I Surrender escrita por QueenD, Summer


Capítulo 1
Capítulo 1 - Preferia Um Desastre Aéreo


Notas iniciais do capítulo

Ooi ;)

Prestem atenção porque nesse capítulo tem uma coisinha importante.



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Capítulo 1 - Prefiria Um Desastre Aéreo

Passei minha mão na cabeça de Félix acariciando-o.

Soltei um longo e tediante suspiro ao constatar que a minha volta para Doncaster estava sendo mais demorada que o esperado.

O passageiro ao meu lado tinha cerca de trinta e poucos anos, quase quarenta, era gordo (Leia-se: Obeso, quase não conseguia respirar ao seu lado), tinha os cabelos compridos e uma barbicha. Para melhorar a situação sentava-se na poltrona do corredor enquanto eu encontrava-me ao lado da janela. Toda hora que eu precisava ir ao banheiro tinha de fazer acrobacias para passar por ele.

Na televisão acoplada no teto passava um filme para crianças, que não despertava o menor interesse em mim.

A única coisa boa era que na primeira classe eles deixavam os animais de estimação irem junto com seus donos e não separados no fundo do avião com as malas.

Levantei Félix até a altura dos meus olhos e o balancei, sorrindo. Como ele era fofo, acho que foi o melhor presente que mamãe havia me dado. Os olhos azuis dele me lembravam a cor dos olhos dela.

O homem gordo soltou uma risada e eu me sobressaltei assustada com aquela, hm, risada, se é que podia chamar aquilo de riso.

– Qual o nome da gatinha? – Ele perguntou sorrindo com seus dentes amarelados.

– É macho – Expliquei um tanto irritada.

Ele fez uma expressão de surpresa.

– Ó, então quer dizer que você é travesti?

Arregalei os olhos e o encarei incrédula. Só eu não estava entendendo aquela conversa?

– Travesti?

– É, oras!

Porque aquele gordo estava irritado, se a única que tinha motivos para estar estressada ali, era eu?

Pisquei três vezes e então entendi o que ele queria dizer. Com gatinha ele se referia a mim.

Decidi ficar calada á responder aquele pedófilo (?), ele tinha quase uns quarenta anos e eu tinha dezesseis. Meu Deus!

Puxei Félix para mais perto do meu colo e fiquei fazendo carinho em sua cabeça. Meu rosto estava virado para a janela, apreciando a visão das nuvens e o verde lá embaixo. Tentei ao máximo não olhar para o ser sentado ao meu lado.

Papai deveria estar com muitas saudades, pelo menos da última vez que nos falamos pelo celular, pouco depois de chegar ao aeroporto, foi a impressão que eu tive. Também parecia ansioso e receoso com algo, mas não resolvi perguntar nada, deveria ser apenas algum problema no trabalho.

Não segurei o sorriso ao me lembrar dos presentes que eu comprara em Paris para ele, Annie, Margaret e Dallas.

Estava morrendo de saudade das conversas malucas com Annie, do abraço apertado de Dallas e o jeito cuidadoso de Margaret fora uma das coisas que mais senti falta em meu intercâmbio, não havia ninguém para me lembrar que tinha de fazer isso ou aquilo, muito menos alguém para fazer a panqueca deliciosa que só ela sabia fazer.

Havia também os terrores noturnos que sempre me assombravam de madrugada. Papai sempre estava lá quando eu acordava gritando, mas em Paris não tinha nem sequer uma colega de quarto. Ninguém para me ajudar a sair do desespero que eu sentia sempre que acordava. Apenas Félix, que me fitava com seus olhos compreensivos sem entender direito o que acontecia.

Claro que fiz amigos nesses dois meses em Paris, se não fosse por eles era bem capaz de eu não conseguir sobreviver lá por mais de duas semanas. Jean, Claire, Ian e Hugo foram muito importantes para mim, tinham me passado seus telefones, e-mails, facebook e um monte de outros sites sociais antes de eu ir embora.

Jean era um completo francês, desde o sotaque até o modo educado e recatado como se comportava, Ian e Hugo eram irmãos e vinham de outra cidade da França, haviam se mudado para Paris há três anos, para Claire foi um alívio eu entrar para o grupo deles, já que por ser a única menina entre eles era o tempo todo atormentada por Ian e Hugo.

Os franceses eram todos lindos e eu amava o sotaque deles. Confesso que até tive uma quedinha por Jean, embora percebi um tempo depois que ele era totalmente apaixonado por Claire.

Pisquei e bocejei lembrando os meus momentos com o meu grupo de amigos franceses. Meus olhos pesaram e eu aconcheguei mais Félix em meu colo.

– Atenção senhores passageiros já estamos em Londres e em estimados quinze minutos estaremos pousando no Aeroporto Heathrow. - Deduzi ser uma aeromoça dizendo isso nos alto falantes.

Espreguicei e passei a mão em minha blusa branca tentando desamassá-la um pouco.

