Nichols Hills – Oklahoma

Nichols Hills High School

17 de outubro, 2009 – 08h30min a.m.

— Sr. Hughes, por estar tão interessado em minha aula, vou lhe conceder a honra de se colocar pra fora da sala nesse exato instante.

Com um sorriso sem-graça para o professor, Nick levantou os olhos de seu celular, os fios dourados de seu cabelo cobrindo o castanho de suas íris. O eletrônico em suas mãos — um aparelho de última geração — tremeu, alertando-o para uma nova mensagem que não convinha ler no momento, e o jovem guardou-o no bolso, levantando-se de supetão.

Sem tirar o sorriso do rosto, caminhou até a porta que o professor mantinha aberta, e atravessou-a, ouvindo a madeira bater no instante em que se encontrou do lado de fora da sala. Com um suspiro, pegou o celular do bolso, encarou a tela por alguns instantes e guardou-o novamente, pondo-se a andar pelos corredores, inquieto, o sorriso desaparecendo a cada passo.

Nunca admitiria a ninguém, mas a verdade é que estava começando a ficar com medo. As mortes mais recentes tinham-no assustado mais do que gostaria. A primeira vítima, Allison? Sua prima. Todas as outras, Jack, Erik, Louise, Katie? Eram todos amigos seus. Amigos íntimos, amigos, ou simplesmente colegas. Todas as mortes eram de pessoas que ele conhecia, e agora, Nick estava realmente considerando a possibilidade de ser o próximo.

Isso tudo, não levando em conta o fato de que ele conhecia Elizabeth Olivier.

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Nichols Hills – Oklahoma

Nichols Hills High School

17 de outubro, 2009 – 012h30min a.m.

— Qual é, cara, vamos! — James Abrahall sorriu, os olhos brilhando com certa ironia. — Nick Hughes negando fogo? A festa vai ser divertida, eu prometo!

— Não sei, cara... — o louro balançou a cabeça, deliberadamente ignorando a pergunta do colega. James nunca fora o melhor de seus amigos, mas agora que a maioria deles estava morta, era o único que restava. E Hughes não era de ferro, ele precisava de alguém ao seu lado; mesmo que essa pessoa não compreendesse suas razões e atitudes. — Depois de tudo que vem acontecendo...

— Ninguém vai ficar bêbado e se perder da turma dessa vez. — o moreno ao seu lado ergueu uma sobrancelha de modo sugestivo, e Nick entendeu exatamente o que ele queria dizer com isso.

— Não, James. — ele balançou a cabeça, quase indignado. — Se quiser uma festa, faça-a você, mas me deixe fora disso. Depois de tudo que vem acontecendo, eu não conseguiria entrar nesse clima nem se quisesse. E eu não quero. Então, com licença.

Sem esperar respostas, caminhou para longe do amigo, sem nenhum destino certo, querendo apenas se afastar e ficar sozinho por um tempo; precisava pensar. Seus desejos, porém, não foram atendidos, e ele logo percebeu a movimentação quando dois homens altos usando ternos aproximaram-se dele. Um era louro, atarracado, com uma expressão quase agressiva no rosto. Outro mais alto, de cabelos castanhos e expressão neutra.

Um casal gay, talvez? Não seria a primeira vez que Nick via um.

— Nick Hughes? — o moreno chamou-o, sério, a voz grave, e Nick travou no meio do caminho.

Oh, meu Deus, o que foi que aconteceu dessa vez?

— Eu? — questionou, num fiapo de voz, e percebeu uma ligeira troca de olhares entre os dois. — Vocês não são da funerária, são? — outra troca de olhares.

— Não. — o mais alto respondeu, para seu imenso alívio, e esticou a mão para um aperto amigável. — Sou o agente Malcolm Scott, e esse é meu colega, agente Bon Young. Somos do FBI, e estamos aqui para investigar as mortes que vêm ocorrendo na faculdade. — para comprovar o que dizia, puxou um distintivo com foto, mostrando-o rapidamente para Hughes. — Se não se importar, gostaríamos de fazer algumas perguntar.

Se Nick não estivesse tão chocado com a afirmação, teria perguntado se os pais deles eram fãs de rock, e amigos, para fazerem uma jogada de nomes tão interessantes quanto aquela.

— P-Perguntas? Que tipo de perguntas?

Bon deu de ombros, e quando falou, sua voz soava surpreendentemente calma:

— O tipo de perguntas que você não gostaria de responder em pé, garoto.

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Nichols Hills – Oklahoma

Plucky’s Ice Cream

17 de outubro, 2009 – 012h45min a.m.

— Qual era o seu envolvimento com as vítimas?

— Allison era minha prima. — deu de ombros, desconfortável. — Jack e Erik, amigos de infância. Louise e Katie eram as namoradas deles, amigas minhas também...

— Como era a relação entre vocês? Algum desentendimento, alguma briga antes das mortes?

— Eu... Acho que não. Allison e eu brigamos uma vez, quando não quis lhe emprestar meu caderno para copiar as respostas... Isso é realmente importante?

— Estamos apenas seguindo o protocolo, Nick. — confirmou o agente Scott, antes que o agente Young pudesse continuar com as perguntas.

Nick sentia-se mal com os questionamentos. Como se, de alguma forma, suspeitassem que ele pudesse ser o assassino. Mas, ora, ele não era! Isso não fazia sentido, fazia? Todos os mortos eram conhecidos seus, eram amigos seus, e... Oh! Talvez fosse por isso que faziam aquelas perguntas estranhas.

— Nos locais onde foram encontrados... Houve algo diferente no ambiente?

— Diferente... Como assim “diferente”?

— Estranho, eu quero dizer. Impressões, marcas... Cheiro de enxofre, talvez?

—... Não... Quer dizer, não que eu me lembre.

Se os filmes policiais que assistira fossem como a realidade — e Nick não sabia se eram —, aqueles eram os agentes mais estranhos que já vira. E, definitivamente, um casal gay bastante exótico.

Sair por aí metido em um terno, caçando assassinos ao lado da pessoa que você ama... O quão estranho isso não deve ser?