Always! escrita por Srt Dubs
A semana que se seguiu, com certeza, foi um pesadelo, tive a difícil tarefa de lidar com a Helena que insistia em falar comigo. Marina por outro lado mal olhava para mim e quando fazia era por obrigação de me explicar qualquer uma das minha dúvidas, mesmo assim sem me olhar nos olhos.
Milly me dizia para ter paciência e eu realmente estava tentando, embora não suportasse os olhares da Helena e a indiferença da Marina. Queria alguma explicação, ou algum conselho, mas nada que meus amigos dissessem seria suficiente.
Sabado eu não tive vontade de levantar, mas a Maria entrou no meu quarto, abriu a cortina e puxou minha coberta.
- Nossa! Bom dia para você também! – eu disse tampando o olhos com as mãos. – O que foi?
- São 10h e você ainda não levantou, vamos anime-se e desça para tomar seu café. – Maria colocou a coxa no chão e ficou me olhando. – Chega dessa tristeza, Sophia! Isso não te fará se sentir melhor...
- Ah! Me deixa em paz, Maria! Não quero me levantar... – eu me virei colocando o travesseiro sobre a cabeça.
- Mesmo sabendo que o circo está na cidade? – Voltei a olha-la e ela sorriu dizendo: - O circo Alegria está de volta... Anda garota, a Milly falou que já está vindo para cá.
Levantei, tomei banho, vesti uma roupa confortável e desci para tomar café, pela primeira vez naquela semana eu estava feliz. Milly já estava a minha espera tomando uma xícara de café.
- Bom dia, Milly! - Eu disse me sentando ao lado dela. – Que noticia maravilhosa!
- Sim, será muito bom voltar ao circo depois de tanto tempo... Como você está? – eu peguei a garrafa de café com leite, enquanto pensava no que responder.
- Melhor, muito melhor! – Milly pareceu se aliviar com a minha resposta.
A lona do circo já estava armada e era exatamente como eu me lembrava. Eu e a Milly tínhamos 9 anos quando pisamos lá pela primeira vez, na época eles estacam ensinando, durante o dia, algumas técnicas que eles usavam em sua apresentação, a noite.
- Quanto tempo... – Milly disse sorrindo enquanto entravamos.
- Ora, vejam se não é a pequena Sophia e, sua escudeira fiel, Milly! – Mario disse ao nos ver entrar, achei incrível que ainda se lembrasse de e nós. – Como vão vocês?
- Ei, senhor M.! Estamos felizes por terem vindo para nossa humilde cidade, já faz tanto tempo... – Mario era o dono do circo, ele estava ajudando o grupo a organizar os equipamentos. – Por onde vocês andaram?
- Muitos lugares, pequena, tantos que até perdi a conta... Mas o que trás vocês aqui, não acredito que seja apenas uma visita saudosa. – Mario sorriu olhando para nossas roupas, boas para a prática de exercícios. – Se não se importarem em ajudar, acredito que não terá problema se vocês treinarem conosco, o que acham?
- Seria ótimo! – Milly disse animada e eu concordei.
- Maravilha! Pessoal, vocês se lembram das melhores aprendizes que esse circo já teve? – era um enorme exagero da parte dele, é claro, mas me lembro de ter aprendido muita coisa com eles. – Fiquem à vontade para ajudar o quanto quiserem...
Nós concordamos e fomos ajudar, era tão legal estar ali de novo, com aqueles artistas tão fabulosos e debaixo daquela tenda que me trazia boas recordações. Fizemos uma pausa para o almoço e faltava pouca coisa a ser feita, então, logo poderíamos treinar.
- Caramba, depois disso não precisamos nem de aquecimento... – Milly disse sentando-se ao meu lado.
- Você tem razão! – eu disse rindo da cara de acabada dela. – Ainda se lembra da nossa acrobacia no trapézio?
- Não sei... – A Milly tinha medo de altura, mas naquela época nós fizemos uma pequena acrobacia juntas. – Acho que não... E você?
- Nunca foi fácil para mim, mas quem sabe...
Quando finalizamos nossos trabalhos, o Mario veio até nós dizendo:
- Aconselho que permaneçam nos movimentos menos trabalhosos, devido ao tempo que estão sem praticar... – Mario reparou em nossa expressão triste e disse – Apenas por precaução, permaneçam nos alongamentos, contudo se sentirem que estão aptas a treinar de verdade sinta-se em casa.
Nós sorrimos como crianças que ganham algum presentinho e fomos nos alongar com a bailarina Nádia. Ela era muito simpática, estava sempre sorrindo, andava levemente, com delicadeza e sua dança era algo de tirar o folego.
