The World Of Evie escrita por CassBlake


Capítulo 7
Mary


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap gente!!
Boa Leitura

Atualizado (19/01/14)



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– Evie querida, terei que dar a comida na sua boca de novo? – perguntou a Srt. Daley suavemente, mas de certa forma com firmeza.

Senti-me gelar apenas de imaginar ter que passar por isso novamente e antes que pudesse pensar comecei a comer a comida da bandeja que ela colocou em meu colo.

– Isso mesmo, continue assim e talvez eu traga um chocolate cheio de açúcar e carboidratos para você! – falou me incentivando enquanto anotava coisas em sua prancheta.

A Srta. Daley ou “simplesmente Mary” como ela gostava de repetir havia sido minha única companhia por cinco longos dias, a mulher em torno dos quarenta anos tinha uma aparência adorável, seus cabelos loiros não tinham sequer um fio branco, a pele estava levemente marcada por rugas, tinha um sorriso alegre e seus olhos verdes estavam sempre alerta para qualquer irregularidade.

Ela era sempre gentil e adorável, eu não estava acostumada a ter pessoas sendo boas comigo, eu já tinha deixado de sonhar com alguém sendo bom comigo, eu sempre dizia a mim mesma que eu não precisava de ninguém, que eu era forte e que pessoas fortes não se importam em viver sozinhas, mas talvez eu fosse mais fraca do que imaginava, pois pensar que alguém pudesse se importar comigo me deixava sensível e eu não queria ser sensível.

Mary estava apenas fazendo o trabalho dela como enfermeira, mas cada vez que ela vinha e sorria para mim ou perguntava como eu estava não podia evitar me alegrar, nunca tinha me sentido assim, alegre, nunca tive ninguém para me dar ordens tão bobas como a de comer toda a comida que estava no prato ou de não me mexer muito bruscamente para não desfazer os pontos ou machucar minhas costelas fraturadas que ainda estavam se curando.

– Porque parou de comer? Vamos Evie, tem que comer para ficar forte! – levantei meu olhar para Mary que me olhava com autoridade e recomecei a comer a comida.

– Eles não vieram hoje? – perguntei entre as colheradas, minha voz era suave, era estranho falar tão normalmente com Mary, quase como uma garota normal há tendo conhecido há apenas cinco dias.

Uma garota normal, eu nunca seria normal.

Depois da visita de Jack e Lily não recebi mais ninguém, Jack não voltou e nem Ross, não sabia por que ficava tão triste ao pensar que nenhum deles veio me visitar novamente, talvez seja a companhia de Mary que esteja me tornando fraca, fez a esperança de ter alguém se importando comigo voltar, aquela esperança agonizante de ser amada por alguém, de ter uma vida normal. Eu odiava aquela esperança.

– Não, mas eles mantêm aqueles guardinhas irritantes na porta! – a voz de Mary estava cheia de fúria e percebi que era por isso que eu gostava dela, por que ela não era gentil comigo por sentir pena de mim, eu odiava a pena.

– Ainda vai me dar o chocolate? – perguntei colocando a última colherada na boca.

– Claro que sim – disse sorrindo para mim, sem nenhum rastro da fúria de antes. – E talvez eu consiga uma coca-cola também. – ela piscou para mim enquanto recolhia minha bandeja vazia.

Eu dei um sorriso para Mary, eu sabia que deveria mais parecer com uma careta, nunca tive motivos para sorrir antes, não sabia como fazer isso do jeito certo agora.

Eu nunca tinha provado chocolate antes de Mary me dar um, Jerry não gostava de comprar coisas caras e de acordo com ele chocolate era caro e cada vez que ele me dizia isso eu pensava em que ele gastava todo o dinheiro que as drogas e mercadorias ilegais lhe traziam. Mas agora depois de provar como era bom me tornei uma viciada, chocolate era bom, comer uma barra de chocolate me deixava alegre, era estranho me sentir alegre, nunca tinha me sentido assim antes, com essa leveza, com essa paz, eu gostava.

– Não tente se levantar sozinha, vou saber se você colocar sequer um dedo para fora desta cama, entendeu?

– Sim, não vou me levantar – e não iria mesmo, não queria ter a única pessoa que parece gostar de mim aborrecida comigo.

– Certo – Mary me lançou mais um olhar antes de sair pela porta.

Mesmo com a porta fechada pude ouvir Mary ameaçando o guarda que estava na porta, suas ameaças eram sempre as mesmas: “Perturbe a Evie e vou arrancar suas bolas fora” ou “entre neste quarto sem minha autorização e vai ser um homem morto”, não sabia o porquê de ela ter esse cuidado, mas eu gostava disso, me sentia estranhamente cuidada.

