Ele III: Com Ele escrita por MayLiam


Capítulo 17
Gray Dogs


Notas iniciais do capítulo

Certo, eu passei o dia digitando e revisando estes dois, espero poder ter o domingo de folga kkkkkkkkkk
Beijos!
Boa leitura!!!!



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GRAY DOGS

Almoçamos todos juntos e mais quietos que no café da manhã, as coisas não estavam saindo como eu queria. Era pra Damon estar conversando com alguém na casa, era pra meus pais estarem o conhecendo melhor, tirando a primeira impressão assim como eu, mas parece que ninguém naquela casa estava disposto a mudar a situação. Depois do almoço lavei a louça com minha mãe, meu pai foi na sua adega e escolheu um vinho pro jantar de hoje.

Estávamos na sala. Damon estava lendo uns contratos no seu computador. Minha mãe no tricô e meu pai tomando sua boa e velha cachaça.

-Você poderia me ajudar a cortar a lenha pra lareira Salvatore? – meu pai fala do nada e eu o olho, depois olho pra minha mãe. Meu pai nunca precisa de ajuda pra isto, é óbvio que ele planeja algo. Damon o olha e dá de ombros.

-Claro senhor Gilbert. – diz sério.

-Ótimo. – meu pai se ergue.

-Agora Grayson? – minha mãe se assusta.

-Sim. – diz malandro. – Problema? – pergunta pra Damon que nega em silêncio e se levanta.

-Apenas me deixe trocar a roupa. – Damon pede e meu pai que dá de ombros. Meu chefe deixa a sala e vai em direção ao meu quarto, subindo as escadas. Eu encaro o meu pai.

-Papai...

-Apenas quero tirar ele de dentro da casa, você disse que ele tinha que se distrair. – eu o olho incrédula, o bem estar de Damon não é o ponto aqui, estou segura disso.

Minutos depois Damon desce, está usando um bermudão jeans e regata branca, chinelos. Diferente e... Tentador. Sacudo a cabeça. No que estou pensando?

-Pronto? – meu pai pergunta.

Damon acena positivo e eles saem pela porta. Eu fico apreensiva, meu pai corta a lenha no lado da casa, tem uma janela que dá acesso a visão deles, aceno pra minha mãe para que ela veja comigo o que meu pai tem em mente. Ela me segue, e estamos na janela olhando os dois ao longe.

-Sabe como segurar um desses? – meu pai provoca, estendendo um machado ao Damon.

-Eu aprendo rápido. – fala com seriedade.

-Certo. – meu pai solta um riso triunfal e nos olha na janela. Pega um pedaço de lenha e coloca no tronco a sua frente. – Você segura o machado assim, – ele mostra a Damon que está atento – e então... – ele bate com força contra a madeira que se parte em duas em um só golpe. – Damon ergue as sobrancelhas e meu pai se ergue esnobe. – Tente. – ele pede ao meu chefe. – É um bom exercício pra descarregar frustrações. – sorri insinuativo. Damon abafa um riso e se posiciona pra sua primeira tentativa, meu coração para de repente e me inquieto. Ele pode se ferir com isso. Ele segura o machado como pai instruiu e em seguida dá um golpe, a madeira permanece intacta. – meu pai gargalha. – Acho que você tem mais força com a língua. - Damon o olha. Oh papai pare!

Novamente Damon tenta e não consegue.

-É Salvatore, é mais fácil sentar atrás de uma mesa e fazer as pessoas correrem atrás das coisas por você. – agora ele foi longe, eu percebo pelo olhar de Damon, eu abro a boca pra falar algo, mas meu chefe é mais rápido.

-Você tem razão Grayson. - Oh droga, meu pai não gosta dessas intimidades.

-Senhor Gilbert pra você.

