Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, eu nunca teria permitido aquela franja rídicula da Evil Queen em The Heart is a Lonely Hunter (1x07). Só porque ela era uma vilã cruel que queria amaldiçoar todo a floresta encantada, não quer dizer que ela merecesse um castigo tão pesado =/. Nenhuma novidade dizer que todos os créditos vão aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
ZILHÕES de agradecimento à minha beta, Mellie! A beta mais eficiente da história da betagem mundial!



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Quando Isabelle entrou em casa, Ruby estava encolhida no sofá, os dois pés plantados na almofada e o queixo repousando sobre os joelhos, o controle remoto em mãos, passando distraídamente os canais na pequena televisão da sala. Ela lançou um olhar indagador a Isabelle.

“Você não devia estar no trabalho?”

"Eu estava. Emma passou por lá e me contou o que aconteceu... Pensei que seria melhor ficar aqui com você essa noite.” Isabelle sentou-se ao seu lado, tirando seu casaco e jogando-o sobre o braço do sofá. “Na verdade, foi sua avó mesma que me dispensou pelo resto da noite.”

"Te dispensou? Não era ela que estava falando sobre como os negócios têm crescido e que eu precisava ajudar nas noites de sábado?!” Ruby franziu o cenho, recordando o que começara toda a briga com sua avó na noite anterior.

“Pois é. Não sei como ela vai cuidar de tudo hoje só com o cozinheiro novo. Mas acho que ela também não queria que você ficasse sozinha. Ela também está preocupada com você, Ruby.”

A garota apenas voltou a encarar a televisão, emburrada, antes de resmungar: “Sei. Eu estou bem.”

“É claro.” Isabelle preferiu não discutir, levantando-se com um sorriso simpático e dirigindo-se à cozinha. “De qualquer forma, tenho certeza que um pouco de conversa e um chocolate quente não te fariam mal.”

Algum tempo depois, recostada apropriadamente no sofá e com uma caneca fumegante em mãos, Ruby parecia de fato mais relaxada.

“E então... Quer falar sobre o que aconteceu?”

A garota apenas deu de ombros.

“É verdade que você encontrou...?”

Isabelle deixou a frase morrer, mas Ruby completou, em tom de desgosto. “Um coração humano em uma caixa?”

“Meu Deus, que bizarro!”

“Uh, nem me fale.” Ruby fez uma careta enquanto um arrepio percorria sua espinha. “E esse é, definitivamente, o fim da minha ‘carreira policial’.”

“A Emma pareceu muito impressionada com seu trabalho.”

Ruby soltou um pequeno bufo irônico. “Quem sabe uma carta de recomendação por um dia de trabalho me ajude na procura de outro emprego.”

“O que você pretende fazer agora, Ruby?” Isabelle perguntou, mas a garota apenas tomou um longo gole de sua caneca, sem responder. “Por que você não volta para o Granny’s?”

“Eu não sei, Isabelle. Acho que não posso.”

“Por que? Ainda quer ir ver os lêmures?”

“Oh, não! Já tive aventura o suficiente, obrigada! Na verdade, eu senti falta da lanchonete. Foi onde eu cresci, eu me sinto em casa lá.”

“Então, qual é o problema?”

“Eu nunca vou conseguir ser a pessoa que minha avó quer, Isabelle. Eu sempre acabo estragando tudo!”

“Pare com isso, Ruby! Você é uma das pessoas mais espertas que eu conheço. Você pode fazer o que quiser. Esse seu trabalho na delegacia é prova disso. Um dia foi o suficiente para deixar Emma impressionada.” Isabelle conseguiu arrancar um pequeno sorriso da garota, e continuou. “Além do mais, acho que você está errada sobre sua avó. Vocês são muito diferentes, é verdade, mas ela sabe que você é uma garota muito capaz. Acho que ela confia mais em você do que você imagina.”

“Você acha?”

“É claro! Por que mais ela iria querer te dar mais responsabilidades. Olhe, Ruby, você falou sobre querer estar satisfeita com a sua vida... Mas você mesma não disse que já foi aventura demais para você? Que sentiu falta da lanchonete? Acho que você só precisa olhar as coisas de um modo diferente. Não achar que precisa ficar por obrigação, como uma prisão. Fazer isso por escolha própria. Se é isso mesmo que você quer.”

Ruby pareceu considerar seriamente suas palavras, antes de lhe dar um pequeno sorriso. “Obrigada, Isabelle. Eu vou pensar sobre isso. Acho que vou conversar com minha avó amanhã.”


“Que bom! Tenho certeza que vocês vão se acertar. E não precisa agradecer, é para isso que servem as amigas.” Isabelle respondeu, sinceramente. Um brilho divertido veio ao seu olhar, quando continuou: “Além do mais, eu também estou me fazendo um favor. O trabalho fica muito puxado com uma garçonete a menos.”




–*-*-*-





Isabelle checou novamente seu celular, com uma carranca aborrecida, e Ruby desviou o olhar da televisão, curiosa.




“Esperando a ligação de alguém?”


Isabelle sentiu suas bochechas queimarem. “Oh, não, não!”

“Não me diga que o Sr. Gold é daqueles que ligam para desejar boa-noite todo dia! Quem diria?!” Ruby parecia extasiada com a hilariante ideia e Isabelle se perguntou, não pela primeira vez, se aquelas pequenas troças a seu relacionamento seriam o passa-tempo preferido da amiga.

“Pelo contrário, ele quase não usa o celular.”

Ruby juntou as sobrancelhas em confusão.

“Então por que essa vigília por uma ligação?”

Isabelle pareceu sem jeito. “Bom, hoje, em particular, eu bem queria que ele ligasse...”

“Hm?!”

“É que nós não nos falamos desde ontem de manhã. Fui na loja hoje a tarde, mas estava fechada, o que é muito incomum. Tentei ligar, mas ele não atendeu. Seria bom ter alguma notícia...”

Ruby riu. “Oras, Isabelle, vocês se falaram ontem! Não faz tanto tempo assim.”

“É, eu sei.” Ela suspirou, chateada. “Mas isso não costuma acontecer. Além do mais, ele estava um pouco estranho...” Além de ter agredido um homem a bengaladas, mas Ruby não precisava saber disso.

“Estranho como?”

“Ah, não sei. Talvez seja impressão minha! Mas as pessoas ficam falando tantas coisas, eu fico preocupada.”

“Nunca te vi se preocupar muito com o que as pessoas falam, Isabelle.”

“Não me importo. Mas...” Isabelle mordeu o lábio inferior, parecendo incerta. “Ruby, você acha que eu pareço uma interesseira ou golpista?”

A garota começou a rir abertamente, deixando Isabelle ainda mais desconfortável.

“Isso não está ajudando!”

“Ok, ok, desculpe.” Ruby disse, mas não fez nenhum esforço para tirar um grande sorriso divertido do rosto. “Você só pode estar brincando, não é? Ninguém que te conheça pensaria isso. Muito menos o Sr. Gold, se é isso que está te incomodando.”

“Você acha?”

“Olhe, Isabelle, sinceramente, você acha que o Sr. Gold é o tipo de homem que tem sua opinião formada por fuxicos que ouviu por aí?”

“Hm... Não.” Parando para analisar por aquele ponto, o Sr. Gold não parecia alguém facilmente influenciável, e Isabelle se sentiu de repente muito boba.

“Claro que não! Além do mais, ele já não é bem falado pela cidade desde muito antes de você chegar, não é como se você tivesse causado alguma desgraça para a reputação dele.”

Isabelle estreitou os olhos para Ruby diante da declaração, mas não falou nada. Ela bem sabia que era verdade.

“Agora deixe de se preocupar e vamos voltar ao nosso filme.” Ruby deu um leve tapinha em seu ombro. “Amanhã, eu me resolvo com minha avó, e você se resolve com o Sr. Gold, e tudo vai ficar bem. Apenas relaxe, ok?”

“Ok.” Isabelle recostou no sofá e tentou se concentrar na televisão. Com certeza, tudo ficaria bem.

–*-*-*-

Tudo estava uma droga.

Parada em frente à loja do Sr. Gold enquanto as primeiras sombras da noite caíam sobre a cidade, Isabelle estava borbulhando de raiva. Mais um dia se passara sem um sinal dele. Sua loja estivera fechada novamente quando ela passara por lá pela tarde, o que a deixara um tanto preocupada, e novamente ele não havia atendido o telefone. Nem mesmo aparecera para uma xícara de café e um rápido ‘alô’ no Granny’s. Qualquer que fosse o motivo do sumiço, Isabelle estava decidida a resolver isso sem mais demora.

O sino badalou sobre a porta da loja, e Isabelle encontrou o Sr. Gold polindo uma imensa peça de madeira sobre uma das bancadas. Era uma enorme carranca de navio em forma de um medonho mostro marinho, suas escamas detalhadamente esculpidas no cedro castanho-avermelhado. Mesmo em meio à sua raiva, ela não pôde deixar de se perguntar onde diabos ele conseguia aquele tipo de coisa.

“Boa noite.” Ele a cumprimentou, em um tom que lhe soou estranho.

“Boa noite, Sr. Gold. Há quanto tempo, não?” Isabelle juntou suas sobrancelhas em uma expressão chateada e ele teve a decência de parecer ligeiramente envergonhado.

Ele desviou seu olhar de volta para a peça sobre a bancada e respondeu, em um resmungo: “Dias cheios.”

Ela foi até ele em passos pesados e cruzou os braços à sua frente. “Dias cheios? É isso?”

Ele elevou os olhos, em um suspiro meio impaciente. “Na verdade, sim, dias cheios.”

A postura de Isabelle vacilou por um instante e ela considerou se Ruby não estaria certa, e ela estivesse sendo uma boba ao pensar que havia algo errado. Mas alguma coisa lhe dizia que havia algo mais naquela história.

“Certo. Então é só impressão minha ao achar que as coisas ficaram um pouco estranhas desde aquele... incidente... com aquele homem aqui na loja no outro dia?”

A falta de resposta foi o suficiente para Isabelle.

“Agora, olhe aqui, se você vai de repente começar a achar que eu sou uma golpista, interesseira, ou coisa assim, ou seja lá qual é o problema, podia ter pelo menos vir falar comigo antes de sumir desse jeito!”

“Como?” A expressão absolutamente atônita do Sr. Gold parou o jorro de raiva de Isabelle. “Golpista? Do que você está falando, Belle?”

“Hã... Das coisas que aquele homem falou? E o papo de que ‘as pessoas às vezes falam algumas verdades’, e esse sumiço, e...” As palavras começaram a se embolar na língua de Isabelle e ela sentiu as bochechas queimarem em rubor diante do olhar cada vez mais perplexo do Sr. Gold.

“E você achou que eu estava pensando em você como uma interesseira?!”

Isabelle mordeu de leve seu lábio e deu de ombros, sem saber o que dizer.

“Minha querida Belle, essa foi uma das coisas mais sem sentido que eu já ouvi.” Ele riu, de leve.

Ela ficou ainda mais vermelha e seu tom era mais de birra, misturada à vergonha, do que de real aborrecimento quando ela voltou a falar: “Oh, bem, o que foi então que te incomodou tanto, oras?!”

Foi a vez do Sr. Gold parecer sem jeito. “Nada.”

“Oh, não, não. Sem essa de ‘nada’.” Isabelle franziu o cenho, chateada, e o Sr. Gold pareceu muito desconfortável. Ela tentou novamente, tentando suavizar seu tom: “Por favor, Gold. O que te incomodou tanto?”

Ele segurou seu olhar por alguns segundos antes de ceder, com um suspiro derrotado. “Muito bem. Você sabe que muitos estão dizendo que não vêem motivo em você estar comigo, além do dinheiro. Nenhum motivo.”

“Sim...?”

“E talvez eles estejam certos.”

Isabelle estreitou os olhos. “Você disse que não achava que eu era uma interesseira.”

