I Surrender escrita por QueenD, Summer


Capítulo 14
Capítulo 14 - Agindo Como Crianças


Notas iniciais do capítulo

Como quem é vivo sempre aparece cá estamos hehe. Depois daquele capítulo tenso, nada melhor um pouco de drama.

Obrigada à LauraTeodoro pela recomendação diva e tudo que há de bom.



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Capítulo 14 - Agindo Como Crianças

Meus pés, calçados em chinelos, caminhavam rapidamente pela rua. Meus olhos acompanhavam minhas próprias passadas. Tive a impressão de ouvir meu nome ser gritado algumas vezes, mas não me dei ao trabalho de tentar saber quem era.

A rua estava barulhenta com o início da noite, devia ser por volta das dezenove horas. Turistas entusiasmados passavam por mim falando em um idioma que eu não entendia, alguns carrinhos com churros, cachorro quente e pipoca perambulavam pela calçada. Nenhum deles percebia que eu chorava.

Eu apenas andava sem saber direito para onde ia e eu não conseguia parar de chorar. Chorar pela minha mãe, por raiva de David e Ashley e até mesmo de Blake. Ele sabia de tudo o tempo todo e também mentiu pra mim por certo tempo.

Não fazia ideia de para onde eu estava indo. Depois de tudo aquilo acontecer, sair batendo a porta me pareceu uma boa válvula de escape, mas agora eu só conseguia pensar que, como David tinha dito tantas vezes, eu realmente era apenas uma garota mimada.

Queria que minha mãe estivesse aqui, ela saberia o que fazer, mesmo sendo a traída por David. Queria que Annie e Dallas estivessem aqui. Queria voltar para Doncaster. Queria que David morresse e levasse Ashley junto, aliás, queria que nunca tivesse conhecido Ashley. Por que quem morreu foi minha mãe e não David?

Mordi a bochecha tentando evitar mais um soluço. Minha visão ainda estava meio embaçada e meu cabelo caía na frente do meu rosto.

Tenho certeza que mamãe nunca teria feito o que David fez. Ela tinha caráter, coisa que eu pensei que meu pai tinha. Ele me enganou todo esse tempo. Brigava comigo por coisa que comparadas ao que fez não significava nada. Hipócrita.

Eu estou enjoada, com nojo de tudo isso. Eu vou vomitar. Eu vou vomitar. Eu vou...

Eu não posso vomitar. Respirei fundo engasgando num soluço estúpido.

Perdi o equilíbrio e tive de me apoiar em um dos carrinhos de comida que balançou e tremeu com a força exagerada. Além de vomitar acho que vou desmaiar. Isso não pode acontecer, se acontecer eu vou ter um blecaute no meio da rua.

– Ei! Cuidado com isso! – O provável dono do carrinho disse em um tom rude.

– Desculpe – murmurei sem olhá-lo. Tirei minha mão do carrinho e teria caído se não fosse por uma mulher que comprava um cachorro quente.

– Você está bem, querida?

Querida. Querida. Ashley me chamava assim.

Meu estômago deu mais uma volta, como se estivesse embrulhando e eu comecei a salivar, a vontade de vomitar me acertando novamente.

– Ótima – Desvencilhei-me da mulher e atravessei a primeira rua que vi, passando entre os carros.

A ânsia de vômito havia passado um pouco, mas ainda sentia-me fraca, como se eu pudesse cair ali no chão, no meio da rua e ter um blecaute com desconhecidos como plateia dos meus gritos e chutes inconscientes.

Não sei há quanto tempo eu estava andando, mas sentia o frio cortante e meus dedos dos pés dormentes. O movimento também diminuíra, mas ainda era constante, e eu agora passava por uma ponte, minha visão ficando meio turva ao olhar para baixo, vendo a água, eu claramente precisava dormir.

Alguma coisa puxou meu braço quando terminava de atravessar a ponte. Virei-me rapidamente já esperando o pior, e por incrível que pareça, não me surpreendi ao ver Blake ofegante e com a testa franzida, me puxando pelos ombros.

Ele estivera me seguindo todo esse tempo?

Não importa. Ainda sentia raiva dele por ter mentido pra mim por pouco mais de um mês, que era o tempo que nos conhecíamos. Mais de um mês e Blake me escondera tudo isso sobre Ashley Vagabunda e David.

– Me larga. – falei balançando os ombros para fazê-lo me soltar.

– Sophie...

Respirei fundo sabendo o quão difícil era olhar para sua expressão preocupada e ser fria com ele.

– Me largue – falei com a voz baixa para logo depois aumentar o tom. – Me largue agora mesmo ou eu vou gritar tanto que as pessoas vão achar que você está me estuprando.

