Nascidas para Matar ou Morrer escrita por Bárbara Martin


Capítulo 8
O despertar


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! o/ Desculpa a demora, mas eu reescrevi esse capítulo mais de vinte vezes e tentei postar mais de trinta, mas minha internet não colabora. ENFIM, boa leitura >—



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POV Evie

Posso jurar que ouvi passos e conversas –murmúrios, mais precisamente- lá no fundo da minha mente. Não consigo dizer se foram reais ou se fui eu que imaginei. Também não sei dizer como ou onde estou. Não sinto minhas pernas, meus braços ou meu tronco. Na verdade não sei nem mesmo dizer se estou viva. Parece que estou afundando na escuridão e não há ninguém para me resgatar.

Preciso fazer alguma coisa. Preciso me ancorar em alguma coisa para recuperar minha lucidez. Algum som, alguma cor, alguma sensação. Qualquer coisa.

Tenho medo de que se eu relaxar demais nunca vou voltar.

–--

POV Sarah

“Onde raios eu estou?” Sinto meu peito subindo e descendo, mas não enxergo ou escuto nada. Se eles acham que eu vou me deixar morrer nessa merda, estão muito enganados!

Depois de algum tempo no vácuo, meus ouvidos começaram a zunir e as pontas dos meus dedos começaram a formigar. Eu sinto que estou deitada em algum lugar frio e duro. Sinto algo prendendo meus pulsos e tornozelos.

Que maravilha. Como fui me deixar parar aqui?!

Por uns segundos eu tentei arduamente reunir minhas forças para arrancar o que quer que esteja prendendo meus pulsos, talvez assim eu fosse ficando mais alerta e recuperasse meus sentidos. O problema foi que eu fracassei totalmente nisso, e então comecei a sentir vibrações vindas de baixo. Como se alguém corresse em minha direção. Logo em seguida as vibrações começam alguns centímetros acima de mim e acho que senti a presença de alguém do meu lado.

Eles abrem minha boca e despejam algo salgado. Não consigo cuspir ou impedir. Quero muito socar quem fez isso. Tento me mexer, mas é em vão porque aos poucos meu corpo vai ficando dormente e eu volto para o vácuo.

–--

POV Donna

O gosto de bile invade minha garganta e minha cabeça lateja como se meu coração estivesse lá. Não sei o que estou fazendo até ver um líquido esverdeado no chão do lado da minha... Espera. Sento rapidamente apoiando minhas mãos na maca. Onde eu estou?

As paredes têm azulejos brancos e o chão é de cimento. Estou numa sala pequena onde há apenas uma mesa de alumínio, uma cadeira no canto esquerdo e minha maca.

Não sei o que querem de mim, mas preciso sair daqui agora.

Quando tento botar os pés no chão, a porta a minha direita estala contra a parede e um homem careca vestindo um jaleco quase voa em mim. Ele me deita novamente e põe uma lanterna nos meus olhos.

–Está tudo bem, a náusea e o enjoo são efeitos colaterais do brometo de potássio que demos para você.

Ah, claro que está tudo bem, cavalheiro. Eu só não sei onde estou ou oque querem de mim. Também não faço a mínima ideia do que é brometo de potássio e receio que não quero saber. Só quero fugir daqui!

Era o que eu queria ter dito, mas não tinha forças para emitir nada mais que um gemido.

O homem abre minha boca indelicadamente e despeja alguma coisa nojenta na qual eu me afogo por alguns agoniantes segundos, então ele dá alguns passos para trás e começa a conversar com alguém do lado de fora exasperadamente.

Eu tento me levantar, tento mesmo, mas logo caio deitada, minha visão começa a ficar turva e eu começo a ficar dormente.

Antes de apagar, eu só consegui ouvir:

–Tudo bem. Diga ao senhor Kanzkar que a parasita que faltava acordou.

–--

–Ora ora... –aqueles que ainda não estavam de olhos abertos, acordaram em um solavanco- Finalmente estão todos acordados. Estávamos quase sem estoque de sedativos.

Um homem alto, loiro, forte e sorridente, com aparentes quarenta e tantos anos entrou na sala onde os oito indivíduos estavam. Quatro garotas e quatro garotos. Cada um com uma expressão mais confusa que a outra.

