O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado


Capítulo 16
III.5 Um estranho combate.




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Goten passou por ele e sussurrou-lhe:

- Isto é uma péssima ideia!

Trunks torceu o nariz, enfiou as mãos nos bolsos do blusão e concordou:

- Também acho. Não se encaixa na minha noção de um encontro romântico, mas é o melhor que te consegui arranjar.

- Já te tinha dito que não preciso da tua ajuda neste assunto!

- Não é isso que vejo…

- Só estás a atrapalhar-me.

- Sem mim, também estavas atrapalhado.

Do outro lado do campo, mãos apoiadas na cintura, uma perna diante da outra, Maron gritou-lhes:

- O que é que estão para aí a discutir? Vamos começar este combate, de uma vez por todas!

A atitude molenga de Goten indicava que não estava totalmente concentrado e Trunks assentou-lhe as mãos nos ombros, olhando-o nos olhos.

- Lembra-te. Não a subestimes. Ela quer lutar a sério.

- Eu não posso lutar a sério com a Maron. Fazia-a em pedaços e não quero… – Corou. – Magoá-la.

- Mas não podes aligeirar a guarda. Lembra-te do que aconteceu há três anos atrás, no torneio, com a tua sobrinha Pan.

- Então, rapazes?

Trunks disse, sem se voltar:

- Só mais um pouco! Estamos a preparar-nos.

- Nunca pensei que um saiya-jin precisasse de tanto tempo para se preparar!

Goten suspirou descontente. Não queria lutar com ela, mas também não queria fugir do desafio. Trunks prosseguiu, apertando-lhe os ombros:

- Não podes deixar que ela te vença. Se te humilha, nunca mais te vai respeitar e fica tudo perdido. Depois desta, convida-a para sair… Vais ver que vai aceitar.

- Mas não quero sair com ela… – E corou ainda mais.

- Tu não gostas dela? Como é que queres que comece a gostar de ti se não sais com ela? Um cinema, para começar… Uma coisa simples.

- Para começar, temos o combate – disse inquieto.

- Rapazes…?

- Estás em terreno favorável. Desenvencilhas-te melhor a combater do que numa saída ao cinema. Tens tudo para brilhar… Preparado? Mostra-lhe do que és capaz!

Trunks voltou-se, exibiu o polegar a indicar que estava tudo preparado. Afastou-se e sentou-se na relva, num local que estava entre o amigo e a filha de Kuririn. Levava a sério o seu papel de árbitro daquele combate.

Estavam no campo verdejante dos arredores de West City para onde ele e Goten costumavam fugir das aulas da universidade e que utilizavam para curtas sessões de luta. Um sítio perfeito e suficientemente discreto.

Maron passou uma mão pelo rabo-de-cavalo, para verificar se o cabelo estava bem preso. Cerrou os punhos e os ossos dos dedos estalaram. Goten respirou fundo, avaliando-a. Deveria terminar depressa com aquilo. Brincaria um pouco, deixaria que a vantagem fosse dela por algum tempo e quando chegasse o momento certo, lançaria o golpe definitivo que acabaria com o combate. Dobrou os cotovelos ligeiramente e preparou-se para investir – seria dele a iniciativa, duvidava que a rapariga fosse afoita ao ponto de o atacar – mas a voz de Trunks estilhaçou-lhe o ímpeto.

- Vamos estabelecer as regras.

- Regras? – Goten arqueou as sobrancelhas. – Quais regras?

Maron cruzou os braços, aborrecida.

- Este combate tem de ter regras. Como saberemos que chegou ao fim e como é que se encontra um vencedor?

- Tens razão – disse Maron, subitamente animada. – Vamos lá, senhor árbitro. Como é que se decide o vencedor?

Após um momento de pausa, Trunks anunciou:

- Com o primeiro sangue!

- O quê? – Gritou Goten. – Sangue?!

- Aquele que derramar sangue primeiro, perde – explicou, percebendo que manipulava a situação.

- Isto não vai ter sangue! – Exclamou Goten.

- Quem disse?

- Maron, não vamos lutar até chegar a esse ponto.

- Estás com medo?

- Ela não está com medo, Goten…

- Cala-te, Trunks! Isto não vai ter sangue.

- Vai, sim! – E Maron arregaçou as mangas.

Trunks gostou de ter acicatado os ânimos. Murmurou, entre dentes, dividindo a atenção pelos dois adversários:

- Não a subestimes, palerma…

Maron descontraiu-se e perguntou:

- Não estás a pensar em levar este combate a sério, Son Goten?

- Estou…

- Então, luta a sério!

Atravessou o espaço que a separava do adversário com um salto, de punho em riste. Goten desviou-se no último instante, admirado com a ferocidade dela e com o facto de o primeiro ataque ter partido, efetivamente, de Maron, ao contrário do que pensara. Não colocou bem os pés, desequilibrou-se e caiu quando ela tentou um segundo soco. Trunks espantou-se com a velocidade de Maron.

