Fazia um pouco mais de um mês que Liandan havia nascido quando eu finalmente consegui uma oportunidade para visitar Eillen e o menino que ela tivera, afinal por estar de licença no Ministério eu estava literalmente enlouquecendo por estar esse tempo todo em casa sem fazer nada.

- Mira! É tão bom vê-la! – Eillen falou abrindo um sorriso ao me ver parada na sua porta. – Vamos entre.

A pequena casa não mudara muito exceto pelos poucos brinquedos do menino que estavam todos espalhados pela sala.

- Me desculpe pela bagunça é que eu finalmente consegui fazer o Severo dormir e não tive tempo de arrumar nada ainda, mas você sabe como é isso. – Ela falou apontando para Liandan que estava em meu colo se distraindo ao brincando com uma mecha do meu cabelo.

- E como, principalmente para dormir, as vezes até parece que ela não sente sono algum, mas e Tobias como está?

- O de sempre, mas acho que em breve terei que contar toda a verdade para ele, é pouco provável que Severo tenha nascido sem magia.

- De fato as probabilidades são mínimas, mas continuo achando que você já deveria ter contado isso a ele há muitos anos.

- Sei disso, sei disso, você me diz isso pelo mesmo período de tempo. – Ela falou me cortando. – Será que podemos mudar de assunto?

Passamos a conversar sobre nossas vidas e também sobre o tempo em que passamos em Hogwarts até Severo acordar, pois a partir tivemos que ficar de olho nele e em Liandan que apesar de ter apenas um mês ficava tentando sair do meu colo e ir para perto do menino um pouco mais velho do que ela.

- Seria incrível se eles se tornassem amigos, não acha?

- Desde que eles se suportem o suficiente para podermos continuar visitando uma a outra eu já ficarei extremamente feliz, afinal não podemos obrigá-los a fazerem uma amizade.

- Mas admita que se acontecesse seria algo muito legal.

- Admito que seria interessante.

- Sempre tem que dar a última palavra, não é mesmo? – Ela perguntou e me limitei a sorrir em resposta. – Já consigo até vê-los embarcando no expresso de Hogwarts.

- Pelo amor de Merlin! Eles nem fizeram um ano e você já está pensando nisso Eillen? Sinceramente não quero que o tempo passe tão rápido.

- Nem eu para dizer a verdade.

Nós permanecemos em silêncio por um momento apenas observando os dois até que notei Liandan dando um pequeno bocejo.

- É melhor eu ir, afinal somente Merlin e Morgana poderiam me dizer quando ela terá sono de novo. – Falei ajeitando minha filhinha em meus braços.

- Vamos repetir isso mais vezes Mira.

- Pode apostar que sim, eu mando uma carta com o dia para vocês dois irem nos visitar. – Falei um pouco antes de aparatar de volta para casa, afinal para minha única amiga me visitar eu precisava primeiro me certificar de que meu marido não estaria em casa.

Quando estava abrindo a porta da minha casa ouvi vozes vindas da sala, vozes que definitivamente não deveriam estar ali, assim pé ante pé caminhei até o corredor onde pude ver, através da porta entre aberta, Tom, seu grupo de “amigos de Hogwarts, e muitos nomes famosos na comunidade bruxa dentre os quais pude notar a presença do meu pai e de meus dois irmãos, Argos e Ignatio, o que me surpreendeu bastante.

- Stanley, afinal conseguirá manter os ataques em segredo ou não?

- Não se preocupe milorde, tudo já está preparado.

Eu permaneci por apenas mais alguns segundos junto à porta, mas foi o suficiente para que entendesse tudo que estava se passando. Tom não havia parado, mas sim continuado com seus planos malucos pelas minhas costas e a presença de meus familiares ali me trouxe a tona velhas lembranças que com o passar dos anos eu me obrigara a esquecer: Tom gostaria realmente de mim ou estivera esse tempo todo me usando para chegar a seus objetivos? Quando jovem sempre me preocupei com a resposta dessa pergunta, mas cometi o erro de me apaixonar por ele o que, eu sabia, havia turvado e muito o meu julgamento.

