O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado


Capítulo 42
VIII.1 Um encontro nos céus.




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Dende tinha enviado Son Goku atrás de Zephir e agora, espreitando o mundo por entre as brumas densas que se revolviam abaixo do Palácio Celestial, vigiava os passos dele e do feiticeiro.

Esperara demasiado tempo? A dúvida perturbava-o. Se a decisão de aguardar um pouco mais para ter certezas sobre os propósitos de Zephir se revelasse desastrosa, a Terra entraria num novo período de convulsão.

Fechou os olhos, procurou acalmar-se. Já devia estar habituado àquelas situações de crise. Viera para a Terra nas vésperas de um cataclismo anunciado, antes do início do Cell Games. Vivera o desaparecimento de toda a humanidade e a própria destruição do planeta às mãos do terrível Majin Bu. O seu desempenho de Todo-Poderoso, se visse bem, estava ligado à desgraça, mas também à vitória final. O Bem haveria sempre de triunfar sobre o Mal e o seu papel era assegurar-se que seria assim, em todas as ocasiões. Fora com Cell, acontecera com Majin Bu, haveria de o ser com Zephir.

Mas não evitava o mal-estar. Ele era aplicado, procurava estar atento ao que se passava, intervinha quando achava acertado. Não via razão para aqueles testes. Considerava-se suficientemente digno para ocupar o cargo. Goku também o considerara – por isso fora buscá-lo, ainda criança, ao seu planeta, levara-o para o Palácio Celestial e confiara-lhe as bolas de dragão e os destinos da Terra.

O problema principal era o isolamento. Gostaria de ter podido conversar com o seu antecessor, saber se também sentira as mesmas dúvidas, se também hesitara, se passara por momentos aflitivos e difíceis, se chegara alguma vez a desesperar. Suspirou, a pensar em como adoraria ter conhecido o anterior Todo-Poderoso, que se fundira com Piccolo há muitos, muitos anos atrás… Talvez não se sentisse tão sozinho se recordasse alguma palavra de conforto.

- Kami-sama, tem visitas – anunciou Mr. Popo.

Dende despertou das suas congeminações.

- Visitas? Quem será?

Mr. Popo, espreitando como ele para as brumas, não respondeu. Dende endireitou as costas, apertou o bordão de madeira. Passados uns instantes, eles chegaram. Ten Shin Han vinha com um rapaz, que segurava pela cintura. Pararam diante do Todo-Poderoso, o primeiro inclinou a cabeça.

- Kami-sama

- Ten Shin Han, fico contente por tornar a ver-te.

Dende olhou para o rapaz que o observava boquiaberto. Nem teve tempo para o cumprimentar, pois ele arrojou-se no chão, a seus pés. Com a testa a tocar nas lajes brancas, os braços estendidos, ajoelhado, murmurou:

- Kami-sama!… É uma honra encontrar-me na vossa magnífica presença!

Dende pediu atrapalhado:

- Levanta-te. És meu convidado e gosto de receber os meus convidados como amigos.

O rapaz obedeceu num salto. Dobrou-se numa grande vénia, unindo as mãos no peito.

- Perdoai-me se vos ofendi.

- Como te chamas?

- Toynara, kami-sama. – Fez nova vénia.

- Toynara, ainda ficas tonto a inclinar tanto a cabeça – gracejou Dende, mas a piada não lhe saiu naturalmente. – E não me ofendeste.

O rapaz corou.

- Perdoai-me…

Teve o impulso de fazer mais uma vénia, mas deteve-se. Dende percebia que Toynara lutava para se acalmar na sua presença. Devia estar confuso por ver que o Todo-Poderoso, uma entidade que aprendera como inacessível, provavelmente um qualquer espírito informe, rodeado de mistério, resguardado num sítio escondido dos olhares humanos, era alguém normal. Descontando o facto de ser verde, de ter antenas na testa e orelhas pontiagudas. Escondeu um sorriso.

Mas aquela não era uma visita de cortesia.

- Trouxeste Toynara até ao Palácio Celestial por alguma razão importante. Não é assim, Ten Shin Han?

- Hai, kami-sama. Toynara é um sacerdote do Templo da Lua. Encontrei-o muito ferido, nas montanhas e posso dizer que foi salvo das garras da morte.

- O Templo da Lua? – Dende sentiu a tensão esticar-lhe todos os músculos do corpo.

- Conheces o Templo da Lua?

- Ultimamente, tem estado nas minhas preocupações…

O arrepio de Toynara não passou despercebido ao Todo-Poderoso.

- Então, estás ao corrente da existência de um certo feiticeiro chamado Zephir, que pretende conquistar a Terra e o Universo com a ajuda de uma magia maldita.

- Estou, Ten Shin Han.

Acercou-se da beira do recinto e espreitou o mundo. O Templo da Lua… O feiticeiro e os seus fiéis guerreiros estavam no templo… Son Goku e os seus companheiros iam a caminho…

A dúvida inicial voltou a importuná-lo. Voltou-se para o rapaz, de semblante inquisitivo.

- Tu conheces Zephir e aquilo que é capaz de fazer.

A mágoa espicaçou Toynara, a voz tornou-se gelada como a neve eterna do cume mais alto do mundo:

- Zephir foi o meu mestre. Todos os monges do templo escolhem um dos sacerdotes mais velhos para patronos e professores. Escolhi Zephir, pois era um feiticeiro muito dotado, conhecia muitas coisas… Sabia que podia beneficiar com a minha associação a Zephir, que podia melhorar e evidenciar-me entre os outros monges. Tinha razão. Zephir ensinou-me tudo o que sei sobre magia, confiou-me os seus segredos.