-Eu não sei o que você acha que sabe sobre mim. – oh droga, eu congelo. – Seja o que for não é o correto. Não me interessa a sua opinião de qualquer forma. Mas o senhor tem razão numa coisa... – Damon pega outro pedaço de lenha o põe no tronco. – Isso é um ótimo exercício. Vamos usufruir... – ele está com um tom sombrio, meu pai só o assiste esnobe. – Esta aqui vai para o meu irmão. Stefan. O senhor não deve conhecer. – Damon está amargo – Ele foi imaturo e quase jogou o trabalho de uma vida, meu e de meu pai no lixo, por ser um inconsequente. – ele dá um golpe forte contra a lenha que se abre em duas, eu pulo. – Essa... – ele pega outra lenha – poder ser pelo idiota do Mikaelson, sua filha deve ter contado sobre ele – oh merda! – ele me fez um mal horrendo e me precipitei, com isso ganhei o ódio de uma filha que passei a vida tentando agradar. – outro golpe, mais dois pedaços de lenha. Ele pega a terceira. – E esta é por minha filha, claro. Uma ingrata que nunca vai entender que tudo o que eu fiz foi por ela, que nunca vai entender por que eu tive que a afastar da mãe drogada, que nunca entendeu porque eu me acabo naquela empresa todos os dias. – outro golpe e meu pai engole em seco, estou tremendo e minha mãe ofega. – E finalmente... – Damon pega mais uma madeira. – essa eu ofereço ao senhor, que como a maioria das pessoas que cruzam a minha vida acham que me conhecem o bastante e podem me julgar pelo simples fato de eu ser rico, ou quieto, ou antipático, o escambau! – ele bate na madeira e o golpe faz meu pai fechar os olhos. Damon está suado, ofegante. – Suficiente lenha senhor Gilbert? – ele pergunta petulante e lança o machado no chão. Meu pai o encara, ele dá as costas e entra de novo na casa, eu escuto seus passos direto pro andar de cima. Eu olho pro meu pai.

-Pai... – minha voz é um suspiro.

-Eu... – ele está desajustado. – Eu não... – eu aceno em negativa e subo atrás do Damon, deixando meu pai e minha mãe pra trás. Entro no meu quarto, a porta está escancarada, a mala de Damon em cima da cama, ele está guardando as roupas nela. Oh não!

-Damon... – ele me olha com fúria e continua. – Desculpe o meu pai ele...

-É o jeito dele? – ele grita comigo, eu encolho os ombros. – Eu não aceito os julgamentos de ninguém Elena, ele não me conhece. – ele rosna nervoso e volta a jogar roupas na mala.

-Me desculpe. Meu pai criou antipatia por você, porque... – eu paro e ele me olha.

-Porque? – exige. Coragem Elena!

-Eu me queixava muito de você no início. – ele bufa.

-Claro que reclamava. – diz amargo.

-Mas mudei de ideia. – eu o alcanço e seguro seu braço, ele trava. – Damon escuta, ele é cabeça dura, ficou com má impressão. Mas eu mudei minha opinião ao seu respeito e ele também pode mudar...

-Por que você acha que a sua opinião ou a dele me importam? – sua voz está fria. Ele se livra de minha mão.

-Então pra que todo o drama? Ignore. – estou petulante, ele cerra os olhos.

-Eu não deveria ter vindo. Eu não sou do tipo que se aventura no interior em casa de estranhos. Eu devo estar precisando de terapia. – rosna amargo.

-Por favor. – seguro sua mão novamente, estou com um nó na garganta. Não vá! – Acho que você deu ao meu pai uma lição que precisava. Ele estava sendo rude demais, eu já tinha conversado com ele, eu sinto muito, mas você veio até aqui. Meu pai é uma boa pessoa. Damon, por favor... – eu acho que estou chorando, meus olhos queimam, a expressão de Damon suaviza, ele franze a testa em agonia.

-Não vai chorar por causa disso. Eu não vou te demitir. – isso foi uma tentativa de piada? Eu o olho com certo rancor e ele parece confuso. – Desculpa! Talvez eu só precise de um banho e dormir. Eu não fiz isso bem e fico de mau humor. – ele justifica e eu acalmo, porque seu tom é mais amigável.

-Não deixe meu pai te afugentar. Vocês são bem teimosos e acho que podem resolver suas diferenças de outra forma. Mais civilizada. – ele me olha risonho.

-Você tem o dom estranho de me deixar calmo e confuso.  – ele diz me olhando fundo, eu tremo. Tenho? Estou engolindo e encarando sua boca, ele está bem perto. Desvio o olhar rapidamente e me afasto.

-Bem, eu concordo com sua ideia de banho e sono, pode dormir aqui no meu quarto. Terei que ajudar a minha mãe no jantar. Passarei a tarde ocupada. – ele assenti.

-Seu pai vai ficar feliz com isso? – eu bufo, agora pouco me importa o que meu pai acha. Estou bem chatiada com ele.

-Você já iria ficar aqui. Foi você que não quis. – Damon sorri sem jeito. – Bem, vou deixar você em privacidade. Descanse, nos vemos no jantar.

Estou indo pra porta quando sinto ele me puxar.

-Desculpe pelo surto lá em baixo. É uma fase ruim, geralmente sou menos escandaloso. – eu sorrio, sei que ele é um exemplo de reserva. É como o conheço.

