Senti a tensão de Ethan enquanto ele segurava minha mão e me levava para fora do porão, o deixei me levar em silencio, não sabendo ao certo qual era seu humor.

- Ethan... – tentei falar quando chegamos ao topo da escada, mas fui interrompida antes de poder continuar.

- Ainda não .– falou com a voz seria e continuou a me arrastar até “nosso” quarto, não olhando para mim em nenhum momento.

Quando chegamos ao quarto ele abriu a porta para mim e me empurrou para dentro e ainda sem olhar para mim disse com uma voz firme:

- Fique aqui até eu voltar. – então simplesmente saiu fechando a porta atrás de si.

Sentei na cama sentindo uma opressão no peito. Eu sabia que ele tinha todo o direito de ficar bravo ou talvez ele apenas não me quisesse mais, talvez ele percebesse que eu não sou uma boa pessoa, que eu realmente sou mais parecida com o Jerry do que ele mesmo pensava, do que eu mesma pensava talvez ele não me amasse mais.

Porra, pare de pensar!

Tentei manter minha respiração calma e pensamentos positivos até que a porta de se abriu e desisti de tentar ficar calma ao ver sua expressão ilegível, fiquei de pé em um salto enquanto Ethan entrava com meu velho amigo o kit de primeiros socorros na mão. Ele fechou a porta e indicou com a cabeça a cama.

- Sente-se. – ordenou com uma voz firme.

Mordi o lábio com força enquanto sentava e vasculhava seu rosto a procura de qualquer indicação do que ele estava sentindo ou pensando. Ele sentou ao meu lado colocando a maleta em seu colo a abrindo, ele retirou faixas e remédios. Ethan molhou um pano com álcool.

- Sua mão. – pediu ainda com aquela voz firme e sem falar deixei que ele segurasse minhas mãos machadas de sangue, sangue do Slayer.

- Ethan, eu sinto muito – falei enquanto olhava ele limpar o sangue das minhas mãos com movimentos eficientes.

- Você se arrepende do que fez? Arrepende-se de ter feito aquilo com ele? – perguntou erguendo uma sobrancelha para mim e me olhando nos olhos, sua voz continha fúria e ele parecia que queria quebrar algo.

Abri a boca para responder, mas logo a fechei e pensei por um minuto antes de responder com toda sinceridade.

- Não, nem um pouco, a única coisa que me arrependo é de perder o controle cedo demais. – murmurei ainda o olhando nos olhos e esperando sua rejeição e talvez nojo.

Ele acenou e respirou fundo, passando a mão no cabelo enquanto refletia, o aperto de sua mão na minha ficou forte por um momento e então ele relaxou.

- Você está bravo? - ´perguntei cuidadosamente.

- Sim, você não deveria ter que fazer isso, você não deveria ter tanta frieza em você para conseguir fazer aquilo, tenho que admitir que não esperava isso, não pensei que fosse capaz de fazer algo assim – ele disse com a voz seria e o maxilar apertado, seus olhos azuis ainda brilhavam em fúria – Eu gostaria de voltar no tempo e refazer toda sua historia, gostaria de te dar uma família que cuidasse de você e não que te machucassem do jeito que fizeram.

Respirei fundo ao ouvir suas palavras, senti aquela maldita queimação na garganta, aquela que eu tinha experimentado mais vezes do que gostaria desde que fugi do Jerry.

- Não precisa voltar no tempo para fazer isso, já tenho uma família que me ama – falei com a voz firme – Ao não ser que você não me ame mais...

Ele negou uma à cabeça e disse:

- Não vai escapar de mim tão fácil. – então ele empurrou o kit para longe, ele me puxou para seu colo, colando sua boca na minha e me beijando com força, seus dedos seguraram meu cabelo para me prender ao seu beijo, não que ele precisasse disso, ele nunca iria precisar, eu sempre estaria mais que disposta a beija-lo. Abri minha boca para que sua língua entrasse, passei meus braços em volta de seu pescoço me afogando em seu beijo e esquecendo que sequer Slayer o Jerry existiam.

Mexi-me em seu colo apenas para sentir uma já firme ereção contra meu centro, gemi contra sua boca, desejando que ele arrancasse nossas roupas fora e me amasse de todas as formas possíveis, mas então rápido demais ele afastou seus lábios dos meus.

- Eu te amo e isso não vai mudar – murmurou soltando meu cabelo e dando um casto beijo na minha testa.

-  Eu te amo - respondi em voz baixa.

