou ao redor, franziu o cenho e foi até onde, segundos antes, estava Silena. –Hum... Curioso.

E assim dizendo, ele saiu. Silena soltou o ar –que até então estava preso -, aliviada.

—O que pensa que você está fazendo? –uma voz a sobressalta e ela vira, quase morta de susto.

—Apolo? O que você faz aqui? –ela exclama, boquiaberta olhando para o deus da música, da profecia, do arco e flecha, da medicina, ou simplesmente como ela gostava de denomina-lo, do sol.

—O quê? Por que parece tão surpresa? –ele pergunta presunçoso, caindo em uma das poltronas com os pés apoiados na mesinha com tampo de vidro à sua frente.

—Por quê? Vamos ver... Vocês nunca aparecem por aqui, talvez? –Silena retruca, olhando-o atentamente em busca de respostas.

Apolo suspira e leva as mãos para trás da cabeça, olhando para cima, no teto.

—Qual o problema se eu quiser visitar meus sobrinhos e filhos e... Semideuses? –ele argumenta e então com um olhar fulminante de Silena volta a encarar o teto. –Está bem, você ganhou dessa vez.

—Então. Estou atrapalhando alguma discussão que quer ter com Quíron? Ou será que veio visitar o “querido” Sr. D?

Apolo bufa com descrença e a olha pasmo:

—E se eu disser que é para ver você?

—Me ver? E o que você quer comigo? Se for para convencer mais alguma mortal a sair com você eu to fora. Não vou fingir mais ser sua sobrinha indefesa e perdida para que um tio como você apareça e me “resgate”.

Apolo ri e murmura:

—É... Bons tempos. Mas não, não é por causa disso, apesar de qualquer dia desses eu queira tentar de novo fazer essa atuação.

Silena balança a cabeça, não acreditando no que o deus dizia, ou melhor, ficando entediada de ter que fazer aquilo quase todo mês, para não se dizer por semana.

—Voltando ao assunto. –Apolo espreguiçou-se e levantou, chegando perto da menina, que já havia conseguido alcançar sua cintura na altura. –Eu vim aqui para lhe dar uma benção.

A garota se espantou tanto que se engasgou com a própria saliva. Nunca pensara que receberia uma benção vinda dele. Se bem que fazia um bocado de coisas que ele ordenava.

—Uma benção? –ela repetiu. –E... Uma benção?!

—É, sim, criança. –Apolo sorri amigavelmente, Silena realmente considerava a possibilidade de que o mundo poderia acabar amanhã.

—Por que você quer me dar uma benção, assim, do nada?

—Hm, acho que deuses como nós somos assim, sempre fazemos as coisas por impulso. –ele dá de ombros, mas Silena sabia que não era apenas por isso, algo... Algo o incomodava.

—Aham... –ela falou, pouco convencida.

Apolo esfregou as mãos e depositou-as no alto da cabeça de Silena, recitou umas palavras com os olhos fechados e logo se afastou.

—O que você fez? –Silena pergunta, atordoada inclinando a cabeça para o lado. Ela se sentia ligeiramente diferente, seu corpo começou a formigar e seu estômago se revirou, mas tão repentino como começou, ele parou e tudo voltou ao normal. Um brilho reluziu em sua cabeça e logo desapareceu.

—Uai, o que você acha que eu fiz? Dei-lhe minha benção, oras. Não se sente diferente, não?

Silena olha para Apolo ainda sem saber a porquê ele fez aquilo.

—Bem, obrigada... Eu acho.

—É, não é todo dia que se ganha uma benção de alguém como eu, não é? –ele fala sarcástico e com o sorriso arrogante, porém temeroso ao mesmo tempo, então diz de repente: -Tenho que ir, criança. Espero que dê tudo certo.

—O quê? O que dê tudo certo? Apolo, o que você está falando... –Apolo rompe em um redemoinho de luz ofuscante e Silena tem que proteger os olhos com as mãos pela claridade. Ela continua ali, encarando o vazio, mesmo depois de ele ter ido.

“Então é assim? Ele vem, dá sua benção e vai embora? O que está acontecendo?” Ela pensa, começa a revirar seu colar de contas e acaba tocando no anel de sua mãe. Suspira, pesarosa.

