Se passara uma semana depois que Nicole havia ido para o hospício - eu só posso usar essa palavra para mim mesma, para mais ninguém. Lisa tem um ataque de choro e tremores quando alguém fala que a Nicole foi para o hospício. Ela prefere dizer que a Nicole está na rehab (o que eu realmente não acredito, mas quem sou eu para julgar?). 

Minha perna, como vocês podem perceber: continua a mesma merda. Dói toda vez que alguém esbarra nela sem querer, quase sempre esse alguém sendo a Sarah, fazendo-me chorar como um bebêzinho. 

Minha vida, depois de muito tempo havia voltado ao que se pode chamar de normal. Novidades: Mateus me pediu em namoro, yey! 

Estava deitada em meu quarto, ouvindo música no último volume. Acabara de tomar banho, então meu cabelo está molhado, encharcando o travesseiro aos poucos, mas eu não ligo. 

A música era lenta e ao violão, o que fazia com que meu sono se apresentasse para o serviço. Sorri de lado e me ajeitei na cama, fechando os olhos, pretendendo dormir.

E quando eu finalmente estou quase dormindo, algum infeliz bate em minha porta. Praguejo o infeliz que acabou com meu sono e grito um "entra". A porta se abre, e um Mateus vermelho como pimentão passa por ela. Ele está tremendo e seus olhos estão semicerrados, impedindo-me de decifrar o que ele esconde. 

-Aconteceu algo, Mateus? - pergunto, me sentando na cama. 

-Na verdade, aconteceu sim. 

Ele caminha até minha cama, não tirando seus olhos dos meus. O que diabos ele fez?

-Mateus... - começo, mas sou interrompida por lábios sendo colados nos meus. Isso mesmo, lábios. Mateus acabara de me beijar. 

Involuntariamente, meus dedos procuram por seus cabelos, enroscando-se nos fios finos. Sinto as mãos quentes de Mateus em minha cintura, apertando-a e me colocando mais próximo a ele. 

Interrompo o beijo, empurrando-o para a ponta da cama. Olho para ele, tentando passar a mensagem de um "o que isso significa?", fracassando. Estou feliz demais para passar qualquer mensagem. 

-Quando você me disse todas aquelas coisas ontem... - não foram para você, foram para a Pamela. Mas tá, pode continuar - me fez perceber o quão idiota eu sou. Eu tenho uma menina perfeita bem aqui na minha frente, e não fico com ela. Insisto em complicar e foder com tudo sempre. E sobre aquilo que você falou que o Guilherme era o único que estava lá quando seu pai faleceu, eu não achei justo. Eu estava lá, sim. 

-Sim, você estava, mas estava ao mesmo tempo flertando com a Lisa. Então, tecnicamente, ele era o único que estava lá comigo o tempo todo. Desculpe.  - falei, vendo toda aquela euforia que estava em seus olhos, desaparecer aos poucos. 

-Ahn, como eu disse: eu sou um idiota. - foi a única coisa que ele disse. 

Ficamos em um silêncio mortal por alguns minutos. Eu realmente não sabia o que falar, ou como agir depois dessas malditas palavras. 

-Olhe, Mat, desculpe. Você sempre esteve lá, sabe? Mas quem te bloqueava era eu. Fiquei tão cega de ciúmes por conta da Lisa que acabei te afastando sem perceber. A culpa não foi somente sua. Desculpe. - me arrisquei a me inclinar um pouco para frente, esticando minha mão para ele, que a pegou sem pestanejar. O puxei para perto de mim, lhe dando um selinho.

Ele se deitou ao meu lado, apoiando a cabeça em meu peito. Apoiei meu queixo no topo de sua cabeça, já que nossa posição permitia isso. 

Ficamos assim por mais um bom tempo, e estava quase dormindo de novo quando certas palavras me fazem acordar e ficar em alerta completo. 

-Casa comigo, Jessica?

Esqueci de comentar que estou noiva? Ahá! Estou com uma linda e perfeita aliança no dedo, pretendendo me casar logo, antes que minha barriga cresça muito. Por mais que eu ache lindo as noivas dividirem seus vestidos de casamento com sua filha/filho, não quero fazer parte delas. 

Ah, e nós também escolhemos os possíveis nomes que daremos ao nosso bebê. Eu votei por Jullie, ou Ava (desculpa mundo, mas quando o nome Ava é falado com sotaque britânico, você tem vontade de morrer!) mas Mateus votou por Anne ou Haven. E se for menino, nós dois concordamos em colocar o nome Miles nele. E isso tudo por que: nós vamos todos para Nova York. Isso aí terráqueos, eu, Mateus, Guilherme e Pamela iremos morar em Nova York! Minha sogrinha linda comprou um apartamento de m-o-r-r-e-r lá para nós, como presente de casamento! Ter namorado herdeiro é foda. Quem pode, pode. E quem não pode? Se sacode! Iremos para lá logo após o casamento. E eu realmente não tenho palavras para dizer o quanto estou feliz com tudo isso. Mas tem uma coisa que me faz querer desistir de tudo: Lucas. 