Mordi os lábios para me impedir de rir de alegria, era um alivio saber que seus sentimentos não haviam mudado mesmo depois dele ver essa parte escura de mim, mesmo depois dele conhecer a crueldade que eu tinha, mas apesar de sua afirmação não pude me impedir de perguntar.

- Então não acha que sou parecida com o Jerry? – perguntei  ainda com minhas mãos em volta de seu pescoço, para que ele não pudesse fugir de mim.

- Oh inferno que sim – respondeu balançando a cabeça com convicção – Você também é uma terrível dor no traseiro às vezes...

Eu estava prestes a responder quando a porta do quarto se abriu em um estalo e Carter entrou com o rosto serio, ela carregava uma mp5* em cada braço, ela não parecia notar o peso das armas apenas avançou no quarto com pressa.

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- Tenho péssimas noticias – ela falou para nós enquanto entrava no quarto. Ela nem sequer nos deu tempo para falar antes de continuar a falar - Ele tinha a porra de um localizador implantado em seu nariz, na porcaria do NARIZ!

Senti meu sangue gelar, não seria possível... ou seria?

- E como não descobriram isso antes? – grunhiu Ethan me tirando de seu colo para que sentasse ao seu lado.

Ao invés de sentar na cama fiquei pé assim como Ethan, ele pegou com firmeza uma das armas que Carter ofereceu para ele e então me puxou, sua mão livre segurando a minha com força.

- Ele foi revistado quando o pegamos, ninguém via necessidade de fazer um exame de raio-x! - ela grunhiu de volta enquanto nos levava para fora do quarto.

- Quando tempo acha que temos? – perguntou Ethan.

- Não sei, talvez horas, ou minutos – respondeu enquanto descemos as escadas a passos rápidos.

West estava falando ao telefone, sua própria arma em sua mão livre, ele parecia atento ao que estavam falando para ele e então desligou quando nos viu. Seu cabelo parecia bagunçado e seus olhos estavam grandes, o aperto na arma se fez mais forte.

- Downey desapareceu – informou com a voz fria enquanto sentava no sofá, não me passou despercebido que ele parecia decepcionado quando falou isso - Estão enviado reforços, temos ordens para não deixar o lugar.- terminou com a voz firme.

- E apenas ficar e esperar que os homens de Jerry venha? – perguntou Carter negando com a cabeça – Nós estamos partindo, não podemos ficar aqui e esperar que eles venham, essa casa pode ser segura mais nem tanto assim! – falou enquanto caminhava para a porta.

West entrou em seu caminho a impedindo de sair. Carter parou na frente dele, segurando a arma com força nas mãos, ela trincou os dentes quanto falou.

- Saia do caminho, não podemos ficar aqui! – disse o olhando nos olhos.

Vi um brilho estranho passar nos West e não pude impedir o arrepio que correu meu corpo. Tentei largar a mão de Ethan, mas ele apenas me segurou firme, o olhei nos olhos então lancei um olhar para o telefone que West tinha descartado no sofá. Seus olhos se estreitaram quando pareceu compreender minha intenção e então soltou minha mão.

Ele se pós na minha frente enquanto para bloquear a visão dos dois agentes sobre mim enquanto eu pegava o celular. Apertei um botão e tela brilhou, havia o nome “chamadas” no topo e vários números abaixo, me fixei no ultimo numero discado e então apertei ligar.

Levei o celular ao ouvido enquanto tocava duas vezes antes de uma voz responder.

- Já chegamos.

Eu definitivamente reconhecia essa voz e maneira nenhuma era de algum agente do FBI. Desliguei o telefone e olhei para cima, no mesmo momento em que Ethan olhou para mim, seus lábios apertaram enquanto rapidamente entendia tudo.

- Vá para o porão, embaixo da escada tem um fundo falso, ele dá para um túnel, tem um painel lá, basta apertar o botão vermelho e vamos ter reforço – ele disse baixinho e enquanto segurava sua arma – Agora, Evie!

Meu sangue corria forte em mim, eu o olhei por um momento tentando entender o que ele queria, até que finalmente minha mente absorveu tudo. Ele queria que eu fugisse e deixasse-o aqui.

- Você vem comigo, não é? – perguntei o puxando pela manga e tentando ignorar o ritmo rápido do meu coração.

Ele não me olhou quando respondeu.

- Não posso deixar Carter sozinha – respondeu e então finalmente me olhou, seus olhos estavam frios e ele disse com a voz firme – Vá agora, não podemos perder tempo!

