O fim de semana havia se passado mais rápido do que eu esperava — para minha sorte, ou azar, pois, ao mesmo tempo em que eu veria logo Edward na escola, eu teria que me preparar psicologicamente para menos um dia com ele. Por incrível que pareça, eu tinha chegado cedo. Ao entrar na sala, poucas pessoas estavam lá, entre elas, Lauren. Encarei-a mortalmente ao vê-la sentada na cadeira que devia ser de Edward.

— Por que está sentada aí? — perguntei casualmente.

— Porque eu quero.

Resolvi ignorar isso por hora. Eu tinha que parar com essa mania de Edward, Edward, Edward. Minutos depois Nessie chegou, sentando-se em minha frente. Cada vez que aquela porta se abria, eu sentia borboletas voando em meu estômago. Jessica não viria hoje, pois não estava se sentindo bem. Conversamos animadamente, a sala enchendo mais e mais, e a professora já havia chegado, mas nada dele.

— Lauren sentou no lugar de Edward — comentou Nessie, olhando para Lauren.

— Foi... será que ele não vem?

— Não sei...

Não precisei esperar mais, no segundo seguinte, ele estava entrando na sala, com aquela cara de perdido. Dando uma olhada para onde Lauren estava, seguiu para o fundo da sala, sentando na fila do canto do outro lado. Droga!

— Não morre mais — disse Nessie.

Concordei, fazendo bico. Minha amiga percebeu e riu.

O resto da aula de redação foi extremamente tedioso. Na aula seguinte, geografia, nós teríamos um trabalho para apresentar. Estávamos pegando as coisas para ir para outra sala, quando a professora de geografia entrou, dizendo que o trabalho tinha sido adiado para quarta, por não ter reservado o material a tempo. Pulei, satisfeita, por não ter me preparado direito para apresentar. Edward, que até então estava parado olhando, com sua mochila nas costas, rumou para o seu lugar ao meu lado, onde Lauren tinha tirado as coisas. Sorri com isso, mas logo depois meu sorriso desmoronou.

Edward colocara apenas suas coisas lá e partira novamente para onde estava sentado no fundo, junto com Irina. Hoje ele estava impossível! Só a aula de inglês para nos salvar... Subi para a sala, juntamente com Eric. Edward tinha sumido pela escola. Depositei minhas coisas na primeira cadeira do canto, e puxei outra para sentar, arrastando-a até o meu lado. Como o professor não estava na sala, sugeri a Eric que jogássemos forca. Eu adorava esse joguinho de criança. Coloquei o tema “filme”, e desenhei no quadro os tracinhos.

— Diga outra letra — pedi. Ele havia acertado poucas. Enquanto pensava, a porta abriu, e por pouco não batia em mim, que estava logo atrás. — Ai! — murmurei.

— Desculpa. — Tinha que ser o idiota do Edward. Ele entrou, juntamente com Quil e o professor.

Dei de ombros e continuei o jogo. Agora todos participavam, até que Eric acertou o nome do filme, Garota Infernal. Quando fui para o meu lugar, notei que Edward tinha sentado na cadeira que eu tinha posto ao meu lado.

— Essa cadeira é minha — reclamei.

— Você é obesa para ocupar duas cadeiras?

— Mas eu uso duas — rebati, indo para o meu lugar e tirando meu casaco do assento. — Essa é muito dura! — Joguei meu casaco nele, mas no processo, ele bateu no meu celular em cima da mesa e caiu no assento. Edward se acabou de rir.

— Que burra!

Fuzilei-o com o olhar e sentei, virando meu corpo todo para sua direção. Se ele ia ficar mesmo ali, eu ia aproveitar ao máximo sua presença. Notei que hoje ele não estava com seu perfume costumeiro, assim como eu, que tinha esquecido de usar minha fragrância antes de sair de casa.

Para o meu desespero, nem a aula de inglês nos salvou. Edward de vez em quando sussurrava alguma palavra em inglês para mim, perguntando o significado, e eu o respondia, prontamente.

No intervalo, conversei com Nessie sobre Edward. Lauren tinha ido embora mais cedo, pois ia ao dentista hoje. Ela, mais uma vez, aconselhava-me a ser simpática com ele, e tive que concordar quando ela disse que ele estava mais receptivo a mim; só restava agora eu abaixar meu muro também. Descobrimos quando ia ser a festa de despedida do terceiro ano, e eu e ela logo fizemos planos para juntar Edward e eu. Esperava que esse dia me surpreendesse, ou que eu surpreendesse o dia.