Acabo de saber que tenho um irmão, e nós nos damos muito, muito bem. Não sei como vou conseguir viver em Nova York sem meu xodó. 

PAMELA POV.

Tudo estava indo maravilhosamente bem. Jessica estava noiva, eu e Guilherme finalmente nos acertamos. E não, nós não iremos nos casar. Se a Jessica quer desperdiçar o melhor da vida dela só por que engravidou, eu não posso fazer nada. Mas eu não vou me juntar a ela nessa loucura. 

Posso pensar em casamento assim que terminar minha faculdade. Mas como isso só vai acontecer daqui alguns anos, eu ainda tenho um tempo para pensar. 

Mas apesar de que não vamos nos casar, nós fizemos votos. Votos realmente emocionantes, que me fizeram chorar e tudo mais. 

-Pamela, eu poderia prometer te amar, e te apoiar. Eu poderia prometer estar presente na saúde e na doença. Eu poderia dizer até que a morte nos separe. Mas não direi. Esses votos são para os casais otimistas, os cheios de esperança. Não sou otimista. Não sou cheio de esperanças. Eu tenho certeza. Eu sou forte. E eu sei. Eu sou um homem de coração. Disso eu tenho certeza, que você é minha parceira, minha amante - só nós entendemos, hehehe - e minha melhor amiga. Meu coração bate por você. E, hoje, no dia em que nós estamos fazendo votos mesmo sem estarmos nos casando, eu te prometo isso... Prometo a você colocar meu coração na palma de sua mão. Prometo a você, eu. 

Depois disso não tive ar o suficiente para responder nada. Minhas únicas forças foram usadas para: um sexo selvagem pós votos de casamento.

NICOLE POV

Eu não quero ficar aqui nenhum minuto a mais. Quero ir para casa. Quero me mudar e jogar essa minha vida fora. Quero recomeçar tudo do zero, como se nada disso nunca tivesse acontecido. Quero uma segunda chance. 

Olhava para meu reflexo acabado no espelho quebrado de meu quarto. A Nicole de uma semana atrás, que não trocava seus saltos por nada, nem suas amigas ou qualquer coisa que se relacione a uma vida normal. Essa Nicole se foi, e dessa vez para sempre. Agora uma Nicole sem amor no coração, que cortou a própria garganta atrás de liberdade está em seu lugar. Mas tudo que conseguiu foi uma cirurgia e chicotadas. Ótimo isso, não é? 

Dou um pulo quando a porta abre, batendo na parede e uma enfermeira aparece ali. Joan. Ela era a responsável pelas chicotadas e era a pior enfermeira daquele lugar. Mas em seu lugar, vi uma Joan totalmente diferente. Uma Joan com uma carinha de amor, como se ela estivesse preocupada comigo.

-Nicole, meu bem, como você está? - ela se aproximou de mim, levantando a mão para tocar minha testa. A bloqueei com uma mão e corri para minha cama, esperando por alguma coisa totalmente fora do comum. - Tudo bem, então. - ela deu de ombros e andou até a porta, fazendo um sinal com os dedos para algum lugar que eu não conseguia ver - você tem visitas meu anjo. Meia hora. Vamos ver se agora você melhora um pouco, sim? - ela sorriu e se afastou da porta.

Por dois segundos tudo que eu consegui ver foi o escuro do corredor da solitária em que eu ficava, mas logo depois todo aquele escuro foi substituído pelo brilho de três pessoas. As únicas três pessoas que eu não queria ver agora. Tudo bem, não exatamente as três. Mas a maioria sim. 

-Liz. - choraminguei, e pulei da cama indo em sua direção. 

Pulei em seu pescoço, abraçando-a. Oh, Lisa, obrigada por ter vindo. Você realmente melhorou minha semana. 

A abraçava tão forte que fiquei com medo de machuca-la. Mas se machucar, eu não me importo. A que está em más mãos aqui sou eu, não ela. 

-Lisa, por favor, me tira daqui... - sussurrei em seu ouvido - Por favor... 

Me afastei dela, olhando para as outras duas que estavam ali. 

-Eu não quero ver vocês duas. Saiam. Quero apenas a Lisa aqui. 

-Você estava obcecada por mim, Nicole. Acha mesmo que eu não vou te ajudar? Por mais que você tenha me machucado, você ainda é minha amiga, e eu estou aqui somente para ajudar. E a Jessica está aqui por que quer te ajudar também. 

-Vocês querem dizer que estão com pena de mim, certo? Por que a única que quer realmente me ajudar aqui, é a Liz. 

-Não, Nic. Eu estou aqui por que você estava comigo esse tempo todo que eu estava mal. Então nada mais justo que eu ficar aqui com você enquanto você está mal, certo?

-Que seja. Só... Não toca em mim, tá?

Puxei Lisa pela mão até minha cama, e me sentei ali. Olhei para ela, transmitindo toda a felicidade que eu estava sentindo em vê-la ali. A felicidade em saber que ela não havia me abandonado. 

-Obrigada por vir. 

E nesse momento, eu percebi que talvez, um dia eu possa ser uma pessoa normal novamente. Talvez.