O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado
Vegeta entrou no quarto, mas não se deitou logo. Ficou na porta, a observar os contornos do corpo de Bulma tapado pelos lençóis. Era ainda uma mulher muito bela, apesar da idade. Pequenas gotas de água escorriam-lhe dos cabelos negros para o corpo musculado. Tinha acabado de tomar um duche depois dos treinos na câmara de gravidade.
Bulma mexeu-se na cama. Sentiu o olhar dele e abriu um dos olhos. Sorriu quando o viu. Afastou o lençol, deu duas palmadinhas no travesseiro vazio e disse com a voz sonolenta:
- Vegeta… Vem deitar-te. Já é tarde…
Nem sempre dormiam juntos. Vegeta tinha um quarto só para ele que gostava de utilizar para se isolar – apreciava a solidão, pois passara grande parte da vida sozinho e, por vezes, sentia necessidade desse estado extremo – mas ela mantinha um segundo travesseiro na cama, esperando por ele todas as noites. A dedicação era curiosa. Ficou um pouco mais a observá-la, na penumbra. De seguida, acatou o conselho e estendeu-se em cima do colchão. Mas não iria dormir enquanto não falasse com ela… O assunto não poderia esperar até ao dia seguinte.
Bulma passou os braços por cima da cintura dele e aconchegou-se com um suspiro. Vegeta ficou de olhos abertos a sentir o respirar da mulher junto ao peito, a cabeça aninhada no seu ombro, acendendo os sentidos e despertando um desejo latente.
- Bulma, preciso falar contigo.
Ela estremeceu. Pronto! O que temia, estava a acontecer. Vegeta fartara-se dela, ia-se embora, ia deixá-la… Regressava à vida errante pelo espaço. Ao fim de tantos anos, porquê? Não quis pensar nas razões dele. Instintivamente, abraçou-o com mais força. Não queria que ele se fosse embora. Vegeta sentiu-se, de repente, sufocado. Mas o que é que lhe tinha dado para o apertar assim?
- Sobre Bra – disse ele.
Bulma abriu os olhos, afugentando o sono.
- Bra? – Indagou, sem levantar a cabeça.
E, em segredo, suspirou de alívio.
Vegeta notou como ela aligeirava a pressão do abraço.
- Vou treiná-la.
Bulma sentou-se na cama e olhou indignada para Vegeta.
- Vais treinar a nossa filha? Porquê?
- Porque tem sangue saiya-jin e chegou o momento certo.
- Desde que nasceu que Bra tem sangue saiya-jin. Em sete anos, nunca te interessaste por ela. É quase tão invisível, quanto eu. O que é que te deu agora para quereres treiná-la?
- Não sou eu que quero. É ela.
- A Bra quer ser treinada por ti? – Disse Bulma perplexa.
- Foi hoje até à Câmara de Gravidade fazer o pedido.
- Não acredito.
- Não conheces a tua filha, Bulma.
Ela deitou-lhe um dos seus habituais olhares fulminantes, mas Vegeta nem estremeceu.
- Como te atreves a dizer uma barbaridade dessas?
- A Bra já luta há algum tempo, contou-me. Está a ser treinada pela neta de Kakaroto.
- Oh, Vegeta! Se pretendes irritar-me… – disse ela entre dentes.
- Que ganho eu em ver-te irritada?
- Bra não precisa de saber lutar! Ela é uma menina!
- Mas é ela que quer saber lutar.
Bulma cobriu a cara com as mãos, rugindo zangada, cotovelos espetados como um aviso de que não se deveriam aproximar ou havia explosão. Mas Vegeta, que a conhecia e sabia como fintar o mau feitio, anunciou com a mesma calma com que mantivera a discussão:
- Sabes que irei treiná-la. Quer tu queiras, quer não… Por isso, começa a mentalizar-te e aceita o facto de que a tua filha é uma guerreira.
Bulma sentiu-se explodir de raiva.
- Se a tua decisão já está tomada, por que raios vieste falar comigo?
- Porque queria que tu soubesses.
A fúria desvaneceu-se, como o ar a escapar-se de um balão. Bulma deixou cair os braços moles.
- Eu não queria que a Bra se metesse nessas coisas – suspirou. – Estava a criá-la para ser uma princesinha. A joia da família.
- Que coisas?
- Tu e Trunks já me chegam como guerreiros nesta família, para se meterem nas aventuras malucas para salvar a Terra, ao lado de Goku.
- A Terra está em paz, Bulma. – E Vegeta lembrou-se subitamente como a sua vida era monótona. – As aventuras malucas acabaram.
- Nunca se sabe, Vegeta.
- Hai. Posso sempre reunir as sete bolas de dragão e pedir a Shenron que me conceda um inimigo digno de combater comigo.
- Tens Goku.
- Kakaroto está entretido na ilha, com o seu aprendiz.
- Quando Ubo-kun estiver preparado, passas a tê-lo também. Poderão divertir-se os três juntos, como se tivessem cinco anos, lutando até caírem – atirou, ressentida, voltando-lhe as costas e puxando o lençol até ao pescoço. – Mas Bra e Trunks ficam fora disso!
- Só se eles quiserem. Não podes dizer a um saiya-jin o que fazer.
- Oh, sim, já sei! O apelo do sangue é demasiado forte. Quando farejam um combate, são imparáveis.
- A tua filha está a sentir o apelo. Não a podes censurar.
- Para com isso. Não quero saber as razões de Bra.
Suspirou. Não havia nada a fazer, sabia-o. Ela estava rodeada daqueles guerreiros desmiolados das estrelas. Ah! Quando se lembrava como censurara Goku por andar sempre atrás de novos combates e de novos desafios. Agora, vivia com um igual a Goku e tinha que lhe aturar as mesmas manias. E tivera os filhos dele, não tivera? Não havia outro remédio senão habituar-se à ideia de que todos eles eram saiya-jin e que todos eles eram iguais.
Vegeta afastou o lençol, puxou-a para si, prendeu-a num abraço que a esmagou e venceu. Antes de a beijar, murmurou:
- Vou fazer de Bra uma grande guerreira. Vais ter orgulho na tua filha, Bulma.
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Próximo capítulo:
Aliados, súbditos e escravos.