Observei o quarto branco enquanto esperava, Mary havia trazido algumas flores ontem, Violetas, por mais que eu olhasse para as flores não conseguia imaginar o motivo do porque Mary era tão boa comigo, quase como uma mãe naqueles filmes da TV.

Não posso me deixar levar por isso, logo vou sair do hospital e Mary vai esquecer que eu sequer existo.

– Você parece está melhor.

Olhei para porta completamente surpresa apenas a tempo de ver Ross se virando para dar uma ordem em voz baixa para o guarda e fechando a porta atrás dele.

Tão bonito, não pude deixar de admirar sua beleza, seus cabelos preto estavam úmidos e bagunçados, as pontas de sua calça jeans estavam ocultas pelo coturno preto, ele usava uma camisa que marcava os músculos de seu peitoral junto com sua jaqueta preta de couro aberta e diferente de Lily, Ross levava seu coldre na coxa, deixando sua pistola 9mm a mostra.

– Aqui, vista essas roupas para podermos ir embora logo. – falou se voltando para mim com uma sacola que eu não tinha visto antes, por um momento pensei que ele iria me jogar a sacola de onde estava, mas para minha surpresa ele veio até a cama e a colocou quase que gentilmente no eu colo.

– Mas eu ainda não recebi alta – falei de repente sentindo-me nervosa, eu teria que ir com ele agora?

Ele nem sequer pestanejou.

– Bem, acabou de receber. – informou calmamente.

Fiquei apenas olhando para ele, eu não queria ir, ainda não, queria sentir por mais um momento como era confortável e como era ter alguém que conversasse comigo sobre coisas normais, coisas que eu nunca tinha conversado antes, coisas que apenas Mary conversava comigo.

Ethan levantou a sobrancelha parecendo impaciente.

– Precisa de ajuda para levantar? – perguntou chegando mais perto.

E antes que eu pudesse negar ele estava afastando a sacola e colocando seus braços ao meu redor para me ajudar a levantar. Fiquei tão surpresa pelo seu toque que não reagi por um momento em choque por senti-lo tão perto de mim, ao menos até lembrar de Mary, ela me disse para não levantar.

Não quero que Mary fique brava comigo!

Imediatamente tentei me afastar de Ethan me inclinando para trás, mas ele já tinha um aperto forte em torno de mim e meu movimento brusco o pegou de surpresa o fazendo cair na cama junto comigo, ele ainda conseguiu apoiar um dos joelhos no colchão.

– Oh, Deus. – sussurrei petrificada ao sentir dor nas costelas pela súbita pressão de seu corpo contra o meu.

Por um momento nenhum de nos moveu um músculo sequer.

Se eu ainda estivesse conectada ao aparelho cardíaco ele com certeza estaria apitando loucamente agora, acompanhando as batidas rápidas do meu coração e não seria por que eu estava com dor.

– MAIS QUE INFERNOS? SAIA DE CIMA DELA AGORA! – o grito exasperado de Mary finalmente o fez agir.

Em um pulo rápido Ethan já estava de pé ao lado da cama olhando para Mary que avançava para cima dele com uma latinha de coca e uma barra de chocolate nas mãos.

– Não se aproxime dela, seu tarado! – Mary disse quase o acertando com a latinha de coca, mas Ethan foi mais rápido e lata bateu contra a parede ao invés de atingir a cabeça dele.

– Está louca? – perguntou Ethan subitamente irritado.

Mary o ignorou se aproximando da cama.

– Oh querida, você está bem? – perguntou arrumando meus cabelos com sua mão enquanto fuzilava Ethan com os olhos – Quem é você? E porque está aqui? Não esta vendo que Evie ainda esta sensível por conta dos machucados?

– Eu sou o agente Ross –respondeu Ethan irritado – E estou aqui para levar a senhorita Evie. – disse mostrando seu distintivo do FBI.

Mary ficou pálida de repente.

– Vai levá-la? Mas ela ainda não recebeu alta! – falou Mary confiante.

– Acabei de falar com o médico e ele a liberou. – Ethan guardou o distintivo em gesto impulsivo. – Vista as roupas, Evie, não tenho todo o tempo do mundo. – ordenou ignorando Mary.

Olhei para Mary sentindo um aperto no peito.

Como em tão pouco tempo pude me apegar tão fortemente a uma pessoa?

– Bem - disse Mary com um ar pensativo. – Não acha que ela vai vestir as roupas com você aqui dentro, acha? – seu tom era afiado e seu olhar mostrava fúria viva.

– Tem cinco minutos- disse Ethan me olhando enquanto saia do quarto e fechava a porta.

Assim que Ethan saiu o olhar calmo e acolhedor de Mary voltou.