–Quem é você e onde eu estou? –perguntou um dos homens com um tom meio rouco. Ele tinha cabelos bagunçados da cor de suas vestes negras, olhos verdes e uma barba que parecia não ser feita há semanas.

–Fique calmo, garoto. –o loiro riu baixo e sentou em uma cadeira que ninguém tivera notado- Vocês devem me chamar de Senhor Doutor Kanzkar.

Ele estava do outro lado da sala, mas pode ouvir Sarah rindo. Também pode ver um pequeno sorriso surgindo nos lábios de Donna e de um dos outros homens –o de cabelos loiros, quase castanhos, e olhos de avelã-.

O doutor mudou totalmente sua expressão. Trancou a mandíbula, o sorriso sumiu e se tornou apenas uma linha e seus olhos pareciam mais sombrios.

–Eu não estou brincando! –ele falou baixo e firme. Segundos se passaram sem que ninguém na sala dissesse nada. Então ele mudou novamente, abrindo um lindo sorriso. Quase outra pessoa.

–Perdoem-me. Não gosto que zombem de mim, mas vocês não sabiam. Esta tudo bem.

Evie nem estava prestando atenção ao que o mais recente visitante dizia. Desde que acordou estava observando cada detalhe daquele lugar. A parede oposta a ela ficava a uns dez metros. As paredes eram acinzentadas e o piso era branco. Ela não entendeu muito bem o porquê, mas o teto era forrado com vidros. Havia guardas em cada ponta da sala e mais sete pessoas tão bem amarradas quanto ela. Um moço de cabelos e vestes negras, um de cabelos claros com o rosto perfeitamente simétrico, um que usava óculos e estava com uma expressão muito assustada e outro que parecia ter sido sequestrado várias vezes por que, mesmo com a entrada do doutor, ele manteve a mesma expressão de tédio e sono.

Já as garotas, uma era loira e suas mãos –amarradas atrás das costas- não paravam de se mexer e seus olhos ficavam dançando de um lado para o outro da sala, às vezes pousando nos guardas, outra era morena e estava parecendo se divertir com a situação, muito embora olhasse para os guardas com a sobrancelha erguida e um olhar feroz como se os desafia-se a mantê-la ali por muito tempo. A última garota era ruiva e parecia ser muito mais jovem que o resto da sala, o que não fazia sentido, pois parecia haver um padrão de faixa etária entre o resto.

–Ta, e o que o senhor doutor Kanzkar quer de nós? –Foi a vez de Sarah perguntar com um tom entediado, e então ela se endireitou e deu um sorriso forçado- Com todo respeito, claro.

Ela pôde jurar ter visto uma faísca daquele olhar sombrio voltar ao rosto do homem, mas assim que surgiu, desapareceu.

–Muito bem. –ele levantou e começou a andar de um lado para o outro da sala com as mãos cruzadas sobre as costelas, ainda com o sorriso nos lábios- Eu estava tentando explicar tudo a vocês, se me permitirem. –ninguém na sala interferiu então Kanzkar deu um longo suspiro e começou a explicar, com muita paciência- A quinze anos atrás eu e um grupo de cientistas queríamos deixar os bebês e as crianças mais fortes a partir de um parasita que chamamos de ‘zeru’, para que não morressem cedo de doenças. Não vou entediar vocês com detalhes científicos ou por que chamamos de parasita se ele não prejudica os hospedeiros, mas posso dizer que, depois de várias pesquisas, descobrimos que ele podia alterar a produção de leucócitos e vários organismos presentes no nosso sistema imunitário.

Ele parou por um instante e olhou para todos na sala. Naquele momento alguns da sala estavam boquiabertos e outros, prestes a dormir. Sarah estava fechando os olhos quando algo no canto direito da sala lhe chamou a atenção. Um dos guardas estava olhando para o chão, balançando a cabeça de leve e rindo. Aquilo a despertou e ela começou a prestar atenção no que era tão engraçado que o tal Kanzkar estava falando.

–Não sei se estão me entendendo, mas vou prosseguir. Bom, então nós pedimos que as famílias que quisessem que tentássemos isso em seus filhos, nos deixassem sob a guarda deles por um curto período. Vocês, devo acrescentar, foram os primeiros oito. Depois de algumas semanas vocês começaram a apresentar melhoras na saúde. Os que tinham doenças se curaram e os que tinham machucados, cicatrizaram. Então lhes devolvemos para suas respectivas famílias. O experimento tinha sido um sucesso. –ele bateu suas mãos e abriu ainda mais seu sorriso.