-Descansa. – eu insisto e ele me solta. Eu desço sorrindo boba e vou direto pra cozinha. Meu pai e minha mãe estão lá, eu ouço vozes alteradas.

-Sem mais discussões por favor, - eu peço surgindo na cozinha antes de ouvir qualquer coisa. – já tivemos o bastante pro dia de graças.

Meu pai está me olhando, envergonhado, eu posso ver. Minha mãe está quieta.

-Foi um pouco chato aquilo lá fora... – ele começa e minha mãe e eu o olhamos. – O que foi? Estou tentando me desculpar.

-Não deve desculpas pra gente papai. – eu falo e começo a ajudar minha mãe indo descascar umas verduras.

-Eu sei. Mas ele é difícil, começa a falar e não para mais... – o encaramos de novo. Ele rola os olhos. – Vou me desculpar.

-Achamos bom mesmo... – minha mãe diz.

-Mas você poderia ter me atualizado sobre as coisas Elena. Eu não sabia.

-Eu te disse que ele estava passando por problemas pai. Além do mais é a vida pessoal dele eu não posso me meter assim e sair espalhando aos quatro ventos.

-Mas eu sou seu pai e você me fez ser injusto.

-Ora Grayson, nossa filha não te obrigou a provocar ninguém.

-Eu sei, mas...

-Mais nada.

Não deixamos mais ele falar e começamos a ignorá-lo. Ele bufa e depois de um tempo se vai frustrado. Ficamos a tarde inteira preparando o jantar, enquanto meu pai sumiu pela fazenda e Damon dormia.

Eram pouco mais de dezoito horas quando ele desceu, falando no celular.

-Você me disse que só iria ligar se fosse sério... Não tenho nada de novo... – Damon entra na cozinha e sinaliza pedindo água pra mim, eu sorrio e pego água pra ele na geladeira – Eu não quero você me ligando pra me encher Alaric. – ele me olha quando entrego a água pra ele, só podia ser Alaric. – Certo... Pode deixar... Tchau! – ele desliga e está sorrindo, começa a beber a água. – Onde está seu pai? – ele pergunta depois que termina e me devolve o copo.

-Foi dar uma volta.

-Preciso me desculpar pelo surto. – minha mãe se mete.

-Não se incomode, tenho certeza que ele sobrevive. – Damon sorri.

-Posso ajudar? – ele pergunta e ergo as sobrancelhas.

-Estamos terminando. – falo risonha.

-Tudo bem. Vou checar meus e-mails então. – fala sorrindo torto e sai da cozinha.

Estou rindo e minha mãe me olha.

-Você tem que aprender a disfarçar melhor... – eu a encaro confusa.

-Como assim?

-Ele sorri e seu mundo cai, ele surge na sua frente e você suspende a respiração. Está envolvida!

-Ai mãe, isso de novo?

-Quanto mais rápido você admitir melhor, antes que se torne algo mais forte e você não consiga lidar com isso. – eu estou calada. Eu olho para a sala e respiro. Não gosto dele. Eu gosto, mas não desse jeito, nunca pesei nele assim, primeiro porque seria burrice, ele nunca me olharia e segundo porque tenho amor próprio e ele tem um histórico péssimo com relacionamentos.

Depois que terminamos o jantar, eu subo pra um banho e quando eu volto a sala meu pai está com minha mãe na cozinha e Damon na sala em seu computador, pra variar, vou direto pro meu chefe. Sento ao seu lado e ele não parece me notar.

-Seu trabalho não te deixa parar?

-Na verdade estou fazendo o seu trabalho. – eu pisco. – Quando for minha CEO. Vai resolver muitas coisas e terei menos peso. – eu engulo, porque ele me indicou pra um cargo tão importante?

-Porque eu Damon? – ele para o que está fazendo, mas não me olha. – Quer dizer, você tem seu irmão. Stefan é muito competente e...

-Se mostrou ser muito impulsivo, foi uma perca de confiança, talvez com o tempo ele me faça mudar de ideia, mas... Eu não costumo recuperar a confiança que perco. – ele me olha no final e seu tom é bem insinuativo. Você pode confiar em mim Damon!

-Devo me sentir orgulhosa?

-Muito! – ele sorri e meu pai surge na sala pigarreando, fazendo Damon e eu saltarmos.

-Sua mãe está chamando pra mesa. – seu tom é grave, mas ele está sem graça. Ele nos dá as costas e Damon se ergue e me estende a mão, seguro sua mão sorrindo e ele me guia até a cozinha e ao chegar lá puxa a cadeira pra que eu sente. Estou corada, ninguém nunca fez isso por mim e meus pais estão bem em nossa frente, meu pai se move na cadeira desconfortável enquanto eu sento. Damon toma seu lugar.