Na aula de filosofia Edward estava pior. Ele tinha sentado no fundo, ao lado de Tânia, uma das garotas que eu mais odiava — se não for a mais — da escola. Eles não tinham absolutamente nada, disso eu sabia, mas digamos que a amizade deles era um pouco... íntima demais.  Além dos abraços usuais e extremamente apertado que ele dava nela, ainda tinha o lance de vez ou outra ele carregá-la NO COLO pela escola! Tipo, mais ridículo que isso, impossível!

Essa menina era bem dada também, e por mais que vivesse humilhando as pessoas de minha sala, ela ainda era paparicada por todos fora dela. Vai entender. Achei bem feito quando ela saiu de seu lado um tempo depois, e foi se sentar com Quil, seu amigo “fiel”. Só que Edward não estava satisfeito. Kate, outra de suas amiguinhas, estava sentada ao lado da cadeira onde Tânia estava. Edward e Kate entraram na escola quase no mesmo período — meio do ano —, e vieram do mesmo lugar. Já eram amigos, obviamente, e eu cheguei a perguntá-la uma vez se eles já tiveram algo, ela negou. Nunca acreditei, mas até minhas amigas acreditavam nela.

Edward sentou na cadeira que antes era de Tânia. Tentei me concentrar na apresentação que meus colegas estavam fazendo, mas quando um dos garotos do fundo deu palpite no debate que o trabalho havia proporcionado, não me segurei e usei como desculpa para olhar para trás e ver uma das piores cenas de minha vida: meu queridinho “amor” estava de olhos fechados, com a cabeça apoiada na de Kate, também de olhos fechados, como um casal de namorados. Naquele momento eu vi tudo embaçado, e não me importava o quão rude fui virando para frente. Nessie tinha percebido o mesmo que eu, mas achou melhor nem comentar nada.

Eu sofria porque queria.

Teria que ir sozinha para casa hoje. Saí com Nessie, e acompanhei-a até a entrada de sua rua, em seguida continuei meu caminho para minha casa. Enquanto me aproximava do ponto de ônibus que Edward estava ficava, notei que ele estava lá, perto do muro. Ao me ver, veio para frente da rua.

— Fantasminha... aliás, fantasmas são invisíveis.

Revirei os olhos e empinei meu nariz, de um jeito superior-dramático. Que dia péssimo.

Terça-feira cheguei novamente cedo na escola, com a expectativa que o dia me surpreendesse. Eu até tinha feito algo diferente no cabelo. Mas meu dia começou a desmoronar quando a professora de matemática faltou à aula, e detalhe, ela tinha duas aulas seguidas hoje. Edward chegou no segundo horário, e foi imediatamente para o fundo do outro lado da sala. Saí com minhas amigas da sala, e depois disso, não vi Edward até a terceira aula, biologia. Antes de entrarmos na sala, ele cumprimentou Nessie e Lauren, menos eu.

— Ele nem falou comigo hoje — murmurei cabisbaixa. A aula já tinha começado há alguns minutos.

— Bella, você sabe como Edward é bipolar, você já deveria ter se acostumado com isso — repreendeu-me Nessie.

— Eu sei, mas dói. Ele falou com vocês duas e menos comigo!

E eu juro que não sabia como aconteceu aquele momento, mas escutei a voz de Edward me chamar no fundo da sala. Encarei Nessie de olhos arregalados, e ela apenas sussurrou um “Seja simpática!”.

— Oi? — respondi, o coração a mil.

— Você está no meu lugar — brincou sorrindo.

— Seu lugar... Tem uma cadeira aqui atrás, você não sentou porque não quis.

— Esse daí que é meu.

Girei os olhos e voltei a olhar para frente, mas ele continuou:

— Nessie, sua amiga roubou o meu lugar.

— Mas tem uma cadeira vazia aqui, senta nela — disse Nessie, também sorrindo.

Por que Edward fazia essas coisas comigo?

— Essa eu não quero.

Nessie riu e não disse mais nada; eu, pelo contrário, comecei a soltar vários muxoxos, um atrás do outro, mas não contei que Edward pudesse ter me ouvido, pois começou a me imitar.

Irritante!

A pior parte do meu dia foi, sem dúvida, na última aula, história. Como sempre teríamos que mudar de sala, e logo relembrei o plano a Nessie: eu teria que sentar ao lado de Edward. Esperamos ele subir primeiro e depois fomos. Como Nessie estava na em minha frente, logo puxou uma cadeira e colocou exatamente no meio, dando espaço para eu sentar de um lado, e Lauren do outro. Jessica ainda estava doente.

