Meus olhos ainda estão todos cheios de lagrimas enquanto olho para Ettie. Estou tão 'ocupada' em observa-la que não percebo uma mudança repentina na sala. 

A primeira coisa que percebo é que um som irritante começa a apitar. Levo um tempo para erguer os olhos e procurar o motivo dessa apitação. É de uma das maquinas que estão ligadas ao corpo de Harriet. Leva mais um tempo para que meu cerebro tome consciencia do que está acontecendo.

- Oh não. - digo, levando a mão em minha boca. - oh não, não, não.... NÃO!- grito. Tudo a minha volta para, letaralmente e depois se despedaça aos poucos. Caio de joelhos no chão, implorando.

P.O.V Ettie

- Harriet? - susurra uma voz desconhecida em meu ouvido. Pisco os olhos e finalmente os abro, mas estou em um lugar que não conheço. Deitada em uma cama com grades do outro lado. Me levanto da mesma e dou um passo para poder me levantar quando alguma coisa me suga. 

Agora estou em um lugar que dá comida. Vejo minha mãe sentada, com as mãos no rosto chorando e me chamando. 

- Mamãe? Por que está chorando?- pergunto para ela, mas ela não me responde. 

- Harriet. - chama novamente a voz e vejo uma linda mulher ao meu lado. 

- Quem é você? - pergunto, curiosa. A mulher se vira e sorri para mim. Ela me lembra Allie, mas seus cabelos são de uma cor que não identifico, por minutos parecem loiros, mas depois parecem ruivos. 

- Sou uma amiga de Alison - ela responde. No mesmo momento tenho medo.

- Não faça como aquele homem fez para mim, por favor.

- Não se preocupe, criança. Não farei o mesmo que Jev fez a ti. Só estou aqui para leva-la a um lugar novo.

- E onde você irá me levar?

Ela me olha por mais alguns segundos e sorri. Caminha em minha direção e se abaixa. 

- Feche os olhos. - sussurra em meus ouvidos. Sem ter qualquer medo, eu a obedeço. Sinto quando suas mãos me envolvem e depois como as asas de um passaro sou levada para outro lugar.

(...)

-Pode abrir os olhos agora. - ela diz. Os abro e me vejo em uma grande sala com várias crianças como eu, só que com asas. 

- Que lugar é esse? - pergunto para ela, mas a moça apenas sorri e diz para que eu continue andando em frente.

Ando e algumas das crianças de asas começam a rir e brincar ao meu lado. Outras cantam canções que Allie já cantou para mim quando ia me fazer dormir e isso me faz sorrir junto com elas, querendo ir brincar com elas. Mas uma voz alta e potente me chama.

- Venha para mais perto, Harriet. - diz a voz. Quando dou por mim, estou a frente de um trono alto e grande, onde um homem está sentado. Não consigo ver seu rosto.

- Onde estou? - pergunto. Ele estende sua mão para mim e eu a aceito, vendo como minha mão parece tão pequenina ao lado da dele.

- Você está onde pode ser seu novo lar. - Ele me responde.

- Como assim?

- Você está entre seus semelhantes, Harriet. - diz a moça que havia ido me buscar.

- Mas pode voltar para seus pais na Terra. - acrescenta o Homem.

- Não compreendo. - digo, balançando a cabeça. O Homem sorri para mim e se levanta do grande trono. Ainda não consigo ver seu rosto, que está escondido por uma luz forte. Ele segura ambas minhas mãos.

- Eu não costumo dar uma chance dessas para alguém. Mas você é especial, Harriet. Muito especial. Eu sabia disso desde o momento em que comecei a criar você, sentando em um dos ultimos lugares que são considerados paraisos na Terra. 

"Eu fiz você da melhor maneira que imaginei lhe fazer. Você é tão doce como meus filhos dessa sala, mas é tão fragil como um humano.

"Não queria ter lhe feito com uma doença tão forte como essa,mas as vezes é preciso. As melhores pessoas possuem algum mal dentro delas, mesmo que não queira.

"Os faço assim por um motivo: quero que meus filhos na Terra saibam que são perfeitos a sua maneira, mas que as vezes lhe faltam uma coisa para serem ainda mais perfeitos.

"O que estou tentando lhe dizer, Harriet, é que irei lhe dar duas opções."

Eu observo o Homem que está a minha frente e finalmente sei quem Ele é. Ele é quem mandou Alison para minha vida, proteger meu irmão e contar a verdade sobre o mundo para mim. 

- E que escolhas tenho, Papai do Céu? - pergunto com minha voz de criança. Ele ri.

- Você pode ficar aqui, virar um Querubim e aprender tudo o mais sobre os anjos, mas ficara longe de seus familiares e de Alison, até que ela complete a missão. 

"Mas há uma outra escolha. Você pode voltar para a Terra, curada e com uma coisa a mais. Só que você não irá ficar como sua mãe, só vai se parecer com Alison daqui alguns anos. Seus familiares vão.. digamos, descansar, mas você continuara bonita e caminhando pela face da Terra até quando bem quiser, se desejar pode voltar para cá ou ficar lá. E ainda sentira a dor que sempre sente quando está nervosa, se seus pés continuarem tocando o chão da Terra.

"Harriet, qual é seu desejo?"

Olho para todos a minha volta. 

Seria legal viver com eles, seria mesmo. Sem dizer que eu não irei sentir mais a dor que geralmente sempre sinto quando começo a correr muito ou quando não como nada. 

Se eu volta-se para os meus pais, eu os veria fechando os olhos para sempre e não irei mais sentir seus carinhos em meus cabelos ou seus sussurros quando eu estou com muito medo. Mas eu sentirei muita dor, talvez pior das que eu sempre sinto. 

São em momentos como esse que é dificil ser criança. Devo ver tantas opções e pensar sobre elas, sendo que não sei ainda nem ler e escrever! Sou uma criança com 5 anos, que as vezes pode parecer ter mais, e as vezes menos. 

- Harriet? - chama Ele.

Levo mais alguns instantes para finalmente conseguir dizer alguma coisa.

- Papai do Céu, eu escolho...