-Grayson, você quer dizer alguma coisa? – minha mãe atiça e todos estão olhando pra meu pai, Damon inocentemente confuso.

Meu pai coça a garganta.

-Quero pedir desculpas pra você rapaz. Quer dizer... Foi imaturo de minha parte e imprudente. – estou olhando pra Damon, ele baixa a cabeça e depois encara meu pai.

-Não tem problema, já ouvi coisas piores, eu me descontrolei também. É uma semana ruim.

-Elena me contou. – é primeira vez desde que chegamos que meu pai está usando seu tom amigável. Eu respiro aliviada.

-Bem, estando este assunto resolvido, vamos dar graças. – minha mãe fala risonha e todos damos as mãos. Estamos parecendo uma família.

Minha mãe faz a oração e começamos a nos servir quando ela termina. Eu pego o prato de Damon, porque sei exatamente o que ele quer.

-Já é o bastante Elena, obrigada! – ele me pede o prato de volta.

-Tem certeza? – ele assenti e lhe devolvo o prato, eu olho pro meu pai que está me encarando confuso. Logo depois ele desvia o olhar pra minha mãe que está sorrindo. O que eu fiz?

-Quando você assumiu o cargo na empresa Damon? – meu pai puxa assunto. Era isso que eu queria desde o começo.

-Ah... Tinha pouco mais de dezoito. – ele fala sério.

-Muito jovem.

-Meu pai faleceu cedo.

-Quantos anos tem seu irmão?

-Vinte e três. – eu olho pra Damon, não sabia disso e estou fazendo contas... Se o pai de Damon morreu a quase dez anos isso o deixa com 28, 29 anos? Sério? Mas no passaporte dele consta 31. ???

-Quantos anos você tem? – eu pergunto pra Damon e ele me olha.

-Você sabe. – ele diz tranquilo.

-Não é 31.

-Não.

-Mas é o que está em seus documentos. Embora a mídia pense que você é mais velho.

-Foi um conselho de um personal de imprensa, que Alaric me recomendou. Eu sou meio... polêmico. – eu bufo.

-Quantos anos você tem? – eu insisto. Ele revira os olhos.

- Vinte nove em janeiro. – perco a fala. Ele tem a idade que pensei.

-Por que mentir a idade? – meu pai pergunta. Damon o olha.

-Bem, aparentemente isso faria meus sócios e demais empresários me respeitarem mais. – diz sem reservas levando a taça de vinho a boca, meu pai sorri.

- Damon você sabia que é o primeiro homem que Elena trás pra nossa casa? – minha mãe fala do nada fazendo meu chefe engasgar com o vinho.

-Mãe! – eu grito e meu pai está sorrindo.

-O que? É verdade. – Damon ainda está engasgado, eu lhe ofereço água, totalmente corada. Quando ele se recompõe me encara.

-Isso é sério? – me pergunta atônito.

-É. – meus pais respondem por mim e eu os encaro mortificantemente. Eu olho pra Damon, mas quero correr da mesa. Afirmo com a cabeça.

-Como é possível? –  ele pergunta e eu dou de ombros.

-Talvez seja por mim. – meu pai diz em tom divertido. – Sou hostil com namorados, mas não é o caso, certo? – eu arregalo os olhos.

-Pai! – ele me olha como se dissesse: o que foi?

-Minha relação com sua filha é de cunho profissional. Ela é muito boa no que faz. – Damon fala me olhando e eu sorrio sem jeito. Quero que este jantar acabe agora.

-Quantos anos tem sua filha?

-Quatorze. – minha mãe o olha atordoada.

-Foi pai tão jovem...

-Tudo na minha vida é meio precipitado. – ele fala simplesmente.

-Percebi. – minha mãe solta.

- Seu carro é uma máquina. – meu pai e assuntos masculinos. Carros? Sério?

-Achei apropriado.

-Você é bem objetivo com as palavras.

-Eu aprendi a ser assim, é um pouco chato, mas funciona. – eu sorrio e nem sei por que. Damon me olha e começa a sorrir também.

Ficamos conversando mais um pouco. Bem, meus pais encheram Damon de perguntas, eu queria isto, mas também estava começando a ficar sem jeito, só faltaram perguntar que tipo de shampoo ele usava.

Estávamos todos na sala, ainda conversando sobre muitas coisas, minha mãe começou a falar sobre minha infância na fazenda.

-Quando a Elena era pequena subiu no pé de laranja uma vez, ela encontrou um ninho lá e estava maluca pra ver como era.