A rapariga pediu a Goten que se levantasse, com um gesto brusco. Estava irritada e desiludida, porque achava que ele lhe mentira – não estava nada a levar o combate a sério. Ele olhou-a acanhado, percebendo como estava furiosa. Tentou explicar-lhe o seu ponto de vista, pois nunca quisera aquele combate, mas abriu uma brecha na defesa e apanhou com um terceiro soco em cheio nos queixos que o fez cair de traseiro na relva.

- Não a subestimes, palerma! – Gritou Trunks, colocando as mãos em concha na boca.

De mãos na cintura, pernas ligeiramente afastadas, Maron inclinou-se para Goten, que esfregava a cara. Disse-lhe zombeteira:

- Faz o que o teu amigo te diz. Ou vais perder!

Teve a impressão de que, para além de Maron, também Trunks zombava dele e sentiu uma ferroada no orgulho. Os cabelos na nuca arrepiaram-se. Cerrou os dentes, levantou-se e atirou:

- Eu não vou perder contigo!

- Se sangrares primeiro, vais.

- Isso não vai acontecer.

- Transforma-te em super saiya-jin.

O pedido assustou-o.

- Não… Não posso, Maron!

- Se não o fizeres, nunca saberei se mereço lutar contra ti. – Apontou para Trunks. – Ele lutaria comigo transformado em super saiya-jin.

- Podes crer – anuiu Trunks.

- Mas ele é filho de Vegeta-san.

- E tu és filho do maior saiya-jin que alguma vez existiu.

Goten hesitava. Maron disse:

- Não percebes? Se não o fizeres, vais mesmo perder este combate.

Os ramos das árvores agitaram-se com a brisa super aquecida. Trunks abriu a boca ao olhar para Goten. Maron conseguira o que queria, o que era uma enorme conquista dada a relutância dele em relação a tudo aquilo. O corpo de Goten brilhava, rodeado pela capa de energia característica dos super saiya-jin. Os cabelos dourados ondulavam com rebeldia no ar, os olhos negros eram agora verdes. A cara estava incrivelmente mais séria e concentrada.

- Está bem. Era assim que querias?

Maron sorriu.

- Não te farei concessões, Maron! – Avisou Goten.

Algumas faíscas saltaram dos braços e das pernas dele. Maron conseguia sentir aquela energia na própria pele.

- Se mas fizesses – ripostou ela –, iria desprezar-te para o resto da minha vida.

- Prepara-te para perder. Acabarei rapidamente com esta farsa!

Trunks apreciou a mudança de humor do companheiro. Conhecia-o há muitos anos, eram os melhores amigos do mundo, mas nunca se conseguira habituar aos modos envergonhados e ligeiramente saloios de Goten. Embaraçava-o. Mas quando Goten convocava o ego saiya-jin, assumia em pleno a herança desse sangue guerreiro, o que chegava a ser um alívio.

A rapariga concentrou energia, por sua vez. Soltou um enorme grito, o ki disparou. Trunks percebeu-lhe a força e susteve a respiração. Afinal, talvez ela não fosse assim tão fraca como tinham julgado.

Goten e Maron atiraram-se para cima um do outro, unindo as palmas das mãos quando se encontraram, medindo as forças mutuamente, sem desfitarem, por um segundo sequer, os olhos do adversário. E um sorriso apareceu nos lábios dele. E ela também sorriu.

As simpatias duraram pouco. O punho de Maron dirigiu-se para a cara de Goten. Golpe fácil e previsível, que ele esquivou. Tentou socá-la, mas ela defendeu-se com ambas as mãos. Girou sobre si própria – um movimento que o apanhou desprevenido – e derrubou-o com um pontapé.

Goten sorria, enquanto se levantava, contente por ver que ela sabia o que estava a fazer. Desta vez, Maron não lhe devolveu o sorriso. Correu para ele e atacou-o sem descanso, com todo o tipo de golpes – mãos, braços, pernas, pés.

Goten defendeu-se de todos facilmente.

A falta de experiência dela animou-o. Bastava explorar um pouco mais as aberturas flagrantes na estratégia dela e a vitória pertencer-lhe-ia. Mas arregalou os olhos, estupefacto, ao ver na mão de Maron uma bola de energia a brilhar. Fez aparecer uma segunda bola, na outra mão.

Trunks tinha o coração a bater no peito de tanta excitação. Se, no início, apostara claramente na vitória de Goten, agora já não sabia qual seria o desfecho daquele confronto singular.