Para quem acha que alongar é algo fácil, tenho que dizer que está totalmente enganado, trabalhar a flexibilidade era algo que exigia dedicação e resistência. Milly sempre teve mais facilidade que eu, por ter feito anos de balé, mas por sempre me exercitar eu não ficava muito atrás.
- Vocês realmente se interessam pelo picadeiro, não é? – Nádia perguntou ao ver nossa animação.
- Sim, muito! Achamos incrível a habilidade de fazer as pessoas sorrirem, e todas essas técnicas de apresentação. – Eu disse e a Milly concordou como se eu tivesse dito exatamente o que ela queria.
- Aprendemos muito, naquele ano, mesmo que tenham sido poucas aulas. – Milly disse se levantando e me oferecendo a mão. – Se houverem aulas como naquela vez, creio que seremos as primeiras a nos candidatar.
- Sophia! – Catarina chamou lá do alto. – Suba aqui...
Subi a escada, ignorando o frio que estava sentindo em minha barriga, era mais alto do que eu me lembrava. Pisei na base e olhei para a Catarina que disse:
- Ainda se lembra como é uma meia volta prolongada?
Meia volta prolongada é uma das primeiras coisas que se aprende quando se usa o trapézio, se trata de dar uma rápida meia volta no ar antes de encontrar o trapezista ou o próprio trapézio.
- Sim, eu me lembro! – eu disse segurando o trapézio com firmeza e a Catarina fez o mesmo, deu um impulso e prendeu as pernas ficando de cabeça para baixo.
- Quando sincronizarmos você faz o movimento, ok?
Eu concordei já começando a me balançar, quando percebi que estávamos no mesmo ritmo, ela acenou para mim e eu me preparei para saltar assim que atingisse o ponto mais alto. Saltei sem medo e a Catarina segurou minhas mãos, me puxando para cima, em seguida.
- Tem certeza de que não tem treinado escondida? – Catarina me perguntou rindo.
- Na verdade, depois que vocês foram embora, eu tentei continuar com meus treinos, entretanto era quase impossível sem os equipamentos... – eu costumava trabalhar o equilíbrio e coisas assim, nas aulas de educação física.
- Você está melhor do que eu imaginava... – Milly disse quando nós chegamos a minha casa.
- Nem tanto assim... – Eu disse sem saber se ela estava se referindo apenas as minhas habilidades circenses. – Quer entrar?
- Não obrigada, preciso de um banho e da minha cama... – Ela disse indo embora.
Maria me fez contar tudo que tínhamos feito no circo, enquanto eu bebia e comia alguma coisa. Subi para tomar um banho demorado e frio, coloquei meu pijama e deitei, adormecendo, em seguida.
Eu abri os olhos e estava em uma montanha, que me dava uma vista privilegiada do vale que eu sempre via quando sonhava com o Murilo. Lá estava fresco e com o seu azul tão lindo que não me importaria de olha-lo pelo resto do dia.
- Recuperou sua confiança sozinha, parabéns! – Murilo disse sentado na beira do precipício. – Acho surpreendente sua determinação...
- Mas eu não fiz nada, aliás, tirando hoje essa semana foi um desastre... – Eu disse sentando-me ao lado dele.
- Eu imagino, sei como a Marina pode ser difícil de lidar... Mas o que importa é que você não desistiu e essa é a prova de que você é mesmo a pessoa certa. – Murilo segurou minha mão gentilmente.
- Certa? Para que? – eu perguntei puxando minha mão de volta.
- Não posso te contar algumas coisas, mas será bom que você me ouça cautelosamente, pois o que tenho para te dizer agora, não é algo que poça dizer para qualquer um...
- Caramba, Murilo, você está dando voltas. Aonde quer chegar? – eu perguntei já com medo da resposta.
- É sobre a Marina... – O tom dele ao dizer “Marina” me fez arrepiar. – Você já deve ter percebido o quão imprevisível e misteriosa ela é. Isso não se deve, apenas, a sua personalidade, mas sim a seu grande segredo....
- Ah, até você sabe do que se trata... – Eu murmurei chateada e por fim algo me ocorreu a mente. - Como sabe? Quem é você afinal? E o que quer de mim?
- Sophia, sinto muito, por não esclarecer tudo agora, mas garanto que tudo isso fará sentido um dia... Eu sou o guardião da Marina, por assim dizer, e preciso de ajuda, sua ajuda. - Murilo se surpreendeu quando comecei a rir.
- Desculpa, eu tentei imaginar o quão difícil deve ser proteger uma professora... – eu parei de rir quando me lembrei da conversa que tive com a Marina naquela vez que saímos. – Ah, para! Impossível ser isso...