-Ai mãe, Damon não quer ouvir sobre isso. – eu suplico.

-Na verdade eu quero. – ele me olha sorrindo e acho que corei. Droga! – Ela é muito curiosa Miranda. Bisbilhota em tudo. – ele completa e estou o encarando atordoada. Ele sorri.

-Sim, sempre foi assim. – minha mãe ajuda. – Enfim, ela subiu nesta árvore e ficou horas examinado o ninho e os ovos, não tinha quem a fizesse descer. Então o cavalo de Grayson chegou perto da árvore, ele estava solto no pasto. – oh não!

-Mãe, não. – eu peço.

-Deixa sua mãe falar Elena. – meu pai todo cúmplice.

-Ela morre de medo de cavalos. – Damon me olha incrédulo.

-Tem medo de cavalos? – ele pergunta e dou de ombros e ele gargalha. Minha mãe o segue.

-Ela desceu em disparada da árvore e quase quebra o braço. Ela nunca montou em um cavalo.

-Eu não acredito nisso Elena. Como você cresce numa fazenda e tem medo de cavalos? – Damon está quase chorando de tanto rir e eu bato em seu ombro.

-Para! São coisas enormes e assombrosas. – ele está perplexo, todos na sala caçoam de mim.

Depois do surto de risadas o silêncio se instala na sala até que Damon acena.

-O que tem atrás da parede falsa? – oh droga! Ele achou! A parede secreta do meu pai. E agora minha mãe e eu encaramos o papai assustadas.

-Não sei do que está falando... – papai desconversa. Não é como se ele gostasse de lembrar do que há atrás dela.

-Bem, eu estou curioso agora... – Damon continua. – porque eu conheço uma parede falsa, desenvolvi uma pro meu quarto quando tinha uns dez anos. Talvez não tão discreta como esta, mas dava pra esconder minhas Playboys. – meu pai gargalha. – O senhor não é tipo um agente disfarçado, é? – meu pai encara meu chefe risonho.

-Ok, acho que a curiosidade não é uma coisa só da minha filha. – ele diz se rendendo, e se levanta indo até uma das gavetas da cômoda na sala. Ele vai mesmo mostrar? Damon está curioso e eu e minha mãe atordoadas. Meu pai não fala disso a anos.

Papai volta com um controle e o aperta. A parede sede e se move pra cima.

-De controle, que legal! – Damon, diz fascinado, chegando mais perto. Ele gosta mesmo destas coisas. Então aos poucos um dos maiores segredos de meu pai vai surgindo, Damon está bem de frente a parede, atrás dela surge uma de vidro que protege algumas prateleiras contendo cinco troféus. Damon os analisa um pouco e depois se volta pra nós com olhos brilhando, parece um menino. – São troféus do mundial de xadrez? – meu pai assenti. Damon volta a encarar os troféus. – Nossa! Cinco anos seguidos, 77, 78, 79, 80 e 81.

Damon suspende a respiração e me olha assustado, depois encara meu pai e engole.

-Que foi? – meu pai pergunta sem nada entender.

-Gray Dogs? – Nossa! Fazia anos que ninguém chamava meu pai assim, Damon me olha em seguida. – Você é filha de Gray Dogs? – eu confirmo um pouco hesitante e a boca de Damon se abre. Ele está sem fala. – Uau!... Quer dizer... Nossa! Elena, você é filha da maior lenda do xadrez e como eu não sabia disso? – ele está realmente consternado e isto me faz sorrir. Nossa Gray, senhor Gilbert. – ele corrige cheio de esmero. – Eu sou tipo... muito seu fã. – han? Meu pai gargalha.

-Ora, obrigado! – ele está desdenhando e Damon senta outra vez, cheio de euforia.

-Não, é sério. Quando eu contar pro Alaric, e o Stefan... – ele está quase saltando, como uma criança. – O senhor não entende, eu desenvolvi o meu primeiro aplicativo pra Salvatore inspirado no senhor. – hein??? Meu pai não entende nada, nem minha mãe eu estou cada vez mais assustada.

-Certo, você pode começar a falar minha língua. – meu pai pede ainda sorrindo de meu chefe.

-Eu adorava a sua visão de jogo, sempre fui louco por xadrez e eu assistia a todas as competições que passava na TV e virei seu fã de cara. O senhor conseguia prever pelo menos três jogadas-resposta de seus adversários. Quando eu tive que desenvolver um projeto novo pra empresa de meu pai, não pensei nem duas vezes e imaginei um jogo onde se pudesse prever estas jogadas, com um número de estatísticas bem detalhado, fazendo o jogador exercitar mesmo e entender bem o jogo do xadrez. Foi um sucesso... – Damon tagarelava sem parar, nunca o vi assim – Eu tirei a empresa da lama. – ele estava afobado.