- Você não pode me deixar sozinha, não vou embora sem você, não vou a porra de lugar algum sem você! – falei começando a entrar em pânico.

- Evie, faça o que eu digo! – ele respondeu com a voz firme.

Estava prestes a responder quando um baque forte soou na porta. Viramos-nos a tempo o suficiente para ouvir Carter xingando alto enquanto atacava West. Ele conseguiu desviar do golpe enquanto que Carter apenas continuava a ataca-lo, eu não conseguia entender porque ela apenas não atirou nele. O barulho na porta se fez mais alto enquanto que Ethan me puxava com força para o porão.

- Agora Evie! Não temos tempo! – disse chutando a porta e me empurrando escada abaixo.

- Não vou! – falei com o aperto de ferro na manga de sua camisa. – Me dê uma arma, posso ajudar vocês!

Antes que pudesse me responder houve um forte estrondo e o chão tremeu. Ethan me segurou firme contra a parede, até que tudo parou de mexer.

- Eu vou apenas buscar Carter, me espere lá embaixo! – falou pressionando um beijo contra meus lábios.

- Não! Ethan!

Mas ele já estava me empurrando e antes que eu pudesse pensar estava caindo, consegui me agarrar ao corrimão antes que fosse tarde demais e isso foi o suficiente pra que Ethan fechasse a porta.

Lancei-me sobre a porta, e puxei o trinco, tentando abrir, mas estava trancada. Chutei a porta com forte enquanto gritava por Ethan. Pude ouvir o barulho de tiros começarem lá fora.

Não, não, não... isso não pode estar acontecendo.

Desci as escadas correndo, o porão estava vazio, nenhum sinal de Slayer, mas eu não poderia me importar menos, achei o fundo falso no piso com facilidade e entrei no buraco, estava tudo escuro e apenas um painel brilhava, assim como Ethan falou havia um botão vermelho brilhando e sem mais hesitar apertei.  Olhei em volta enquanto minha visão se acostumava com a escuridão, e quando consegui enxergar o suficiente comecei a correr pelo túnel, tropecei em algumas pedras mais consegui me manter firme, havia luzes de emergência a cada vinte metros, apesar de serem fracas eu ainda podia enxergar o suficiente.

Continuei correndo o máximo que podia até não ter mais saída, apenas uma parede, cheguei mais para olhar melhor, minha respiração vinha em ofegos enquanto eu percebia que havia uma escada na parede. Subi a escada e me segurei firme apesar de minhas mãos estarem tremendo. Tentei desbloquear a passagem o mais rápido possível mais estava duro demais e a única coisa que podia pensar era que eu estava perdendo tempo, que Ethan estava lá fora.

Finalmente ouvi um rangido e a passagem abriu, sai para o sol enquanto olhava ao redor, tentando me localizar. Eu estava no meio de um bosque, e apesar de baixinho pude ouvir o barulho de tiros, sem pensar comecei a correr na direção e por um momento pensei que estava indo para o lugar errado quando apenas parei de ouvir o barulho de tiros, mas tive um pequeno vislumbre da casa e continuei correndo, não querendo pensar no significado do silencio.

Quando finalmente cheguei o lugar estava vazio, uma parte da casa estava em chamas, havia marcas de pneus no chão, mas nenhum corpo. Entrei na casa correndo.

- Ethan! –gritei o mais alto que podia. – ETHAN!

Dentro estava tudo um desastre, havia marcas de tiros nas paredes e alguns corpos no chão, mas alem disso havia apenas silencio. Meu coração queria sair pela boca enquanto eu gritava por Ethan e pensei que fosse morrer quando finalmente ouvi um barulho vindo da cozinha.

- Ethan!- chamei entrando na cozinha e indo para trás do balcão de onde vinha o barulho.

Finalmente pude ver quem era e meu mundo parou.

- Onde? Onde está Ethan? – perguntei para Carter, ela estava segurando o ombro e havia sangue em seu rosto, mas eu não pensei nisso, apenas gritei a pergunta novamente quando ela não respondeu.

- E-les o levaram – ela disse baixinho, mas não baixinho o suficiente para que eu não ouvisse.

Afastei-me dela, meu coração trovejando e meu sangue gelado. Bati contra a parede enquanto eu absorvia o que ela disse.

Eles o levaram!

Deixe-me cair sobre o chão coberto de cacos de vidro enquanto que meu mundo desabava.