Abrimos a porta do quarto dele e deparamos com Sam, mas como zumbi.

– Sam, não – Bryan murmurou.

Eu e Bryan chegamos para trás, mas não matamos Sam, ele começou a vir em nossa direção mancando como zumbi. Nós não teríamos coragem de matá-lo, ele foi muito especial para gente, eu não conseguiria matá-lo, mas uma garota correu e enfiou uma espada comprida na cabeça de Sam, fazendo-o cair imóvel. Provavelmente a garota era a sobrevivente.

– Nããão! Sam! – gritou Bryan correndo até o irmão.

– O que você fez? – perguntei para a garota.

– Meu trabalho – respondeu ela com tranquilidade.

Mesmo eu sabendo que Sam já havia morrido, eu não conseguiria me acostumar rapidamente. Fui até o lado de Bryan, que estava vermelho de tanto chorar.

Levei meus dedos até os olhos de Sam e os fechei. Tirei o cordão da minha mãe que estava usando e coloquei em Sam. Bryan olhou para mim, eu o abracei.

– Ele vai fazer falta, eu sei – sussurrei.

Eu levantei e fui até a garota.

– Quem é você? – perguntei.

– Eu me chamo Camila, vim do sul do país...

– Eu não pedi uma certidão de nascimento – eu a interrompi.

Fui até Bryan, que estava cobrindo Sam com um lençol.

– Vamos enterrá-lo? – perguntei a ele.

– Enterrá-lo aonde? – perguntou.

Não poderíamos descer, pois tinham muitos zumbis lá embaixo, mas queríamos enterrar Sam. Bryan ficou paralisado olhando para o corpo imóvel do irmão. Eu não sabia o que dizer, olhei para a espada de Camila, a garota estava olhando para nós com tamanha tranquilidade. Parecia que ela não tinha perdido nenhum parente.

– O que vocês queriam fazer com ele? Só podíamos matá-lo – ela se explicou.

Tinha um jeito de fazer Sam não querer a gente como comida, poderíamos cortar seus braços para ele não nos arranhar, furar os olhos para não nos ver, cortar a mandíbula para não poder morder e prendê-lo em alguma corrente, seria um Sam de estimação, mas não podíamos mais fazer isso, ele estava completamente morto. Pensei um pouco sobre minha ideia de fazer um zumbi de estimação e soube que era completamente louco o que pensei.

– Vamos Bryan – eu o chamei para voltarmos para o quarto.

Bryan fuzilou Camila com o olhar e foi para o quarto com passos duros. Eu não queria falar com ele, eu sabia que em parte, Camila estava certa. Eu o deixei sozinho no quarto e fui falar com Camila.

– Você que matou os zumbis lá embaixo? – perguntei a ela.

– Sim, fui eu, por quê?

Ela me lembrava um pouco Sarah. O modo de ela ser um pouco grossa, Camila tinha cabelos curtos e escuros e tinha olhos azuis, que me encaravam como se eu fosse um zumbi.

– Aonde arranjou essa espada? – perguntei.

– Eu fazia aulas de esgrima e fiquei com essa espada – respondeu ela me entregando a espada para eu ver.

Eu conseguia ver meu reflexo na espada, meus cabelos castanhos estavam bagunçados. A ponta da espada era bem afiada, poderia até furar um ferro.

– Tem armas? – perguntei para Camila.

Ela mudou o peso de um pé para outro.

– Até que tenho, mas só uso em casos de tamanha emergência.

– Que tipo de emergência?

– Só quando tem vários zumbis – falou ela – você sabe que zumbis são atraídos por barulho, é por isso que quando tem poucos zumbis, eu os mato com minha espada.

Olhei cada detalhe do corpo de Camila, tentando procurar algum corte ou mordida, ainda não esquecia as manchas de sangue que Sam havia falado, será que era dela ou havia outro sobrevivente? Mas vi da onde saía as manchas. Havia um corte profundo na perna de Camila.

– Onde se cortou? – perguntei, mas ela não respondeu, tampou o corte e fingiu que não me ouviu.

– Posso ficar no quarto do garoto? – perguntou ela.

– Não sou dona dessa casa, se quiser ficar, fique – respondi e voltei para o “meu quarto”.

Bryan estava lendo um livro qualquer, mas parecia não estar gostando, quando me viu entrar, soltou o livro.

– Então? – disse ele.

– Ela vai ficar no quarto de Sam – respondi – está com raiva dela?

Ele negou com um gesto, eu acho que ele sabia que Camila tinha feito o certo. Sentei ao seu lado na cama.

– Sente falta dos seus amigos? – perguntei.

– Eu não tinha muitos amigos na escola, Sarah era minha única amiga, mas morreu – respondeu.

Nós nos encaramos. Ele fechou os olhos e, quando íamos nos beijar, ouvimos gritos.