-Hum... então está me dizendo que você pode exibir um camaro 2011 na minha casa usando o dinheiro que ganha na empresa que eu ajudei a salvar?

-Pai! – eu grito.

- Grayson. – minha mãe rosna, meu pai está gargalhando e Damon sorri.

-Mais ou menos isso. – meu chefe diz sem jeito.

-Bem, vamos ter que resolver isto, eu posso te processar.

-Pai! – Eu grito outra vez. Damon gargalha. – Não tem graça.

-Na verdade tem Elena. Seu pai tem razão. Eu me inspirei na tática de jogo dele. Tenho uma proposta. - Oh meu Deus!

-Estou ouvindo...- meu pai cruza os braços.

-Eu lhe dou 1% da venda dos aplicativos se o senhor jogar comigo. – eu arregalo os olhos. Ele está maluco? É muito dinheiro.

-Não. Damon, não. – ele me olha.

-Quieta, estou negociando aqui. – ele me repreende risonho, eu travo e contenho o riso.

-Que tal assim... – meu pai começa – você me dá 1% e pode dormir tranquilo a noite. – Damon sorri.

-Pai, não. É muito dinheiro.

-1% Elena, tenha dó. – ele bufa.

-Mas é muito. Damon conte a ele, eu não vou aceitar isso.

-Não tem que aceitar nada, não estou propondo a você. – Damon está petulante.

-Você não conta eu mostro. – falo decidida e me movo pegando o notebook de Damon.

-O que vai fazer? – ele me pergunta e o ignoro indo pra perto do meu pai. Entro no site da empresa e faço o login da minha conta, vou no link vendas, eu sei de que jogo ele falou. Quando encontro o nome os números aparecem, ele sempre está entre os dez mais vendidos da empresa. Eu mostro ao meu pai e ele arregala os olhos.

-Jesus Cristo! – ele ofega.

-Eu falei. – digo triunfante.

-É demais rapaz. – Damon bufa.

-Bem, acontece que eu quero fazer isto, o senhor realmente merece uma parte disso. Faremos assim então, se eu ganhar do senhor o senhor aceita os 1% das vendas, mas se eu perder o senhor pode escolher a porcentagem que julga mais adequada. Minha última oferta. – fala risonho. Eu olho pro meu pai e ele me olha em seguida encara a minha mãe que dá de ombros.

-Joga logo Grayson. Faça o rapaz feliz. – ela diz risonha. – No final das contas ele só está interessado em jogar com seu ídolo.

Eu encaro meu chefe e seus olhos brilham esperando a resposta de meu pai. Ele fecha o notebook em seu colo e respira fundo.

-Certo Damon, vamos jogar.

-Isso! – é quase um grito de Damon, o que nos faz gargalhar. Ele quer mesmo isso. – Melhor de três? – meu pai assenti e minha mãe se afasta e volta com o velho tabuleiro de xadrez de meu pai.

-Eu aprendi a jogar com este. Era do avô da Elena. – meu pai explica a Damon que tem os olhos brilhando.

-Nossa! Eu nunca vou esquecer este jantar de ação de graças. – sua voz tem mel, e eu sinto meu peito arfar. Ele nunca vai esquecer, nem eu.

Damon toma posição com meu pai e eles começam a jogar, Damon comenta cada jogada, estrategicamente, meu pai o repreende várias vezes até que ele para. A primeira meu pai Ganha. Na segunda Damon está mais calado, concentrado, em uma de suas jogadas meu pai para e leva a mão ao queixo. Uou! Isso é alguma coisa.

-Nossa! – eu falo e Damon me olha perdido. – Papai. A anos não o vejo se esforçar tanto num jogo. Você está dando trabalho a ele. – Damon sorri bobo e volta a encarar o tabuleiro.

Mais uma jogada de meu pai e outra de Damon e meu pai trava.

-Querida, - ele pede a minha mãe. – Pode vir aqui e me ajudar? – nós gargalhamos.

Damon ganha a segunda, mesmo com o apelo de meu pai. Foi uma surpresa e quando o desempate começa Damon me olha.

-Elena você pode ficar mais perto de mim, só por segurança. – eu gargalho e ele sorri.

-Não comece com apelos. – meu pais diz.

-Não foi ele que começou Gray. – minha mãe defende e todos sorrimos.

Depois de jogadas demoradas e um longo jogo, meu pai ganha no final. Não seria diferente. Ele é o melhor.

-Bem, parece que o senhor define. – Damon diz ao final.