Queria que ela estivesse lá para ajuda-la e orienta-la. Nesse exato instante, ela não sabia o que fazer, e ela faria de tudo para ter seu conselho. Para poder vê-la, ou até mesmo para poder apenas escutar o sussurro de sua voz.

Queria ouvi-la dizer aquelas palavras que a haviam deixado tão confusa. Queria ouvi-la dizer “eu te amo” para ela, pessoalmente. Queria que ela explicasse a ela o que isso significava.

Como se ama alguém? Como ela sabia que ela a amava, se ela ao menos a conhecia? Sua mãe nunca a conheceu. Nunca.

Nunca tivera a chance. Assim como ela mesma, que vivia de lembranças da mãe por fotografias e por objetos que seu pai lhe mostrava, assim como a própria descrição que ele dava.

Queria muito poder conhece-la de verdade. Sabia que devia ser uma brava guerreira.

Andando pela sala, ela sente algo estranho se remexer dentro de si. Algo estava diferente dentro dela a impedia de continuar a andar.

Parando no meio da sala, perto da poltrona onde Apolo havia se sentado, ela cai, segurando a barriga e apertando-a para ver se melhora a sensação desconfortável e nauseante. Sabia que se vomitasse ali teria que limpar depois com a própria escova de dente por causa do Sr. D que era pirado pelos tapetes que tinha.

Depois se contorceu e o mundo virou uma grande e escura paisagem.

*---*---*----*-----*------*

Silena acordou em um lugar completamente diferente.

Estava enrodilhada por plantas que se entrelaçavam na sua perna, ela desvencilhou-se e conseguiu se sentar, segurando a cabeça zonza.

“Onde estou?” –era a única coisa que pensava, olhava em volta, mas aquelas árvores não pareciam ser as mesmas da do acampamento. A sua volta, tudo era desconhecido.

“Bem vinda ao passado!” –uma voz retumbou na sua mente, fazendo-a escorregar na terra quando estava tentando firmar as pernas bambas. Ela olhou confusa ao redor novamente, mas não havia ninguém ali. “Não se preocupe, sou só a sua consciência”. –assegurou a mesma voz.

“Pare de confundir a garota, Apolo”. –uma mais nova diz, Silena finalmente percebe que está falando com o aclamado Apolo e Hermes. “Não ligue para essas bobagens, ele fez essa estupidez e agora temos que lidar com isso, não tem nada a ver com você”.

“Como se Apolo fazendo estupidez fosse novidade.” –outra voz diz, parecendo muito com Ártemis.

“Ah, por favor, gente. Eu sei que vocês me amam”. –Apolo afirma convencido.

A cabeça de Silena fica subitamente silenciosa.

“Muito obrigado pela sinceridade”. –Apolo finalmente o quebra, agora aparentando uma leve melancolia.

“Voltando ao assunto, Silena. Temo dizer que você voltou ao passado, não conseguimos envia-la de volta porque certas criaturas garantem que isso não aconteça...” –a voz de Hermes continua.

“O quê? Já disse que não fazia a mínima ideia de que faria isso um dia! Quer dizer, foi o eu do futuro! Bom, se bem que...”.

“Enfim, como ia dizendo”. –cortou Hermes novamente. “Teremos que dar algumas instruções, antes de você continuar”.

Silena estava apoiada em um tronco de árvore, com dor de cabeça. Aquela conversa não estava indo a lugar nenhum.

—Espere, eu não consigo entender. –ela diz em voz alta, esperando que eles escutem-na, ela escuta um suspiro em sua cabeça.

“Silena, você, aparentemente, voltou ao passado. Ou seja, tudo o que aconteceu de onde você veio... ainda vai acontecer”. –uma voz calma responde, Silena lentamente compreende o que está acontecendo, e uma brecha de esperança de salvar a mãe reacende em seu coração.

“Digamos que, se isso ainda vai acontecer, temos que fazer o máximo para não altera-lo, entende o que eu digo? Você não pode dizer quem você é para as pessoas que encontrar, ou tentar mudar o que irá acontecer”. –a voz de Hermes retorna, fazendo com que seu coração pese novamente. “Sei o que está pensando, mas não podemos mudar o que irá acontecer, Silena. Já passei por isso e o máximo que pode acontecer é piorar a situação”.