Daqui a pouco eu veria papai! E mais duas horas de viagem até o interior perto de Londres.


– Ei bebê, daqui a pouco vamos nos encontrar com o papai, e depois Margaret, tenho certeza que sentiu falta da comida dela. – disse para Félix que, assim como eu, parecia ter acabado de acordar.




Os quinze minutos seguintes eu fiquei mandando mensagens para Dallas e Annie, os avisando que já estava em Londres.




Quando o avião pousou, eu não parava de sorrir e mexer nos pelos do meu gato, ansiosa e agitada de mais para perceber que aquilo estava irritando-o.

Coloquei meu gato em sua caixinha e fui uma das primeiras a sair, ignorando o meu colega de assento que reclamou sobre escolher melhor com quem iria se sentar na próxima viagem, nem liguei para o que disse indo pegar minhas bagagens.

Com um sorriso radiante no rosto fui procurar meu pai, perguntando-me onde ele estaria.



Parei de andar ao ver que Annie tinha respondido minha mensagem.



“Annie:



Nos encontrarmos? Não vai me dizer que ainda não soube?”



Franzi o cenho e respondi perguntando em outro sms o que ela queria dizer com aquilo.


Olhei em volta tentando achar papai, onde ele estaria? Bem que poderia estar segurando uma daquelas plaquinhas com o meu nome para eu poder vê-lo logo e irmos para casa o quanto antes.

Senti meu celular vibrar em minhas mãos e nem hesitei em abrir a mensagem de Annie, curiosa para entender o que ela queria dizer.

“OMG! Você não sabe que seu pai se casou

semana passada? E que a mulher é uma das

sócias de uma das empresas de moda mais

famosa de Londres?

Ok, informação de mais. Calma, me liga que eu te

conto tudo.”

Foi o que eu fiz, respirei uma, duas, três vezes relendo aquela mensagem.

Que tipo de brincadeira sem graça Annie queria fazer comigo?

Papai, meu pai não se casaria sem eu saber, muito menos em algo tão corrido assim, em dois meses eles não poderiam se casar, certo? E quem seria essa mulher? Papai ainda amava minha mãe! Sócia de uma empresa de moda então deveria ser rica, não casou com meu pai por dinheiro.

Dei um tapinha em minha própria testa. Eu não acreditava que estava deixando ser levada por essa loucura, por que claro, só podia ser uma brincadeira.

Contei até dez, tentando me acalmar e coloquei os dedos no teclado do celular preparando-me para responder a mensagem da minha melhor amiga, quando alguém segurou meu ombro por trás.

– Sophie! Que saudades, filha! – Papai me abraçou e eu relaxei os ombros, apesar de não ter correspondido o abraço. Meus olhos focavam-se em apenas uma coisa.

A mulher de cabelos pretos ondulados, que aparentemente não tinha mais de trinta anos e segurava a mão de papai sorrindo amigavelmente para mim.

Porque ela está segurando a mão dele?

Afastei-me dele e olhei a mão entrelaçada dos dois.

– Quem é ela? – Perguntei com a voz cheia de acusação e um pouco alterada.

Não pode ser.

Eles dois entreolharam-se como se já soubessem o tempo todo que aquilo iria acontecer.

– Temos que conversar Sophie – Papai disse com a voz tensa.

– Ótimo, pode falar. – Minha voz saiu mais carregada e fria do que eu esperava.

Meu olhar não desgrudava das mãos juntas de papai e daquela mulher.

Respira Sophie.

– Em outro lugar. – Papai pigarreou – Naquele café ali.

Indicou para um lugar atrás de mim que eu não fiz questão de olhar. Ainda encarava as mãos dos dois. Ela tinha uma aliança no dedo anelar.

Uma aliança! Ela está usando uma aliança!

– Porque em outro lugar? Pode falar aqui e agora, eu não me importo.

– Querido, acho que Sophie está cansada da viagem, não seria melhor... – Ela continuou a falar coisas que eu não escutei, minha mente ficou travada no “querido”.

Querido... Querido. Querido! Como essa mulher se atreve a chamá-lo de querido?!

A mão dela era branca e parecia macia. Ela fazia desenhos em círculos na palma da mão de papai.

– Você está certa Ash. – Papai soltou um suspiro pesado.

Ash? Ele está a chamando pelo apelido!

A tal de Ash sorriu para papai e depois olhou para mim.

– Sophie, eu e seu pai, bem, nós... – Ela gaguejava nervosamente – Isso está sendo mais difícil do que eu pensei.

Riu sem graça e ajeitou uma mecha de seu cabelo preto. Fazendo isso, ela parecia ter minha idade, a aparência jovial ajudava bastante e isso me fez sentir inferior.

Eles dois não podiam estar mesmo casados. Papai não teria coragem de fazer isso comigo.

Tenho certeza que não.

Realmente não.

Espero que não.

– Falem logo! – Gritei desesperada. Droga! Eu não queria parecer nervosa.