Puxei a cadeira, fingindo que aquilo não era nada. Edward levantou enquanto eu a arrastava para sentar ao lado de Nessie. Com a mania irritante que ele tinha, levantou o dedo para tocar no meio da minha testa. Não me pergunte por que ele fazia isso, coisa de maluco. Diferente das outras vezes, quando fui afastar seu dedo, minha mão deslizou por seu braço, quente, sem querer. Eu juro que foi sem querer! E o melhor de tudo, ele não pareceu se importar, porque ainda continuou alguns segundos naquela posição, nossos braços meio que entrelaçados.

Coloquei-a entre Nessie e Edward, e ela me empurrou mais para o lado dele, alegando que eu estava “muito em cima dela”. E foi nesse momento que todo nosso teatrinho caiu. Edward olhou para a gente com o rosto sério e do nada puxou sua cadeira, mas para longe de mim. Não havia sido uma distância enorme, um passo e meio, talvez. Senti meu coração se afundar naquele instante, e para não deixar que ele me visse abalada, logo puxei assunto com Nessie fingindo que não me importava. Por dentro eu estava partida. Eu fazia tantas coisas para me aproximar de Edward, achando que talvez no fundo ele tivesse vergonha de dar um passo em nossa amizade, dando indiretas que também estava a fim, para ele agir daquele modo.

Foi naquele momento que mais uma vez a realidade bateu em cheio em minha cabeça. Se Edward gostasse de mim, não teria se afastado. Eu até poderia estar fazendo drama, afinal, todos nós conhecíamos sua bipolaridade, mas dessa vez eu não consegui. Naquele momento, sentada na cadeira enquanto o professor reclamava do mau comportamento da turma, eu prometi a mim mesma que não tentaria mais sentar ao lado dele nesse tipo de aula. Eu até poderia fazer esse esquema de “cordinha” ao seu lado, mas Bella Swan não seria mais a pessoa que ia sentar ao lado de Edward Cullen. Não por vontade própria.

Infelizmente, ou não, o professor resolvera fazer um teste surpresa como punição para a sala. Como minha fila ia ser retirada, não me vi em outra alternativa a não ser pôr minha cadeira na frente de Edward. Nessie prontamente sentou na cadeira que eu puxei para ela em minha frente. Ela puxou sua cadeira para mais perto do quadro, não hesitei em segui-la. Só sei que, no final, havia um espaço maior que o de uma cadeira entre Edward e eu. Ele provavelmente não ligava em chegar mais perto, e não seria eu que iria ligar para isso.

Lauren estava ainda em seu lugar, no canto da parede, na direção de Edward. Virei para ela a fim de lhe contar algo engraçado sobre Jessica, mas senti alguém deslizar a ponta do que parecia ser uma caneta em meu braço. Edward. Olhei rapidamente para ver se ele tinha mesmo usado caneta, mas fora apenas sua lapiseira. Ignorei sua mudança de humor e me concentrei em fazer meu teste.

Edward cansava qualquer um.

Fui para casa arrasada. Essa semana estava sendo péssima, e eu estava com muita raiva de Edward, e acima de tudo, completamente frustrada. Algumas lágrimas bobas insistiram em descer, e me dei conta que estava muito encrencada. Enquanto tentava escrever algo para o meu livro — sim, eu amava escrever —, diálogos e frases soltas vieram em minha mente, mas nada a ver com o que eu queria escrever naquele momento. Eram mais como “lições” de vida. Rendi-me e comecei a escrevê-las. Quando mostrei aos meus amigos, menti dizendo ser uma canção que eu havia composto para o livro. Estava longe disso. Era um lamento para Edward:

Please, don’t play with me, I’m so tired of games… I beg you.

Why this hurt me so much? I don’t deserve it…  

It’s because you just did wrong choices, honey. Choose better next time.

Think twice before you look different to someone.  

Just saying…

I just wanted to write good things to my broken heart.

You’ve been so much time without love someone, and now, are you satisfied? You’re in love again! Did you remember how much it hurts? Smile, now. He doesn’t love you, like the others… Oh, poor little girl.    

Hey, please, kiss me, I’m begging you!

We don’t ask kisses, we stole them.

He’s just a stupid boy, but you already knew it.

Oh, baby, don’t cry anymore.