-Você joga bem rapaz, e por isso eu vou definir a porcentagem zero nos lucros. – Damon vai relutar, mas meu pai o para. – Não quero seu dinheiro e não se ofenda. Apenas acho que cada um tem o que merece.

Damon está sem jeito. Eu estou radiante porque o clima está ótimo e vejo que o feriado foi salvo. Meus pai ficam mais um pouco na sala, mas como está ficando tarde eles sobem pra descansar. Amanhã é um longo dia. Tem a missa e a noite o bingo, meu pai nunca falta no bingo.

-Vou subir e pegar seus cobertores. – falo pra Damon que assenti.

-Tenha uma boa noite senhor Gilbert, Senhora Gilbert. – ele fala.

-Boa noite! – meus pais respondem.

-Eu já volto. – falo pra ele e subo com meus pais.

-Ele é um bom homem. Muito culto e civilizado. – meu pai diz e me deixa de boca a aberta. – Eu estou feliz por ser o primeiro que você traz aqui. – estou vermelha – Mesmo que seja apenas seu chefe. – ele sorri e me beija na testa. – Boa noite querida!

-Boa noite pai. – minha mãe vem até mim.

-Seu pai gostou dele. Um ponto a favor. – ela não desiste.

-Mamãe...

-Apenas dizendo... - se afasta risonha. – Boa noite!

- Boa noite! – ela segue meu pai e eu vou pro meu quarto, pego as cobertas e travesseiros, é uma noite fria, pra variar. Encontro Damon na sala, olhando o celular.

-Você deveria parar com isso. Amanhã vamos a missa bem cedo e garanto que meu pai vai querer te mostrar a fazenda e a noite tem o bingo, você vai ter que esquecer desses e-mails e contratos. Veio aqui pra isso e não está fazendo. – eu me sento ao seu lado e ele me olha de maneira doce.

-Obrigada! – fico confusa, ele continua. – Pelo convite. Seus pais são pessoas de ouro e entendo agora porque você é cheia de princípios e tão correta. Me sinto lisonjeado por vocês estarem dividindo o feriado comigo. – eu encaro minhas mãos risonha, os travesseiros e cobertas no meu colo.

-Mesmo dormindo no sofá? – eu o olho e ele sorri. Seu riso perfeito.

-Mesmo no sofá. – sua voz está doce. – Aquela história na mesa, - o olho confusa – sobre eu ser o primeiro que você traz pra casa de seus pais. – oh droga!

-Hum... – eu faço sinal pra que continue, mas não sei se quero falar disso com ele.

-E o Mattew? – como??

-O que tem ele?

-Ele era seu namorado...

-Sim, por dois anos. – ele arregala os olhos.

-E você nunca o trouxe aqui? – dou de ombros.

-Não tive a oportunidade. – ele pisca – E papai disse tudo, eu temia o pior. – Damon gargalha.

-Mas você me trouxe aqui. – eu travo, depois eu relaxo, sei como responder.

-Achei que vocês iriam se entender. Muita coisa em comum; - ele sorri com a indireta.

-Acertou.

-E como. Você é fã dele e tudo mais. – estamos rindo.

-Ele é uma lenda. – fala ainda fascinado e eu sorrio.

-Acho que você o fez se lembrar desta época de sua vida. Talvez a parede seja removida em breve. – ele me olha.

-Ele deve. Não entendi porque esconder isso.

-Ele sentia nostalgia demais, achou melhor assim. Mamãe e eu tentamos argumentar, mas... – suspiro – enfim, talvez agora ele mude de ideia. – Damon está me encarando, estamos lado a  lado sentados no sofá.

-Talvez. –sua voz está grave.

- A ligação de hoje cedo... – começo devagar – Foi a Sofia? – ele nega.

-Era o número dela, mas era a Andie.

-E está tudo bem?

-Vai ficar. – ele está encarando sua mão.

-Bem, foi um dia longo, eu vou deixar você dormir, mas antes quero que me responda uma coisa. – ele me olha.

-Tá...

-O que falou pros motoqueiros no posto? Eles recuaram e nos deixaram ir em paz. – ele encara a frente, meio hesitante, depois dá de ombros.

-Falei que eles não iam querer se meter com a mulher de um cara que tem um camaro 2011... – ele me olha de lado e estou de boca aberta, ele começa a gargalhar e bato em seu ombro.

-Palhaço! Estou falando sério. – ele abre os braços.

-É sério, eu disse isso. – eu perco o riso e o olho meio tonta.

-Falou que eu era sua mulher?

-Falei!

-Porque?