- Na verdade, não é impossível... – Murilo sorriu como se soubesse o que se passava em minha cabeça. – A Marina é uma agente secreta da CIA e trabalha aqui no Brasil, há quatro anos. O que posso te contar é que ela vem trabalhando na mesma missão que muitos agentes espalhados pelo mundo, mas a maioria vem sumindo misteriosamente e como a Marina está mais uma vez se aproximando demais do perigo, eu temo que algo venha a acontecer...
- Acha que virão atrás dela? – eu perguntei preocupada.
- Já fizeram isso antes, há três anos, quando souberam da presença dela aqui, no país. E o resultado não foi muito bom... – Ele pousando a mão sobre a região do coração. – Preciso protegê-la, mas meu poder é limitado, não posso interferir diretamente nos acontecimentos, entretanto se você me ajudasse...
- Não posso! Ela foi bem direta em dizer que não nunca quis ou precisou da minha ajuda, nem sequer me olhou nos olhos nessa ultima semana. - Murilo concordou triste como se já tivesse sentido tal indiferença.
Ficamos ali observando a paisagem, Murilo respeitou meu silêncio e permaneceu a meu lado. Olhando o lago, me lembrei do sorriso da Marina, o mais raro de todos, o qual ela me dirigiu quando dei a ela seu presente de aniversário. Foi um sorriso sincero, simples e verdadeiramente feliz.
Lembrar daquilo me fez arrepiar, como no dia do ocorrido, porque aquele sorriso havia me surpreendido, outra lembrança era a Marina na porta da minha casa, alguns dias atrás, me chamando para conversar.
- Eu vou ajudar! – eu disse de repente e o Murilo me observou curioso. –O que preciso fazer?
- Fico feliz com a sua decisão... – Murilo parou de falar e substituiu seu sorriso por uma expressão preocupada. – Você precisa acordar! A tia da Marina...
Eu acordei com a Maria me sacudindo e levantei assustada.
- Sophia...
- Eu sei, a tia da Marina, o que aconteceu? – eu disse calçando meu chinelo e descendo as escadas.
- Não sei ao certo, mas eu ouvi um grito, aonde você vai? – Maria perguntou, mas eu já tinha saído.
Entrei na casa e estava tudo escuro apesar de ainda ser 8h da noite. Subi a escada e via porta do quarto entreaberta.
- Sra. Calliari? – eu entrei no quarto e a vi na cama deitada. – O que houve?
Ela estava com a mão no coração como se quisesse tira-lo do peito. Olhei pela janela e via a minha mãe estacionar na frente de casa.
- Mãe! Socorro! – Minha mãe me olhou sem entender, mas correu para dentro da casa. Ela entrou no quarto e quase deixou o queixo cair. – Não sei o que ela tem, mas...
- Me ajuda a leva-la para o carro, agora! – Nós a levantamos com toda a dificuldade do mundo, no carro ela desmaiou, mas sabíamos que ainda estava viva, por causa da respiração. – Ligue para a Marina e diga que estamos indo para o hospital.
Eu peguei o meu celular, procurei o numero da Marina e liguei, mas, é claro, que ela não atendeu. Chegando ao hospital, minha mãe entrou com a Sra. Calliari e eu peguei o telefone na recepção.
- Alô? – Marina disse do outro lado.
- Não vou nem comentar a sua criancice de não me atender... – Eu disse esperando que ela não desligasse na minha cara. – Mas enfim, eu liguei para dizer...
-Sophia, eu estou ocupada! Não dá para...
- Não, Marina, é importante! É sobre sua tia, ela passou mal eu e minha mãe a trouxemos para o hospital, achei que você iria querer saber. – Marina ficou em silencio e eu imaginei que tivesse desligado. – Marina?
- Já estou indo...
Eu estava sentada, na sala de espera quando a Marina entrou e veio falar comigo.
- Alguma noticia?
- Nada ainda, minha mãe estrou com ela, eu creio que esteja tudo bem, do contrario já teriam dito algo... – Marina concordou e sentou-se ao meu lado.
Ficamos em silêncio, eu preferia não incomoda-la, embora eu estivesse me segurando para não dizer nada. Levantei e fui até a maquina de café, peguei dois copos de café puro e voltei para o meu lugar.
- Obrigada! – Marina disse quando ofereci o como para ela.
- Sem problemas... – eu disse olhando para ela preocupada. – Você está bem?
- Aham! – ela respondeu secamente. – Desculpa por não ter te atendido, eu achei que...