Ela fica em silêncio, talvez seja verdade. Mas se não poderá mudar o que vai acontecer, por que ela voltara, afinal de contas? Isso era injusto, além de perda de tempo e tortura. Ela estava no passado, sua mãe ainda estava viva. Queria encontra-la, queria desfrutar pelo menos seus últimos momentos com ela.

Mas...Por que ela devia ignorar uma chance de salva-la no futuro?

“Não tente contornar a situação, criança. Já digo e repito: Você não pode mudar o que o destino já formulou. Tudo irá acontecer da mesma forma, nem que for de maneira diferente”. –Apolo diz, como se soubesse exatamente o que Silena pensasse, o que ela não duvidava muito de que podia acontecer.

—Então por que me trouxe de volta? –ela diz, pisando duro e se recusando a ceder. Não queria perder a sua oportunidade de mudar as coisas.

“Não tente brincar com o espaço e o tempo, Silena. Isso não vale a pena”. –a voz calma diz.

—Como não? Eu posso fazer isso! Esse deve ser a única resposta por eu ter vindo aqui! –Silena reclama.

“Eu sei o que é sentir isso, Silena. Afinal, é a minha filha”. –então ela reconhece a voz, quem está falando com ela é a sua avó, Atena.

Ela não rebate. Não quer entrar em desacordo com sua avó. Talvez ela tenha razão, afinal, Atena sempre tem razão.

Mas então por que ela fora enviada para lá?

“Silena, tenho que passar as instruções antes que Zeus descubra”. –a voz de Apolo reaparece. “Ninguém pode saber que você veio do futuro, ninguém. Isso pode complicar as coisas depois, e não queremos isso. Não diga nada que poderá influenciar de algum jeito o que irá acontecer, isso pode mudar completamente o que estará por vir, e por último, tente não se destacar, tem que passar de despercebida, está ouvindo?” –ele completa, Silena assente com a cabeça, esquecendo-se de que ele não pode vê-la.

—Sim, senhor. –corrige, aprumando as costas.

“Gostei dessa garota”.–uma voz grave e nova diz, Silena imediatamente sabe que é Ares.

“Caso não cumprir essas regras, considere-se uma pessoa morta”. –a voz de Hera ressoa em sua cabeça e a faz estremecer.

“Não se esqueça...” –Apolo começa, mas é interrompido por um ruído que toma conta da cabeça de Silena e no final desaparece, deixando um grande oco no lugar das vozes dos deuses.

—Espera! Eu ainda... Não entendi... –Silena estava sozinha, se sentia solitária e sem ninguém, na sua cabeça as vozes dos deuses não voltaram e ela se sentiu extremamente só naquele lugar que nunca havia conhecido.

Silena suspirou, tentou se lembrar o que estava pedindo antes de vir para esse tempo, para tentar entender o porquê voltara.

Queria conhecer sua mãe, queria vê-la.

Queria saber o que era amor.

Onde ela estava?

Ela levantou-se, sentindo-se bem melhor do que antes, avançou pela floresta até escutar uma voz familiar.

—Sim, quem imaginaria... –era seu pai. Seu pai estava ali.

Por um momento ela esqueceu-se que não estava no seu tempo e correu para encontra-lo.

Talvez ele soubesse onde estavam! Talvez ele pudesse dizer a ele que lugar estranho era aquele e poderia leva-la de volta ao acampamento.

Mas parou quando o viu. Ele parecia bem mais novo, e não estava sozinho.

Ele virou a cabeça e a viu, Silena escondeu-se rapidamente atrás de uma árvore com o coração batendo forte em seu peito, e enquanto espionava viu aquela pessoa que tanto procurara. Que tanto queria conhecer.

Ali, com seus cabelos longos e loiros cacheados, como o dela própria, seus olhos cinzentos fixados onde ela estava, estava sua mãe. Annabeth Chase Jackson.

Silena, por um momento, pensou que seu coração - naquele momento que havia se acelerado - houvesse parado abruptamente. Ela arfou e uma sensação quente apareceu dentro dela, um ardor subira pelo seu corpo.

Ela a havia finalmente encontrado.

 


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Notas finais do capítulo

Bom, eu devo continuar?? Não esqueçam de comentar e me dizer. (: