Roberta narrando:

Algumas pessoas acreditam que nada é por acaso, tudo que acontece com a gente acontece por um motivo, tudo é premeditado e se está escrito no seu destino vai realmente acontecer.

Já outras acham que são nossas escolhas que vão nos levar aos lugares, que está em nossas mãos fazer nosso próprio destino.Há alguns meses atrás eu não pensava nessas coisas.Eu não conseguia acreditar que o destino seria tão cruel a ponto de me fazer ser infeliz durante toda a minha vida, e também não sabia como eu mesma poderia mudar aquilo.Viver com a minha mãe era ruim mas eu não conseguia deixá-la.Eu não tinha escolha.Mesmo depois dela ter sido presa eu ainda me via presa à ela.Até que em uma tarde uma senhora eufórica apareceu no mercadinho onde eu trabalhava e com apenas três palavras mudou completamente a minha vida.Eu sou sua avó.A partir daquele dia passei a acreditar que quando alguma coisa tem que acontecer  em nossas vidas ela realmente vai acontecer.

_Chegou uma carta pra você Roberta.-ouvi a Glória gritando do lado externo da casa.Sai correndo indo ao seu encontro.

Assim que cheguei mais perto dela vi que sua expressão não era das melhores.A carta ainda estava lacrada mas pela cara da mulher na minha frente imaginei de quem seria.

_É dela?-perguntei incerta.Ela não respondeu nada, apenas acenou levemente com a cabeça e me deu um sorriso encorajador.

Peguei a carta e fui para a cozinha sendo seguida por ela.Nos sentamos uma de frente pra outra em um silêncio cúmplice.Ambas tinham medo do que estaria escrito na carta, mas a curiosidade era maior.

                     Oi filha, como você está?Espero que esteja bem.Já fazem 5 meses que estou aqui e você foi a única coisa que eu pensei todo esse tempo, eu sinto tanto a sua falta filha...Eu me arrependo tanto por tudo que te fiz e agradeço todas as noites por Deus ter te dado forças pra aguentar tudo que eu lhe fiz passar.Eu fui fraca, sou fracas mas juro pra você que esses 5 meses me mudaram completamente.A única coisa que eu quero é prova à você que eu mudei e que não sou mais aquela drogada que tanto lhe feriu.Vou fazer tudo para merecer seu perdão.Você mesmo criança sempre foi a mulher mais forte que eu conheci, teve a força que eu não tive, a coragem que me faltou.Não te mandei outras cartas por que queria ter certeza de cada palavra que escreveria nesse pedaço de papel, não iria fazer promessas que não poderia cumprir.Eu me curei filha, não vai ser fácil eu sei, mas depois de tanto tempo sem você eu vi que não aguentaria nunca mais.Me disseram que você mudou para Itanhaém.Eu nunca te levei pra ver o mar...Não sabe o quanto isso me dói.Eu saio daqui duas semanas, não espero que você esteja na porta me esperando, mas irei te procurar para pelo menos poder te dar um abraço e sentir seu cheiro que tanto me faz falta minha pequena.                                                    Eu te amo.

Ao terminar de ler a carta meu rosto já estava completamente molhado pelas lágrimas que escorriam.Levantei meus olhos e vi que os  da Glória estavam marejados.Eu segurava a carta com força.Ela esticou suas mãos e as colocou sob a minha apertando em seguida.Não sei quanto tempo ficamos ali sentadas de mãos dadas em completo silêncio que só era quebrado quando eu não conseguia abafar o choro.

_Eu...Eu vou dar uma volta.-me levantei da mesa deixando o papel ali e sai para a rua.

Eu corria em direção à praia.O vento forte que vinha de lá mostrava que viria chuva mas não me fez mudar meu rumo.Minha respiração era pesada.Meus cabelos soltos voavam para trás.Parei bruscamente assim que desci na areia fofa da praia.Meus joelhos cederam e eu cai na areia.As lágrimas voltaram a cair incessantemente.Eu sentia uma dor absurda do lado esquerdo do peito.Apesar de tudo aquela mulher era a minha mãe, ela cometeu inúmeros erros mas eu não conseguia deixar de amá-la, e aquilo me irritava.Que ser mazoquista ama alguém que só o faz mal?Isso não é amor.Pingos grossos começaram a cair do céu que estava completamente cinza.Era como se a natureza estivesse representando aquilo que via em minha alma.