–Alguns meses depois minha filha pegou peste –ele se virou de costas por um instante e sussurrou pobre garotinha, então voltou a andar de um lado para o outroEntão eu decidi testar esse experimento nela e cura-la de uma vez. O que mais me intrigou foi que, passados alguns anos, Cora começou a apresentar outras alterações genéticas. Ela aprendeu a ler e escrever bem mais rápido que as outras crianças, era muito mais forte, mais inteligente e não tinha medo de nada. Ela podia, e pode, fazer coisas que muitas pessoas não conseguem. O que me deu um pouco de trabalho para cria-la, posso dizer. –ele para e da uma risada baixinha- Enfim, ao perceber isso, decidi voltar com os experimentos, só que agora em grande escala e com pessoas um pouco mais velhas. E, bom, tenho orgulho em dizer que consegui os mesmos resultados com eles e montei uma equipe para treina-los e testa-los da forma correta para que pudessem usufruir desses dons.

–Então quer dizer que nós somos super-humanos? –perguntou o homem que até então estava com uma cara de tédio.

Kanzkar sorriu e respondeu: Bom, eu não diria assim, mas é. E queríamos vocês aqui de volta apenas para fazer alguns testes para ver se vocês também apresentam essas alterações e, se quiserem, vamos treina-los e mostra-los como intensificar esses dons. Ou lhes dar a cura, se não gostarem das vantagens.

Agora que Sarah estava atenta nos guardas, pôde dois dos guardas se olhando de canto e sorrindo. Algo estava muito errado.

Na cabeça de Donna já giravam perguntas como “Ta e porque me arrastaram para cá em vez de simplesmente perguntar?” ou “E se eu não quiser fazer esses testes, posso ir embora?” e até “Será que se eu correr quando estiveram me levando para esses testes consigo fugir daqui?”, mas principalmente:

–Só uma coisa. –Donna se mexeu um pouco na cadeira, com os pulsos doendo de tentar tirar as amarras.

Kanzkar se virou para ela e respondeu em um tom macio. –Sim?

–Porque, raios, estamos amarrados?

–Ah, claro! Perdoem-me. É só por precaução. Não sabíamos como iriam reagir.

Evie olhou para o lado e viu o homem que perguntara a pouco franzir a testa. Provavelmente pensara o mesmo que ela. Essa história está mal contada.

–Bom. -Kanzkar foi até a porta e bateu nela duas vezes, então vários soldados entraram na sala e foram direto para os oito indivíduos- Agora meus soldados guiarão cada um de vocês para um quarto daqui da organização e amanhã pela manhã começaremos os testes. Espero que se sintam confortáveis e, mais uma vez, desculpem-me pelas amarras.

Os soldados desamarraram cada um e seguraram um dos braços dos indivíduos. Quando eles estavam saindo Kanzkar voltou a sentar na cadeira e os guardas que estavam na sala ficaram mais relaxados, como tivessem mais medo dos que agora saíam do que do próprio chefe.

Ao sair Donna viu um dos homens, o loiro, olhando fixamente para mão direita do soldado que estava o escoltando. Ela tentou ver o que era, mas eles viraram em outro corredor. Provavelmente os quartos eram espalhados.

Depois de alguns segundos, intrigada, bastou ela olhar para mão direita do homem que a levava para entender o que o outro tinha visto. Havia um símbolo muito estranho, parecendo uma cicatriz, emanando um brilho azulado meio fosco.

–Senhor, se me permite perguntar, o que é isso na sua mão? –Ela perguntou baixinho.

O soldado nem olhou para ela e apertou um pouco demais seu braço. –Não permito. –Ele respondeu.

A última pessoa que faltava sair da sala era o homem que parecia estar acostumado com aquele tipo de situação. Ele estava com um pé na porta, prestes a sair, quando um dos guardas da sala sussurrou para Kanzkar: Bela história. Acha que acreditaram? –Ele não pôde ouvir a resposta, mas aquela pergunta ficou ecoando em sua cabeça. Mas que filhos de uma meretriz são esses caras?


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Notas finais do capítulo

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