Sentando ao meu lado na cama Mary pegou a sacola e verificou as roupas.

– Bem -disse novamente – Pelo menos ele trouxe roupas decentes para você. Vamos deixe-me ajudá-la a levantar.

Deixei Mary me ajudar colocar as roupas, não foi difícil colocar a calça jeans, eu já estava acostumada a sempre me vestir sozinha depois de levar surras de Jerry, mas ainda assim deixei Mary me ajudar, ela parecia feliz fazendo isso. Não me importei por minha nudez em nenhum momento, Jerry não gostava de me deixar com roupas quando estava me torturando então estar nua na frente de Mary não me deixou constrangida.

– Eu não quero ir – me ouvi murmurando enquanto Mary prendia o sutiã para mim. – Eu gosto daqui.

Mary ficou de frente para mim.

– Eu sei querida, levante os braços. – disse docemente. – Mas não quero que se preocupe, não vou deixar uma garota inocente como você aos cuidados daquele homem irritante, isso é simplesmente ridículo.

Suas palavras me fizeram parar.

Ela achava que eu era inocente?

Senti uma pontada de culpa pela primeira vez na vida, eu ainda não estava acostumada com essas novas emoções, a culpa, o carinho, a alegria, era tudo novo e confuso. Olhei para Mary na minha frente, eu a estaria enganando se a deixasse pensar coisas erradas sobre mim, e era errado pensar que eu era inocente.

Não pensei duas vezes antes de falar.

– Não sou inocente Mary, matei dois homens, lhes cortei a garganta sem pensar duas vezes e não me senti nenhum pouco triste ou culpada ao ver seu sangue jorrar... Na verdade me senti aliviada – falei em voz baixa olhando para minhas mãos.

Senti medo, medo da rejeição de uma pessoa que eu cheguei a respeitar em tão pouco tempo.

– Acha que eu não sei querida? – ela colocou a mão no meu queixo me fazendo a olhar nos olhos, mas ao invés da rejeição que eu esperava seu olhar era cheio de carinho e compreensão. – Tenho meus meios de saber das coisas. – ela sorriu e ordenou que eu levantasse os braços novamente.

– Não acha que sou uma assassina sem coração? É isso o que todos devem pensar.

Senti o tecido suave de a regata deslizar pela minha pele, a blusa era branca e colada, a calça jeans era um pouco apertada demais, mas o tênis que calcei era confortável e macio, nem muito pequeno nem muito grande.

– Não mesmo querida, sei que teve um bom motivo para fazer algo assim – disse com confiança enquanto terminava de amarrar meus cadarços – Vamos vire-se para vestir a jaqueta, está frio e aquele agente irritante vai entrar a qualquer momento. Nós não temos muito tempo então quero que me escute bem, aqui nesse papel esta o número do meu telefone, assim que você chegar seja lá onde for que ele te levar quero que me ligue e diga se esta tudo bem e quero o endereço do lugar – ela me entregou um cartão e deu uma piscadela - Sei que você vai dar um jeito de conseguir isso.

Olhei para o cartão entre meus dedos, o papel era frio e apenas um olhar para número e eu não iria mais precisar do papel.

– Entendeu? – perguntou Mary enquanto arrumava meu cabelo.

– Sim. – respondi sorrindo.

E foi nesse momento que decidi arriscar, decidi arriscar me aproximar de alguém como Mary, uma mulher com idade para ser minha mãe, foi por isso que decidi arriscar, não tenho mais como negar que sempre tive o desejo de ter uma mãe, uma mãe de verdade e talvez agora eu tivesse essa chance, então eu iria agarrá-la e não soltar mais.

Essa era minha chance, eu poderia tentar começar do zero, começar uma vida nova, com coisas novas e talvez a felicidade não estivesse tão distante de mim.

Seguindo meu impulso eu abracei Mary, ela me abraçou de volta com força, fiquei aliviada por não receber uma rejeição.

– O tempo acabou, vamos?

Afastei-me de Mary sentindo o rosto corar, quase podia ouvir Jerry me sussurrando ao ouvido que demonstrações de afeto são para pessoas fracas.

– Não esqueça seu chocolate – falou Mary me dando a barra.

– Obrigada. – Mary acenou e saiu do quarto lançando um último olhar furioso para Ethan.

Olhei uma última vez para o quarto e vi as violetas, sorri e deixei o quarto junto com Ethan, Mary já não estava a vista.

Talvez eu estivesse errada em arriscar, mas afinal o que de mal poderia acontecer?


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Notas finais do capítulo

Então gente, espero que tenham gostado do cap e da Mary ^^
Comentem pvfr xD
Postando assim que possivel!