Ash me olhou um tanto assustada. Eu realmente não era de gritar nem fazer escândalos, eu só queria saber de uma vez se eles estavam mesmo... Casados. Não iria agüentar por muito tempo.

– Não grite assim Sophie! Onde estão seus modos?

No mesmo lugar onde você deixou a confiança.

Eu não disse isso. Claro que não. Apenas virei a cabeça para o lado, evitando olhar para as duas figuras á minha frente.

Se controle.

– Pai... – Chamei-o hesitante – Quem é hm, ela?

Ainda não olhava para os dois. Tinha medo do que papai iria dizer.

– Ah, então você resolveu raciocinar e falar civilizadamente?

Franzi o cenho finalmente voltando meus olhos para eles. Ela parecia me olhar com pena. Fingida. Ele parecia nervoso e irritado, eu não via motivos para David estar assim.

Falar civilizadamente? É assim que ele fala comigo agora? Sei que David nunca foi de tolerar desobediências, mas quem deveria estar alterada era eu. E realmente estava. Apenas me controlava um pouco, tentando ser otimista. Tentando colocar em minha cabeça que o motivo de estarem ali, juntos, de mãos dadas não tinha nada a ver com o que Anna tinha dito.

– Falar civilizadamente? – Forcei uma risada – Não é como se o senhor pudesse falar alguma coisa. Vocês se casaram não é isso?

Ash me olhou como se eu fosse algum tipo de alienígena esquisito. Annie estava certa.

Por favor...

David apertou os olhos, mas não contestou.

A reação de ambos foi a confirmação que eu precisava.

É verdade! É verdade! Eles estão mesmo casados.

Meus olhos marejaram por vários sentimentos dentro de mim. Raiva, mágoa, decepção e tristeza.

– Onde está o carro? – Perguntei com a voz falhando. Ninguém abriu a boca. – Onde está o carro? – Repeti mais alto sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto.

Passei a mão com força em minhas bochechas enxugando as lágrimas.

– Sophie...

– Cale a boca. Cale a boca! Você escondeu isso de mim! – Gritei apertando o celular que ainda encontrava-se na minha mão – Eu só quero saber onde está o carro para ir logo para casa. São duas horas de viagem, não quero chegar tarde.

Eu sabia que estava fazendo ceninha. Algumas pessoas paravam para olhar, outras ficavam cochichando e havia aquelas indiscretas que apontavam o dedo falando coisas como “Que garota desobediente”. Porque as pessoas gostam de ver as outras brigando?

– Quanto a isso querida, digo, Sophie – Começou a nova mulher do meu pai. Como era estranho falar isso. – na verdade são vinte minutos.

– Vamos de jatinho ou alguma coisa do tipo? – Ergui as sobrancelhas sarcasticamente, tentando ser otimista mais uma vez.

Da última vez que tentei ser otimista não deu certo. Não era agora que daria.

– Não. Mudamos-nos para a casa de Ash. – David disse com a voz grave.

O olhei incrédula. Como se não bastasse se casar sem eu saber ainda nos mudados para a casa da vagabunda? O que mais? Acho que estou preparada para tudo depois disso.

Nós? Só se for você, porque eu não estou sabendo de nada. Quer dizer, nem quer vocês se casaram eu sabia. Eu nem sei o nome dela!

– Ashley Folk. – Ela sorriu como se isso ajudasse em algo.

– Sim, você vai se mudar para lá nem que seja arrastada!

Dizendo isso segurou meu pulso com força, literalmente, me arrastando para o estacionamento.

Desde quando meu pai me tratava assim?

Ele era um idiota, isso sim. Eles dois. Tomara que morram em um acidente de carro quando estivermos indo para a casa dessa vagabunda. Não, melhor não, porque eu provavelmente morreria junto.

Entrei no carro e sentei-me no bando de trás escorada na janela com os braços cruzados e o maior bico do mundo. Ainda sentia vontade de chorar, mas odiava quando me viam chorando, já bastava uma vez na frente de centenas de pessoas.

A Ashley vagabunda sentou no banco de passageiro ao lado de David e ligou o rádio deixando tocar qualquer música. Coldplay, Scientist. Droga! Sempre que estamos tristes tem que aparecer uma música depressiva pra nos deixar pior ainda.

Soltei um soluço mudo. Parecia que a ficha não tinha caído completamente.

Percebi que Ashley falava alguma coisa quando David pigarreou.

– ... Ele é adorável, vai amá-lo. Quase não me dá trabalho. Tenho certeza que vai gostar dele.

– Ele quem? – Me senti na obrigação de perguntar.

– Meu filho. Não estava me escutando?

Não respondi.

Fechei os olhos e inclinei minha cabeça para trás, escorando-a no banco. A vagabunda ainda tinha um bebê, que obviamente eu seria obrigada a cuidar.

Com certeza não tem como ficar pior.


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Notas finais do capítulo

Bom? Normal? Ruim? Péssimo?