Toynara forçou um sorriso irónico.

- Os segredos eram quase sempre meus, nunca de Zephir. Até aquele dia em que me revelou que desejava ser o próximo Sumo-Sacerdote do Templo da Lua. Achei normal, ele era o melhor feiticeiro que alguma vez conhecera. Mas depois continuou a contar-me que pretendia ser o Senhor do Universo. – Cerrou os dentes e os punhos, as veias pulsaram no pescoço. – Deverão compreender as minhas razões. Acabei por trair Zephir, o meu mestre… Não suportei a ambição dele, a mesquinhez dos propósitos. O desperdício que seria utilizar todo o seu talento para forçar o caminho até ao Trono de Marfim do Sumo-sacerdote, eliminando quem fosse necessário para consegui-lo. Se continuasse a apoiá-lo, também me transformaria num assassino. Venerava e respeitava Zephir, mas, acima de tudo, sou um discípulo do templo. Tomei a minha decisão e entreguei o meu mestre à justiça da Deusa. Zephir foi condenado e proscrito… Fui ordenado sacerdote como prémio pela minha lealdade… Mas Zephir regressou e o Templo da Lua morreu.

- Zephir é o teu maior inimigo – observou Dende.

- E eu sou o maior inimigo dele – acrescentou Toynara ríspido. – Quero vê-lo esmagado e o seu nome apagado da memória, porque ele ousou destruir o que eu mais prezava neste mundo.

Ten Shin Han disse:

- Temos um feiticeiro louco que deseja conquistar o Universo com a sua magia. Mas trata-se apenas de um feiticeiro…

- Zephir controla guerreiros poderosos, Ten Shin Han – contou Dende. – Demónios, criaturas das trevas. E, mais recentemente, um saiya-jin.

- Um saiya-jin? Onde conseguiu ele arranjar um saiya-jin?

- Com a ajuda da magia poderosa e maléfica que passou a utilizar, desde que foi ajudado pelo espírito de Babidi. Hai, Ten Shin Han, estás a pensar corretamente… Zephir serve-se do Makai. De qualquer modo, já chamei por Son Goku e enviei-o para o Templo da Lua.

Os lábios de Toynara entreabriram-se e ele repetiu, pensativo:

- Son Goku…

Já tinha ouvido aquele nome.

- Goku está a caminho do Templo da Lua? – Indagou Ten Shin Han.

- Deve estar quase a chegar.

- Então, a situação é preocupante.

- Talvez… Confio em Son Goku para que faça com que a situação não seja demasiado preocupante.

- Foi sozinho?

- Não. Piccolo, Vegeta, Trunks e Goten foram com ele.

O silêncio trouxe o choro do vento e o recrudescer da apreensão do Todo-Poderoso. Mr. Popo vigiava as suas reações preocupado, ocupando parte da atenção com o rapaz que tinha uma alma opaca e esquisita, que protegia ferreamente da perceção dos que o rodeavam, especialmente quando estes conseguiam ler almas.

Ten Shin Han quebrou o silêncio dizendo:

- Se Son Goku intervir, Zephir estará perdido, mesmo controlando guerreiros tão poderosos e servindo-se da magia do Makai. Não conseguirá cumprir os seus planos megalómanos de ser o Senhor do Universo. No entanto, pressinto que tens dúvidas, kami-sama.

O seu ponto fraco e Dende sorriu.

- Gostaria que esta situação fosse mais fácil, mas não tenho uma visão clara do futuro. Algo me diz que isto não vai terminar com a chegada de Son Goku ao Templo da Lua.

As nuvens negras que se revolviam debaixo do Palácio Celestial movimentavam-se vagarosamente.

- O combate vai acontecer – observou Ten Shin Han.

- Hai. Infelizmente, Zephir provocou esse combate. Aguarda por Son Goku e pelos que o acompanham. Prepara alguma coisa que não sou capaz de descortinar. – Pelo canto do olho espreitou Toynara. – Porque é que o trouxeste para cá?

- Pensei que poderia ficar aqui. Disse-me que queria partir, mas depois de conhecer a sua história, não podia deixá-lo ir enfrentar Zephir sozinho. Tinha perdido o primeiro confronto, iria perder o segundo. Ainda me disse que precisava de encontrar os saiya-jin. Vim também para confirmar a sua história.

- Pensaste bem. Mas como conhece ele os saiya-jin?

- Talvez tenha sabido no Templo da Lua.

- Se Toynara sabe quem são os saiya-jin, também Zephir o saberá… Hum! Intrigante. De qualquer modo, ele ficará bem no Palácio. Conhece Zephir, sabe como atua, sabe os seus segredos. Poderá ser-nos útil no futuro, se as coisas não ficarem decididas hoje.

Toynara não entendia por que razão o Todo-Poderoso e Ten Shin Han, parados junto aos limites do recinto circular, olhavam tão concentrados para baixo, onde só havia nevoeiro. E depois estavam tão alto que não se devia ver grande coisa para além desse nevoeiro. Reparou em Mr. Popo que o mirava calado, com insistência, parado como uma estátua de pedra, sem sequer pestanejar. Continuou a esconder-se daquela criatura negra que sentia tatear dentro de si, perfurando-lhe as defesas com uma estranha persistência.

Respirou fundo. Tinha acabado de entrar num mundo novo e diferente.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Prelúdio.



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