Subi as escadas silenciosamente, afinal o assunto que tínhamos a tratar era particular e definitivamente preferia que estivéssemos sozinhos, para minha sorte Liandan era um bebê calmo que chorava apenas muito raramente o que permitiu que nossa presença na casa passasse despercebida.

- Uma estrela a brilhar no céu diz seus sonhos vou realizar e serás feliz. – Cantei a aninhando em meu colo depois de tê-la vestido com um pijama roxo. – A criança a brilhar no chão tem uma rara luz, dos céus vem o seu poder e vou lhe proteger.

Ela adormeceu em meus braços e gentilmente a acomodei no berço antes de chamar Ink.

- Senhora?

- Tom me enganou Ink e eu preciso tirar essa história a limpo ou jamais estarei em paz comigo mesma. – Falei enquanto a minha pena corria pelo pergaminho.

Ele não disse nada e por um momento tudo que se ouvia no quarto era o som da pena sobre o papel escrevendo aquelas cartas. Cartas estas que eu queria que jamais precisassem ser entregues e justamente quando coloquei o último ponto final comecei a ouvir uma movimentação no andar de baixo que indicava que os nossos “convidados” estavam indo embora.

- Ink eu preciso confrontá-lo e seu eu não voltar...

- Do que a senhora está falando? Ele jamais faria algo contra você.

Eu lhe lancei um pequeno riso sem humor, meu amigo, ao contrário de mim, não sabia de tudo que meu marido havia feito e que era capaz de fazer.

- É muito importante que me escute, se as coisas derem errado e saírem do controle leve Liandan daqui, para algum lugar longe da magia, longe de Tom e da minha família, um lugar onde jamais irão encontrá-la. Tem que me prometer que fará isso Ink!

- Eu prometo Mirach. – Ele respondeu contrariado e me permiti suspirar aliviada.

A verdade é que eu tinha grandes motivos para fazer isso, pois minha filha não era como todas as outras bruxas, ela nascera durante um eclipse solar o que a tornava extremamente poderosa. Até o momento eu era a única que percebera isso, mas sabia que era apenas uma questão de tempo até Tom notar que a nossa filha era uma Filha da Lua e eu o conhecia bem de mais para saber que tentaria usar o poder da nossa menininha a seu favor mesmo que isso acabasse por matá-la.

- Há mais, se tudo der errado deve entregar essa carta a Othy e esta para Dumbledore. – Eu falhei lhe entregando dois envelopes. – Essa outra deve ficar com Liandan no local que você encontrar para ela.

- Ink fará que pediu, mas Ink não consegue entender o por que disso.

- É claro que sabe Ink. Eu não gosto de ser enganada e Tom não suporta se confrontado. – Eu falei dando um beijo no topo da sua cabeça. – Você é meu melhor amigo e é a única pessoa a quem eu poderia confiar à segurança da minha filha.

Aproximei-me novamente do berço e afaguei seus poucos cabelos negros, mas ela não acordou e acho que foi melhor assim.

- Eu a amo Liandan, nunca duvide disso, só estou finalmente fazendo o que é certo. – Falei lhe dando um beijo, que eu tina a grande impressão de que seria o último.

Deixei os dois no quarto e não olhei para trás, não sei se teria tido coragem de continuar se o tivesse feito, enquanto descia as escadas eu ainda acreditava que poderia mudar o rumo das coisas, mas no fundo sempre soube o que acabaria acontecendo.

- Tom. – Falei quando cheguei no patamar da escada e ele, que acabará de fechar a porta, se virou na minha direção surpreso.

- Mirach, há quanto tempo está em casa?

- Tempo o bastante, Tom. – Eu falei séria e por um momento vi uma sombra passar por seu rosto. – Precisamos conversar.