“Por Deus, claro que não! Isso é ridículo.”

“Então eu não estou entendendo mais nada!”

Ele abriu a boca para falar, agitando vagamente a mão no ar, como se tentasse capturar as palavras exatas para se explicar, sem muito sucesso. O que ele deveria falar para ela, afinal? Que ele era um monstro de centenas de anos e uma enorme bagagem de mortes nas costas? Ou talvez que ele não hesitaria em matar novamente, se necessário? E que ela deveria fugir antes que ele arruinasse a vida dela? De novo.

Uma ruga de concentração se formou na testa de Belle enquanto ela tentava colocar um sentido em toda aquela confusão. Finalmente, seus olhos se alargaram e ela falou, muito lentamente, como se tentando verbalizar uma ideia que lhe parecia muito estranha: “Você não está querendo dizer... que acha... que não teria motivos para eu ficar com alguém... como você?”

Ele deixou a resposta se insinuar em seu silêncio, e Isabelle pensou que ele parecia quase desamparado. Ela o encarou, sem palavras, e se pegou indagando, não pela primeira vez, o que teria acontecido na vida daquele homem para formar um ser tão complexo e contraditório. Como alguém que demonstrava tanta auto-confiança e orgulho na maior parte do tempo podia também estar quebrado a ponto de não se imaginar digno de seu interesse sincero? Ela se perguntou se seria obra da tal mulher da xícara lascada. Isabelle decididamente estava começando a sentir uma forte antipatia por ela.

“Ok, agora isso sim é ridículo!” Ela o encarou, muito seriamente. “Fui eu que passei anos internada em um hospital psiquiátrico. Que vim até você quase que sem um lugar para morar. Que fiz a cidade inteira ficar sussurrando maldades com o seu nome. Talvez eu devesse estar me indagando por que você está comigo?”

Ele elevou uma sobrancelha, ironicamente, e quase riu. Ela só esquecera de mencionar a parte em que ela era na verdade uma dama da alta nobreza, e não uma louca, e que boa parte de sua desgraça fora causada por ele ao expulsá-la do Castelo Sombrio.

“Por que você quer estar comigo?” Ela perguntou, então, e sua expressão deixou bem claro para o Sr. Gold que ele não conseguiria escapar sem responder dessa vez.

“E como poderia não querer?” Ele respondeu, simplesmente, e as bochechas de Isabelle se coraram em um suave tom de rosa.

“Bom, então me conceda a gentileza de aceitar a mesma justificativa da minha parte.” Ela disse, suavemente, sorrindo para o Sr. Gold e segurando sua mão sobre a bancada. “Eu estou aqui porque quero, e estou muito feliz com isso.” A leveza do momento sumiu em um instante quando ela subitamente colocou o dedo em riste em seu rosto, em tom parcialmente verdadeiro de crítica: “E não suma assim novamente! Eu estava ficando preocupada.”

Ele riu de sua expressão emburrada. “Certo. Eu prometo.”

“Certo.” Ela lhe abriu um largo sorriso, que iluminou todo o ambiente. “Que bom que você não costuma quebrar suas promessas.”

“Em minha defesa, eu estive mesmo muito ocupado esses dias.” Afinal, sequestrar uma pessoa e forjar provas contra outra demandava certo esforço.

Isabelle estreitou os olhos, quando um pensamento lhe passou pela mente. “Você por acaso não estaria ocupado em alguma vingança contra aquele homem, não é?”

“Não fiz nada contra ele.” Por simples falta de tempo, na verdade. Mas isso já estava na sua agenda.

“Ok. Não posso dizer que não achei que ele merecia uma bengalada, mas já foi o suficiente. Você não pretende mesmo fazer nada, certo? Por favor...”

Ela o encarou firmemente, e ele sabia que a machucaria se ele não fizesse o que ela pedia. Ele podia não ser o homem que ela merecia, mas pelo menos aquilo ele podia prometer, ainda que a contragosto. “Não farei nada.”

Droga.

Mas pelo menos aquilo lhe ganhou um beijo por sobre a bancada.


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