– Pare de gritar, as pessoas estão encarando! – Apertou os dedos em meus ombros.

– Ótimo, que ouçam! Socorro! Blake, pare com isso!

Com a preocupação substituída por raiva ele soltou-me com má vontade e eu comecei a andar o mais rápido que conseguia na direção oposta à ele. Afinal, por que Blake tinha vindo até aqui por mim? Não fazia sentido, e por algum motivo que eu realmente não sabia qual, isso me fez sentir mais vontade de chorar.

Eu sentia seus passos pesados atrás de mim, me seguindo.

– Sophie! – Blake gritou pra que eu pudesse ouvi-lo. – Quer parar de agir como uma criancinha outra vez e pelo menos uma vez na sua vida fútil e tentar ter um pouco de maturidade?

Agir como uma criancinha. Vida fútil. Ter um pouco de maturidade. Eu era assim tão ruim? Blake não era o único que falava isso pra mim, David também o fazia, e isso machucava. Muito.

E foi só isso que me fez parar de andar e virar para Blake. Se sua expressão era enraivecida, a minha era a de uma pessoa furiosa.

– Agir com maturidade? Ok, vamos parar de ser criancinhas. – Minha voz saiu cortante como a de Blake era na maioria das vezes que falava comigo. Palmas para mim.

Passei com força as mãos sobre os olhos com resquícios de lágrimas e cruzei os braços mordendo novamente a bochecha para evitar outra crise de choro. Eu não iria abrir o berreiro aqui, não na frente de Blake, já bastava ser humilhada – por mim mesma – na frente dele.

– Sabe por que vim atrás de você? – Aproximou-se consideravelmente, mas ainda sim não consegui vê-lo perfeitamente na rua pouco iluminada que estávamos.

– Não. A única coisa que quero saber é o motivo de ter mentido para mim por todo esse tempo!

– Pelo simples fato de que eu já passei por tudo isso que você está passando! – Continuou, ignorando-me. – Se agi como uma criança? Sim, eu fiz isso, por que eu era uma. Foi difícil ver meus pais brigando por todo canto e assim que eu chegava fingiam que tudo estava normal, era difícil ver as saídas de Ashley e saber que ela ia encontrar com o homem que ela gostava e esse cara não era o meu pai.

Ouvi-lo falando desse jeito, tão exposto, quase me fez chorar novamente, mas eu fechei os olhos com força dizendo a mim mesma para não deixar as lágrimas caírem.

– Ah, sim, o jeito como eu descobri isso foi pior ainda. – Agora ele andava pela calçada que me era um pouquinho familiar. – Na época eu tinha uns dez ou onze anos e morávamos em Belgravia, um bairro nobre daqui e tínhamos uma sauna em casa e adivinhe só, Ashley e David estavam praticamente fazendo sexo lá. Eu podia ser uma criança, mas não tanto para não entender o que aquilo significava.

Se Blake tinha essa idade mamãe já havia morrido. Jesus, por quanto tempo Ashley e David tinham esse caso? Uns dezesseis anos? Quem sabe mais.

Começou a andar pela grama e finalmente percebi onde estávamos. Era a mesma praça da primeira vez que eu encontrei seu grupo de amigos drogados, dessa vez outro grupo podia ser visto em pequenas silhuetas na pista se skate. Olá, ironia. Tínhamos parado justo aqui.

– Eu fingi não saber de nada, que não tinha visto nada por um ano, então quando chegou meu aniversário, - Blake sentou-se na grama, escorando-se em uma árvore. – vi David chegando com sua adorável filha de longos cabelos loiros e foi aí que não suportei mais, estraguei minha festa toda e explodi com Ashley. A partir daí ela começou a me mimar.

– O que? Nós já nos conhecíamos? – perguntei com os olhos arregalados sentando-me ao seu lado. Eu não me lembrava de conhecê-lo.

Blake deu de ombros como se isso fosse a parte menos importante da história. Pra mim não era.

Nossos braços se tocavam desde o ombro até o cotovelo.

Aspirei o ar com força. Minha raiva de Blake diminuía um pouco, mas não totalmente.

– Isso também foi o fim da farsa que era o casamento de meus pais, mas Ashley não queria se separar, por isso o caso ficou na justiça por anos e quando finalmente minha guarda foi dada para ela, eu tinha quinze anos.

Ouvi o estalo de isqueiro sendo aceso e virei-me pronta para começar outra discussão sobre ele fumar drogas, esquecendo o negócio de ser madura.