Goten recuou, sem deixar de olhar para Maron que seguia cada movimento seu. Se uma daquelas bolas lhe acertasse, iria sangrar… e perderia! Aumentou o ki, saltaram mais faíscas, o chão tremeu. Maron não se deixou impressionar e atirou as duas bolas luminosas ao mesmo tempo. Goten esticou os braços e parou-as com as mãos, anulando-as. Não se tinha refeito do ataque e já vinha outro a caminho. Maron despejou uma saraivada de outras bolas de energia.

Goten amorteceu mais um par de ataques energéticos. Desapareceu de onde estava com a ajuda da super velocidade que dominava e correu para as costas dela.

Assim que viu que Goten já não se encontrava à sua frente, Maron gritou. Sentiu-o atrás de si e a defesa foi instintiva. Levantou os braços à altura da cara e foi com eles que aparou o soco de Goten. O impacto fez Maron vacilar. Goten notou-lhe a insegurança. Rasteirou-a e derrubou-a, mas ela levantou-se logo a seguir. Afastaram-se um do outro para recuperar o fôlego.

- Vês? Sou muito superior a ti quando estou transformado em super saiya-jin – disse Goten.

- O combate ainda não terminou! – Respondeu Maron, sentindo os braços dormentes, mas ocultou o facto.

Tinha o semblante carregado quando o atacou. Os dois envolveram-se num combate corpo-a-corpo. Os golpes eram tão rápidos que deixaram Trunks boquiaberto. Entregavam-se ao combate com sanha. Nem um, nem outro, queria perder. Tanto um, como outro, queriam ganhar.

Mas o combate estava a demorar demasiado e o cansaço ameaçava o desempenho. Após uma sucessão de socos desferidos e defendidos, Goten e Maron encontraram-se frente a frente, completamente indefesos. Os dois recolheram ao mesmo tempo, num movimento sincronizado, a mão direita fechada para que o golpe tivesse mais balanço. O som do contacto. Breve, oco. Dois gritos abafados de dor.

Goten e Maron saltaram para trás, também ao mesmo tempo. E como se um fosse o reflexo do outro levaram a mão ao nariz. Os dois gemeram, sem desfitar o adversário.

Duas gotas de sangue caíram do nariz de Goten e do nariz de Maron.

Ele arregalou os olhos. Ela também. Apontaram o dedo um ao outro.

- Sangue! – Exclamaram em uníssono.

Trunks olhava para os dois, alternadamente. Estavam os dois a sangrar. Goten e Maron. Isso queria dizer que…

- Sangue! – Insistiu Maron fanhosa. – Estás a sangrar! Ganhei eu.

- Olha para ti! – Protestou Goten, igualmente fanhoso. – Tu também estás a sangrar. Fui eu que ganhei!

Trunks resolveu intervir.

- Acho que foi um empate – sentenciou, levantando-se.

Goten e Maron olharam para ele, sem tirarem a mão dos respetivos narizes. O sangue pingava, a dor incomodava, mas nenhum se queixava.

- O quê? – Reagiu Maron, levantando-se.

Goten levantou-se atrás dela. Voltou ao estado normal – os cabelos deixaram de ser dourados, os olhos deixaram de ser verdes.

- Um empate?

Ela olhou para Trunks.

- Empatámos?

- Hum-hum… – confirmou a verificar os estragos. Aparentemente, o combate terminara com um par de narizes magoados e apenas isso. Maron aceitou o resultado.

- Goten, acho que a nossa amiga está de parabéns. Aguentou um combate contra um super saiya-jin.

O elogio arrancou um sorriso à filha de Kuririn, que ficou engraçada com um fio de sangue a escorrer-lhe pela boca, que não tentou limpar, como se fosse um troféu daquele combate, exibido com orgulho. Corou quando Trunks lhe sorriu de volta e ele estranhou a reação. O instinto fê-lo retrair-se. Estavam ali por causa de Goten e porque Goten gostava dela e ele tentava aproximar os dois. Não podia haver variações. Virou-se para o amigo que passava as costas da mão pelo nariz. Não se apercebera de nada.

Maron perguntou:

- Gostaram da exibição, rapazes?

Goten sorriu, derretendo-se como neve debaixo do sol da primavera.

- És fantástica, Maron! Deves continuar a treinar, para aperfeiçoar a técnica, mas já sabes desenvencilhar-te bem. Se te inscrevesses num torneio de artes marciais, terias poucos adversários que te fizessem frente.

- Vou pensar nisso. Não me importaria de ganhar um ou outro prémio

Girou sobre os calcanhares, uniu dos dedos à testa e despediu-se.

- Djá ná, rapazes! E boa sorte com os vossos exames.

Goten ficou a olhar para ela, enquanto Maron se afastava com uma corrida. Agarrou no nariz dorido, sentindo o coração bater de alegria. Aquela rapariga dava-lhe completamente a volta à cabeça!

Mas Trunks, de braços cruzados, ficara pensativo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
No Salão da Luz.



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