- Tudo bem, Marina! Teria feito o mesmo... – Marina me olhou surpresa pela naturalidade que usei. – Não sei o que te fez tomar essa posição em relação a mim, e espero, sinceramente, que não tenha sido culpa minha... No entanto, irei respeitar sua decisão, pois algo me diz que a causa é nobre.
Ela parecia desarmada com o que eu tinha dito, mas não demorou a desviar o olhar...
Minha mãe apareceu uma hora depois com uma prancheta em mãos, a qual entregou a Marina
- Sua tia está bem, agora, mas como quase teve um infarto ficará em observação, por favor, preencha a folha com as documentações devidas e a entregue na recepção. – Minha mãe olhou para mim e eu me levantei, Marina me segurou pela mão e eu a olhei quase que instantaneamente.
- Obrigada, Sophia! – Ela disse me olhando nos olhos, pela primeira vez naquela semana. – Muito obrigada, mesmo!
- Sabe que não precisa... – eu apertei a mão dela gentilmente e soltei em seguida. – Se precisar é só chamar!
Marina concordou e eu não pude deixar de sorrir, afinal querendo ou não, ela tinha feito com que eu acreditasse que o que ela tinha dito na última segunda, era mentira.
Na segunda seguinte, eu era, com certeza, uma nova Sophia, as aulas de circo e o que tinha acontecido com a Sra. Calliari, tinha me dado nova força, mesmo que eu soubesse que teria que encarar a expressão impenetrável da Marina.
Entrei na sala e Alice estava sentada em sua mesa observando os alunos que já estavam lá.
- Ei, Alice, bom dia! – ela olhou para mim sorridente e isso me surpreendeu. – Tudo bem?
- Ótima! Melhor agora que vejo que você recuperou o seu brilho... – eu não entendi o que ela quis dizer com “brilho”, mas não queria perguntar. – Semana passada você estava meio apagada, imagino que tenha tido um bom motivo.
- Você reparou?
- Impossível não reparar, você sempre tem um brilho interessante no olhar, é algo que todos os professores já repararam... – eu sorri sem graça e me sentei organizando meu material sobre a mesa. – Fico feliz que esteja melhor!
Não era comum a Alice se mostrar preocupada com coisas que fugiam de sua área de trabalho, pelo menos não enquanto estivesse trabalhando. Era até legal que estivesse dizendo coisas assim para mim.
- Bom dia, Sophia! – Milly disse entrando na sala com uma cara estranha. – Estou quebrada... Aquele treino de ontem foi terrível.
- Nem foi tanto assim... – Ela me lançou um olhar desafiador e eu ri. – Você tem razão, foi terrível.
Ontem nós fomos ao circo nos inscrever nas aulas que eles dariam, por duas semanas e aproveitamos para começar de vez nossos treinamentos.
- Estamos melhores do que eu imaginava...
- Em que? – Stefan perguntou sentando-se na fila ao lado
Milly contou a ele sobre o circo e o que tínhamos haver com ele, Stefan iria comentar algo quando a Alice começou a aula e tivemos que interromper a conversa.
- Bom dia, Sophia! – Marina disse quando eu entrei na sala dela, e o mais engraçado era que ela estava olhando pela janela. Como ela sabia que era eu?
- Bom dia, Marina! Como está a sua tia? – eu disse me sentando na primeira cadeira da fila do meio.
- Melhor, ainda está sob observação, mas acredito que hoje, à tarde, ela será liberada. – Ela disse vindo até a mesa dela, me observou com expressão de curiosidade e comentou. – Voltou a seu lugar de costume...
- Me sinto melhor aqui. – eu sempre me sentava na frente era o meio que eu encontrei de prestar bastante atenção na aula, mas na semana passada eu estava me sentando no fundo.
- Sophia, queria dizer que...
- Você não vai voltar atrás no que me disse semana passada. – Eu disse já adivinhando o que ela diria e a Marina sorriu meio amarelo o que significava que eu tinha acertado. – Eu te disse que respeitarei sua decisão.
- Como...? – A pergunta morreu antes de ser dita, pois os alunos começaram a entrar, na sala, entretanto ela permaneceu me olhando como se não acreditasse no que eu tinha dito. – Que bom!
Eu sorri e ela apenas, me dirigiu um rápido aceno de cabeça, antes de desviar a atenção para a turma. A Milly me olhou sem entender os olhares que eu e a Marina trocamos, mas não quis explicar.
- Bom dia, turma! – Marina disse andando pela sala até parar do meu lado e começando sua explicação sobre um projeto de redação que iria trabalhar conosco.
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E aí o que acharam??