– Meu Deus, Blake! – Abri a boca e franzi as sobrancelhas o olhando cautelosamente. – O que aconteceu com você?

Acima de sua sobrancelha havia sangue coagulado e um filete que escorrera dele, agora seco. Seu olho direito tinha uma coloração avermelhada em volta um pouquinho inchado que eu possuía certeza que ficaria roxo e bem mais inchado mais tarde, a mão que segurava o isqueiro também parecia machucada e sua boca também tinha um leve inchaço. Não tinha notado nada disse antes por causa da iluminação ruim, mas agora que ele estava tão perto de mim que conseguia ver seu rosto.

– Seu pai. – Foi tudo que ele disse.

– O que? Meu pai quem fez isso em você? – perguntei incrédula. Nem sei por que de tanta surpresa da minha parte, se David havia traído minha mãe por tanto tempo e mentido pra mim por tanto tempo, ele poderia muito bem espancar garotos com menos da metade de sua idade.

– Fez.

– Mas, ele, ele nã-

– Não imaginava que seu pai fosse tão canalha assim, certo? Depois que eles desceram correndo as escadas e descobriram o que eu tinha lhe contado, ele começou a gritar e nós começamos a brigar, mas fique tranquila por que eu também dei bons socos nele. – Sorriu sadicamente com os olhos brilhando por um momento. O isqueiro acendia e apagava-se constantemente.

Mordi os lábios sem conseguir parar de olhar seus machucados. Blake havia passado por tudo aquilo que eu passava agora mais novo que eu e mesmo assim conseguiu lidar com isso e agora tinha brigado feio com meu pai por, de certa forma, minha causa. Percebi que minha raiva por ele tinha passado.

– Blake, eu...

– Esqueça isso Sophie. Estou bem.

Desviei o olhar de seus machucados para encarar seus olhos azuis. Ele me encarava de volta. Estávamos tão próximos que se eu me inclinasse em sua direção nossos lábios se encostariam. Então, sem pensar direito, estou inclinando para mais perto e ele arrasta-se para ficar mais próximo de mim. Não sei o que estou fazendo, mas sei que quero. Quero beijá-lo. O que está acontecendo comigo?

Seus lábios roçaram nos meus e eu fechei os olhos sentindo uma de suas mãos puxarem-me de encontro a si, enroscando em minha cintura e as minhas, até agora apoiadas na grama, movem-se para o seu cabelo. Sua boca se movia contra a minha encaixando e desencaixando.

A única coisa que preenchiam meus pensamentos eram Blake, os lábios de Blake, a mão de Blake em minha cintura. Ele beijava bem, muito, muito bem. Tomei a liberdade de mordiscar seu lábio inferior e ele gemeu de dor, tinha esquecido de que sua boca estava machucada. Foi aí que eu me toquei.

Descolei nossos lábios rapidamente, a razão voltando a mim novamente.

Coloquei as mãos na boca incrédula. Eu havia beijado o Blake, ou ele me beijado, mas isso não vem ao caso já que eu correspondi.

Olhei para ele, sua expressão confusa, provavelmente se perguntando o por que do meu espanto.

Levantei rapidamente, sentindo-me tonta e com a sensação de que minhas pernas iriam fraquejar a qualquer momento. Blake me seguiu, a preocupação tomando conta de seu rosto.

– Sophie, você está bem? O que aconteceu?

Sentia minha visão ficando mais escura e tive que me apoiar em uma árvore para não cair. Essa não, como se não bastasse ter um blecaute no meio da rua, tinha que ser justamente agora?

– Sophie, olha pra mim, Sophie!

A voz de Blake parecia algo muito distante agora, a escuridão tomando conta tomando conta de mim. Tentei me manter em pé, tirando a mãe da árvore que me servia de apoio. Cambaleei um pouco para longe de Blake. Grande erro.

Perdi o equilíbrio e senti uma pancada na cabeça, batendo em uma pedra e perdendo completamente a consciência.


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Notas finais do capítulo

[Summer] Desculpem a demora, nossa escola é uma louca que faz a gente acordar 6:00 num sábado pra fazer prova e o professor de espanhol é outro louco que faz a gente decorar o nome de todos os países que falam espanhol no mundo, ai nós estamos sem tempo pra escrever. Eu e a Queen decidimos fazer aula de dança no colégio, imaginem que lindo, só que teve um passo doido q a gente tinha que levantar a perna e a Queen tava atrás de mim, e o meu pé bateu no olho dela hehe.

[QueenD]: Eu que o diga, eu quase morri com seu pé no meu olho, só falei que não doeu pra você não se sentir mal, olha o tanto que eu sou legal u_u

[Summer] Owwn ♥