-Você está no meu carro comigo, de madrugada, sozinha. O que você acha que eles pensaram que fossemos, irmão e irmã? Dei a eles o que queriam e eles nos deixaram ir. – deu de ombros.

-Você é muito calculista.

-Às vezes é uma qualidade. – eu bufo.

-Com certeza. – estamos calados. Me movo incomoda e me livro dos lençois em meu colo.

-Bem, vou subir. Vai ficar bem aí? – ele hesita.

-Na verdade, eu estou sem sono. Pensei que talvez você pudesse assaltar a adega de seu pai e trazer um vinho pra dividir comigo. – Han?

-Não sei, - eu estou prestes a flertar com Damon – Ele é meio ciumento com os vinhos... – sorrio maliciosa e ele encara as mãos.

-Sério. Sei que você não está com sono, não é nem meia noite. – ele está insistindo, é muito tentador, torço a boca.

-Ok, uma garrafa. Tenho que estar de pé bem cedo pra missa.

-Tudo bem. – levanta as mãos em rendição.

Ele me acompanha até a adega no sótão da casa, eu acendo a luz e ele adentra. Não há outro mais bem indicado pra escolher o vinho. Talvez meu pai. Ele olha algumas prateleiras e eu o observo, está tão lindo. Com uma calça jeans negra, camiseta cinda de manga, cabelos bagunçados, perfume único e seu olhar e sorriso... tentadores. Damon prende a atenção em uma garrafa e acho que é a escolhida.

-Vamos? – ele assenti.

Saímos da adega e ao passar pela cozinha pego duas taças e uns petiscos de queijo. Enquanto Damon abre a garrafa, depois vamos até a sala. Coloco a bandeja com os queijos na mesa de centro e ele serve as taças e depois descansa a garrafa na mesa.

...

-Não acredito que você tem medo de cavalos? – ela está descontraída, o que é meio raro perto de mim. Seu sorriso é muito contagiante.

-Bem, eu tenho. São apavorantes.

-Pra quem aprendeu a lidar comigo, um animal selvagem não dever ser nenhum problema. – ela sorri enigmaticamente.

-Meu pai falou algo parecido pra mim hoje pela manhã. – ela volta a sorrir.

-Viu? Temos muito mais em comum do que o esperado. – ela gargalha.

-Está ficando tarde e eu estou sorrindo feito boba, o vinho com certeza começou a fazer efeito e eu estou meio instável no momento. – sua fala está um pouco enrolada o que a deixa mais linda.

-Você é fraca com bebidas. – eu provoco, ela me olha, depois encara minha boca o umedece os lábios. Oh Elena, se soubesse o que isso causa em mim? Hum??? E o que causa? Damon, se controla!

-Sou. Muito fraca, e é por isto mesmo que eu tenho que ir, antes que eu fale algo que me faça perder o emprego. – eu me divirto com sua piada, ela se levanta um tanto tonta e quase cai de volta no sofá. Eu consigo a segurar a tempo.

Elena encara profundamente. Reveza seu olhar no meu e em minha boca, ela está atordoada. Meu corpo sinaliza de todas as formas para romper esta distância e a beijar, mas eu não posso fazer isto. Por tantas razões. Ela é minha funcionária, está bêbada e estou na casa de seus pais, onde ela nunca trouxe sequer seus namorados.

-Consegue subir? - minha pergunta sai mais baixa do que desejo, ela não responde, ainda me olha atordoada. – Vou considerar isto um não. - Sem esperar sua reação, a ergo em meus braços e estou a levando pro seu quarto. Elena afunda a cabeça em meu ombro e envolve meu pescoço. Oh Meu Deus! Que perfume tentador... Que mulher envolvente...

Eu estou afundando o nariz em seu cabelo, antes que consiga me dar conta disto, me afasto dela e quando chego em frente ao seu quarto, abro a porta com cuidado e a coloco na cama devagar. Livro ela dos sapatos e depois a cubro com as cobertas. A noite é fria.

Me pego parado diante da cama dela, a observando. O que ela tem que me prende tanto? O que está acontecendo aqui? Eu nunca senti algo assim com ninguém, ela me deixa sem reação, me inquieta, me desafia, me aborrece, me acalma. É tão confuso. Eu nunca senti algo assim nem por Rose, a única que amei profundamente. E se o que isto que estou sentindo por Elena não é amor, então o que é?

Que droga Damon, saia deste quarto!

Eu brigo comigo e antes que perceba estou de volta a sala, jogado no sofá. Estou confuso. Inquieto. Não vou dormir. Eu pego meu celular...

-Alaric? ...


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Notas finais do capítulo

^^