Ela se mexia na cama, preguiçosamente, enquanto acordava, até sentir algo se mexer do lado e com mais preguiça ainda, abriu os olhos e soltou um grito quando viu o que havia ali. Com isso, o rapaz que estava ali, dormindo, assustou-se e pulou da cama, acabando no chão.

– O que aconteceu? – ele logo estava em pé, olhando confuso para os lados, até voltar o seu olhar para a garota que o olhava espantada.

Ela agarrou a coberta e colocou ao redor de si, sentindo-se um pouco constrangida por estar apenas com um pijama extremamente curta acompanhada de um cara  desconhecido que vestia apenas com a calça de pijama em um quarto. Mesmo que tivesse a sensação de que o conhecia de algum lugar.

– Quem é você? O que está fazendo aqui? – ela perguntou, tentando não ficar encarando o corpo dele que era realmente um colírio para os olhos. Se bem que se forem me deixar no quarto com alguém tão lindo eu realmente não me importo. Nem um pouco.

– Eu sou Hori – ao ver os olhos dela arregalarem, ele deu de ombros – você deve ter sido convidada pela Karla para vir não é? Ela me falou que uma amiga ia vir e que havia falado sobre mim. Julieta, não?

– Sim, Julieta – ela se levantou, recompondo-se um pouco e arrumando o pijama enquanto via-o observá-la fazendo isso. Estendeu a mão, que ele levou aos lábios, o que a fez revirar os olhos – é um prazer finalmente vê-lo. Estava curiosa sobre quem era o novo amigo de Karla. E pelo que vejo, ela não exagerou em nenhum detalhe de sua descrição.

– Admirando a vista? – ela voltou a olhar para o rosto dele, que estava com um sorriso malicioso, sorriso que chegou aos olhos cor de mel, tão lindos que pareciam um imã(n/a: no sentido de atrair, cof cof). Um imã com o qual eu não me importaria em ser atraída, também, ela parou seu pensamento, com um sorriso divertido surgindo nos lábios.

– O que é belo é para se visto não é? E estou vendo muitas coisas bonitas no começo desse dia, para variar, então, tenho que aproveitar. Mas você sabe como você veio parar aqui? Eu estou meio que sem entender nada aqui e você pode até culpar meu sono, mas é estranho.

– Eles provavelmente te trouxeram para o meu quarto, acho - ele balançou a cabeça e foi até a porta e tentou abri-la, mas não conseguiu e continuou tentando por um bom tempo, até que parou. Agachou-se e pegou uma folha que estava no chão e que nenhum dos dois havia notado antes. Leu-a e depois de algum tempo, suspirando, entregou-a para Julieta.

Queridos Julieta e Hori,

Vocês devem ter levado um baita susto quando acordaram não? Possivelmente a melhor parte do dia, para os dois. Não que eu não tenha a certeza que ambos apreciaram as respectivas vestimentas. O destino apenas nos ajudou nessa parte, então. E devem agora, estar se perguntando “Por que eu acordei com aquele cara/aquela menina na minha cama?”. A parte mais importante é que não drogamos você nem nada, apesar de uma das pessoas aqui do pessoal deram essa ideia. Achamos que vai ser melhor vocês fazerem o que quiserem por conta própria.

Pegamos Julieta e colocamo-la no quarto do Hori. Simples e prático. Colocamos também as coisas que forem precisar nesses dois dias que vão ficar ai. Não iremos mantê-los presos. Longe disso. Apenas uma pequena experiência. Eu chamaria de “juntar um casal para uma noite quente”, mas Karla diz que é muito vulgar. Acho que é simplesmente porque ela está meio chateada porque não vai poder ver vocês por dois dias. Então, antes que pensem em dar um de loucos, não quebrem nada aqui. Sabe o quanto esse hotel foi caro e uma porta dessas deve ser um ano de trabalho duro, o que sei que nenhum dos dois aprecia.

E não achem que nós simplesmente estamos chutando que vocês vão ter relações simplesmente porque ambos são um tipo especial de pervertidos não muito habitual na espécie humana. Longe disso. Vocês podem até manterem o celibatário ai dentro, se preferirem. Estamos apenas arriscando que ambos vão se dar muito bem. E ai está um novo jogo para vocês durante esse período: aquele que “seduzir” mais o outro – temos nossos meios de saber, acreditem – vai poder sair primeiro. Ai se torna mais um tipo de prisão e tudo mais para o outro, por isso, acho que deveriam manter o grau de sedução igual. Só acho.

Espero que vá tudo bem. Usem proteção, crianças! Não quero ser tio tão cedo.

Com amor,

Aleksandro

Quando ela terminou de ler, a vontade de rir que lhe tomou era tão grande, que não pôde se conter e começou a gargalhar, enquanto o outro lhe olhava um pouco assustado, mas não demoraram muito, ambos estavam rindo como se não houvesse amanhã.

– Eles são muito engraçados, não? – ela apontou para a folha – e fico com pena de você, coitadinho, vai ficar preso no quarto sozinho. Acho que sua única diversão vai ser você, a televisão daqui e...Talvez eles lhe deem um telefone para ligar para algum prostíbulo aqui perto e ai você vai ter alguma diversão. É, provável. Eles não seriam tão malvados assim. ..

– O que lhe faz pensar que vai ganhar mais na coisa da sedução? – ele se aproximou, dando um sorriso provocante, enquanto colocava a mão nos seus ombros nus, acariciando ali um pouco.

– Acho que... Nada, mas – ela se afastou, andando para o outro lado do lugar, em direção a uma porta e antes de entrar ali – eu só acho que esse é o meu jogo e você, Hori, não vai sair ganhador dele.

Ela se olhou no espelho, com um sorriso vitorioso no rosto, enquanto escovava os dentes. Iria ganhar aquele jogo. E não falava isso só porque tinha uma sensação sobre isso. Era porque tinha certeza. Sua imagem estava suficientemente agradável e seus olhos verdes pareciam extremamente brilhantes pelo desafio. Seu único pensamento era a vitória que teria.

Ele olhava pelo quarto, enquanto via quais coisas suas estavam ali. Seria divertido jogar aquele jogo com ela. Não sabia exatamente as regras, mas pelo visto, seria um jogo quase sem regras. O que era melhor ainda. Passou a mão pelos cabelos, imaginando como iria fazer aquilo tudo. Porque se tinha uma certeza no meio daquela confusão que os amigos lhe meteram é que ele tinha que ganhar.